segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

BÁRBARA DE ALENCAR, HEROÍNA DA PÁTRIA









A Lei 13.056 inscreveu o nome de Bárbara Pereira de Alencar no Livro dos Heróis da Pátria.

No dia 4 de maio de 1817, acontecia a Proclamação da República no Crato/CE, por José Martiniano Pereira de Alencar, seu irmão Tristão Gonçalves Pereira de Alencar (depois Alencar Araripe), Frei Francisco de Santa Ana Pessoa e Inácio Tavares Gondim. Nesse evento fantástico, elegeu-se a primeira presidente mulher no Brasil.

Nascida no dia 11 de fevereiro de 1760 na casa grande da fazenda Caiçara em Exu, Bárbara Pereira de Alencar é considerada a primeira presa política do país. De fato, na chamada república do Crato, a sra. Bárbara de Alencar, avó do romancista José de Alencar, foi indicada como líder. Portanto, a primeira presidente do Brasil pode não ter sido Dilma Rousseff. O fato é que, ao contrário de Dilma, Bárbara de Alencar foi presa depois de exercer seu "mandato", que durou apenas sete dias.

Com efeito, a subversiva senhora foi detida depois do movimento revolucionário de 1817, quando no dia 11 foi restaurada a autoridade do rei pelo Capitão-mor José Pereira Filgueiras. A propósito, o ato sedicioso no Crato era uma extensão do movimento de emancipação realizado em Recife, pouco antes, e que contou com o engajamento de Bárbara de Alencar e seus filhos. Ela ficou presa por quatro anos, na Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. Morreu a 28 de agosto de 1832, em Fronteiras, sertão do Piauí, sendo sepultada na igreja de Nossa Senhora do Perpétuo do Socorro, no distrito de Itaguá, zona rural de Campos Sales, região do Cariri cearense.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

DO CONTRATO SOCIAL





Por João Florindo Batista Segundo


“Do Contrato Social”(1762) é a obra mais popular do filósofo político suíço Jean Jacques Rousseau (1712-1778), a qual deve ser lida como fruto do contexto social da época. Neste viés, é sabido que embora Rousseau fosse iluminista, assim como os pensadores de sua época, ele não compartilhava de uma visão otimista da história e do iluminismo, o que ele deixa claro logo no início do “Contrato”, quando diz não saber a origem das injustiças que afligem os menos favorecidos socialmente. Outrossim, ele entendia muito bem o que era exclusão social, já que os pais vinham das camadas mais pobres, pelo que, muito embora tenha granjeado fama ainda em vida, Rousseau sempre se esquivou dos salões onde a maioria dos pensadores da época flertavam com a nobreza egoísta.

No “Contrato”, dividido em quatro livros, a grande pergunta sobre a qual o nosso pensador se debruça é como encontrar uma associação de homens que defenda com toda a forçaa pessoa e o patrimônio de todos os seus membros, sem tirar-lhes a autonomia. Denota-se,ab initio, que do contrato previsto por Rousseau estão excluídos a escravidão e o individualismo, pois a vontade individual deve submeter-se à vontade da maioria: dá-se aí a distinção entre vontade de todos e vontade geral, vez que a primeira concerne ao interesse privado e a segunda ao interesse comum.

No Livro I, composto de nove capítulos, Rousseau se propõe a investigar a existência de uma ordem civil, legítima e segura, capaz de tornar os homens mais felizes, ao tempo em que apresenta a passagem do homem natural ao civil, aborda a liberdade natural do ser humano, como ele a perdeu e como ele poderia recuperá-la, estes últimos tempos discorridos em mais detalhes no pequeno ensaio Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens (1755). O ineditismo de seu pensamento reside ainda em declarar que o soberano é o povo e o governo deve estar sujeito ao povo, que é quem compete escolher seus representantes e a melhor forma de governo. Além da defesa da coletividade, a passagem do estado natural para o civil é consequência da necessidade de uma liberdade moral.

No Livro II, Rousseau discorre em doze capítulos sobre os aspectos jurídicos do estado civil. Para ele, o “soberano” (que é o povo) deve agir de acordo com a “vontade geral” do povo, o que é o limite do poder do governante. Assim, para que o contrato social seja válido, o povo deve ser criador das leis e também submisso a elas, ou seja, cidadão na primeira situação e súdito na segunda.

Já no Livro III, o autor explana sobre a democracia, a aristocracia e monarquia, com destaque para o fato de que, para ele, o que institui um bom governo é o sinal de conservação e prosperidade dos que dele fazem parte, demonstrada pelo povoamento do território: onde o povo diminui e enfraquece há um mal governo. Explica ainda que a democracia é adequada para cidades pequenas, a aristocracia para Estados de médias dimensões e a monarquia para Estados grandes.

No Livro IV, Rousseau defende a liberdade de crença, ao afirmar que seria útil ao Estado que fosse tolerante com todas as religiões e que essas fossem tolerantes umas com as outras. Tal liberdade, todavia, seria parcial, pois, para ele, o governo deveria usar a lei para banir qualquer religião prejudicial ao corpo social, de maneira que as doutrinas deveriam se coadunar aos ideais governamentais.

Dentre as características essenciais do pacto, ou contrato social previsto por Rousseau, deve-se ter em mente que:
·        Realiza-se no interior de um Estado vigente, todavia ilegítimo, que só seria legítimo quando oriundo da vontade de todos os indivíduos.
·        Decorre do contrato que o indivíduo adquire a liberdade civil ou cidadania, a despeito da liberdade natural que perdera antes.
·        O contrato consiste essencialmente da distribuição equânime das obrigações e participação na vida política.
·        O contrato só se efetiva quando há garantia de preservação dos bens materiais e da vida.

Outro ponto pertinente é quando traça as características do estado civil ilegítimo, que se dá quando os homens em sociedade ilegítima estão submetidos à exploração econômica por outros homens mais poderosos, que são os proprietários, responsáveis por empregar coerções que obstaculam ou anulam a liberdade individual dos não proprietários. Já o estado civil legítimo funda-se na vontade geral do próprio povo e tem como função garantir o bem estar social.

Quanto às formas de governo, para Rousseau, na república, o corpo político quando ativo é chamado de soberano, quando passivo é chamado de Estado e quando comparado a seus semelhantes é chamado de poder ou potência. Já o povo quando ativo é chamado de cidadão, pois participa da elaboração de leis civis nas assembleias e quando passivo é chamado de súdito, pois se submete às leis do Estado que foram criadas por eles enquanto cidadãos. No que tange à república é todo Estado regido por leis, de maneira que mesmo a monarquia pode ser uma república; decorre daí também que o povo submetido às leis deve ser o autor delas, porém quando o povo não sabe criar leis, é preciso que escolha um legislador, o que o autor admite que é uma tarefa difícil. Outro ponto pertinente é que os governantes, ou magistrados, não devem ser numerosos, para não se enfraquecer, pois quanto mais atua sobre si mesmo, menos influência tem sobre o todo.

Oportuno também demonstrar a distinção que Rousseau tece entre Estado e governo. O primeiro é o corpo político, detentor de papel primário, no qual o povo é o soberano e escolhe os membros do governo.  Já o segundo é o corpo administrativo, detentor de lugar secundário, constituído pelos funcionários do soberano.

Outra distinção esclarecedora do genebrino é a que ocorre entre o público e o privado. O público, para ele é condição objetiva, na qual o indivíduo é cidadão ou súdito, pautando-se pelo interesse comum, referindo-se ao coletivo e à vontade geral. Já no privado se dá condição subjetiva, por conta do egoísmo do indivíduo, que se pauta no interesse de todos, referente ao todo e à vontade de todos de apenas zelar por acumular para si próprio.

Diferentemente de Hobbes, para Rousseau o governo não é estabelecido para coibir a guerra de todos contra todos, mas, sim, um corpo intermediário estabelecido para correspondência mútua entre governados e governantes.

Tamanha foi a influência política das ideias do cidadão de Genebra na obra de cunha teórico-político de 1762, que alguns denominam o livro de “a Bíblia da Revolução Francesa”, pois foi inspiração para o conceito de soberania popular, onde a vontade geral do povo é superior à vontade singular do príncipe. Seu pensamento teve influência decisiva no Ocidente e em seguida por todo o orbe, no que tange à reforma do Estado, pelo que ainda hoje é debatida nas academias, no âmbito do direito, filosofia, ciência política, ciências sociais e outras áreas.

Diante de tudo o exposto, claro está que “Do Contrato Social” pela relevância de suas transformadoras ideias, marcou época e modificou para sempre o pensamento da humanidade: pertinente, por exemplo, recordar também que ele influenciou até mesmo a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), vez que no início do “Contrato”, Rousseau declara que “os homens nascem livres e iguais”, bem como nesta obra pela primeira vez se fez menção explícita à expressão “direitos do homem”.


REFERÊNCIA
ROUSSEAU. Jean-Jacques. O Contrato Social: princípios do direito público. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.


domingo, 17 de agosto de 2014

PÍLULAS SOBRE O RITO DE YORK - 1




Os graus filosóficos do Rito de York americano não são representados por números. Assim, p. e., Maçom do Real Arco é MRA e não Grau 7.

Isto ocorre porque, tradicionalmente, os graus são conferidos por câmaras independentes (Capítulo, Conselho e Comanderia Templária) e antigamente, eram recebidos até mesmo fora da sequência atual: você podia galgar o grau de Cavaleiro Templário sem ter passado pelo Conselho de Crípticos. Bem diferente do Rito Escocês Antigo e Aceito, onde os graus são conferidos em 4 câmaras subordinadas a um mesmo Supremo Conselho.

A maior prova disso está na famosa ilustração do Maçom Everett Henry (33º), publicada na revista Life, edição de 08 de outubro de 1956: do lado escocês, há números; do lado do York, não há.

segunda-feira, 31 de março de 2014

FASES DA OBRA ALQUÍMICA





Etapas do processo alquímico: 1) Calcinação, 2) Sublimação, 3) Solução/Solver, 4) Putrefação/Fermentação, 5) Separação/Destilação, 6) Coagulação, 7) Tintura/União.


Por Rosangela Corrêa


1) Calcinação: Consiste em submeter um corpo, uma pedra, p. ex., a um calor elevado, para que este libere a água. Então, quando o cliente chega ao consultório, ele chega calcinando, mas calcinando pela água, que representa as emoções agindo de forma destrutiva, cristalizando os complexos. Sendo assim, o trabalho do analista, nesta fase, é colocar o fogo, mas um fogo planejado, ou seja, utilizar o fogo do cliente em processo de analise, para combater o próprio fogo. Utilizando a ferida, fruto da queixa daquela calcinação, para calcinar a própria ferida. Promovendo assim, a mudança de dimensão, que através da calcinação evoluirá de nigredo para outra chamada de albedo.

2) Sublimação: Consiste em converter um corpo de estado sólido para estado gasoso. Para Jung, a sublimação corresponde a ação de colocar ar, ou seja, pensamento, ampliação de consciência, em cima da cal ou do pó que possibilita manuseio, pois ainda não tem forma, ou seja, o complexo que foi calcinado e agora tornou-se pó, permite e gera condições para o individuo lidar com a sombra, com os infernos internos. E neste momento, o analista junto ao cliente começa a planejar ou imaginar como ele, cliente, quer lidar com a vida, averiguando e identificando suas reais expectativas, referente à situação em que esteja inserido, e o que, de fato, espera de sua própria existência, de maneira ampla e global. E depois desta sincera avaliação, de âmbito absolutamente pessoal, passam a verificar as disposições de merecimento, também, pessoal, mediante as expectativas planejadas e esperadas. Visto que, p. ex., é improvável que uma pessoa adquira fluência em idioma estrangeiro, sem empenhar esforço e recursos pessoais para o aprendizado do mesmo.

3) Solução/Solver: Nesta fase o líquido homogêneo resultante da dissolução, pode ser reutilizado. Portanto, podemos colocar o sentimento novamente, mas agora de forma consciente, lógica, inteligente. Em outras palavras, ao passarmos pelas etapas de calcinação e sublimação, fazemos com que o individuo tenha percepções intuitivas para poder tirar a exuberância da carga emocional dos complexos, e através da etapa solução, o indivíduo possa solver, aproximando o sentimento sem correr o risco de despertar o complexo novamente, dando nova forma a antigos conteúdos. E neste momento, também criamos condições para o individuo galgar outra dimensão, em que podemos chamar de rubedo.

4) Putrefação/Fermentação: Consiste no processo de decomposição. Sendo assim, agora a presença da água/sentimento, diante daquele conteúdo, não calcina mais pelo fogo devastador, mas, ainda assim, provoca o equivalente a uma calcinação, só que nesta etapa, de forma branda, pois consiste na putrefação ou fermentação. Isto corresponde às necessárias mortes simbólicas, para a possibilidade de renovação, de criação, visto que, precisamos fazer substituições de conteúdos destrutivos por conteúdos construtivos. Nesta etapa acontecem as transformações, tendo em vista que, a base da alquimia é a troca, e se perdemos ou negligenciarmos a troca, também perderemos a oportunidade de transformação. Temos que estar atentos e dispostos para promovermos as necessárias quebras dos padrões de cristalização, para assim, rearranjarmos a própria economia psíquica.

5) Separação/Destilação: Consiste em isolar através da evaporação e a imediata condensação dos componentes voláteis, da mistura líquida, obtendo-se a água destilada livre de impurezas. Este é o momento onde conscientemente, o individuo vai fazer escolhas diante das possibilidades que surgiram em função das mortes simbólicas. São as rupturas, é o renascer literal, e isto tem que ser conscientemente, levando em conta que cada escolha implica em uma desistência, cada decisão, implica em uma cisão, ou seja, uma separação.

6) Coagulação: Refere-se ao resultado da solidificação. A partir do momento que o individuo separou ou destilou, ele passa para a etapa de coagulação. Isto significa concretizar as atitudes tomadas. Estão, ao passarmos por todas as etapas anteriores, de calcinar, sublimar, solver, putrefar, separar, estamos finalmente em condições de coagular, ou seja, neste momento obtemos a ilusão de encontrar o equilíbrio, a tintura maior, que é a sétima etapa. Sobre o termo ilusão, apenas para esclarecer, temos que ter em mente que terminamos este processo, mas que outros virão e este suposto equilíbrio será novamente abalado, mas isto faz parte da dinâmica do processo de individuação.

7) Tintura/União: Consiste na ação de tingir a obra nas cores clássicas da alquimia, concluindo o processo alquímico. Sendo que assim, o indivíduo, agora, está tingido, ou seja, está com sentimento, emoção, pensamento, ação, todos alinhados, preparando-nos para um novo processo alquímico, que certamente será disparado por uma nova crise, e como mencionado no item anterior, dando continuidade ao processo de individuação. Na tintura, nos aproximamos da percepção da essência, sentido e significado existencial.


FONTE: CORRÊA, Rosangela. Processo Alquímico – Montanha dos Adeptos. In Psicoterapia – Psicologia Junguiana. Disponível em: <http://psicoterapiajunguiana.com/conceitos/processo-de-individuacao/processo-alquimico-montanha-dos-adeptos/>. Acesso em: 31 mar. 2014.

A IGREJA OCULTA





Texto A Igreja de Melquisedec, do Prof. Henrique José de Souza, com comentários de Anônimo (em itálico).


Há uma antiga tradição que afirma a existência, no mundo, de uma Igreja Secreta, que torna a ligar (religo, religare, religio, religione ou religião) o homem à Deus, sem necessidade de sacerdócio nem outro qualquer intermediário. Todo ser iluminado, diretamente ou por iniciação, desde que esteja de posse de certos mistérios, faz parte do Culto, que tem o nome velado de Igreja de Melki-Tsedek. Tal culto sempre existiu, por ser o da mais preciosa de todas as religiões, ou seja: a da Fraternidade Universal da Humanidade.

A sua origem procede dos meados da 3ª Raça Mãe, pouco importa seu nome naquela época, se com o decorrer dos tempos, recebe o de Sudha-Dharma-Mandalam, na antiga Aryavartha - nossa mãe Índia - mas, para todos os efeitos, Excelsa Fraternidade, quer na razão de sua própria existência - por ser composta dos Verdadeiros Guias ou Instrutores espirituais da Humanidade - quer pela sua vitória sobre o que ser concebe como Mal, na Terra, se ao lado do Planetário (a Força Cósmica...dirigente do nosso Globo, em forma humana, à parte opiniões contrárias) - após a tremenda queda que teve lugar na decadência atlante...de que tanto nos temos ocupado, embora que, de modo velado - tiveram, os seus primeiros componentes, de combater contra as referidas “forças do mal”, sem falar na sua própria transformação de Homens vulgares em semideuses.

Por isso que, tal Fraternidade, ou “Culto Universal” - que a bem dizer, é o do Amor, da Verdade e da Justiça entre todos os seres da Terra - se compõe de 7 linhas, cada uma delas com o respectivo Raio, na razão dos próprios Astros ou Planetas. Donde, seus Chefes, Reis ou Guias, Seres tão elevados, que bem se podem comparar aos mesmos Dhyans-Chohans ou “Espíritos Planetários”. Na Índia, o termo Maha-Chohan é dado aos mais elevados entre tais Seres, enquanto outrora, no Egito, recebiam o nome de Ptahmer. São os mesmos “Goros do Rei do Mundo”, nas escrituras transhimalaias.

Como Guias, ou Instrutores dos Homens - pouco importa, se para muitos, de modo invisível - não podiam deixar de possuir “Regras Especiais”, se Eles, por sua vez, alem de guiados por Aqueles Sete referidos Seres, o são ainda por Outro mais elevado, que se firma por trás de tudo isso, em forma Ternária. Seu Santuário, digamos assim, é Aquele mesmo APTA, creche, manjedoura, presépio, lugar onde o Sol nasce, e quantos nomes o mesmo possui, desde os memoráveis tempos da Atlântida, se era ali representado como “8a cidade”... Razão de ser considerado, tal Ser, ao mesmo tempo, Uno e Trino, como “Rei dos Reis”.

Os mesmos gnósticos reconheciam o numero 888 - ou 8 vezes o misterioso 111 - como “Número Crístico”, embora que o resto seja proibido revelar.

O mesmo René Guénon, em sua obra Le Roi du Monde - pois que teve como Gurú ou Mestre, famoso rabino...- diz o seguinte, a respeito de tão excelsa Organização:

“O chefe de uma tal organização, é o próprio Manú, que poderá legitimamente possuir ou encarregar a outro, esse seu titulo e demais atribuições”. E ainda: “pelo grau de Consciência que atingiu para exercer semelhante função, identifica-se, realmente, ao Princípio que o obrigou a tomar expressão humana. E diante da qual, sua individualidade desaparece” (o grifo é do autor).

Não vamos comentar semelhantes palavras, por ser isso proibido... Serviram elas, apenas para exprimir toda a verdade que paira sobre tamanho Mistério - de confronto, a tudo quanto dissemos anteriormente a respeito dessa mais do que sublime Organização, que tanto se pode chamar como já foi dito de Culto de Melqui-Tsedek, como de Excelsa Fraternidade, Shuda-Dharma-Mandalam (para o Oriente), mas hoje com outro nome ocidental, já revelado em nosso estudo dedicado a Paracelso (Dou uma dica aqui, uma vez que este artigo sobre Paracelso não consta nesta página. O lema de tal ordem, herdeira do culto de Melqui-Tsedek, tem por lema o mesmo sentido dado por Cristo na parábola do semeador).

Como se sabe, as Leis que regulam semelhante Organização, foram codificadas pelo Manú Vaisvávata. E delas, por sua vez, saíram as menores que regulam a própria vida humana. Chamem-nas de “Mandamentos da Lei de Deus”, os que preferem, apenas, o espirito religioso, no sentido puramente dogmático. Mas o fato é que, serviram de fundamento aos Códigos que regem todos os povos da Terra. Por isso que, a figura da Justiça - mesmo que terrena - traz os olhos vendados (ocultos, secretos) e uma espada servindo, ao mesmo tempo, de Balança. É aquela, ainda, que traz na mão, o Arcanjo Mikael, “onde são pesados os bons ou maus atos da própria Humanidade...” Dura lex, sed lex. 

Manú, Rei do Mundo, Planetário da Ronda, etc., são uma só e mesma Coisa.

De tão excelso Tronco saem outros Manús, maiores e menores, na razão de raças-mães, sub-raças, ramos e famílias, etc. À medida que a Humanidade vai alcançando as várias etapas de sua Evolução terrena, tais Regras são modificadas pelo referido Manú, pouco importa quem, ou de que maneira esteja Ele manifestado, se o fenômeno é tão transcendente, que não pode ser revelado.


Reconhecimento entre os Adeptos

Pelo pouco que foi dito anteriormente, logo se depreende da razão de se denominar a tais Seres, de que se compõe a “Excelsa Fraternidade Branca”, por outro nome, Culto de Melqui-Tsedek, etc., de “Adeptos da Boa Lei”. Existem diversas maneiras dos mesmos se reconhecerem, em qualquer parte do Globo onde se achem: “palavras de passe”, ou mesmo, as credenciais de cada uma das Sete Linhas ou “raios” a que pertençam. Assunto que não pode ser tratado no mundo profano, no entanto, ocasionou enormíssima confusão no espirito da maioria dos membros da The Theosophical Society, devido aos escritos, nesse sentido, de sua ex-Presidente, a Sra. Besant e do bispo Leadbeater; alem do mais, por não estarem autorizados a fazer semelhante revelação. Razão de alguns representantes dessa mesma ““ - como é tambem reconhecida - virem de publico lançar o seu protesto, dentre eles, R. Vasudeva Row, vakil do alto do tribunal de Madras, etc. E semelhante erro contrário às referidas leis ou Regras, deriva, alem do mais, da eterna mania de só se reconhecer Seres Superiores “lá para as bandas do oriente”, por ignorarem que o mesmo, desde 1924 se não um pouco antes, já haviam se fundido no Ocidente, de acordo com as mais antigas profecias, a começar por aquela da “Serra de Sintra” em Portugal.

A Fraternal Ceia ou Comunhão em que vivem os preclaros Membros da Excelsa Fraternidade, que do ponto de vista mental, quer do espiritual, ou sejam, esses felizes instantes que convivem juntos, em qualquer parte do globo, para onde os conduza, a sua própria missão... Daí, nasceu a chamada ceia do Senhor, levada a efeito entre Jeoshua Ben Pandira (“o filho do Homem”) e seus apóstolos ou discípulos. Era a comunhão reservada aos maiores pontífices em todos os Mistérios Antigos. Logo que um Adepto, um Ser qualquer de categoria mais ou menos elevada, ia visitar o Dalai-Lama, este dividia ao meio o pão, lançando-lhe a sua Benção, e ambos comiam a parte que lhes era reservada. Tal ritual, alem dos seus sentidos cabalísticos, abrange ainda, o do androginismo perfeito (um pão dividido em dois, como aconteceu no começo das coisas...) Em seguida, dois copos contendo o mais precioso vinho, ou licor, que, depois de abençoados, cada qual se servia do seu. Não é isso uma espécie de Eucaristia, na razão do “este é meu corpo, comei-o; este é meu sangue, bebei-o”? Uma reminiscência, ainda, da “Taça do Santo Graal”. Adendo: as lendas do mosteiro de Solovetz, ao tratar dos personagens do Antigo Testamento, mencionam o “cálice do Rei Salomão” (Salem-Omar, Salo-Omar, etc): “Grande é o cálice de Salomão, feito de uma só pedra preciosa. No cálice existem três versos gravados em caracteres sumérios, que ninguém pode explicar”. Com certeza, são os mesmos a que se refere o famoso Livro de Kiu-té, no capítulo XXXV, que aqui aparecem pela primeira vez ao mundo profano: “Tantas vezes beberei neste cálice, quantas o mundo exigir a minha presença, como “espírito de Luz e de Justiça”

Por mais veladas que sejam tais palavras, são claríssimas para os que já possuam a mente iluminada. Queira o leitor dedicar-se a meditar sobre elas... e grandes coisas acabará por descobrir... No referido livro, só conhecido dos Adeptos, também existe uma outra passagem, onde se compara o “Cálice com a Balança”, embora mais longa do que o primeiro versículo: “Dois pesos desiguais para duas medidas iguais... Assim está separado o meu corpo, nas conchas da Balança, Até que as mesmas se fundam Naquele Cálice onde tenho bebido do sangue que é mais dele do que meu! Até lá, outros O sorverão por Mim!” Muito mais difícil que o primeiro, para ser desvendado; no entanto, daremos aqui uma pequena insinuação: Balança não é o signo de Vênus? E não se fala num “Cálice ou Taça de Shukra”, na razão do mesmo planeta, pois que, o de Shoma é representado pela Lua? Fica o restante para ser desvendado pelo leitor.


REFERÊNCIAS:

SOUZA, Henrique José de Souza. Revista Dhâranâ nº 110. Cagliostro e São Germano. Outubro a Dezembro de 1941 – Ano XVI.

terça-feira, 11 de março de 2014

ILUMINAÇÃO E REGENERAÇÃO



 

Por Jean-Philippe Deterville, FRC.**

 

Por definição, a Iluminação é a tomada de consciência e a expressão da nossa natureza crísitca, do Mestre Interior, da Divindade encarnada em cada um de nós. Esse deus interior é o Sol, a estrela para a qual se encaminha sem descanso o iniciado, em busca da luz maior. Para o alquimista rosacruz do século XVII, a Pedra Filosofal não representava tão-somente o meio de transmutar os metais em ouro, o elixir da longevidade, mas simbolizava também o acesso à Sabedoria Universal, a realização do Cristo Interior, a descoberta do Eu. Encontrar a Pedra Filosofal é então conhecer a Iluminação e reencontrar o estado de Rosacruz.

Mas, como alcançar um objetivo tão elevado? O que é que pode contribuir eficazmente para a nossa busca da verdade? Será que a iluminação depende de nós?

Até hoje, quatro manifestos rosacruzes expressaram o ponto de vista da Ordem sobre o estado da humanidade e a necessidade de uma Reforma baseada na regeneração individual e coletiva do gênero humano. Desde sua origem, a doutrina dos rosacruzes se apresenta então como uma verdadeira ciência da Regneração. Não obstante, se o Iluminado é um homem regenerado, um renatus, isto é, aquele que renasceu, qual é o papel desempenhado pela Tradição Rosacruz e a Fraternidade Rosacruz nesse processo iniciático?

Em primeiro lugar, devemos notar que a maior parte, se não a totalidade dos Mestres iluminados, pode ser associada a uma vida espiritual ou a uma tradição mística particular. De fato, cada ser humano, qualquer que seja o nível que tenha alcançado no transcorrer das encarnações anteriores, deve receber uma educação apropriada para manifestar e ultrapassar o nível antes atingido. Assim, a Tradição esotérica que nos manifesta a AMORC contém todos os elementos necessários ao nosso crescimento interior. Em outras palavras, ela nos proporciona o alimento espiritual indispensável à assimilação e à integração das grandes verdades eternas. Neste sentido, a função de toda escola de sabedoria autêntica é contribuir para o despertar e o desabrochar do nosso potencial interior, a fim de que a lagarta possa um dia ceder lugar à borboleta, o bruto ao homem regenerado.

Se, segundo a Confessio Fraternitatis, os rosacruzes possuem a ciência da regeneração, isto se deve a que o rosacrucianismo é ao mesmo tempo uma ciência, uma arte e uma síntese viva e atuante do Conhecimento esotérico, Humanista e espiritualista por excelência, ele encarna a filosofia prática, a ciência da vida, a teosofia que leva progressivamente o Homem de Desejo à Sabedoria Universal.

A luz da Rosa-Cruz, assim como a força e o valor da nossa fraternidade, reside em seu ensinamento secular, mas também na eficácia de sua técnica iniciática e no poder de sua egrégora. Dessa egrégora que é vivificada pelo trabalho da Hierarquia e cuja essência procede da cooperação consciente dos rosacruzes com o Plano Divino. Deste ponto de vista, nunca estamos sós, e cada rosacruz, na medida em que seja honesto e sincero em sua busca da verdade, pode se beneficiar permanentemente do influxo espiritual que emana da Alma coletiva dos rosacruzes. Segundo a concepção da Tradição Primordial, a Sabedoria se manifestou à humanidade através de uma sucessão de Mestres espirituais e instrutores que se empenharam em ser os agentes da Inteligência Universal. Segundo o exemplo de nossos Mestres do Passado, que consiste em só considerarmos o Verdadeiro, o Belo e o Bem em todas as coisas e em todo ser, podemos nos beneficiar de sua luz e de sua sabedoria. Assim era que a Imitação do Cristo representava, para os rosacruzes do século XVII, um princípio fundamental para a reforma coletiva do gênero humano.

Dado que nossa futura Iluminação depende de nossa aptidão para nos harmonizarmos com a Sabedoria Primordial manifesta pela Tradição Rosacruz, é importante comungarmos como o Sanctum Celestial, principalmente mediante uma meditação diária, contatos com o Sanctum Celestial e o Auxílio Espiritual. Com efeito, o Sanctum Celestial, que representa o mais alto grau de consciência que nos é acessível aqui e agora, permite-nos vivificar e atualizar a soma de sabedoria e conhecimento veiculada pela nossa Ordem, a preciosa herança que cada Iniciado Rosacruz se empenha em enriquecer com seu trabalho e suas experiências espirituais.

Evidentemente, não se poderia considerar a Iluminação sem integrá-la numa visão espiritualista que implica na crença, depois a fé, na existência de uma Causa inicial, transcendente e imanente, que não é senão o Deus de nosso Coração e da nossa Compreensão. Isto está claramente expresso no Fama Fraternitatis, onde se diz, à guisa de conclusão: “À sombra de tuas asas, Jeová”. Esta invocação do primeiro manifesto rosacruz não é ambígua e nos convida a colaborar com o Plano Divino, a fim de nos tornarmos agentes a serviço do Bem universal. Por conseguinte, uma das qualidades indispensáveis a cultivarmos na senda da Iniciação é a fé mística em relação Àquele que todo místico venera ao mesmo tempo em seu coração e na esfera universal. Essa fé mística se expressa muito especialmente na confiança e na escuta que dedicamos ao Mestre Interior que é o nosso verdadeiro Iniciador na via cardíaca.

Vejamos agora qual é a nossa parte de responsabilidade individual no processo de regeneração e iluminação.

Seguramente, a evolução de todo místico sincero resulta de seu engajamento e de seu trabalho pessoal. Os seja, o estudo e a aplicação dos ensinamentos é que determinam o progresso na senda do Conhecimento. A propósito disto, a Tradição e a Ontologia Rosacruz nos ensinam que o ser humano é o artífice do seu devir, e que nem Deus nem um Mestre Invisível farão oposição ao livre-arbítrio. Segundo esta linha de pensamento, Deus criou leis universais que regem a Criação em seu todo. Dentre as leis espirituais que cumprem um papel fundamental na evolução humana, a lei de compensação e o livre-arbítrio estão plenamente justificados. Por outro lado, o Fama Fraternitatis informa que os rosacruzes estudam o Liber M, ou seja, o Liber Mundi, o Livro do Homem, da Natureza e do Universo. Ainda no Fama, está inscrito na tumba de CRC: “A.C.R.-C. Em vida, eu me dei para túmulo este resumo do Universo”. Em outras palavras, o corpo do ser humano é uma síntese das leis universais. Tudo isso não tem nada de espantoso, visto que o microcosmo é a imagem do macrocosmo, segundo o adágio hermético: “O que existe no alto é como o que existe em baixo, e inversamente”. Como o misticismo é o estudo das relações entre o Ser Humano, a Natureza e Deus, é pela harmonização com as leis universais que o Iniciado aprende a se conhecer, mas também a canalizar as forças positivas e construtivas do Cósmico, aproximando-se do Deus do seu coração.

O rosacruz é por natureza um buscador da verdade que segue um caminho de conhecimento e experiência. Tudo o que pode ajudá-lo a desabrochar e a despertar sua verdadeira natureza é apresentado a ele sob a forma de princípios místicos cuja veracidade deve sempre ser testada e validada pela experimentação. Todos sabemos que o ponto de interrogação vivo que somos tem o dever de transformar o saber em conhecimento, no cadinho da experiência alimentada pelo fogo da paciência e da perseverança. Com certeza a paciência é uma das chaves da iluminação, pois, como é claramente estabelecido neste trecho do tratado alquímico intitulado A Turba dos Filósofos: “Não podeis alcançar vossa meta sem iluminação e sem terdes a coragem de esperar, pois, quem não tiver paciência, não entrará na Arte”. De fato, é graças à paciência a toda prova que o Iniciado pode assimilar progressivamente o sentido das experiências da vida. Nisso ele se esforça constantemente para estar à escuta do Real e para aprender a lição ensinada por cada prova, sem jamais perder de vista que um místico tem por objetivo o reformar-se e se aprimorar incessantemente. Essa vontade de se aperfeiçoar o leva a rejeitar tanto a culpabilidade como a complacência, no que concerne às suas imperfeições do momento. É assim que todo buscador da verdade dá todo valor ao velho adágio, “ajuda-te, e o céu te ajudará”, e se esforça para manifestar a força da vontade e a doçura do amor.

Para receber e expressar plenamente a luz, o iniciado deve seguir um processo de purificação e preparação que leve à progressiva regeneração do seu ser tríplice, a saber, seu veículo físico, seu corpo psíquico e sua alma. Com efeito, assim como a Paz Profunda associa a Paz do corpo à do coração e da alma, a luz maior precisa, para se manifestar, de um canal purificado e preparado.

Dado que a regeneração é o alfa e o ômega da iluminação, examinemos brevemente como podemos trabalhar em favor da nossa regeneração física, emocional e espiritual.

A regeneração física decorre da aplicação dos princípios de sabedoria relacionados com uma boa higiene de vida. Uma virtude preciosa ajuda o rosacruz nesse empenho, qual seja, a temperança. Esta de fato o incita a viver em conformidade com o caminho do meio razoável, usando de moderação e discernimento em suas atividades físicas. Isto é tão verdadeiro no campo da alimentação, do exercício físico, como em tudo que concerne aos apetites físicos. No plano alimentar, nossa Ordem deixa que seus membros se alimentem como acharem melhor. É não obstante verdadeiro que, com o passar do tempo, tomamos cada vez mais consciência da necessidade de comer de maneira sadia e equilibrada, a fim de atender às autênticas necessidades do corpo. Não vou insistir nos malefícios dos estimulantes e dos abusos de toda espécie. É evidente, também que todo místico equilibrado conhece a importância dos períodos de repouso e descontração. Enfim, praticar regularmente uma atividade física razoável, mesmo a simples caminhada, contribui para um bom estado de saúde geral.

No âmbito rosacruz, há muitos princípios que atuam de maneira notável sobre o nosso veículo físico, que, não esqueçamos, é o veículo e o templo da personalidade-alma. Assim, uma das técnicas fundamentais propostas por nossa Ordem é a da respiração profunda, que acarreta uma boa circulação da força vital. Além disso, ela permite atuar sobre as emoções e é então muito útil, tanto para dominar o estresse como para aprender a meditar.

O processo regenerador inclui também o aspecto psíquico e emocional. É aqui que a alquimia espiritual dos rosacruzes manifesta todo o seu potencial. Todos sabemos que a matéria-prima com a qual trabalha o alquimista rosacruz é o pensamento. Aperfeiçoando sem cessar a qualidade de suas emoções e de seus sentimentos, o iniciado da nossa Ordem desperta suas faculdades latentes e regenera seu corpo psíquico.

Definida de maneira simples, à luz dos nossos ensinamentos, a alquimia espiritual é a arte de transmutarmos nossos defeitos em sua qualidade oposta, vale dizer, em virtudes nobres e elevadas. Em outras palavras, para eliminarmos o medo, basta desenvolvermos a coragem; para dissiparmos o ódio, precisamos nutrir pensamentos de amor, assim como, para eliminarmos as trevas da ignorância, basta manifestarmos a luz do conhecimento. É inútil pensar que podemos ter acesso a um alto grau de desenvolvimento psíquico e espiritual sem pormos em prática as virtudes essências, como o amor, a generosidade, a coragem, a paciência, a sinceridade, a simplicidade, o desapego e o bom humor. Ou seja, a prática das virtudes participa diretamente na busca espiritual e constitui um elemento essencial da busca do conhece-te a ti mesmo. Por exemplo, o nutrirmos ódio por um só ser fecha-nos irremediavelmente o acesso aos planos elevados da Consciência Cósmica. É então primordial cuidarmos regularmente de purificar nossa mente de todas as escórias e todos os pensamentos negativos que a podem obscurecer. Desse modo, o espelho da nossa consciência poderá refletir a Perfeita Luz.

Após termos considerado a regeneração física e emocional, consideremos agora a regeneração espiritual. Esta assenta no modo como vivemos a espiritualidade e o misticismo. Muito frequentemente, o profano ou o neófito ignora a importância da ética em todo caminho espiritual. No entanto, sem uma verdadeira ciência do comportamento, é vão aspirar à espiritualidade e ter pretensão à Iluminação. Por conseguinte, nunca devemos esquecer que a espiritualidade é um estado de ser e que a ética e, portanto, nosso comportamento no cotidiano, cumprem um papel fundamental no processo da Iluminação. Além disso, a filosofia mística tem por objetivo permitir uma verdadeira conscientização e individuação, que faz do adepto um ser livre e responsável. Daí emergem duas qualidades preciosas, a saber, a simplicidade e a sinceridade. Com efeito, sem elas, é impossível alcançar as esferas mais elevadas que estão em ressonância com os Mestres Invisíveis. Além disso, a regeneração espiritual se apoia em duas técnicas essenciais que nos foram legadas pela Tradição. Trata-se da prece e da meditação, e não deveria se passar um só dia sem que um rosacruz recorresse a elas para o seu bem e para o bem de outrem.

Trata-se, na realidade, das técnicas de harmonização com o Cósmico e a Inteligência Universal. Um terceiro princípio pode ser acrescentado a essas duas técnicas, pilares da espiritualidade, qual seja, a visualização. Esta, associada à arte da criação mental, utiliza, ordena e canaliza o pensamento positivo, desencadeando-o graças ao poder da emoção.

Como nos lembra o Pequeno Príncipe, de Saint-Éxupéry, “só se vê bem com o coração; o essencial é invisível para os olhos”. O que dá força à nossa tradição é que ela nos convida a um trabalho permanente de transmutação e regeneração, que leva a uma verdadeira metamorfose. À semelhança do girassol, o rosacruz deve aprender a orientar seus pensamentos para o sol espiritual, a luz de sua alma, a fim de fazer com que suas palavras e suas ações sejam o reflexo vivo do seu ideal. Confiança na Tradição Primordial, sinceridade e paciência no Trabalho, aliança do Amor e da Vontade a serviço do Mestre Interior, tais são as condições para progredir na Senda da Luz e do Conhecimento.
A exemplo dos iniciados das escolas de mistérios do Antigo Egito, a norma que rege nossa existência deve ser a de Maat, a justiça, a verdade, a lei universal, a ordem e a harmonia cósmica. A verdade a que aspiramos é a resposta para a questão fundamental que se coloca a todo místico: “quem sou?”.

Indubitavelmente, a lei suprema dos rosacruzes é a lei do amor, pois, é ela que aclara nosso caminho e reforça nosso desejo, bem como nosso poder da vontade. É claro que, por amor, entendo a energia, o princípio inicial e universal que se manifesta do microcosmo ao macrocosmo. “Ama teu próximo como a ti mesmo”, ensinou-nos o Grande Instrutor. Aprendermos a amar a nós mesmos é aprendermos a amar o nosso Eu Divino, compreender que devemos nos tornar amigos do nosso Mestre Interior e, por isso mesmo, associados aos Mestres da Grande Fraternidade Branca.

Não há dúvida de que a Cruz Rosacruz é o emblema do nosso Ideal e do estado interior de plenitude que ela prefigura, ou seja, a Realização do Eu. Neste sentido, cada rosacruz se esforça, por sua ética e seu trabalho, para se aproximar um pouco, todos os dias, do cume da montanha da Iluminação. Os princípios rosacruzes constituem um precioso auxílio para todo buscador da verdade, e é na aplicação desses preceitos de sabedoria que reside o segredo da Paz Profunda. Além disso, o terceiro manifesto rosacruz, “O Casamento Alquímico de Christian Rosenkreuz”, lembra-nos que “a suprema ciência consiste em nada saber”. “Tudo o que eu sei é que não sei”, já dizia Sócrates. Por conseguinte, o iniciado deve aprender com a Lei Cósmica a se harmonizar com sua natureza divina, a tornar-se o verdadeiro discípulo do Mestre Interior, para “que assim seja” e que “Sua Vontade seja feita”.

A Luz Maior não deve ser procurada em outro lugar que não o Santuário Interior, lá onde arde sobre o altar do nosso coração a chama sagrada e divina, expressão da quintessência do Mestre Interior. O Mestre Interior que é Luz, Vida e Amor, mas também Existência, Consciência e Beatitude, Sabedoria, Força e Beleza. Esse Mestre Interior que o discípulo reconheceu e aceitou tem como único lema “amar e servir”. Não é então por acaso que a hierarquia da nossa Ordem se afirma como uma hierarquia de serviço. Com efeito, servir é o dever sagrado de todo militante do Espírito. Se os rosacruzes são conhecidos como os “cavaleiros da Harmonia”, é porque a busca iluminadora assenta sobre uma harmonização com os aspectos mais elevados do ser interior. Assim deve o homem exterior se aproximar progressivamente do Mestre Interior, a fim de ter a experiência da Luz Maior. Só a aliança de um coração amoroso e uma firme resolução na busca da Sabedoria pode transformar o discípulo em um adepto. Então, o áureo alvorecer sobrevém e, com ele, a Iluminação regeneradora, a experiência da Consciência Cósmica, a fusão com o Todo, que não é outra coisa que o casamento alquímico, o advento da Consciência Crística e o desabrochar da Rosa na Cruz.

 

* Resumo da mensagem apresentada na Convocação Ritualística da XIX Convenção Nacional Rosacruz, em Curitiba, PR, 2002.

 

** Grande Mestre da Jurisdição de Língua Italiana da AMORC.

  

REFERÊNCIA:

DETERVILLE, Jean-Philippe. Iluminação e Regeneração. O Rosacruz, n. 242, 4º trimestre de 2002. Curitiba: AMORC, 2002. p. 11-17.

sábado, 8 de março de 2014

SUBSERVIÊNCIA



“Sword of Damocles” (Richard Westall, 1812)




“Tratarás de acumular dinheiro? Mas terás que subtraí-lo de quem o possui. Gostarias de ostentar belos cargos? Terás que te rebaixar a suplicá-los a quem pode dá-los a ti. E precisamente tu que anseias superar todos os outros homens em honras, te desonrarás, rebaixando-te servilmente a esmolá-los."

A Filosofia a Boécio, “De consolatione philosophiae”, Livro II.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

MENSAGEM DE STANISLAS AOS MARTINISTAS





Por Stanislas de Guaita (1861 -1897), em uma recepção aos membros da Ordem Martinista


Aqui não tratamos de impor convicções dogmáticas. Que tu acredites ser materialista ou idealista, que professes o budismo ou o cristianismo, que te proclames livre pensador ou que somente aceites o cepticismo absoluto, pouco nos importa realmente. Nós não contradizemos teu coração, incomodando o teu espírito com problemas que não deves resolver a não ser frente à tua própria consciência e no solene silêncio de tuas paixões aplacadas... Dá ao amor dos homens, teus irmãos, a denominação que quiseres: Amor, Solidariedade, Altruísmo, Fraternidade ou Caridade... As palavras não são nada... Mas, sejas quem fores, não te esqueças jamais que, em todas as religiões realmente verdadeiras e profundas, isto é, fundamentadas no esoterismo, colocar tudo isto em prática, através do sentimento, é o primeiro ensinamento, capital, essencial...


Nenhum dogma religioso ou filosófico pode ser imposto à tua fé. Quanto às doutrinas, cujos princípios essenciais resumidos para ti, pedimos tão somente que as medites como melhor te parecer e sem ideias preconcebidas... Abrimos para ti os selos do livro, agora deves primeiro conhecer a letra e, posteriormente penetrar no Espírito dos mistérios que este livro encerra...