quinta-feira, 16 de março de 2023

BHAGAVAD GITA — CAPÍTULO 03

 




BHAGAVAD-GĪTĀ

 

CAPÍTULO 3

 

KARMA-YOGA

KARMA-YOGA

 

 

Verso 1

 

arjuna uvāca
jyāyasī cet karmaṇas te
matā buddhir janārdana
tat kiṁ karmaṇi ghore māṁ
niyojayasi keśava

 

 

Tradução

 

Arjuna disse: Ó Janārdana, ó Keśava, por que me força a lutar nesta guerra terrível, se achas que inteligência é melhor que o trabalho fruitivo?

 

Arjuna said: O Janārdana, O Keśava, why do You urge me to engage in this ghastly warfare, if You think that intelligence is better than fruitive work?

 

 

Verso 2

 

vyāmiśreṇeva vākyena
buddhiṁ mohayasīva me
tad ekaṁ vada niścitya
yena śreyo ’ham āpnuyām

 

Tradução

 

Minha inteligência está confundida por Tuas instruções ambíguas. Portanto, por favor diga-me decisivamente o que é mais benéfico para mim.

 

My intelligence is bewildered by Your equivocal instructions. Therefore, please tell me decisively what is most beneficial for me.

 

 

Verso 3

 

śrī-bhagavān uvāca
loke ’smin dvi-vidhā niṣṭhā
purā proktā mayānagha
jñāna-yogena sāṅkhyānāṁ
karma-yogena yoginām

 

Tradução

 

O Bem-aventurado Senhor disse: Ó Arjuna impecável, Eu já expus que há duas classes de homens que tentam realizar o Eu. Alguns têm inclinação para entendê-Lo por meio da especulação filosófica empírica e outros têm inclinação para conhecê-Lo por meio do serviço devocional.

 

The Blessed Lord said: O sinless Arjuna, I have already explained that there are two classes of men who realize the Self. Some are inclined to understand Him by empirical, philosophical speculation, and others are inclined to know Him by devotional work.

 

 

Verso 4

 

na karmaṇām anārambhān
naiṣkarmyaṁ puruṣo ’śnute
na ca sannyasanād eva
siddhiṁ samadhigacchati

 

Tradução

 

Não é meramente por se abster do trabalho que uma pessoa pode alcançar a liberdade da reação, nem somente pela renúncia que a pessoa pode alcançar a perfeição.

 

Not by merely abstaining from work can one achieve freedom from reaction, nor by renunciation alone can one attain perfection.

 

 

Verso 5

 

na hi kaścit kṣaṇam api
jātu tiṣṭhaty akarma-kṛt
kāryate hy avaśaḥ karma
sarvaḥ prakṛti-jair guṇaiḥ

 

Tradução

 

Todos os homens são forçados a agir desesperadamente de acordo com os impulsos nascidos dos modos da natureza material; portanto, ninguém pode se abster inteiramente de agir, nem mesmo por um momento.

 

All men are forced to act helplessly according to the impulses born of the modes of material nature; therefore no one can refrain from doing something, not even for a moment.

 

 

Verso 6

 

karmendriyāṇi saṁyamya
ya āste manasā smaran
indriyārthān vimūḍhātmā
mithyācāraḥ sa ucyate

 

Tradução

 

Aquele que restringe os sentidos e os órgãos de ação, mas cuja mente habita nos objetos dos sentidos, certamente ilude a si mesmo e é chamado de farsante.

 

One who restrains the senses and organs of action, but whose mind dwells on sense objects, certainly deludes himself and is called a pretender.

 

 

Verso 7

 

yas tv indriyāṇi manasā
niyamyārabhate ’rjuna
karmendriyaiḥ karma-yogam
asaktaḥ sa viśiṣyate

 

Tradução

 

Por outro lado, aquele que controla os sentidos com a mente e ocupa seus órgãos ativos em trabalhos de devoção, sem apego, é muito superior.

 

On the other hand, he who controls the senses by the mind and engages his active organs in works of devotion, without attachment, is by far superior.

 

 

Verso 8

 

niyataṁ kuru karma tvaṁ
karma jyāyo hy akarmaṇaḥ
śarīra-yātrāpi ca te
na prasidhyed akarmaṇaḥ

 

Tradução

 

Realize teu dever prescrito, porque a ação é melhor do que a inação. Sem trabalho, a pessoa não pode nem mesmo manter seu corpo físico.

 

Perform your prescribed duty, for action is better than inaction. A man cannot even maintain his physical body without work.

 

 

Verso 9

 

yajñārthāt karmaṇo ’nyatra
loko ’yaṁ karma-bandhanaḥ
tad-arthaṁ karma kaunteya
mukta-saṅgaḥ samācara

 

Tradução

 

É necessário executar trabalho em sacrifício a Viṣṇu, senão o trabalho prende a pessoa a este mundo material. Portanto, ó filho de Kuntī, execute teus deveres prescritos para a satisfação d’Ele, e assim você permanecerá sempre desapegado e livre do cativeiro.

 

Work done as a sacrifice for Viṣṇu has to be performed, otherwise work binds one to this material world. Therefore, O son of Kuntī, perform your prescribed duties for His satisfaction, and in that way you will always remain unattached and free from bondage.

 

 

Verso 10

 

saha-yajñāḥ prajāḥ sṛṣṭvā
purovāca prajāpatiḥ
anena prasaviṣyadhvam
eṣa vo ’stv iṣṭa-kāma-dhuk

 

Tradução

 

No início da criação, o Senhor de todas as criaturas [Prajāpati] enviou gerações de humanos e semideuses, junto com sacrifícios para Viṣṇu, e os abençoou dizendo: “Sejai felizes com este yajña [sacrifício] porque a sua realização vos proporcionará todas as coisas desejáveis!”.

 

In the beginning of creation, the Lord of all creatures sent forth generations of men and demigods, along with sacrifices for Viṣṇu, and blessed them by saying, “Be thou happy by this yajña [sacrifice] because its performance will bestow upon you all desirable things.”

 

 

Verso 11

 

devān bhāvayatānena
te devā bhāvayantu vaḥ
parasparaṁ bhāvayantaḥ
śreyaḥ param avāpsyatha

 

Tradução

 

Os semideuses, satisfeitos com os sacrifícios, também vos satisfarão; assim, com a nutrição mútua, a prosperidade máxima reinará para todos.

 

The demigods, being pleased by sacrifices, will also please you; thus nourishing one another, there will reign general prosperity for all.

 

 

Verso 12

 

iṣṭān bhogān hi vo devā
dāsyante yajña-bhāvitāḥ
tair dattān apradāyaibhyo
yo bhuṅkte stena eva saḥ

 

Tradução

 

Os semideuses, encarregados das diversas necessidades da vida, satisfeitos com a realização de yajña [sacrifício], suprem todas as carências do homem. Mas quem desfruta esses presentes sem oferecê-los de volta aos semideuses é com certeza um ladrão.

 

In charge of the various necessities of life, the demigods, being satisfied by the performance of yajña [sacrifice], supply all necessities to man. But he who enjoys these gifts, without offering them to the demigods in return, is certainly a thief.

 

 

Verso 13

 

yajña-śiṣṭāśinaḥ santo
mucyante sarva-kilbiṣaiḥ
bhuñjate te tv aghaṁ pāpā
ye pacanty ātma-kāraṇāt

 

Tradução

 

Os devotos do Senhor liberam-se de todo tipo de pecado porque comem alimentos que são primeiro oferecidos em sacrifício. Outros, que preparam comida para o gozo pessoal dos sentidos, com certeza só comem pecado.

 

The devotees of the Lord are released from all kinds of sins because they eat food which is offered first for sacrifice. Others, who prepare food for personal sense enjoyment, verily eat only sin.

 

 

Verso 14

 

annād bhavanti bhūtāni
parjanyād anna-sambhavaḥ
yajñād bhavati parjanyo
yajñaḥ karma-samudbhavaḥ

 

Tradução

 

Todos os corpos vivos subsistem de grãos alimentícios, que são produzidos pelas chuvas. As chuvas são produzidas pela realização de yajña [sacrifício], e o yajña nasce dos deveres prescritos.

 

All living bodies subsist on food grains, which are produced from rain. Rains are produced by performance of yajña [sacrifice], and yajña is born of prescribed duties.

 

 

Verso 15

 

karma brahmodbhavaṁ viddhi
brahmākṣara-samudbhavam
tasmāt sarva-gataṁ brahma
nityaṁ yajñe pratiṣṭhitam

 

Tradução

 

Os Vedas prescrevem atividades reguladas, e os Vedas se manifestam diretamente da Suprema Personalidade de Deus. Por conseguinte, a transcendência todo-penetrante se situa eternamente nos atos de sacrifício.

 

Regulated activities are prescribed in the Vedas, and the Vedas are directly manifested from the Supreme Personality of Godhead. Consequently the all-pervading Transcendence is eternally situated in acts of sacrifice.

 

 

Verso 16

 

evaṁ pravartitaṁ cakraṁ
nānuvartayatīha yaḥ
aghāyur indriyārāmo
moghaṁ pārtha sa jīvati

 

Tradução

 

Meu querido Arjuna, um homem que não segue este sistema védico de sacrifício prescrito com certeza leva uma vida de pecado, porque uma pessoa que se deleita somente nos sentidos vive em vão.

 

My dear Arjuna, a man who does not follow this prescribed Vedic system of sacrifice certainly leads a life of sin, for a person delighting only in the senses lives in vain.

 

 

Verso 17

 

yas tv ātma-ratir eva syād
ātma-tṛptaś ca mānavaḥ
ātmany eva ca santuṣṭas
tasya kāryaṁ na vidyate

 

Tradução

 

Entretanto, aquele que sente prazer no eu, que se ilumina no eu, que se regozija e se satisfaz unicamente com o eu, plenamente saciado – para ela não há dever.

 

One who is, however, taking pleasure in the self, who is illumined in the self, who rejoices in and is satisfied with the self only, fully satiated-for him there is no duty.

 

 

Verso 18

 

naiva tasya kṛtenārtho
nākṛteneha kaścana
na cāsya sarva-bhūteṣu
kaścid artha-vyapāśrayaḥ

 

Tradução

 

Um homem autorrealizado não tem qualquer propósito a satisfazer no cumprimento de seus deveres prescritos, nem tem qualquer motivo para não realizar tal trabalho. Nem tem necessidade de depender de qualquer outro ser vivo.

 

A self-realized man has no purpose to fulfill in the discharge of his prescribed duties, nor has he any reason not to perform such work. Nor has he any need to depend on any other living being.

 

 

Verso 19

 

tasmād asaktaḥ satataṁ
kāryaṁ karma samācara
asakto hy ācaran karma
param āpnoti pūruṣaḥ

 

Tradução

 

Portanto, sem se apegar aos frutos das atividades, deve-se agir por uma questão de dever; pois, trabalhando sem apego, a pessoa alcança o Supremo.

 

Therefore, without being attached to the fruits of activities, one should act as a matter of duty; for by working without attachment, one attains the Supreme.

 

 

Verso 20

 

karmaṇaiva hi saṁsiddhim
āsthitā janakādayaḥ
loka-saṅgraham evāpi
sampaśyan kartum arhasi

 

Tradução

 

Mesmo reis como Janaka e outros alcançaram o estágio de perfeição através da realização dos deveres prescritos. Portanto, somente com o propósito de educar o povo em geral, você deve realizar teu trabalho.

 

Even kings like Janaka and others attained the perfectional stage by performance of prescribed duties. Therefore, just for the sake of educating the people in general, you should perform your work

 

 

Verso 21

 

yad yad ācarati śreṣṭhas
tat tad evetaro janaḥ
sa yat pramāṇaṁ kurute
lokas tad anuvartate

 

Tradução

 

O que quer que um grande homem faça, os homens comuns seguirão seu exemplo. E qualquer padrão que ele estabeleça com seus atos exemplares, o mundo inteiro o aceitará.

 

Whatever action is performed by a great man, common men follow in his footsteps. And whatever standards he sets by exemplary acts, all the world pursues.

 

 

Verso 22

 

na me pārthāsti kartavyaṁ
triṣu lokeṣu kiñcana
nānavāptam avāptavyaṁ
varta eva ca karmaṇi

 

Tradução

 

Ó filho de Pṛthā, não há trabalho prescrito para Mim em nenhum dos três sistemas planetários. Nem Eu preciso de qualquer coisa, nem Eu tenho necessidade de obter qualquer coisa – e mesmo assim, Eu Me ocupo em trabalho.

 

O son of Pṛthā, there is no work prescribed for Me within all the three planetary systems. Nor am I in want of anything, nor have I need to obtain anything – and yet I am engaged in work.

 

 

Verso 23

 

yadi hy ahaṁ na varteyaṁ
jātu karmaṇy atandritaḥ
mama vartmānuvartante
manuṣyāḥ pārtha sarvaśaḥ

 

Tradução

 

Porque se Eu não Me ocupasse em trabalho, ó Pārtha, certamente todos os homens seguiriam Meu caminho.

 

For, if I did not engage in work, O Pārtha, certainly all men would follow My path.

 

 

Verso 24

 

utsīdeyur ime lokā
na kuryāṁ karma ced aham
saṅkarasya ca kartā syām
upahanyām imāḥ prajāḥ

 

Tradução

 

Se Eu parasse de trabalhar, então todos estes mundos estariam arruinados. Eu também seria a causa da geração de população indesejada [eu teria causado a mistura entre as castas], e, dessa forma, Eu destruiria a paz de todos os seres sencientes.

 

If I should cease to work, then all these worlds would be put to ruination. I would also be the cause of creating unwanted population, and I would thereby destroy the peace of all sentient beings.

 

 

Verso 25

 

saktāḥ karmaṇy avidvāṁso
yathā kurvanti bhārata
kuryād vidvāṁs tathāsaktaś
cikīrṣur loka-saṅgraham

 

Tradução

 

Do mesmo modo como os ignorantes realizam seus deveres com apego aos resultados, similarmente o sábio também pode agir, mas sem apego, com a finalidade de conduzir o povo pelo caminho certo.

 

As the ignorant perform their duties with attachment to results, similarly the learned may also act, but without attachment, for the sake of leading people on the right path.

 

 

Verso 26

 

na buddhi-bhedaṁ janayed
ajñānāṁ karma-saṅginām
joṣayet sarva-karmāṇi
vidvān yuktaḥ samācaran

 

Tradução

 

Que o sábio não corrompa as mentes dos ignorantes que estão apegados à ação fruitiva. Eles não devem ser encorajados a evitar o trabalho, mas a se dedicar ao trabalho com espírito de devoção.

 

Let not the wise disrupt the minds of the ignorant who are attached to fruitive action. They should not be encouraged to refrain from work, but to engage in work in the spirit of devotion.

 

 

Verso 27

 

prakṛteḥ kriyamāṇāni
guṇaiḥ karmāṇi sarvaśaḥ
ahaṅkāra-vimūḍhātmā
kartāham iti manyate

 

Tradução

 

A alma espiritual confusa, sob a influência dos três modos da natureza material, acha que é a realizadora das atividades, que na verdade são executadas pela natureza.

 

The bewildered spirit soul, under the influence of the three modes of material nature, thinks himself to be the doer of activities, which are in actuality carried out by nature.

 

 

Verso 28

 

tattva-vit tu mahā-bāho
guṇa-karma-vibhāgayoḥ
guṇā guṇeṣu vartanta
iti matvā na sajjate

 

Tradução

 

Aquele que tem conhecimento da Verdade Absoluta, ó dotado de braços poderosos, não se dedica aos sentidos e à gratificação deles, pois sabe bem as diferenças entre trabalho em devoção e trabalho por resultados fruitivos.

 

One who is in knowledge of the Absolute Truth, O mighty-armed, does not engage himself in the senses and sense gratification, knowing well the differences between work in devotion and work for fruitive results.

 

 

Verso 29

 

prakṛter guṇa-sammūḍhāḥ
sajjante guṇa-karmasu
tān akṛtsna-vido mandān
kṛtsna-vin na vicālayet

 

Tradução

 

Confusos pelos modos da natureza, os ignorantes se dedicam plenamente a atividades materiais e se tornam apegados. Mas, o sábio não deve perturbá-los, apesar desses deveres serem inferiores devido à falta de conhecimento daqueles que os executam.

 

Bewildered by the modes of material nature, the ignorant fully engage themselves in material activities and become attached. But the wise should not unsettle them, although these duties are inferior due to the performers’ lack of knowledge.

 

 

Verso 30

 

mayi sarvāṇi karmāṇi
sannyasyādhyātma-cetasā
nirāśīr nirmamo bhūtvā
yudhyasva vigata-jvaraḥ

 

Tradução

 

Portanto, ó Arjuna, após render todos os teus trabalhos a Mim, com a mente absorta em Mim e sem desejo por ganho, livre do egoísmo e da letargia, lute.

 

Therefore, O Arjuna, surrendering all your works unto Me, with mind intent on Me, and without desire for gain and free from egoism and lethargy, fight.

 

 

Verso 31

 

ye me matam idaṁ nityam
anutiṣṭhanti mānavāḥ
śraddhāvanto ’nasūyanto
mucyante te ’pi karmabhiḥ

 

Tradução

 

Aquele que executa seus deveres de acordo com Minhas ordens e segue este ensinamento fervorosamente, sem inveja, torna-se livre do cativeiro das ações fruitivas.

 

One who executes his duties according to My injunctions and who follows this teaching faithfully, without envy, becomes free from the bondage of fruitive actions.

 

 

Verso 32

 

ye tv etad abhyasūyanto
nānutiṣṭhanti me matam
sarva-jñāna-vimūḍhāṁs tān
viddhi naṣṭān acetasaḥ

 

Tradução

 

Mas aqueles que por inveja desprezam estes ensinamentos e não os praticam regularmente devem ser considerados desprovidos de todo conhecimento, ludibriados e condenados à ignorância e cativeiro.

 

But those who, out of envy, disregard these teachings and do not practice them regularly, are to be considered bereft of all knowledge, befooled, and doomed to ignorance and bondage.

 

 

Verso 33

 

sadṛśaṁ ceṣṭate svasyāḥ
prakṛter jñānavān api
prakṛtiṁ yānti bhūtāni
nigrahaḥ kiṁ kariṣyati

 

Tradução

 

Mesmo o homem com conhecimento age de acordo com sua própria natureza, pois todos seguem sua natureza. O que se pode obter com a repressão?

 

Even a man of knowledge acts according to his own nature, for everyone follows his nature. What can repression accomplish?

 

 

Versos 34

 

indriyasyendriyasyārthe
rāga-dveṣau vyavasthitau
tayor na vaśam āgacchet
tau hy asya paripanthinau

 

Tradução

 

Atração e repulsão pelos objetos dos sentidos são sentidas pelos seres corporificados, mas a pessoa não deve cair sob o controle dos sentidos e dos objetos dos sentidos, pois eles são obstáculos no caminho da autorrealização.

 

Attraction and repulsion for sense objects are felt by embodied beings, but one should not fall under the control of senses and sense objects because they are stumbling blocks on the path of self-realization.

 

 

Verso 35

 

śreyān sva-dharmo viguṇaḥ
para-dharmāt sv-anuṣṭhitāt
sva-dharme nidhanaṁ śreyaḥ
para-dharmo bhayāvahaḥ

 

Tradução

 

É muito melhor cumprir seus deveres prescritos, mesmo que com falhas, a cumpir bem os deveres de outros. A destruição no curso da realização de seu próprio dever é melhor do que se ocupar com os deveres de outrem, pois, percorrer o caminho de outro é perigoso.

 

It is far better to discharge one’s prescribed duties, even though they may be faulty, than another’s duties. Destruction in the course of performing one’s own duty is better than engaging in another’s duties, for to follow another’s path is dangerous.

 

 

Verso 36

 

arjuna uvāca
atha kena prayukto ’yaṁ
pāpaṁ carati pūruṣaḥ
anicchann api vārṣṇeya
balād iva niyojitaḥ

 

Tradução

 

Arjuna disse: Ó descendente de Vṛṣṇi, por que a pessoa é impelida a atos pecaminosos, mesmo sem desejar, como se conduzida à força?

 

Arjuna said: O descendant of Vṛṣṇi, by what is one impelled to sinful acts, even unwillingly, as if engaged by force?

 

 

Verso 37

 

śrī-bhagavān uvāca
kāma eṣa krodha eṣa
rajo-guṇa-samudbhavaḥ
mahāśano mahā-pāpmā
viddhy enam iha vairiṇam

 

Tradução

 

O bem-aventurado Senhor disse: É somente por causa da luxúria, Arjuna, que nasce do contato com o modo material da paixão e depois se transforma em ira, a qual é a inimiga pecaminosa deste mundo, que tudo devora.

 

The Blessed Lord said: It is lust only, Arjuna, which is born of contact with the material modes of passion and later transformed into wrath, and which is the all-devouring, sinful enemy of this world.

 

 

Verso 38

 

dhūmenāvriyate vahnir
yathādarśo malena ca
yatholbenāvṛto garbhas
tathā tenedam āvṛtam

 

Tradução

 

Assim como o fogo é coberto pela fumaça, ou como um espelho é coberto pela poeira, ou como o embrião é envolvido pelo útero, similarmente, o ser vivo é encoberto por diferentes graus dessa luxúria.

 

As fire is covered by smoke, as a mirror is covered by dust, or as the embryo is covered by the womb, similarly, the living entity is covered by different degrees of this lust.

 

 

Verso 39

 

āvṛtaṁ jñānam etena
jñānino nitya-vairiṇā
kāma-rūpeṇa kaunteya
duṣpūreṇānalena ca

 

Tradução

 

Assim, a consciência pura do homem [mesmo a consciência do sábio] fica coberta pelo seu inimigo eterno sob a forma da luxúria, que nunca fica satisfeita e que queima como fogo.

 

Thus, a man’s pure consciousness is covered by his eternal enemy in the form of lust, which is never satisfied and which burns like fire.

 

 

Verso 40

 

indriyāṇi mano buddhir
asyādhiṣṭhānam ucyate
etair vimohayaty eṣa
jñānam āvṛtya dehinam

 

Tradução

 

Os sentidos, a mente e a inteligência são os locais de habitação dessa luxúria, que encobre o conhecimento verdadeiro da entidade viva e a confunde.

 

The senses, the mind and the intelligence are the sitting places of this lust, which veils the real knowledge of the living entity and bewilders him.

 

 

Verso 41

 

tasmāt tvam indriyāṇy ādau
niyamya bharatarṣabha
pāpmānaṁ prajahi hy enaṁ
jñāna-vijñāna-nāśanam

 

Tradução

 

Portanto, ó Arjuna, melhor dos Bhāratas, logo no começo, refreie esse grande símbolo do pecado [luxúria] por meio da regulação dos sentidos e mate esse destruidor do conhecimento e da autorrealização.

 

Therefore, O Arjuna, best of the Bhāratas, in the very beginning curb this great symbol of sin [lust] by regulating the senses, and slay this destroyer of knowledge and self-realization.

 

 

Verso 42

 

indriyāṇi parāṇy āhur
indriyebhyaḥ paraṁ manaḥ
manasas tu parā buddhir
yo buddheḥ paratas tu saḥ

 

Tradução

 

Os sentidos funcionais são superiores à matéria grosseira; a mente é superior aos sentidos; a inteligência é ainda mais elevada que a mente; e ela [a alma] é mesmo mais elevada que a inteligência.

 

The working senses are superior to dull matter; mind is higher than the senses; intelligence is still higher than the mind; and he [the soul] is even higher than the intelligence.

 

 

Verso 43

 

evaṁ buddheḥ paraṁ buddhvā
saṁstabhyātmānam ātmanā
jahi śatruṁ mahā-bāho
kāma-rūpaṁ durāsadam

 

Tradução

 

Assim, por saber que o eu é transcendental aos sentidos, mente e inteligência materiais, a pessoa deve controlar o eu inferior por meio do eu superior, e assim – através da força espiritual – conquistar esse inimigo insaciável conhecido como luxúria.

 

Thus knowing oneself to be transcendental to material senses, mind and intelligence, one should control the lower self by the higher self and thus – by spiritual strength – conquer this insatiable enemy known as lust.

 



REFERÊNCIA:
PRABHUPĀDA, A. C. Bhaktivedanta Swami. Bhagavad-gītā as it is. With original Sanskrit text, Roman transliteration, English equivalents, translation and elaborate purpots. Nova York: Collier Books, 1972. p. 161-212. Trechos selecionados e traduzidos.

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