Por Peter Bindon, FRC*
Muito
se tem debatido acerca da conexão entre Robert Fludd e os Irmãos da Cruz Rosada,
nome pelo qual eram conhecidos os Rosacruzes há trezentos e cinqüenta anos. Porém
o que está muito claro, tanto por seus escritos quanto pelo que outros escreveram
sobre ele, é que Fludd foi um grande conhecedor da Filosofia Rosacruz. O diagrama
A Rosa e a Cruz é pleno de simbolismo
próprio do pensamento rosacruz.
Fludd
nasceu em 1574 e morreu em 1637. Viveu e trabalhou como médico na Inglaterra,
mas também viajou pela Europa, onde conheceu pessoas com inclinações parecidas com
as suas durante os seis anos que permaneceu ali. Graduou-se como bacharel e mais
tarde como doutor em Medicina pela Universidade de Oxford. Sem dúvida, seus contemporâneos
pensavam que seus métodos não eram muito ortodoxos pois consultava o horóscopo dos
pacientes para fazer o diagnóstico e utilizava o que parecia ser remédio homeopático.
Fludd foi o que hoje denominamos de terapeuta holístico. Para ele, primeiro deviam
ser curados a mente e o espírito do paciente e depois a enfermidade. ·
As
idéias radicais mantidas por Fludd sobre medicína e cura lhe causaram grandes
dificuldades para ser aceito na comunidade médica. Mesmo assim, foi admitido
como membro do Real Colégio de Médicos. Seu livro Breve Apologia da Fraternidade da Cruz Rosada, publicado em 1617,
demonstra que era um entusiasta defensor desta fraternidade, mesmo que nunca
tenha afirmado pertencer a ela. Isto não é surpreendente já que, naquele tempo,
sair da ortodoxia era perigoso para a segurança pessoal.
O símbolo
A Rosa e a Cruz de Robert Fludd, apareceu primeiramente como ilustração da
quarta parte do seu Summum Bonum,
publicado em 1629, e que era uma defesa da Fraternidade Rosacruz. A inscrição
latina Dat Rosa Mel Apibus significa:
A Rosa dá o Mel às Abelhas. Trata-se
de uma observação perfeitamente inocente. Porém, por que diria Fludd algo tão
óbvio? E evidente que este texto encerra um pensamento mais profundo.
Examinemos, então, o simbolismo do desenho mostrado na ilustração (página
anterior).
O
simbolismo da Rosa poderia encher livros inteiros e é demasiado extenso para
ser discutido aqui. Poderíamos dizer, com certeza que a rosa está associada ao
amor e que esta virtude é o ponto central da simbologia Rosacruz. Primeiramente,
o Amor, junto com a Luz e a Vida, ocupa um dos pontos do Triângulo de
Manifestação mencionado em alguns de nossos rituais. Em segundo lugar, Cristo
aconselhou que nos amássemos uns aos outros pois, desta maneira, pode-se
desenvolver a Personalidade-Alma como o fazem as pétalas da rosa enquanto
avançam rumo à maturidade. Em terceiro lugar, a Rosa Mística representa a
Personalidade-Alma que se abre na cruz do serviço, formando assim nosso símbolo
mais potente e mais fácil de reconhecer, o da Rosa-Cruz, considerada no
contexto de quem trabalha para seu crescimento pessoal.
A
rosa cresce no jardim da alma. As abelhas são o símbolo do trabalho. Imaginável
o esforço combinado que é necessário por parte dos indivíduos-inseto para conseguir
um litro de mel condensando o néctar de milhares de flores. O labor dos
alquimistas e dos terapeutas não era menos intenso. Este símbolo indica que o
progresso no desenvolvimento místico só pode ser conseguido ao preço de um
esforço pessoal considerável. A Luz do Rosacrucianismo, de que são portadores
nossos Organismos Afiliados, é também a combinação de muitas pequenas luzes.
Vejamos
outra consideração relativa ao simbolismo das abelhas em sua colmeia. As
abelhas estão necessariamente em um jardim para assegurar que a fertilidade
potencial das plantas se manifeste em seus frutos. A não ser que as flores
recebam o impulso de algum mecanismo polinizador, murcham e morrem sem cumprir
sua missão. As abelhas são o símbolo eterno da progressão natural da vida.
Utilizando uma linguagem menos poética, com freqüência se compara a reprodução
como a atividade “dos pássaros e das
abelhas”.
As
grades e as parreiras da ilustração de Fludd nos recordam que estamos em um
Jardim. E o “Vinho da Uva” têm sido
por muito.
tempo o símbolo das ricas recompensas que podem ser alcançadas com um espírito
empreendedor. Este exemplo recorda igualmente uma função de transformação,
porque são necessários muitos processos separados para transformar a uva da
vida em vinho que sustenta a alma. De novo devemos recordar que o trabalho é
necessário para fazer o jardim produtivo. O aspecto ondulante da superfície do
jardim pode ser considerado como uma representação do que chamamos de “altos e
baixos” da vida. Entendemos que nem todos os momentos de nossa existência
podem ser vividos como algo prazeroso, porém, apesar das adversidades que
encontramos, a evolução da nossa Personalidade-Alma avança rapidamente devido a
nossa resolução e fortaleza.
A
aranha é o símbolo das armadilhas que devemos evitar na vida. Do mesmo modo que
a teia da aranha apanha a incauta abelha, a distração, a falta de foco, a
indolência e outros vícios apanham o imprudente jardineiro da alma. Robert
Fludd nos deixou muitos símbolos entrelaçados nessa ilustração. Camuflou
artisticamente o fato de que a rosa está dentro de uma cruz. Os braços da cruz
estão formados por alguns ramos estranhos que não existem em plantas reais.
Para evitar qualquer erro de interpretação, a cruz de Fludd é intencionalmente
distinta da cruz da Crucificação adotada pela Igreja Cristã. Não devemos
portanto, confundir esta cruz com qualquer outra de simbolismo religioso. Mesmo
que possam haver paralelismos entre os dois tipos de cruzes, a de Fludd nos
leva diretamente a contemplar a ideia da cruz do serviço, sobre a qual se
revela a rosa da Personalidade-Alma em crescimento.
A
contemplação da ilustração de Fludd é um magnífico ponto focal para meditar
sobre este pensamento.
*
Frater Peter Bindon é Grande Mestre da Grande Loja de Língua Inglesa para a
Austrália.
FONTE: BINDON,
Peter. A Rosa e a Cruz de Robert Fludd.
In O Rosacruz. n. 258. 4° trimestre 2006.
Curitiba: AMORC-GLP, 2006.
Muito bom! Esclarecedor!
ResponderExcluirGratidão pelo texto.
ResponderExcluirPaz Profunda.
ResponderExcluirPaz Profunda.
ResponderExcluirObrigado por vossas presenças!
ResponderExcluir