sábado, 27 de fevereiro de 2016

A ROSA E A CRUZ DE ROBERT FLUDD




Por Peter Bindon, FRC*

Muito se tem debatido acerca da conexão entre Robert Fludd e os Irmãos da Cruz Rosada, nome pelo qual eram conhecidos os Rosacruzes há trezentos e cinqüenta anos. Porém o que está muito claro, tanto por seus escritos quanto pelo que outros escreveram sobre ele, é que Fludd foi um grande conhecedor da Filosofia Rosacruz. O diagrama A Rosa e a Cruz é pleno de simbolismo próprio do pensamento rosacruz.

Fludd nasceu em 1574 e morreu em 1637. Viveu e trabalhou como médico na Inglaterra, mas também viajou pela Europa, onde conheceu pessoas com inclinações parecidas com as suas durante os seis anos que permaneceu ali. Graduou-se como bacharel e mais tarde como doutor em Medicina pela Universidade de Oxford. Sem dúvida, seus contemporâneos pensavam que seus métodos não eram muito ortodoxos pois consultava o horóscopo dos pacientes para fazer o diagnóstico e utilizava o que parecia ser remédio homeopático. Fludd foi o que hoje denominamos de terapeuta holístico. Para ele, primeiro deviam ser curados a mente e o espírito do paciente e depois a enfermidade. ·

As idéias radicais mantidas por Fludd sobre medicína e cura lhe causaram grandes dificuldades para ser aceito na comunidade médica. Mesmo assim, foi admitido como membro do Real Colégio de Médicos. Seu livro Breve Apologia da Fraternidade da Cruz Rosada, publicado em 1617, demonstra que era um entusiasta defensor desta frater­nidade, mesmo que nunca tenha afirmado pertencer a ela. Isto não é surpreendente já que, naquele tempo, sair da ortodoxia era perigoso para a segurança pessoal.

O símbolo A Rosa e a Cruz de Robert Fludd, apareceu primeiramente como ilus­tração da quarta parte do seu Summum Bonum, publicado em 1629, e que era uma defesa da Fraternidade Rosacruz. A inscrição latina Dat Rosa Mel Apibus significa: A Rosa dá o Mel às Abelhas. Trata-se de uma observação perfeitamente inocente. Porém, por que diria Fludd algo tão óbvio? E evidente que este texto encerra um pensamento mais profundo. Examinemos, então, o simbolismo do desenho mostrado na ilustração (página anterior).

O simbolismo da Rosa poderia encher livros inteiros e é demasiado extenso para ser dis­cutido aqui. Poderíamos dizer, com certeza que a rosa está associada ao amor e que esta virtude é o ponto central da simbologia Rosa­cruz. Primeiramente, o Amor, junto com a Luz e a Vida, ocupa um dos pontos do Triângulo de Manifestação mencionado em alguns de nossos rituais. Em segundo lugar, Cristo aconselhou que nos amássemos uns aos outros pois, desta maneira, pode-se desenvol­ver a Personalidade-Alma como o fazem as pétalas da rosa enquanto avançam rumo à maturidade. Em terceiro lugar, a Rosa Mística representa a Personalidade-Alma que se abre na cruz do serviço, formando assim nosso símbolo mais potente e mais fácil de reconhecer, o da Rosa-Cruz, considerada no contexto de quem trabalha para seu crescimento pessoal.

A rosa cresce no jardim da alma. As abelhas são o símbolo do trabalho. Imagi­nável o esforço combinado que é necessário por parte dos indivíduos-inseto para conse­guir um litro de mel condensando o néctar de milhares de flores. O labor dos alquimistas e dos terapeutas não era menos intenso. Este símbolo indica que o progresso no desenvolvimento místico só pode ser conseguido ao preço de um esforço pessoal considerável. A Luz do Rosacrucianismo, de que são porta­dores nossos Organismos Afiliados, é tam­bém a combinação de muitas pequenas luzes.

Vejamos outra consideração relativa ao simbolismo das abelhas em sua colmeia. As abelhas estão necessariamente em um jardim para assegurar que a fertilidade potencial das plantas se manifeste em seus frutos. A não ser que as flores recebam o impulso de algum mecanismo polinizador, murcham e morrem sem cumprir sua missão. As abelhas são o símbolo eterno da progressão natural da vida. Utilizando uma linguagem menos poética, com freqüência se compara a reprodução como a atividade “dos pássaros e das abelhas”.

As grades e as parreiras da ilustração de Fludd nos recordam que estamos em um Jardim. E o “Vinho da Uva” têm sido por muito. tempo o símbolo das ricas recom­pensas que podem ser alcançadas com um espírito empreendedor. Este exemplo recorda igualmente uma função de transformação, porque são necessários muitos processos separados para transformar a uva da vida em vinho que sustenta a alma. De novo devemos recordar que o trabalho é necessário para fazer o jardim produtivo. O aspecto ondu­lante da superfície do jardim pode ser consi­derado como uma representação do que chamamos de “altos e baixos” da vida. Enten­demos que nem todos os momentos de nossa existência podem ser vividos como algo prazeroso, porém, apesar das adversidades que encontramos, a evolução da nossa Personalidade-Alma avança rapidamente devido a nossa resolução e fortaleza.

A aranha é o símbolo das armadilhas que devemos evitar na vida. Do mesmo modo que a teia da aranha apanha a incauta abelha, a distração, a falta de foco, a indolência e outros vícios apanham o imprudente jardi­neiro da alma. Robert Fludd nos deixou muitos símbolos entrelaçados nessa ilustra­ção. Camuflou artisticamente o fato de que a rosa está dentro de uma cruz. Os braços da cruz estão formados por alguns ramos estra­nhos que não existem em plantas reais. Para evitar qualquer erro de interpretação, a cruz de Fludd é intencionalmente distinta da cruz da Crucificação adotada pela Igreja Cristã. Não devemos portanto, confundir esta cruz com qualquer outra de simbolismo religioso. Mesmo que possam haver paralelismos entre os dois tipos de cruzes, a de Fludd nos leva diretamente a contemplar a ideia da cruz do serviço, sobre a qual se revela a rosa da Personalidade-Alma em crescimento.

A contemplação da ilustração de Fludd é um magnífico ponto focal para meditar sobre este pensamento.

* Frater Peter Bindon é Grande Mestre da Grande Loja de Língua Inglesa para a Austrália.

FONTE: BINDON, Peter. A Rosa e a Cruz de Robert Fludd. In O Rosacruz. n. 258. 4° trimestre 2006. Curitiba: AMORC-GLP, 2006.

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