sexta-feira, 31 de março de 2023

DA RELIGIÃO SEM NATUREZA AO FIM DO TEMPO CÍCLICO

 



Por Mircea Eliade

 

Os profetas não desaparecem nos últimos anos do Exílio e na época pós-exílica (cf. volume II). Mas a sua mensagem desenvolve aquilo a que se poderia chamar a “teologia da salvação” esboçada por Jeremias. É permitido, pois, julgar desde já o papel do profetismo na história religiosa de Israel.

Aquilo que, antes de mais nada, surpreende nos profetas é a crítica que fazem ao culto e a ferocidade com que atacam o sincretismo, ou seja, as influências cananeias, a que dão o nome de “prostituição”. Mas essa “prostituição”, contra a qual investem sem descontinuar, representa uma das mais difundidas formas da religiosidade cósmica. Específica aos agricultores, a religiosidade cósmica prolongava a mais elementar dialética do sagrado, especialmente a crença em que o divino se encarna, ou se manifesta, nos objetos e nos ritmos cósmicos. Ora, tal crença foi denunciada pelos fiéis de Javé como a idolatria por excelência, e isso desde a penetração na Palestina. Mas nunca a religiosidade cósmica foi tão selvagemente atacada. Os profetas acabaram conseguindo esvaziar a Natureza de toda a presença divina. Setores inteiros do mundo animal – os “lugares altos”, as pedras, as fontes, as árvores, certas colheitas, determinadas flores – serão denunciados como “impuros”, visto que conspurcados pelo culto das divindades cananeias da fertilidade*. A região “pura” e santa por excelência é apenas o deserto, pois foi lá que Israel permaneceu fiel ao seu Deus. A dimensão sagrada da vegetação e, em geral, das epifanias exuberantes da Natureza, será redescoberta bem tarde, no judaísmo medieval.

O culto, em primeiro lugar os sacrifícios cruentos, era igualmente criticado: não só ele era adulterado por elementos cananeus, como os sacerdotes e o povo consideravam a atividade ritual a forma perfeita de adoração. Ora, proclamam os profetas, inutilmente se procurava a Javé em seus santuários. Deus desdenha os sacrifícios, as festas e as cerimônias (cf., inter alia, Amós, 5:4-6, 14-15, 21-23): ele exige o direito e a justiça (5:24). Os profetas pré-exílicos jamais definiram qual devia ser a atividade cultual do fiel. O problema não tinha maior importância enquanto o povo não retornasse a Javé. Os profetas não tinham por objetivo a melhoria do culto, mas a transformação dos homens1. Só depois da queda de Jerusalém é que Ezequiel propõe um ofício divino reformado.

A dessacralização da Natureza, a desvalorização da atividade cultual, em síntese, a rejeição violenta e total da religiosidade cósmica, e sobretudo a importância decisiva atribuída à regeneração espiritual do indivíduo pelo retorno definitivo a Javé, eram a resposta dos profetas às crises históricas que ameaçavam a própria existência dos dois reinos judeus. O perigo era considerável e imediato. A “alegria de viver”, solidária de toda religião cósmica, era não apenas uma apostasia, era também ilusória, condenada a desaparecer na iminente catástrofe nacional. As formas tradicionais da religião cósmica, isto é, o mistério da fertilidade, a solidariedade dialética entre a vida e a morte, passavam a oferecer uma falsa segurança. Com efeito, a religião cósmica encorajava a ilusão de que a vida não se interrompe, e portanto de que a nação e o Estado podem sobreviver, por muito graves que sejam as crises históricas. Em outros termos, o povo e os altos dignitários, mas também os sacerdotes e os profetas otimistas estavam inclinados a assimilar as adversidades de ordem histórica às catástrofes naturais (seca, inundação, epidemias, abalos sísmicos etc). Ora, tais catástrofes nunca são totais ou definitivas. Contudo, os profetas pré-exílicos anunciavam não só a ruína do país e o desaparecimento do Estado; proclamavam ainda o risco do aniquilamento total da nação.

Os profetas reagiam contra o otimismo político oficial e atacavam a monarquia davídica por haver esta encorajado o sincretismo em vez de estabelecer o javismo como religião de Estado. O “futuro” que eles anunciavam era de fato iminente. Os profetas não cessavam de predizê-lo, a fim de poderem modificar o presente, transformando interiormente os fiéis. O apaixonado interesse que demonstravam pela política contemporânea era de ordem religiosa. Efetivamente, a marcha dos acontecimentos era suscetível de forçar a conversão sincera da nação e, portanto, a sua “salvação”, única possibilidade da sobrevivência de Israel na história. A realização das predições pronunciadas pelos profetas confirmava-lhes a mensagem, e, de maneira precisa, que os acontecimentos históricos eram obra de Javé. Em outras palavras, os acontecimentos históricos adquiriam uma significação religiosa, transformavam-se em “teofanias negativas”, em “ira” de Javé. Dessa maneira, eles revelavam a sua coerência interna, manifestando-se como a expressão concreta de uma só, única, vontade divina.

Assim, pela primeira vez, os profetas valorizam a história. Os acontecimentos históricos possuem, desse momento em diante, um valor em si mesmos, na medida em que são determinados pela vontade de Deus. Os fatos históricos tornam-se, assim, “situações” do homem em face de Deus, e como tais adquirem um valor religioso que nada, até então, podia assegurar-lhes. Por isso, “há verdade em afirmar que os hebreus foram os primeiros a descobrir a significação da história como epifania de Deus, e essa concepção, como era de esperar, foi retomada e ampliada pelo cristianismo”2. Observemos, contudo, que a descoberta da história enquanto teofania não será imediata e totalmente aceita pelo povo judeu, e que as antigas concepções persistirão ainda por muito tempo.

  

* Pela mesma razão, os missionários cristãos na Índia só aceitavam nas igrejas as flores que não eram utilizadas nas cerimônias hindus, isto é, as menos belas.

 

NOTAS

1 – Cf. Fohrer, History of Israelite Religion, p. 278.

2 – Cf. Eliade, Le Mythe de l’eternel retour, p. 122s. Sobre a “salvação” do tempo, sua “valorização” no âmbito da história santa israelita, ver ibid., p. 124s.

 

REFERÊNCIA:

ELIADE, Mircea. História das Crenças e das Ideias Religiosas, v. I: da Idade da Pedra aos mistérios de Elêusis. Tradução de Roberto Cortes de Lacerda. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. p. 334-336.

quarta-feira, 22 de março de 2023

CLAMOR E SILÊNCIO

 

 


Por Tobias Churton

 

O que é um Rosacruz?

Caso o leitor esteja um tanto confuso neste ponto da nossa história, por favor tenha certeza de que isso não é sinal de fracasso intelectual. A confusão é inerente à própria trama da história e, lamentavelmente, inevitável. O próprio Andreae comentou a situação após a publicação dos chamados manifestos rosacruzes como nada menos que uma Turris Babel – e a Torre de Babel representa o auge da confusão e da dispersão de sentido: um autêntico julgamento divino sobre a loucura e a arrogância da criatura de Deus, o homem.

Vimos os múltiplos usos da palavra “rosacruz”. No último capítulo, examinamos como o termo “rosacruz” pôde designar um revolucionário social ou um fanático utópico na Inglaterra, ao passo que, inversamente, a mesma palavra “rosacruz” pôde indicar quem se dedicava às verdades espirituais da doutrina alquímica. A palavra poderia indicar sabedoria particular ou insanidade pública: pensamento social e político avançados, ou uma oculta transgressão obscurantista. Poderia significar ciência ou magia, ou algo entre ambas.

Será que os verdadeiros rosacruzes se revelariam? Não, porque não havia nenhum.

A Irmandade Rosacruz era uma ficção; não havia rosacruzes de verdade. Quem quer que afirmasse ser, ou interiormente se considerasse um rosacruz, era um iludido, ou confuso, ou mal informado, ou indecente, ou ingênuo, ou apenas um simples idiota. Não havia nada a que se unir. A verdadeira Irmandade não respondia às cartas porque não existia. Os escritores estavam simplesmente a escrever para si mesmos.

Mas não eram os verdadeiros rosacruzes invisíveis?

À medida em que não existiam, com certeza.

Mas não havia uma ideia ou conjunto de ideias às quais chamar de “rosacruz”, que, então, poderia ser um nome dado a (ou tomado por) quem compartilhava de tais ideias?

Que ideias?

De Comênio ou de Sperber? De Andreae ou de Phillip Ziegler? De Maier ou de Von Franckenberg? De Ashmole ou de Faulhaber? De Eglin ou de Hess? De Fludd ou de Bureus? De Descartes ou de Morsius? De Giorgi ou de Postel? De Bruno ou de Dee? De Schwenckfeld ou de Studion? Dos gnósticos ou de Santo Agostinho? De Platão ou de Pico della Mirandola? Da Bíblia ou de Hermes?

Mas os “invisíveis” não criaram algo verdadeiro, vivo e averiguável?

Onde?

Em Tübingen? Londres? Danzig? Em Paris?

Na mente, talvez?

É possível chegar a uma definição da palavra “rosacruz” para ajudar-nos a traçar o seu desenvolvimento?

Que desenvolvimento?

É discutível que os movimentos rosacruzes se repetem ao longo da história; há muito pouco desenvolvimento, sobretudo repetição, e, muitas das vezes, maior obscuridade. Essa é uma característica não da ciência ou da arte, mas da religião sectária.

Portanto, como se vê, temos todo o direito de estar confusos. Talvez seja bom mirar no exemplo de Christoph Besold. Ele acreditava que era preciso que o homem lutasse pela “simplicidade mais simples”, e citou Santo Agostinho: “Eu te buscava fora de mim e não encontrava o Deus do meu coração”.

 


REFERÊNCIA:
CHURTON, Tobias. The Invisible – History of the Rosicrucians. Rochester, Vermont: Inner Traditions, 2009. E-book. Trecho com tradução nossa.

sexta-feira, 17 de março de 2023

BHAGAVAD GITA — GUIA DO ALFABETO E DA PRONÚNCIA EM SÂNSCRITO

 




Ao longo do tempo, a língua sânscrita tem sido escrita em vários alfabetos. O modo de escrita mais amplamente usado na Índia, contudo, chama-se devanāgarī, que, literalmente, significa a escrita usada nas “cidades dos semideuses”. O alfabeto devanāgarī consiste em 48 (quarenta e oito) caracteres, sendo 13 (treze) vogais e 35 (trinta e cinco) consoantes. Antigos gramáticos sânscritos organizaram este alfabeto de acordo com princípios linguísticos práticos e essa ordem tem sido aceita por todos os eruditos ocidentais. O  sistema de transliteração a seguir ajusta-se ao que os eruditos têm aceitado nos últimos cinquenta anos para indicar a pronúncia de cada som sânscrito.

 

Vogais

a    ā   i      ī     u    ū   ṛ   

ḷ     e     ai    o   au

 

Consoantes

Guturais: ka    kha    ga    gha     ṅa

Palatais: ca    cha     ja    jha    ña

Cerebrais: ṭa    ṭha    ḍa    ḍha    ṇa

Dentais: ta    tha    da    dha    na

Labiais: pa    pha    ba    bha    ma

Semivogais: ya    ra    la    va

Sibilantes: śa    ṣa    sa

Aspirada: ha

Anusvāra: ṁ      Ex: अं aṃ

Visarga: : ḥ           Ex: अः aḥ

 

 

Numerais

– 0      – 1    – 2      – 3    – 4     – 5     – 6     – 7     – 8     – 9

 

As vogais são escritas da seguinte maneira depois de uma consoante:

ā    ि i     ī     u     ū     ṛ     ṝ     ḷ     

ḹ      e     ai     o   au

 

Por exemplo:

ka    का kā   कि ki    की kī    कु ku

कू kū    कृ kṛ    कॄ kṝ     कॢ kḷ     कॣ kḹ

के ke    कै kai   को ko   कौ kau  

 

Em geral, duas ou mais consoantes se combinam e se escrevem de maneira especial, como, por exemplo:

क्ष kṣa (क् + = क्ष)

त्र tra (त् + = त्र)

ज्ञ jña (ज् + = ज्ञ)

 

A vogal “a” está implícita depois de uma consoante sem o símbolo vocálico.

 

O símbolo virāma () indica que não há uma vogal final.

Ex.: = (ka) + (virāma) = क्

 

As vogais são pronunciadas da seguinte maneira:

 

a – como o a em casa

ā – como o a em cama (*)

i – como o i em adido ou abrigo

ī – como o i em aqui (*)

u – como o u em acudir

ū – como o u em uva (*)

– como o r do falar caipira em carta

– como o r do falar caipira em carta (*)

– como o l em papel (do espanhol)

e – como o e em pena

ai – como o ai em pai

o – como o o em goma

au – como o au em causa

(*) com o dobro de duração da vogal breve.

 

As consoantes são pronunciadas da seguinte maneira:

 

Guturais (pronunciadas na garganta)

k – como em cavalo

kh – como no inglês Eckhart

g – como em antigo

gh – como no inglês dig-hard

– como em ângulo

 

Palatais (pronunciadas com a metade da língua encostada no palato)

c – como o tchau

ch – como no inglês staunch-heart

j – como em adjetivo

jh – como no inglês hedgehog

ñ – como em lenha

 

Cerebrais (pronunciadas com a ponta da língua encostada no céu da boca e são transliteradas com um ponto embaixo da consoante)

– como o t no falar caipira em carta

ṭh – como no inglês light-heart

– como o d no falar caipira em tarde

ḍh – como no inglês red-hot

– como o n no falar caipira em carneiro

 

Dentais (pronunciadas como as cerebrais, mas com a língua encostada nos dentes)

t – como em teto

th – como no inglês light-heart

d – como em devoto

dh – como no inglês red-hot

n – como em nada

 

Labiais (pronunciadas com os lábios)

p – como em puro

ph – como no inglês up-hill

b – como em boi

bh – como no inglês rub-hard

m – como em mãe

 

Semivogais

y – como o i em alfaiate

r – como em caro

l – como em luz

v – como em vaca, exceto quando precedido na mesma sílaba por uma consoante, como no inglês swan

 

Sibilantes

ś – como o s na palavra alemã sprechen

– como no inglês sharp

s – como em sol

 

Aspirada

h – como no inglês home

 

Anusvāra

– como a nasalização em bem

 

Visarga

– aḥ – som de arrá;

iḥ – som de irri

 

Em sânscrito não há acentuação forte das sílabas nem pausas entre as palavras numa frase, só um fluir de sílabas curtas e longas (estas últimas, o dobro das curtas em duração).

Uma sílaba longa é aquela cuja vogal é longa (ā, ī, ū, , e, ai, o, au) ou cuja vogal curta vem em seguida de mais uma consoante (incluindo e ).

As consoantes (tais como kha e gha) são consideradas como uma só consoante.

 

REFERÊNCIAS:

LEARNSANSKRIT.ORG. Sanskrit for Beginners – A simple and comprehensive guide Disponívem em: https://www.learnsanskrit.org/guide/. Acesso em: 17 mar. 2023.

 

PRABHUPĀDA, A. C. Bhaktivedanta Swami. Bhagavad-gītā como ele é. 1. ed. São Paulo: The Bhaktivedanta Book Trust, 1976. p. 749-751.

 

PRABHUPĀDA, A. C. Bhaktivedanta Swami. Bhagavad-gītā como ele é. 7. ed. Pindamonhangaba: The Bhaktivedanta Book Trust, 2017. p. 615-617.

BHAGAVAD GITA — CAPÍTULO 01

 




BHAGAVAD-GĪTĀ

 

CAPÍTULO 1

 

VISUALIZAÇÃO DOS EXÉRCITOS NO CAMPO DE BATALHA EM KURUKṢETRA

OBSERVING THE ARMIES ON THE BATTLEFIELD OF KURUKṢETRA

 

 

 

Verso 1

 

dhṛtarāṣṭra uvāca
dharma-kṣetre kuru-kṣetre
samavetā yuyutsavaḥ
māmakāḥ pāṇḍavāś caiva
kim akurvata sañjaya

 

Tradução

 

Dhṛtarāṣṭra disse: Ó Sañjaya, que fazem meus filhos e os filhos de Pāṇḍu depois de se reunirem no lugar de peregrinação em Kurukṣetra, desejando lutar?

 

Dhṛtarāṣṭra said: O Sañjaya, after assembling in the place of pilgrimage at Kurukṣetra, what did my sons and the sons of Pāṇḍu do, being desirous to fight?

 

Verso 2

 

sañjaya uvāca
dṛṣṭvā tu pāṇḍavānīkaṁ
vyūḍhaṁ duryodhanas tadā
ācāryam upasaṅgamya
rājā vacanam abravīt

 

Tradução

 

Sañjaya disse: Ó rei, depois de observar o exército reunido pelos filhos de Pāṇḍu, o rei Duryodhana foi até seu mestre e começou a falar as seguintes palavras:

 

Sañjaya said: O King, after looking over the army gathered by the sons of Pāṇḍu, King Duryodhana went to his teacher and began to speak the following words:

 

Verso 3

 

paśyaitāṁ pāṇḍu-putrānām
ācārya mahatīṁ camūm
vyūḍhāṁ drupada-putreṇa
tava śiṣyeṇa dhīmatā

 

Tradução

 

Ó meu mestre, veja o grande exército dos filhos de Pāṇḍu, disposto com tanta perícia pelo seu inteligente discípulo, o filho de Drupada.

 

O my teacher, behold the great army of the sons of Pāṇḍu, so expertly arranged by your intelligent disciple, the son of Drupada.

 

 

Verso 4

 

atra śūrā maheṣv-āsā
bhīmārjuna-samā yudhi
yuyudhāno virāṭaś ca
drupadaś ca mahā-rathaḥ

 

Tradução

 

Aqui neste exército, há muitos arqueiros heróicos e iguais em combate a Bhīma e Arjuna; também há grandes guerreiros como Yuyudhāna, Virāṭa e Drupada.

 

Here in this army there are many heroic bowmen equal in fighting to Bhīma and Arjuna; there are also great fighters like Yuyudhāna, Virāṭa and Drupada.

 

 

Verso 5

 

dhṛṣṭaketuś cekitānaḥ
kāśirājaś ca vīryavān
purujit kuntibhojaś ca
śaibyaś ca nara-puṅgavaḥ

 

Tradução

 

Há também grandes guerreiros heróicos e poderosos como Dhṛṣṭaketu, Cekitāna, Kāśirāja, Purujit, Kuntibhoja e Śaibya.

 

There are also great, heroic, powerful fighters like Dhṛṣṭaketu, Cekitāna, Kāśirāja, Purujit, Kuntibhoja and Śaibya.

 

 

Verso 6

 

yudhāmanyuś ca vikrānta
uttamaujāś ca vīryavān
saubhadro draupadeyāś ca
sarva eva mahā-rathāḥ

 

Tradução

 

Aqui estão o poderoso Yudhāmanyu, o poderosíssimo Uttamaujā, o filho de Subhadrā e os filhos de Draupadī. Todos estes guerreiros são grandes combatentes em quadriga.

 

There are the mighty Yudhāmanyu, the very powerful Uttamaujā, the son of Subhadrā and the sons of Draupadī. All these warriors are great chariot fighters.

 

 

Verso 7

 

asmākaṁ tu viśiṣṭā ye
tān nibodha dvijottama
nāyakā mama sainyasya
saṁjñārthaṁ tān bravīmi te

 

Tradução

 

Ó melhor dos brāhmaṇas, para sua informação, quero te falar sobre os capitães que são especialmente qualificados para a liderança de minha força militar.

 

O best of the brāhmaṇas, for your information, let me tell you about the captains who are especially qualified to lead my military force.

 

 

Verso 8

 

bhavān bhīṣmaś ca karṇaś ca
kṛpaś ca samitiṁ-jayaḥ
aśvatthāmā vikarṇaś ca
saumadattis tathaiva ca

 

Tradução

 

Há personalidades como você mesmo, Bhīṣma, Karṇa, Kṛpa, Aśvatthāmā, Vikarṇa e o filho de Somadatta chamado Bhuriśravā, que são sempre vitoriosos em batalha.

 

There are personalities like yourself, Bhīṣma, Karṇa, Kṛpa, Aśvatthāmā, Vikarṇa and the son of Somadatta called Bhuriśravā, who are always victorious in battle.

 

 

Verso 9

 

anye ca bahavaḥ śūrā
mad-arthe tyakta-jīvitāḥ
nānā-śastra-praharaṇāḥ
sarve yuddha-viśāradāḥ

 

Tradução

 

Temos outros heróis que estão prontos a darem suas vidas pela minha causa. Todos eles estão muito bem equipados com vários tipos de armamentos e todos são experientes na ciência militar.

 

There are many other heroes who are prepared to lay down their lives for my sake. All of them are well equipped with different kinds of weapons, and all are experienced in military science.

 

 

Verso 10

 

aparyāptaṁ tad asmākaṁ
balaṁ bhīṣmābhirakṣitam
paryāptaṁ tv idam eteṣāṁ
balaṁ bhīmābhirakṣitam

 

Tradução

 

Nossa força é imensurável e temos a proteção perfeita do patriarca Bhīṣma, enquanto a força dos Pāṇḍavas, com a proteção cuidadosa de Bhīma, é limitada.

 

Our strength is immeasurable, and we are perfectly protected by Grandfather Bhīṣma, whereas the strength of the Pāṇḍavas, carefully protected by Bhīma, is limited.

 

 

Verso 11

 

ayaneṣu ca sarveṣu
yathā-bhāgam avasthitāḥ
bhīṣmam evābhirakṣantu
bhavantaḥ sarva eva hi

 

Tradução

 

Agora, todos vocês devem apoiar plenamente o patriarca Bhīṣma, por permanecerem em seus pontos estratégicos na falange do exército.

 

Now all of you must give full support to Grandfather Bhīṣma, standing at your respective strategic points in the phalanx of the army.

 

 

Verso 12

 

tasya sañjanayan harṣaṁ
kuru-vṛddhaḥ pitāmahaḥ
siṁha-nādaṁ vinadyoccaiḥ
śaṅkhaṁ dadhmau pratāpavān

 

Tradução

 

Então, Bhīṣma, o altamente valente patriarca da dinastia Kuru, o avô dos guerreiros, soprou seu búzio muito alto, como o rugido de um leão, o que deixou Duryodhana muito contente.

 

Then Bhīṣma, the great valiant grandsire of the Kuru dynasty, the grandfather of the fighters, blew his conchshell very loudly like the sound of a lion, giving Duryodhana joy.

 

 

Verso 13

 

tataḥ śaṅkhāś ca bheryaś ca
paṇavānaka-gomukhāḥ
sahasaivābhyahanyanta
sa śabdas tumulo ’bhavat

 

Tradução

 

Depois disso, os búzios, clarins, trombetas, tambores e cornetas soaram de súbito e o som combinado foi tumultuoso.

 

After that, the conchshells, bugles, trumpets, drums and horns were all suddenly sounded, and the combined sound was tumultuous.

 

 

Verso 14

 

tataḥ śvetair hayair yukte
mahati syandane sthitau
mādhavaḥ pāṇḍavaś caiva
divyau śaṅkhau pradadhmatuḥ

 

Tradução

 

Do outro lado, o Senhor Kṛṣṇa e Arjuna, situados numa grande quadriga puxada por cavalos brancos, soaram seus búzios transcendentais.

 

On the other side, both Lord Kṛṣṇa and Arjuna, stationed on a great chariot drawn by white horses, sounded their transcendental conchshells.

 

 

Verso 15

 

pāñcajanyaṁ hṛṣīkeśo
devadattaṁ dhanañ-jayaḥ
pauṇḍraṁ dadhmau mahā-śaṅkhaṁ
bhīma-karmā vṛkodaraḥ

 

Tradução

 

Então, o Senhor Kṛṣṇa soprou Seu búzio, chamado Pāñcajanya; Arjuna soprou o seu, o Devadatta; e Bhīma, o comedor voraz e realizador de tarefas hercúleas, soprou seu terrível búzio, chamado Pauṇḍram.

 

Then, Lord Kṛṣṇa blew His conchshell, called Pāñcajanya; Arjuna blew his, the Devadatta; and Bhīma, the voracious eater and performer of Herculean tasks, blew his terrific conchshell called Pauṇḍram.

 

 

Versos 16-18

 

anantavijayaṁ rājā
kuntī-putro yudhiṣṭhiraḥ
nakulaḥ sahadevaś ca
sughoṣa-maṇipuṣpakau
 
kāśyaś ca parameṣv-āsaḥ
śikhaṇḍī ca mahā-rathaḥ
dhṛṣṭadyumno virāṭaś ca
sātyakiś cāparājitaḥ
 
drupado draupadeyāś ca
sarvaśaḥ pṛthivī-pate
saubhadraś ca mahā-bāhuḥ
śaṅkhān dadhmuḥ pṛthak pṛthak

 

Tradução

 

O rei Yudhiṣṭhira, filho de Kuntī, soprou seu búzio, o Anantavijaya, e Nakula e Sahadeva sopraram Sughoṣa e Maṇipuṣpaka. O grande arqueiro rei de Kāśī, o grande guerreiro Śikhaṇḍī, Dhṛṣṭadyumna, Virāṭa e o inconquistável Sātyaki, Drupada, os filhos de Draupadī e os outros, ó rei, como o filho de Subhadrā, de braços poderosos, todos sopraram seus respectivos búzios.

 

King Yudhiṣṭhira, the son of Kuntī, blew his conchshell, the Anantavijaya, and Nakula and Sahadeva blew the Sughoṣa and Maṇipuṣpaka. That great archer the King of Kāśī, the great fighter Śikhaṇḍī, Dhṛṣṭadyumna, Virāṭa and the unconquerable Sātyaki, Drupada, the sons of Draupadī, and the others, O King, such as the son of Subhadrā, greatly armed, all blew their respective conchshells.

 

 

Verso 19

 

sa ghoṣo dhārtarāṣṭrāṇāṁ
hṛdayāni vyadārayat
nabhaś ca pṛthivīṁ caiva
tumulo ’bhyanunādayan

 

Tradução

 

O soar destes vários búzios se tornou estrondoso, vibrou tanto no céu como na terra, e assim despedaçou os corações dos filhos de Dhṛtarāṣṭra.

 

The blowing of these different conchshells became uproarious, and thus, vibrating both in the sky and on the earth, it shattered the hearts of the sons of Dhṛtarāṣṭra.

 

 

Verso 20

 

atha vyavasthitān dṛṣṭvā
dhārtarāṣṭrān kapi-dhvajaḥ
pravṛtte śastra-sampāte
dhanur udyamya pāṇḍavaḥ
hṛṣīkeśaṁ tadā vākyam
idam āha mahī-pate

 

Tradução

 

Ó rei, nesse momento, Arjuna, o filho de Pāṇḍu, sentado em sua quadriga, que porta o estandarte com o emblema de Hanumān, pegou seu arco e se preparou para disparar suas flechas, com a mira nos filhos de Dhṛtarāṣṭra. Ó rei, Arjuna então falou as seguintes palavras a Hṛṣīkeśa [Kṛṣṇa]:

 

O King, at that time Arjuna, the son of Pāṇḍu, who was seated in his chariot, his flag marked with Hanumān, took up his bow and prepared to shoot his arrows, looking at the sons of Dhṛtarāṣṭra. O King, Arjuna then spoke to Hṛṣīkeśa [Kṛṣṇa] these words:

 

 

Versos 21-22

 

arjuna uvāca
senayor ubhayor madhye
rathaṁ sthāpaya me ’cyuta
yāvad etān nirīkṣe ’haṁ
yoddhu-kāmān avasthitān
kair mayā saha yoddhavyam
asmin raṇa-samudyame

 

Tradução

 

Arjuna disse: Ó infalível, por favor conduza minha quadriga entre os dois exércitos para que eu possa ver quem está presente aqui, quem tem desejo de lutar e com quem terei de combater nesta grande tentativa de batalha.

 

Arjuna said: O infallible one, please draw my chariot between the two armies so that I may see who is present here, who is desirous of fighting, and with whom I must contend in this great battle attempt.

 

 

Verso 23

 

yotsyamānān avekṣe ’haṁ
ya ete ’tra samāgatāḥ
dhārtarāṣṭrasya durbuddher
yuddhe priya-cikīrṣavaḥ

 

Tradução

 

Deixe-me ver aqueles que vieram aqui para lutar, com desejo de agradarem o malévolo filho de Dhṛtarāṣṭra.

 

Let me see those who have come here to fight, wishing to please the evil-minded son of Dhṛtarāṣṭra.

 

 

Verso 24

 

sañjaya uvāca
evam ukto hṛṣīkeśo
guḍākeśena bhārata
senayor ubhayor madhye
sthāpayitvā rathottamam

 

Tradução

 

Sañjaya disse: Ó descendente de Bhārata, assim ordenado por Arjuna, o Senhor Kṛṣṇa conduziu a excelente quadriga até o meio dos dois exércitos.

 

Sañjaya said: O descendant of Bharata, being thus addressed by Arjuna, Lord Kṛṣṇa drew up the fine chariot in the midst of the armies of both parties.

 

 

Verso 25

 

bhīṣma-droṇa-pramukhataḥ
sarveṣāṁ ca mahī-kṣitām
uvāca pārtha paśyaitān
samavetān kurūn iti

 

Tradução

 

Na presença de Bhīṣma, Drona e todos os outros líderes do mundo, Hṛṣīkeśa, o Senhor, disse: Veja, Pārtha, todos os Kurus que estão reunidos aqui.

 

In the presence of Bhīṣma, Droṇa and all other chieftains of the world, Hṛṣīkeśa, the Lord, said, Just behold, Pārtha, all the Kurus who are assembled here.

 

 

Verso 26

 

tatrāpaśyat sthitān pārthaḥ
pitṝn atha pitāmahān
ācāryān mātulān bhrātṝn
putrān pautrān sakhīṁs tathā
śvaśurān suhṛdaś caiva
senayor ubhayor api

 

Tradução

 

Lá, Arjuna pôde ver, entre os exércitos dos dois grupos, seus pais, avós, professores, tios maternos, irmãos, filhos, netos, amigos e também seu sogro e benquerentes – todos presentes ali.

 

There Arjuna could see, within the midst of the armies of both parties, his fathers, grandfathers, teachers, maternal uncles, brothers, sons, grandsons, friends, and also his father-in-law and well – wishers-all present there.

 

 

Verso 27

 

tān samīkṣya sa kaunteyaḥ
sarvān bandhūn avasthitān
kṛpayā parayāviṣṭo
viṣīdann idam abravīt

 

Tradução

 

Quando o filho de Kuntī, Arjuna, viu todos esses vários graus de amigos e parentes, ficou tomado pela compaixão e falou como se segue:

 

When the son of Kuntī, Arjuna, saw all these different grades of friends and relatives, he became overwhelmed with compassion and spoke thus:

 

 

Verso 28

 

arjuna uvāca
dṛṣṭvemaṁ sva-janaṁ kṛṣṇa
yuyutsuṁ samupasthitam
sīdanti mama gātrāṇi
mukhaṁ ca pariśuṣyati

 

Tradução

 

Arjuna disse: Meu querido Kṛṣṇa, ao ver meus amigos e parentes presentes perante mim com tamanho espírito de luta, sinto os membros de meu corpo tremerem e minha boca secar.

 

Arjuna said: My dear Kṛṣṇa, seeing my friends and relatives present before me in such a fighting spirit, I feel the limbs of my body quivering and my mouth drying up.

 

 

Verso 29

 

vepathuś ca śarīre me
roma-harṣaś ca jāyate
gāṇḍīvaṁ sraṁsate hastāt
tvak caiva paridahyate

 

Tradução

 

Meu corpo inteiro treme e meu cabelo está arrepiado. Meu arco Gāṇḍīva escorrega da minha mão e minha pele arde.

 

My whole body is trembling, and my hair is standing on end. My bow Gāṇḍīva is slipping from my hand, and my skin is burning.

 

 

Verso 30

 

na ca śaknomy avasthātuṁ
bhramatīva ca me manaḥ
nimittāni ca paśyāmi
viparītāni keśava

 

Tradução

 

Agora, sinto-me incapaz de ficar em pé. Esqueço-me de mim mesmo e minha mente vacila. Prevejo unicamente o mal, ó matador do demônio Keśī.

 

I am now unable to stand here any longer. I am forgetting myself, and my mind is reeling. I foresee only evil, O killer of the Keśī demon.

 

 

Versos 31

 

na ca śreyo ’nupaśyāmi
hatvā sva-janam āhave
na kāṅkṣe vijayaṁ kṛṣṇa
na ca rājyaṁ sukhāni ca

 

Tradução

 

Não vejo como algum benefício pode vir da matança de meus próprios familiares nesta batalha, nem posso eu, meu querido Kṛṣṇa, desejar qualquer vitória, reino ou felicidade subsequentes.

 

I do not see how any good can come from killing my own kinsmen in this battle, nor can I, my dear Kṛṣṇa, desire any subsequent victory, kingdom, or happiness.

 

 

Versos 32-35

 

kiṁ no rājyena govinda
kiṁ bhogair jīvitena vā
yeṣām arthe kāṅkṣitaṁ no
rājyaṁ bhogāḥ sukhāni ca
 
ta ime ’vasthitā yuddhe
prāṇāṁs tyaktvā dhanāni ca
ācāryāḥ pitaraḥ putrās
tathaiva ca pitāmahāḥ
 
mātulāḥ śvaśurāḥ pautrāḥ
śyālāḥ sambandhinas tathā
etān na hantum icchāmi
ghnato ’pi madhusūdana
 
api trailokya-rājyasya
hetoḥ kiṁ nu mahī-kṛte
nihatya dhārtarāṣṭrān naḥ
kā prītiḥ syāj janārdana

 

Tradução

 

Ó Govinda, qual a utilidade de reinos, felicidade ou mesmo a própria vida para nós quando todos por quem podemos desejá-los agora estão enfileirados neste campo de batalha? Ó Madhusūdana, quando professores, pais, filhos, avós, tios maternos, sogros, netos, cunhados e todos os parentes estão prontos para dar suas vidas e propriedades e estão perante mim, por que desejaria matá-los, ainda que eu sobreviva? Ó mantenedor de todas as criaturas, não estou preparado para lutar com eles mesmo em troca dos três mundos, muito menos por esta terra.

 

O Govinda, of what avail to us are kingdoms, happiness or even life itself when all those for whom we may desire them are now arrayed in this battlefield? O Madhusūdana, when teachers, fathers, sons, grandfathers, maternal uncles, fathers-in-law, grandsons, brothers-in-law and all relatives are ready to give up their lives and properties and are standing before me, then why should I wish to kill them, though I may survive? O maintainer of all creatures, I am not prepared to fight with them even in exchange for the three worlds, let alone this earth.

 

 

Verso 36

 

pāpam evāśrayed asmān
hatvaitān ātatāyinaḥ
tasmān nārhā vayaṁ hantuṁ
dhārtarāṣṭrān sa-bāndhavān
sva-janaṁ hi kathaṁ hatvā
sukhinaḥ syāma mādhava

 

Tradução

 

O pecado nos dominará se matarmos esses agressores. Por isso, não é correto que matemos os filhos de Dhṛtarāṣṭra e nossos amigos. O que ganharemos, ó Kṛṣṇa, esposo da deusa da fortuna, e como poderemos ser felizes se matarmos nossos próprios familiares?

 

Sin will overcome us if we slay such aggressors. Therefore it is not proper for us to kill the sons of Dhṛtarāṣṭra and our friends. What should we gain, O Kṛṣṇa, husband of the goddess of fortune, and how could we be happy by killing our own kinsmen?

 

 

Versos 37-38

 

yady apy ete na paśyanti
lobhopahata-cetasaḥ
kula-kṣaya-kṛtaṁ doṣaṁ
mitra-drohe ca pātakam
 
kathaṁ na jñeyam asmābhiḥ
pāpād asmān nivartitum
kula-kṣaya-kṛtaṁ doṣaṁ
prapaśyadbhir janārdana

 

Tradução

 

Ó Janārdana, apesar destes homens, dominados pela ganância, não verem falta em matar seus próprios familiares ou lutar contra amigos, por que nós, com conhecimento sobre o pecado, devemos nos empenhar nesses atos?

 

O Janārdana, although these men, overtaken by greed, see no fault in killing one’s family or quarreling with friends, why should we, with knowledge of the sin, engage in these acts?

 

 

Verso 39

 

kula-kṣaye praṇaśyanti
kula-dharmāḥ sanātanāḥ
dharme naṣṭe kulaṁ kṛtsnam
adharmo ’bhibhavaty uta

 

Tradução

 

Com a destruição da dinastia, a tradição familiar eterna se arruína e assim o resto da família se torna envolvida em práticas irreligiosas.

 

With the destruction of dynasty, the eternal family tradition is vanquished, and thus the rest of the family becomes involved in irreligious practice.

 

 

Verso 40

 

adharmābhibhavāt kṛṣṇa
praduṣyanti kula-striyaḥ
strīṣu duṣṭāsu vārṣṇeya
jāyate varṇa-saṅkaraḥ

 

Tradução

 

Quando a irreligião se torna proeminente na família, ó Kṛṣṇa, as mulheres da família se corrompem, e da degradação das mulheres, ó descendente de Vṛṣṇi, vem progênie indesejada.

 

When irreligion is prominent in the family, O Kṛṣṇa, the women of the family become corrupt, and from the degradation of womanhood, O descendant of Vṛṣṇi, comes unwanted progeny.

 

 

Verso 41

 

saṅkaro narakāyaiva
kula-ghnānāṁ kulasya ca
patanti pitaro hy eṣāṁ
lupta-piṇḍodaka-kriyāḥ

 

Tradução

 

Quando há aumento da população indesejada, cria-se uma situação infernal tanto para a família quanto para aqueles que destroem a tradição familiar. Nessas famílias corruptas, não há oferendas de oblações de alimento e água para os antepassados.

 

When there is increase of unwanted population, a hellish situation is created both for the family and for those who destroy the family tradition. In such corrupt families, there is no offering of oblations of food and water to the ancestors.

 

 

Verso 42

 

doṣair etaiḥ kula-ghnānāṁ
varṇa-saṅkara-kārakaiḥ
utsādyante jāti-dharmāḥ
kula-dharmāś ca śāśvatāḥ

 

Tradução

 

Por causa das más ações dos destruidores da tradição familiar, todos os tipos de projetos comunitários e atividades para o bem-estar familiar são devastados.

 

Due to the evil deeds of the destroyers of family tradition, all kinds of community projects and family welfare activities are devastated.

 

 

Verso 43

 

utsanna-kula-dharmāṇāṁ
manuṣyāṇāṁ janārdana
narake niyataṁ vāso
bhavatīty anuśuśruma

 

Tradução

 

Ó Kṛṣṇa, mantenedor das pessoas, eu ouvi da sucessão discipular que quem destrói as tradições familiares reside no inferno para sempre.

 

O Kṛṣṇa, maintainer of the people, I have heard by disciplic succession that those who destroy family traditions dwell always in hell.

 

 

Verso 44

 

aho bata mahat pāpaṁ
kartuṁ vyavasitā vayam
yad rājya-sukha-lobhena
hantuṁ sva-janam udyatāḥ

 

Tradução

 

Ai de mim! Como é estranho que nos preparemos para cometer atos tão pecaminosos, compelidos pelo desejo de gozar a felicidade régia.

 

Alas, how strange it is that we are preparing to commit greatly sinful acts, driven by the desire to enjoy royal happiness.

 

 

Verso 45

 

yadi mām apratīkāram
aśastraṁ śastra-pāṇayaḥ
dhārtarāṣṭrā raṇe hanyus
tan me kṣema-taraṁ bhavet

 

Tradução

 

Considero que seria melhor os filhos de Dhṛtarāṣṭra me matarem desarmado e sem resistência, do que lutar contra eles.

 

I would consider it better for the sons of Dhṛtarāṣṭra to kill me unarmed and unresisting, rather than fight with them.

 

 

Verso 46

 

sañjaya uvāca
evam uktvārjunaḥ saṅkhye
rathopastha upāviśat
visṛjya sa-śaraṁ cāpaṁ
śoka-saṁvigna-mānasaḥ

 

Tradução

 

Sañjaya disse: Arjuna, depois de falar desse jeito no campo de batalha, pôs seu arco e flechas de lado e se sentou na quadriga, com sua mente dominada pela angústia.

 

Sañjaya said: Arjuna, having thus spoken on the battlefield, cast aside his bow and arrows and sat down on the chariot, his mind overwhelmed with grief.

  



REFERÊNCIA:
PRABHUPĀDA, A. C. Bhaktivedanta Swami. Bhagavad-gītā as it is. With original Sanskrit text, Roman transliteration, English equivalents, translation and elaborate purpots. Nova York: Collier Books, 1972. p. 31-70. Trechos selecionados e traduzidos.