quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A IMPORTÂNCIA DO MODELO COSMOLÓGICO ARISTOTÉLICO





Por João Florindo Batista Segundo

 


1 Introdução

O presente trabalho versará sobre a importância do modelo (sistema, esquema) cosmológico de Aristóteles para o entendimento do cosmos e do mundo que nos rodeia.

Considerado por muitos como o pai da Filosofia e também um dos maiores ícones da Ciência Política e da Sociologia na história antiga, suas obras, apesar da antiguidade, foram e são empregados até o presente como supedâneo para estudo do sistema democrático, da organização social e da política.

Todavia, na época em que viveu, a Filosofia não era distinta de outras áreas do saber e sua busca de conhecimento compreendeu também a tentativa de explicar como o Universo se organiza e é sobre essa procura que nos inclinaremos a seguir.


2 A importância do modelo cosmológico aristotélico

Por incrível que possa parecer, o esquema cosmológico vigente por 12 séculos teve por pai Aristóteles (384-322 a.C.), o qual foi complementado por Ptolomeu (90 - 168). Para ele, o nosso planeta situava-se num centro fixo, a partir do qual as distâncias dos planetas e das estrelas eram passíveis de cálculos.

Para entendê-lo, preliminarmente devemos ter em mente que, para Aristóteles, a maneira como as coisas se comportavam se devia às suas naturezas, ou seja, a formas determinadas qualitativamente; e o conjunto destas naturezas formava um conjunto organizado hierarquicamente, ao qual o nome cosmos é a melhor definição.

Isto posto, no esquema aristotélico, a pequena esfera que era a Terra encontrava-se no centro de uma esfera maior, que servia de suporte às estrelas, pelo que ficou conhecido como o Universo de duas esferas. O espaço ocupado pelas estrelas fixas correspondia ao Primeiro Motor, a fonte original de todos os movimentos.

Além desta esfera, havia apenas o vácuo, pois os gregos negavam-se a acreditar que este pudesse ocupar lugar no interior do universo (horror vacui). Igualmente, não se concebia que o cosmos fosse infinito, pois se assim fosse ele não teria centro e para os antigos, claro estava que a Terra era este lugar, além do que, sem centro, não haveria lugar onde os diferentes elementos pudessem se agregar; igualmente, estavam crentes que a existência de um centro era a prova da harmonia universal.

Este esquema possuía características semelhantes com os de Platão e dos astrônomos Eudoxo e Calipo, do século IV a.C., que ensinaram que a Terra ocupava o centro de um cosmos esférico que possuía um certo número de esféricas concêntricas, sendo a das estrelas fixas, a mais externa.

Não sendo parte do céu, ao passo que a Terra permanece fixa, a esfera maior se desloca em seu redor para leste, acreditando os antigos ser isto verdade por afirmarem que se o planeta se deslocasse, arrastaria consigo os pássaros, as nuvens e outros corpos que alçassem voo.

Além do Sol, da Terra e das estrelas, já era do conhecimento dos antigos a existência de outros corpos celestes, pois se deslocavam constante e irregularmente nas órbitas da elíptica como pequenos focos luminosos. Eles recebiam a alcunha de planetas, a saber, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Lembrando que para eles, a Lua também era um planeta, completando assim a relação dos “sete planetas”, cada um dos quais inserido em uma esfera cristalina e por elas transportados.

Todavia, apesar de ser chamado “Universo de Duas Esferas”, havia outras esferas neste sistema: ao redor da Terra esférica e antes das esferas dos planetas havia as correspondentes aos elementos terrestres: água, ar e fogo, em escala ascendente. As esferas cristalinas vinham após a do fogo.

O movimento dos corpos tinha por referencial a Terra, ao passo que a esfera lunar dividia o universo em duas regiões distintas, saber, a terrestre e a celeste. Na primeira, os corpos tinham movimento natural retilíneo em direção a seu lugar natural (teoria aristotélica da gravidade), onde podia ficar em repouso. Neste sentido, o fogo parece leve porque seu lugar natural é o alto, ao passo que a terra apresenta-se pesada porque seu lugar natural é abaixo. Por sua vez, os corpos celestes eram constituídos pela quintessência, incorruptível, dotados de movimento circular uniforme; para corpos de natureza tão transcendental, nada mais adequado que lhes dar os nomes de divindades que povoavam o panteão greco-romano, a exemplo de Marte, Vênus e Júpiter.

Deve-se destacar também que Aristóteles distinguia quatro tipos de movimento:
a)  movimento substancial - mudança de forma, nascimento e morte;
b)  movimento qualitativo - mudança de propriedade;
c)  movimento quantitativo - acrescimento e diminuição; e
d)  movimento espacial - mudança de lugar, o que condiciona os demais tipos de mudança.

A isto, some-se a síntese a seguir, dos princípios fundamentais da física aristotélica (através da qual o cosmos se estrutura), a saber:

a)  lugares naturais: cada elemento preferia um lugar específico no espaço, em relação ao centro do universo, que é a Terra;
b)  gravidade: para alcançar este lugar, os objetos sofreriam a ação de uma força para cima ou para baixo.
c)  movimento retilíneo: vem em resposta a esta força e se dá em linha reta a uma velocidade constante;
d)  relação com densidade e velocidade: a velocidade é inversamente proporcional à densidade do meio;
e)  impossibilidade da existência do vácuo: no vácuo o movimento teria velocidade infinita, logo o vácuo não existe;
f)   o éter preenche o espaço: todos os pontos do espaço são preenchidos pela matéria, que no espaço é cristalina;
g) inexistência do universo infinito (no espaço): muito embora acreditasse que ele fosse infinito no tempo (infinidade na evolução temporal);
h)  teoria do continuum: entre os átomos existe o vácuo, por isso a matéria não poderia ser diminuta, atômica;
i)   quintessência: objetos distantes da superfície terrestre não são constituídos por matéria terrestre;
j)   cosmo incorruptível e eterno: o Sol e os planetas são esferas perfeitas e inalteráveis; e
k)  movimento circular: os planetas descrevem um movimento circular perfeito.

Para os astrônomos da Antiguidade, os planetas se situavam entre a esfera da Terra e a esfera das estrelas. Todavia, o comportamento aparentemente inconstante destes corpos celestes tornou-se um problema para o “Universo de Duas Esferas”.

Tentando explicar-lhes, os astrônomos gregos, dentre outras, conceberam a teoria das esferas homocêntricas e a dos epiciclos e deferentes.

No sistema homocêntrico, cada planeta situava-se no interior de uma esfera concêntrica e regular que se conectava às exteriores, de maneira que o movimento dos planetas resultava de uma rotação simultânea delas.

Todavia, a diferença de brilho dos planetas demonstrava seu afastamento e aproximação periódicas de um observador situado na Terra, o que indicava que esta teoria estava incorreta.

Os epiciclos e deferentes, então, vêm preencher esta lacuna na explicação do cosmos. Segundo esta nova teoria, um círculo gira sobre um ponto de uma circunferência de um outro círculo, sendo o primeiro o epiciclo e o segundo, o deferente. Tal esquema foi absorvido pelo sábio Ptolomeu que apresentou uma explicação completa (à época) do movimento do Sol, da Lua, dos planetas e de outros corpos.

Um esquema bastante simples, que foi empregado com sucesso pela agrimensura e pela navegação. Até Nicolau Copérnico trazer ao público o seu sistema heliocêntrico, foram as ideias de Aristóteles e Ptolomeu que imperaram, com algumas singelas modificações concebidas por astrônomos e cosmólogos.


3 Conclusão

A influência intelectual exercida por Aristóteles sobre o pensamento humano é incomensurável, vez que se dedicou aos mais variados campos das ciências.

Todavia, não se pode deixar de apresentar as lacunas do seu sistema. Sua resposta não ao problema cosmológico não foi a final, mas detém autoridade por ser o princípio a partir do qual ideias mais elaboradas foram desenvolvidas, com o ápice nos seguidores de Copérnico que puseram por terra esta até então coerente visão de uma terra móvel. Tão coerente, que foi aceita pelas religiões ocidentais (em especial a Igreja Católica), por longos períodos.


Referências

CHÂTELET, F. A Filosofia Pagã.  vol. I. In História da Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 1973.

CHAUÍ, Marilena de Souza. Introdução à História da Filosofia, vol. I, São Paulo: Brasiliense, 1994.

LEOPOLDO E SILVA, F. Teoria do Conhecimento. In A. M. de Oliveira et al. Tópicos de Filosofia Geral. São Paulo: Brasiliense, 1990.

MASON, S. F. História das Ciências. Porto Alegre: Globo, 1960.

REALE, Giovani; ANTISERI, Dario. História da filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990.




sábado, 2 de novembro de 2013

BRASIL: AME, CURTA OU COMPARTILHE







Por João Florindo B. Segundo


Em junho deste ano, milhares de pessoas em todo o Brasil foram às ruas protestar. Contra o quê? Num pedaço de papelão, uma jovem exibiu os dizeres que respondem à pergunta: “É tanta coisa errada que não cabe num cartaz.”

Tudo começou com o “Movimento Passe Livre” protestando contra o aumento das passagens de ônibus; depois, vieram as queixas pelos gastos exorbitantes com a Copa das Confederações e a Copa do Mundo (que será mais cara que as três anteriores juntas). Em seguida, índios, idosos, homossexuais, anarquistas, integralistas e público em geral surgiram, cobrando direitos. Houve quem protestou apenas via redes sociais, o que é importante, mas insuficiente, pois a postagem de hoje, amanhã estará oculta no fim da barra de rolagem.

Pela miscelânea de protestantes, as manifestações não tinham um foco específico, nem líderes (ao menos conhecidos); e os partidos políticos em sua maioria foram banidos das passeatas. Impensável anos atrás ver o povo contra o partido que ora detém a Presidência da República, uma vez que esse chegou ao poder com o apoio das massas nas ruas: será que a prática atual não se coaduna mais com o discurso do passado?

Por outro lado, as visíveis conquistas sociais dos últimos anos refletem nos protestos: não era uma massa faminta pedindo pão e trabalho, mas pessoas dos mais diversos níveis sociais em busca de reformas políticas, o que demonstra um relativo equilíbrio econômico.

Com o recuo dos municípios quanto aos aumentos das passagens e a descoordenada proposta presidencial de um plebiscito, ficou claro que o povo ainda possui o desejo de exigir mudanças, porém sem o foco e a persistência do movimento estudantil que enfrentou o regime militar. Tanto é que logo a “primavera” brasileira caiu no esquecimento; afinal, ganhamos a Copa das Confederações e a Paraíba se encantou com a volta olímpica de Hulk envolto na bandeira do “sublime torrão”.

domingo, 6 de outubro de 2013

CRATA REPOA








“Crata Repoa”, publicado em 1770, na Alemanha, era o libro base da Ordem dos “Arquitectos Africanos”, ou dos “Irmãos Africanos” (por “africanos” entenda-se “egípcios”), instituída em 1767, na Prússia, sob os auspícios de Frederico o Grande, sistema hermético que teve por Grão Mestre, von Koppen, ilustre membro da Estrita Observância Templária (organização maçónico-templária dirigida pelo Barão Karl von Hund). Estava organizada em 7 classes: 1ª, Pastophoris; 2ª, Néocoris; 3ª, Melanophoris; 4ª, Chistophoris; 5ª, Balahate; 6ª, Astrônomo da Porta de Deus; e 7ª, Profeta ou Saphenath Pancah.

A Ordem visava revelar os segredos do antigo Egito. Após ter passado pelas Trevas (no 3° Grau, na “Porta da Morte” do Mestre Osíris), de onde apenas sairia após ter adquirido “verdadeiros conhecimentos”, e de ter atingido a Luz após a “Batalha das Sombras” do 4°. Grau - onde receberia o “escudo de Ísis” -, o iniciado assistia no 5° Grau a uma representação da morte da Serpente Typhon, por Horus, finda a qual o Balahate aprendia a “química” (isto é, a Alquimia), “a arte de decompor as substâncias e de combinar os metáis”:


CRATA REPOA

AS INICIAÇÕES AOS ANTIGOS MISTÉRIOS
DOS SACERDOTES DO EGITO




Preparação

Quando um aspirante desejava entrar à Antiga e Misteriosa Sociedade de Crata Repoa, tinha de ser recomendado por um dos Iniciados. A proposição era feita geralmente pelo Rei mesmo, que escrevia uma autorização aos Sacerdotes[1].

Havendo sido apresentado em Heliópolis, o Aspirante era derivado aos sábios da Instituição em Memphis, e estes o enviavam a Tebas (Porfírio – Vida de Pitágoras). Aqui era circuncidado[2] (Heródoto, Livro 2º. Clemente de Alexandria, Stromat. I). Eles o punham em dieta, proibindo certos alimentos, como vegetais e pescado, também vinho[3], porém depois de sua iniciação esta restrição era atenuada. O obrigavam a passar vários meses encerrado em uma cripta[4], abandonado a suas reflexões, permitindo que ele escrevesse seus pensamentos. Logo era examinado estritamente para determinar os limites de sua inteligência. Quando chegava o momento de retirá-lo da cripta, o conduziam a uma galeria rodeada com as colunas de Hermes, sobre as quais estavam gravadas as máximas que devia aprender de coração (Jâmblico, De Mysteriis. Pausanias, Livro I, disse expressamente que estas colunas se encontravam em subterrâneos próximos de Tebas). Quando conseguia, um Iniciado chamado Thesmophores (Introdutor) o abordava. Tinha em sua mão um grande chicote, com o qual mantinha as pessoas afastadas da entrada, chamada de “A Porta do Profano”. Ele introduzia o Aspirante à gruta, onde vendava seus olhos, pondo ataduras elásticas em suas mãos.



Primeiro Grau – Pastophoris

O Aprendiz era encarregado de custodiar a entrada que conduz à Porta dos Homens. O aspirante, havendo sido preparado na cripta[5], era conduzido da mão pelos Thesmophores e apresentado na porta dos Homens (Apuleio, Metamorfosis, Livro 2). (Cicero, De Legibus, Livro 2 – Mysteriis ex agreste imanique vita exculti ad humanitatem, et mitigati sumus.). A sua chegada, os Thesmophores tocavam o hombro do Pastophoris (um dos últimos aprendizes), que custodiava o exterior, e o incitava a anunciar o Aspirante, o que fazia golpeando na porta de entrada (este ato está representado numa das Pirâmides). Havendo dado resposta satisfatória às perguntas que lhe formulavam, o Neófito era admitido, abrindo a Porta dos Homens.

O Hierofante o interrogava novamente sobre vários temas, e o Neófito respondia categóricamente (Plutarco, em Lacon Apoph. Lisandro). Eles o faziam girar em volta da Birantha (Histoire du Ciel, livro 1, pág. 44), esforçando-se por aterrorizá-lo por meio de luzes artificiais, aplausos estrondosos, granizo, chuva e tempestade (Eusébio. Cesar, Preparat Evangel. Clemente de Alexandria, Admonit ad Gent.).

Se apesar disto, ele não se desanimasse, o Menes, o leitor das leis, fazia a leitura da constituição da Sociedade, a qual prometia ajustar-se. Logo desta adesão, o Thesmophores o conduzia com a cabeça descoberta, frente ao Hierofante, ante quem se ajoelhava. Eles tomavam o juramento de fidelidade e discrição ao mesmo tempo que colocavam a ponta de uma espada na sua garganta, invocando o Sol, a Lua e as Estrelas para testemunhar sua sinceridade (Alexander ab Alexandro, Livro 5, cap. 10). Então retiravam a venda de seus olhos e situado entre duas colunas quadradas, chamadas Betilies (Eusébio, Demonst. Evang. Livro 1). Entre estas colunas se colocava uma escada de sete degraus, e outra figura alegórica de oito portas de diferentes dimensões (Orígenes, Cont. Cels. – pág. 34 da tradução de Buchereau). O Hierofante não explicava no momento o sentido misterioso dos emblemas, porém se dirigia a ele como segue:

“A ti que vem adquirir o direito de escutar, te digo: as portas deste Templo estão firmemente fechadas para os profanos, eles não podem entrar aqui, porém tu, Menes, Museo, Filho de Celestiais trabalhos e investigação, escuta minhas palavras, pois tenho de revelar-te grandes verdades. Guarda-te dos prejuízos e paixões que podem afastar-te do verdadeiro caminho da felicidade, fixa teus pensamentos sobre o Ser divino e conserva-o para sempre ante teus olhos, ao final de um melhor governo de teu coração e teus sentidos. Se tu desejas de coração passar o verdadeiro sendeiro à felicidade, recorda que estás sempre na presença do Todo Poderoso ser que governa o universo. Este único ser produziu todas as coisas, através d’Ele existem[6], Ele as preserva; nenhum mortal pode contemplá-lo, e nada pode ser ocultado ao Seu olhar” (Eusébio, Preparat Evangel. 1-13. Clemente de Alexandria, Admonit. ad Gent.).

Depois desta alocução, faziam o aprendiz subir a escada e diziam que isso era um símbolo da Metempsicose. Também o ensinavam que os nomes e atributos dos deuses tinham um significado mais elevado que o conhecido pelo povo.

A instrução deste grau era científica ou física; explicavam a causa dos ventos, relâmpagos e trovões; ensinavam anatomia e a arte da cura, e como fazer medicamentos. Também ensinavam a linguagem simbólica e a escritura hieroglífica (Jâmblico, Vida de Pitágoras).

A recepção finalizava, o Hierofante dava ao Iniciado a palavra pela qual se reconheciam mutuamente. Esta palavra era Amoun, que significava: seja discreto (Plutarco, De Ísis e Osíris). Também lhe ensinavam o toque de mão (Jâmblico, Vida de Pitágoras). Eles lhe colocavam uma espécie de capuz que terminava em uma forma piramidal e lhe vestiam um mandil chamado Xylon. Em volta de seu pescoço, levava um colar com borlas que caíam sobre seu peito. À parte disto, estava sem outras vestimentas. Seu trabalho consistia em atuar como Guardião da Porta dos Homens.


Segundo Grau – Neocoris

Este grau, e o seguinte, representam cerimônias similares na Maçonaria Simbólica, e tem também afinidade com dois dos mais altos graus da Série do Conselho [Concílio].

Se o Pastophoris, durante o ano de sua aprendizagem, deu suficientes provas de sua inteligência, o submetiam a uma severa prova para prepara-lo para o grau de Neocoris (Annobius, liv.5). Havendo transcorrido o ano, era levado a uma obscura câmara chamada Endymion (Gruta dos Iniciados). Ali, belas mulheres lhe serviam uma deliciosa comida para repor suas forças desgastadas, que eram esposas dos Sacerdotes ou virgens dedicadas a Diana. Elas o incitavam ao amor por meio de gestos. Ele devia triunfar nestas dificultosas provas para dar prova de controle sobre suas paixões[7].

Depois disto, o Tesmophores aparecia e fazia uma variedade de perguntas a ele. Se o Neocoris respondia corretamente, o conduzia à assembléia. O Stolista (o Espargidor) lançava água sobre ele para purificá-lo. Eles requeriam sua declaração, afirmando que havia sido conduzido com sabedoria e castidade. Logo de uma declaração satisfatória, o Tesmophores se dirigia a ele, tendo em sua mão uma serpente viva, que lançava sobre seu corpo, porém que afastava com a parte inferior de seu mandil (Julius Firmicus Maternus, cap. 2, diz que era uma serpente artificial dourada).

A câmara parecia estar cheia de répteis, para ensinar ao Neocoris a suportar o terror corporal[8]. Quanto maior for a coragem mostrada na prova, tanto mais era louvado depois da recepção. Então o guiavam para duas altas colunas, entre as quais se havia um grifo empurrando uma roda (Ver a representação no Grande Gabinete Romano). As Colunas indicavam o Leste e o Oeste. O grifo era o emblema do Sol e os quatro raios da roda indicavam as quatro estações.

Eles o instruíam na arte de interpretar o higrômetro, por meio do qual mediam as inundações do Nilo; o instruíam na geometria e na arquitetura, e nos cálculos e medições que posteriormente teria que utilizar. Porém estes eram grandes segredos, somente revelados a aqueles cujo conhecimento estava muito acima do comum das pessoas.

Sua insígnia era um bastão com uma serpente entrelaçada[9] (O caduceu de Mercúrio, emblema do movimento do Sol em torno da eclíptica). A palavra do grau era Eve [Eva], e nesta oportunidade lhe relatavam a queda da raça humana[10]. O signo consistia em cruzar as mãos sobre o peito (Norden dá desenhos deste tipo).

O trabalho do Neocoris consistia em lavar as colunas.


Terceiro Grau – Melanephoris
A porta da morte

O Iniciado deste grau recebia o nome de Melanephoris. Quando o Neocoris, por inteligência e boa conduta se fazia merecedor do grau, era levado imediatamente para a recepção.

Era conduzido pelo Tesmophores ao vestíbulo, por cima de cuja entrada tinha a inscrição “Porta da Morte”. O lugar estava repleto de diferentes espécies de múmias e sarcófagos, com análogas ornamentações nas paredes. Sendo o lugar da norte, o Neófito encontrava o Parakistes.

Também aqui encontrava aos Heroi, aqueles que abrem os corpos, ocupados em seus labores (Ver os desenhos de Norden).

No meio do vestíbulo era colocado o ataúde de Osíris, e dado que se supunha que havia sido recentemente assassinado, tinha traços de sangue. Os oficiais interrogavam o Neófito se havia tido participação no assassinato de seu Mestre. Depois de sua resposta negativa, dois Tapixeytes, ou sepultureiros, tomam posse dele. O conduziam a uma habitação onde outros Melanephoris estavam vestidos de negro.

O Rei, que sempre assistia a esta cerimônia, abordava o aspirante cortesmente, apresentando-lhe uma coroa de ouro para sua aceitação, perguntando-lhe se considerava-se com a coragem suficiente para afrontar as provas pelas quais deveria passar. O aspirante, sabendo que devia rechaçar a coroa, jogava-a ao chão e a pisoteava[11] (Tertuliano, Sobre o Batismo, cap. 5). Então o Rei exclamava, “Ultraje! Vingança! E brandindo o machado sacrifical, golpeava (suavemente) sua cabeça (O imperador Cômodo cumpriu este trabalho por um dia, fazendo-o de maneira tão enérgica que se voltou trágica). Os dois Tapixeytes derrubavam o aspirante, e os Parakistes o envolviam com vendas de múmia; no meio dos gemidos dos assistentes, o transportavam através de uma porta sobre a qual estava escrito “Santuário dos Espíritos”, e à medida que se abria, se ouviam trovões, relâmpagos e o suposto morto se encontrava rodeado de fogo (Apuleio, Metamorfosis, Livro 2). Charon tomava posse del como espírito, descendo entre os juízes das sombras, onde Plutão estava sentado em seu trono, tendo Radamanthus e Minos a seu lado, também Alecton, Nicteus, Alaster, e Orfeu (Deodoro de Sicilia, Orfeu, Livro 4). Este temível tribunal lhe dirigía severas críticas em relação ao curso de sua vida, e finalmente o condenava a vagar pelas galerias subterrâneas. Então lhe retiravam as vendas e os atados mortuários.

Então recebia a instrução de:

Nunca ter sede de sangue, e sempre assistir aos membros da sociedade, cuja vida estiver em perigo.

Nunca deixar um corpo morto sem sepultura.

Aguardar a ressurreição do morto e o futuro julgamento.[12]

O novo Melanephoris tinha que estudar desenho e pintura, dado que uma parte de seus trabalhos consistia na decoração de sarcófagos e múmias. Era-lhe ensinado um alfabeto particular, chamado Hierogramático, que lhe era sumamente útil, dado que a História do Egito, sua geometria e os elementos de astronomia estavam escritos em ditos caracteres. Também recebia lições de retórica, assim saberia como dar orações fúnebres em público.

O signo de reconhecimento consistia em um peculiar abraço, cujo objeto era expressar o poder da morte. A palavra era – Monach Caron Mini – “Eu conto os dias de cólera”.

O Melanephoris permanecia nestas galerias subterrâneas até que lhes fosse possível julgar sua capacidade para avançar nas ciências mais elevadas; sendo obrigado a passar o restante de seus dias neste lugar se não alcançasse o verdadeiro conhecimento.


Quarto Grau – Chistophoris
Batalha das Sombras (Tertuliano, De Militis Corona)

A duração da cólera era geralmente de dezoito meses e havendo este transcorrido, o Tesmophores ia ver o Iniciado, o saudava gentilmente, e depois de armá-lo com uma espada, o incitava a segui-lo. Eles recorriam às sombrias galerias, quando abruptamente alguns homens com máscaras de figuras horrendas, com chamas em suas mãos e serpentes em volta, atacavam o Iniciado, gritando – “Panis!”

Os Tesmophores o incitavam a confrontar todos os perigos e a sobrepor-se a todos os obstáculos. Ele se defendia com coragem, porém sucumbia ao número; então, eles vendavam seus olhos e passavam uma corda em volta de seu pescoço, por meio da qual era levado à sala onde recebia um novo grau. Logo era levantado, estendido e introduzido na assembleia, com grandes dificuldades para sustentar-se por seus meios.

A luz era restituída, e seus olhos ficavam deslumbrados com o brilho das decorações; a sala oferecia um conjunto de magníficas imagens. O Rei, em pessoa, estava sentado junto ao Demiurgos, o Grande Inspetor da Sociedade. Por debaixo destes altos personagens, estavam sentados o Stolista (Purificador pela Água); o Hierostolista (Secretário), levando uma pluma em seu penteado; o Zacoris (Tesoureiro); e o Komastis, ou Supervisor de Banquetes. Todos levavam a Alydee [Aletheia], verdade. Era uma decoração egípcia (Actianus, Var. Hist. liv.14, cap. 34, fala nestes termos: - “Eum omnium hominum justissimum et tenacissimum opportebat qui circa collum imaginem ex saphiro gemma confectam gestabat.”).

O orador ou cantor[13] pronunciava um discurso no qual elogiava o novo Chistophoris por sua coragem e resolução. Ele insiste ao neófito para perseverar, dado que somente havia completado a metade de seus labores e que teria que suportar até mostrar provas completas de sua integridade.

Eles lhe davam uma taça cheia de uma bebida muito amarga, que chamavam cice, que devia beber [Esta era a autêntica bebida que levava o nome de Xuxeon. Ahenee, liv. 9]. Eles o investiam com diversos ornamentos. Ele recebia o [anel] de Ísis (Minerva); lhe punham as [bolsas] de Anubis (Mercúrio); o cobriam com o manto de Orci, ornamentado com um capuz.

Eles lhe ordenavam tomar uma cimitarra que lhe ofereciam, com o fim de cortar a cabeça de um indivíduo que se encontraria no fundo de uma profunda caverna a qual teria que entrar, para levar-lhe a cabeça ao Rei. Nesse momento todos gritavam – “Niobe, aqui está a caverna do inimigo!” Ao entrar ali, ele percebia a figura de uma mulher muito bela; estava revestida de uma pele muito fina, e tão artísticamente realizada que parecia ter vida.[14]

O novo Chistophoris se aproximava à figura, a tomava pelos cabelos e lhe cortava a cabeça, apresentando-a ao Rei e ao Demiurgos. Depois de aplaudir esta ação heróica, eles lhe informavam que era a cabeça de Gorgo (Gorgo, Gorgol, Gorgona, são os nomes egípcios da Medusa), a esposa de Typhon, que era a causa do assassinato de Osíris. Eles aproveitavam esta circunstância para inculcar-lhe que sempre deveria ser o vingador do mal. Então recebia a permissão de por as novas roupagens que lhe entregavam. Seu nome era inscrito em um livro junto a outros Juízes do país. Ele se regozijava em livre comunicação com o Rei e recebia seu alimento diário do Tribunal (Deodoro de Sicilia, liv. 1, De Judiciis Aegyptiorum).

Juntamente com o código da Lei, lhe davam uma decoração que só podia levar na recepção de um Chistophoris, ou na Cidade de Sais. Ela representava Ísis, ou Minerva, sob a alegoria de uma coruja; e a alegoria era assim interpretada: - O homem, em seu nascimento é cego como a coruja, e se converte em homem somente com a ajuda da experiência e da luz da filosofia. O casco expressava o mais alto grau de sabedoria; a cabeça decapitada, a repressão das paixões; o anel, uma defesa legítima contra a calúnia; a coluna, firmeza; a vasilha de agua, uma sede de ciência; o carcajo adornado com flechas, o poder da eloqüência; a pica, persuasão levada a seus limites, quer dizer, que por sua reputação alguém pode causar grande impressão à distância; os ramos de palmeira e oliveira, os símbolos de paz (Grand Cabinet Romain, p.26). Eles lhe diziam logo que o nome do grande legislador era Joa[15] (Deodoro de Sicilia, liv.1, De Egyptiis Legum Latoribus). Este nome era também o nome da Ordem.

Os membros, em ocasiões, faziam reuniões onde os somente Chistophoris podiam ser admitidos. Os Capítulos eram chamados Pixon (Fonte ds Justiça); e a palavra em uso nessas tendas era Sasychis (um antigo sacerdote do Egito).

Era ensinado ao Iniciado a linguagem Amúnica (o Amúnico era uma linguagem misteriosa; ver a palavra do 1º). O aspirante, havendo superado os Mistérios Menores, cujo objetivo era prepará-lo, o instruíam nas ciências humanas, até o momento em que fosse admitido aos Grandes Mistérios e ao conhecimento da doutrina sagrada, chamada a Grande Manifestação da Luz, quando não houvera mais segredos para ele.[16]


Quinto Grau – Balahate

O Chistophoris tem o direito a demandar e o Demiurgos não pode recusar outorgar este Grau. O candidato era conduzido à entrada, onde era realizada a audiência, sendo recebido por todos os membros. Então era conduzido a outra sala, disposta para uma representação teatral, na qual era, de certa forma, o único espectador, e na qual cada membro tomava parte.

Um personagem chamado Orus acompanhava vários Balahate, que portavam tochas; eles marchavam para a sala e pareciam estar buscando algo. Orus desenbanhou sua espada ao chegar à entrada de uma caverna, da qual saíam chamas; na parte inferior dela, estava o assassino Typhon, com aparência de ânimo decaído. Ao se aproximar Orus, Typhon se levantou, tomando uma aparência terrífica, com uma centena de cabeças sobre seus ombros, todo seu corpo coberto de escamas e sus braços de enorme longitude. Orus avançou para o monstro sem permitir ver-se amedrontado por seu terrível aspecto, derribando-o e afastando-o. Logo o decapitou, e tirou seu corpo da caverna, o qual seguia vomitando chamas. Logo, em silêncio, exibiu as horrorosas cabeças.

Este cerimonial terminava com a instrução que se dava ao Balahate, que incluía a explicação desta alegórica cena. Era dito que Typhon simbolizava o fogo, que é um dos mais terríveis agentes, não obstante, sem o qual nada pode ser feito no mundo. Orus representava a indústria e o labor, por meio das quais o homem realizava grandes e úteis empresas ao dominar a violência do fogo, dirigindo seu poder e apropriando-se de sua força.

O Chistophoris era instruído em Química e a arte de decompor as substâncias e mudar os metais. Ele contava com a assistência de mestres quando necessitava das investigações e experiência que eles tinham nessa ciência.

A palavra da ordem era Chymia.


Sexto Grau – O Astrônomo ante a Porta dos Deuses

A preparação deste grau começava pondo-se correntes no Candidato. Os Tesmophores o conduziam à Porta da Morte, que tinha que descer por quatro etapas, devido a que a Caverna de recepção era a previamente usada para o terceiro grau e que nesta ocasião estava cheia de agua, com a finalidade de deslocamento da Barca de Caron [Caronte]. A presença de alguns sarcófagos causava impacto aos olhos do Candidato. Era-lhe informado que eles conservavam os restos daqueles membros que traíram os segredos da sociedade; e o ameaçavam com o mesmo destino se cometesse tais crimes.

Então era situado ao centro da assembleia, com a finalidade de tomar-lhe um novo juramento. Depois de tê-lo pronunciado, lhe explicavam a história da origem dos deuses, que eram objeto de adoração do povo e por meio dos quais eles dirigiam sua credulidade; porém, também lhe indicavam a necessidade de conservar o politeísmo para o comum das pessoas.[17] Eles ampliavam as ideias que lhe haviam sido apresentadas no primeiro grau sobre a doutrina do Ser único que abarca todo o tempo, preside sobre a união e regularidade do universo e quem, por sua natureza, está acima da compreensão do espírito humano.

O grau foi consagrado à instrução do Neófito no conhecimento e prática da astronomia. Ele estava obrigado a dedicar a noite a observações e a cumprir com os labores que lhe encomendavam. Ele era advertido a estar precavido contra os astrólogos e desenhistas de horóscopos, a quem viam como autores da idolatria e da superstição, pelo que esta Escola de Mistérios tinha-lhes aversão. Estes astrólogos haviam eleito a palavra Phoenix como palavra da ordem, à qual os Astrônomos ridicularizaram.[18] (Heródoto, Hist. Aethiop., liv. 3).

Depois da recepção, conduziam o Iniciado para a Porta dos Deuses e o introduziam no Panteão, onde ele contemplava a todos os deuses e os via representados por pinturas magnificentes. O Demiurgos relatava novamente a história, sem ocultar-lhe nada.

A palavra do grau era Ibis, significando grua, que significava vigilância.


Sétimo Grau – Profeta ou Saphenath Pancah
(O homem que conhece os Mistérios – Jâmblico, De Misterios Aegypt)

Este grau era o último e o mais eminente. Nele davam a mais completa e detalhada explicação de todos os Mistérios.

O Astrônomo não podia obter este grau, que estabelecia sua aptidão em todas as funções, públicas e políticas, sem o consentimento do Rei e do Demiurgos; e ao mesmo tempo, o consentimento geral dos membros internos da Sociedade.

Eles punham à sua disposição, uma lista de todos os Grandes Inspetores, na ordem cronológica na qual haviam vivido, e também uma lista de todos os membros da sociedade espalhados sobre a face do globo.[19] Eles lhe ensinavam a dança sacerdotal que figurava o curso das estrelas (Luciano, De Saltatione).

A recepção era seguida por uma procissão pública à qual davam o nome de Pamylach (Oris circunciso - circuncisão da língua). [Esta pareceria uma expressão figurada, pela qual queriam dizer que o Neófito adquiriu todo o conhecimento que poderiam dar; sua língua era aguda e lhe era permitido falar de todo conhecimento.][20]

Eles exibiam então ao povo os objetos sagrados.

A procissão finalizava; os Membros da Sociedade partiam clandestinamente para a cidade durante a noite, retirando-se a um lugar fixado e reunindo-se novamente em algumas casas de forma quadrada, que tinham vários aposentos ornamentados com admiráveis pinturas, representando a vida humana (viagem de Lucas ao Egito). Estas casas eram chamadas Maneras (residência de Manes), porque o povo acreditava que os Iniciados tinham um particular tratamento com os Manes do defunto; as Maneras estavam ornamentadas com um grande número de colunas, entre as quais havia alguns sarcófagos e uma esfinge.

Ao chegar, ao novo profeta era oferecida uma bebida chamada Oimellas (verdadeiro oinomeli, composto de vinho e mel, Athenee, Liv. 9), comunicando-lhe que havia chegado ao final de todas as provas.[21]

Ele era então investido com uma cruz, cuja significação era peculiar[22] e somente conhecida aos Iniciados, que devia levar continuamente. (Rufino. Liv. 2, Cap. 29).

Ele era investido com uma bela toga com raios brancos, muito ampla, chamada Etangi. Eles raspavam sua cabeça e seu penteado era de forma quadrada. (Pierius, Liv. 32, Gd. Cabinet Romain, p. 66).

O signo principal se realizava levando as mãos cruzadas nas mangas da toga, que eram muito largas. (Porfirio, De Abstinentia).

A palabra de ordem era Adon[23]  (Senhor, raiz de Adonis, singular Adonai. Histor. Deor. synt. Prim., Lilio Gregor autore p. 2).

O Profeta tinha permissão para ler todos os livros misteriosos que estavam na língua Amúnica, para o qual lhe davam a chave, que chamavam Poutre Royale. (Plutarco, De Amore Fraterno. Diodoro de Sicilia, in Auditionibus). A maior prerrogativa de seu grau era a contribuição de seu voto na eleição do Rei (Synesus, De Providentia). O novo Profeta, depois de um tempo, podia subir aos cargos da Sociedade, e ainda ao de Demiurgos.


Os Ofícios e Oficiais

1º - O Demiurgos, Grande Inspetor da Sociedade. Ele vestia uma toga em azul céu, salpicada de estrelas bordadas, e um cinturão amarelo (Montfaucon, Liv. 2, p. 102, fig. 1; Ungerus, De Singulis). Ele levava em seu pescoço uma safira rodeada de brilhantes e suspenso em uma corrente de ouro. Ele era também Supremo Juíz de todo o país.

2º - O Hierofante estava vestido de maneira similar, exceto que levava em seu peito uma cruz.

3º - O Stolista estava a cargo da purificação do Aspirante pela água, vestia uma toga de raios brancos e um calçado de forma peculiar. Estava a cargo da custódia do vestíbulo.

4º - O Hierostolista (Secretário) tinha uma pluma em seu penteado e tinha em sua mão um vaso de forma cilíndrica, chamado Canonicon, para a tinta.

5º - O Thesmophores, encarregado da introdução dos Aspirantes.

6º - O Zacoris cumpria as funções do Tesoureiro.

7º - O Komastis tinha a cargo os Banquetes e controlava os Pastophores.

8º - O Odos era Orador e cantor.


Banquetes

Todos os membros estavam obrigados a lavar-se antes de ir à mesa. Não lhes era permitido o vinho, porém podiam tomar uma bebida similar a nossa moderna cerveja.[24]

Eles levavam em volta da mesa um esqueleto, o Butoi (Sarcophagus[25], figura de um ataúde).[26]

O Odos entoava um hino chamado o Maneros, que começava assim: “Oh morte! Vem em uma hora conveniente”. Todos os membros se uniam em coro.

Quando o ágape concluía todos se retiravam; alguns para atender suas ocupações, outros para dedicar-se à meditação; o maior número, de acordo com a hora, para saborear as bondades do sono, com a exceção daqueles cuja tarefa era estar de guarda para conduzir pela Porta dos Deuses (Birantha), aos iniciados de 6º que desejavam fazer observações celestes; estes estavam obrigados a passar a noite inteira a secundar, ou melhor, dirigir os labores astronômicos.


Tradução da versão inglesa, incluída no “Freemasonry of the Ancient Egyptians”, de Manly P. Hall, por Harmakis e para o português[27] pela Frater Lucis IAO Abraxas.


[1] O governo do antigo Egito era teocrático. Ainda que o Faraó parecia ser a cabeça do Estado, os sacerdotes eram os verdadeiros governadores do império. O rei era posto em seu trono pelos sacerdotes, mantido ali pela influência sacerdotal, e permanecia toda sua vida sob a tutela e proteção do sacerdócio. Os templos eram os santuários das Letras e das Ciências, e o saber em todos os seus ramos era cultivado exclusivamente pelo sacerdócio.

Na civilização moderna é considerado como princípio sagrado que o conhecimento seja de propriedade comum; toda a humanidade tem direito a participar no conhecimento de acordo com a amplitude de suas capacidades intelectuais. Porém no Antigo Egito, o conhecimento foi considerado como um alto privilégio, e a educação estava sob a direção de um pequeno número de indivíduos escolhidos que estavam organizados nas Escolas de Mistérios ou nas instituições sagradas do Estado. Os membros destes grupos estavam unidos por vínculos, votos e juramentos de segredo.

[2] O Hno. Godfrey Higgings sugere que esta é a origem da crença popular de que todos os Franco-Maçons estão marcados.

[3] Os Drussos e outras sociedades conhecidas em nosso 29º seguem o mesmo antigo costume.

[4] O Yoga Hindú faz o mesmo, porém isto é para dar a oportunidade de adotar costumes de hibernação, e contribuir ao resultado.

[5] Por esta se entende aquela que é chamada na Franco-Maçonaria do século XVIII como o gabinete de reflexão, habitação destinada à concentração e meditação.

[6] Um dos mais profundos segredos das doutrinas metafísicas da Antigüidade foi a crença em um Deus perfeito, uno, único e eterno. Os mais sábios iniciados reconheceram a unidade do divino princípio e deixaram a população ignorante e desinformada das teologias politeístas. Os Gregos, como os Egípcios, reconheciam um Deus, cujos mistérios celebravam com apropriados rituais e ritos. Os menos informados entre os Gregos, entretanto, continuavam venerando um elaborado panteão de divindades. O culto do Deus Uno era celebrado pelos maiores filósofos Gregos no templo de Eleusis, sob o pretexto de venerar a Deusa Ceres.

[7] Este pode ser considerado como improvável, porém, entretanto, é certo. Os Drussos o apresentam como a última grande prova ao Iniciado, e o advertiam severamente por não cumprir com seu juramento. Isso precede às obscuras aparições na qual pode ser chamada Sala dos Espíritos, que eles fazem aparecer à vista do Iniciado pela vontade mesmérica, pelos dias de jejum e pelas provas.

[8] Os Coptos possuíam a arte de privá-los do veneno.

[9] O Caduceu de Mercúrio é o emblema do movimento do Sol em torno da eclíptica (nota editorial: o movimento do Sol está representado pelas serpentes, porém esta é uma das interpretações deste símbolo).

[10] Clemente de Alexandria disse algo similar. Parece também confirmado por recentes descobertas de inscrições Assírias. Também existem ainda sociedades da mais antiga data, no refúgio do Himalaia, que transmitem tal informação. Em algum momento vamos dar a conhecer um escrito em relação com o tema, e mostrar a importância destas sociedades na transmissão dos Antigos Mistérios e da Moderna Franco-Maçonaria.
Quando relacionamos esta particularidade com o comentário que encontramos em um famoso livro, encontramos sem dúvida que a similitude dos sistemas merece l concentrada atenção dos pensadores. Não devemos esquecer que o autor do Gênesis havia sido levado à corte do faraó Egípcio e havia sido iniciado nos Mistérios. Em outras palavras, ele havia adentrado profundamente nos segredos do templo e havia obtido a posse de um conhecimento secreto, cuja profunda significação nunca foi posta em dúvida. Moisés, assim mesmo, alcançou a maestria no princípio da legislação religiosa e deu prova disso quando se converteu em líder de seu povo.

[11] Nos Mistérios de Mitra ele respondia, “Mitra é minha Coroa”.

[12] El Editor afirma que este es un error, atribuido a Platón, que habría comprendido mal su instrucción Egipcia.

[13] Ninguém pode duvidar que as linguagens antigas eram harmoniosas em sua pronunciação. As linguagens primitivas estavam compostas somente de consoantes. O leitor inseria as vogais de acordo com certas regras aceitas. Este é um dos princípios da Qabalah. Os oradores e sacerdotes, ao recitar coisas sagradas se expressavam em uma espécie de canto. A poesia é a linguagem dos Deuses, e é natural conferir um certo ritmo à recitação de hinos e poemas sagrados.

[14] Os antigos provavelmente conheciam a epiderme que cobre o interior da papada do boi. Tem diversos usos, o mais importante na cirurgia.

[15] A palavra Jehová expressa, sem dúvida, Joa. É significativo que esta última seja a palavra sagrada do grau 88 de Misraim. É devido a um erro que é escrita como Zao nos livros dos Ritos, e no Tuileur de Tous Les Rites [Orientador de Todos os Ritos], pág.421, entretanto, verdadeiramente podemos dizer que o J ou Dja dos Hindús era expressa pelo Z em alguns países.

[16] Jâmblico explica isto claramente. Os Sacerdotes exibiam ao Epoptae as variadas ordens de Espíritos. O Herói, os semi-deuses, as potências elementais, arcanjos, anjos e Espíritos tutelares. Mais ainda, eles descreviam e explicavam a origem e as qualidades destas diferentes ordens do mundo superior, de uma forma clara e precisa, mostrando a grande perfeição à qual haviam chegado na ciência da Teologia. – John Yarker.

[17] A tradição do politeísmo não era absurda em suas origens. Estas tradições eram resultado da invenção de engenhosos emblemas, desenhados para revelar os princípios da vida e dos trabalhos da lei universal. Os emblemas mesmos foram confundidos com os princípios que representavam. Assim, por exemplo, o boi foi utilizado para simbolizar a força, porém, no curso das idades, o verdadeiro significado foi esquecido e os homens renderam culto ao boi, não como uma figuração, senão como uma realidade. Os Heróis eram venerados por suas prodigiosas ações, extraordinárias virtudes, estando em gratidão pelos serviços por eles prestados à sociedade. Depois de um tempo, os mortais não imaginativos deificaram estes heróis, honrando aos homens antes que às virtudes que eles representam. Assim é como a superstição desnaturaliza as coisas razoáveis, levando ao ignorante o erro e os abusos que inevitavelmente resultam do erro.

[18] Nesses remotos tempos, os sacerdotes professavam as doutrinas mais sãs e iluminadas, e eram os inimigos da ignorância, a traição, o engano e a superstição. É uma verdade demonstrada por milhares de exemplos, que o conhecimento desenvolve a inteligência; que as luzes da Filosofia, ao elevar a alma, expandem a razão e conduzem ao homem a idéias que são justas, opiniões que são sábias, sentimentos que são filantrópicos, e ações que são honráveis e proveitosas.

[19] Com a declinação dos Mistérios pagãos, os membros das escolas secretas se separaram, e viajando a diferentes partes do mundo, eles espalharam os fragmentos das velhas doutrinas entre muitas raças e povos. Assim, uma porção da filosofia professada por aqueles que viviam junto ao Nilo penetraram nos bosques da Alemanha, onde se mesclaram com práticas bárbaras e perderam sua pureza e sublimidade. As perseguições religiosas nas diferentes eras deportaram iniciados que espalharam as filosofias em nações estrangeiras. É fácil entender como as sábias doutrinas, disseminadas entre gente inculta, perderam seu sentido, e se degradaram em despotismo teológico e superstição fanática.
Thomas Paine, menciona investigações que realizou acerca da origem da Franco-Maçonaria entre os hábitos e práticas dos Druidas. Outros escritores sustentam que a Franco-Maçonaria teve suas origens nos ritos praticados nas Pirâmides. Isso indicaria que a presença de simbolismo Franco-Maçônico entre tantos povos diferentes, aponta a uma origem comum dos símbolos, da doutrina e da interpretação.

[20] Esta é provavelmente uma nota de um Irmão Francês, que traduziu o trabalho do Alemão. É provável que a circuncisão fosse real e não figurativa. Os praticantes Hindús de Hatha Yoga, tem a língua cortada na parte de baixo para que esteja solta, de maneira de poder inserir a ponta na garganta, e assim deter a respiração. – J. Y.

[21] O relato referente ao doce e agradável licor que se oferecia ao novo profeta deveria entender-se alegoricamente. A taça representava o conhecimento ou sabedoria da qual os homens bebem como de uma fonte de água viva.

[22] A forma da Cruz nos leva muito mais anteriormente da origem do Cristianismo. Os Gregos, por exemplo, usavam ornamentos cruciformes. Suas construções, consagradas a várias crenças religiosas, estavam construídas em forma de cruz. Esta forma representa os quatro pontos cardeais ou ângulos do mundo.

[23] A palavra Adon significa senhor e é a raiz de Adonis, que é o singular de Adonai.

[24] Os sacerdotes Egípcios eram muito estritos no uso de qualquer bebida alcoólica e não permitiam vinhos ou bebidas fortes em nenhuma de suas ordens. Maomé concordou com esta atitude e fez da temperança um dos pilares do Islã.

[25] É daqui, segundo parece, que a palavra sarcófago teve sua origem.

[26] De acordo com as antigas tradições, nos banquetes importantes sempre se encontrava sentado um esqueleto humano no lugar de honra, recordando os participantes que ainda quando festejavam e se divertiam, a morte nunca estava longe deles; para usar um velho adágio, vive bem neste mundo, porém nunca esqueças que prontamente deixarás este estado temporal.


[27] Também há uma tradução muito semelhante a essa em português, do livro Ritual do Grau de Mestre, de J.M.Ragon – Editora Pensamento.