quarta-feira, 15 de setembro de 2021

AFEGANISTÃO: É A RELIGIÃO?

 



Por Carlos André Cavalcanti

 

Também é, mas não é só ela e ela não é o fator principal. A crise afegã, assim chamada pelo Ocidente, é, na verdade, a história afegã. O Afeganistão fica a meio caminho entre três “mundos”: o Ocidente cristão, o Oriente Médio muçulmano e a Ásia. Milenarmente, e local de disputas e de troca recorrente das hegemonias culturais e históricas. Rotas comerciais e militares passam obrigatoriamente por lá. Onde fica a religião nisso tudo?

 

O LUGAR DA RELIGIÃO

Principal amálgama constituinte dos eufemismos culturais que fazem a história do mundo até o advento da matiz iluminista, a religião não costuma ter a hegemonia das determinantes históricas. O islamismo do Talibã sequer representa grupo hegemônico no Islão. Os talibãs se destacam pela defesa do território afegão contra invasores russos e norte-americanos há décadas. Seus valores religiosos funcionam como uma ideologia política e social para combater a norma atividade aparentemente democrática trazida pelos invasores.

 

QUEM APÓIA O TALIBÃ?

Parte das instituições talibãs tem sede no conturbado território paquistanês. O Paquistão tem uma relação de aproximação e distanciamento cíclicos com o imperialismo norte-americano. Para os Estados Unidos e para a Rússia, o Afeganistão é estratégico. Os americanos esperam compensar ali as influências do Irã e da China. Comunidades afegãs, muitas vezes culturalmente tradicionais islâmicas, socialmente oprimidas, aceitam o radicalismo talibã como a única força capaz de governar autenticamente a vida afegã. Porém, a maior parte da população do país parece preferir um modelo republicano de tipo ocidental com singularidades afegãs.

 

E AGORA?

Agora, virá a imposição de duros preceitos morais típicos deste grupo político com as tentativas internacionais de alguma negociação. Os Estados Unidos da América começaram tudo isso ao invadir o país. Agora, saíram de lá apressadamente e de forma questionável. Caberia à Comunidade Internacional e à mídia global, ambas aparentemente centradas na questão religiosa e moral até agora, uma dura cobrança ao governo Biden para que financie uma ajuda humanitária significativa e a retirada dos que se consideram oprimidos - principalmente mulheres e meninas - pelo “novo” regime (re)instalado. Contudo, é duvidoso que isto seja feito...

 

FONTE: www.jornalopoder.com.br


segunda-feira, 30 de agosto de 2021

KRISHNA JANMASHTAMI 2021

 



“One who knows the transcendental nature of My appearance and activities does not, upon leaving the body, takes his birth again in this material world, but attains My eternal abode, O Arjuna”

Bhagavad-gītā 4.9

 

The Supreme Lord Sri Krishna appeared on the earth 5200 years ago. His appearance in this world is remembered & celebrated as Janmashtami festival.


terça-feira, 27 de julho de 2021

NÃO BASTA ABRIR A JANELA

 

 

Não basta abrir a janela


Por Alberto Caeiro

 

Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
 

4-1923

 

“Poemas Inconjuntos”. In: Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor). 10 ed. Lisboa: Ática, 1993. p. 75.

1ª publicação em: “Poemas Inconjuntos”. In: Athena, n. 5. Lisboa: fev. 1925. 

quarta-feira, 12 de maio de 2021

WAHNSINN

 












Por Jacob Boehme


E quando pensamos nisso, vemos que tais coisas não valem mais que outras e, no entanto, a alma se perde com isso, pois para os ricos tudo isso não parece mais excelente do que é, para um faminto, seu pedaço de pão: por toda parte há preocupação, sofrimento, medo, doenças e, por fim, a morte. E isso não passa de um jogo neste mundo! Os poderosos assentam-se no regime deste mundo. E aquele que teme a Deus assenta-se no regime da força e da Sabedoria divina. O regime deste mundo termina com o corpo. E o regime no Espírito de Deus permanece eternamente! 

É verdadeiramente lamentável que o homem corra assim atrás dessas coisas que correriam elas mesmas atrás do homem se ele fosse direito e piedoso! Ele vive correndo atrás dos sofrimentos e das preocupações e, no entanto, essas coisas sempre estão correndo, por si mesmas, atrás dele. É como se ele estivesse continuamente em estado de loucura: vive inquieto, mas se soubesse contentar-se, teria tranquilidade. Um verme devorador instala-se dentro de seu coração e o vai roendo por dentro – e tudo isso faz dele apenas um louco. Afinal, não é ele quem, ao partir deste mundo, deixa seus bens para os outros e apreende o verme roedor com uma consciência má e o guarda como se fosse um tesouro, que o atormenta eternamente? É possivel encontrar sob o Sol uma loucura maior? 

Portanto, se o homem é a criatura mais nobre e mais racional deste mundo, por sua cobiça também é o maior louco entre todas as outras espécies, pois tem tanto ardor para correr atrás daquilo de que ele mesmo não tem necessidade! Entende: cada um recebe sua parte do espírito deste mundo, e cabe a ele contentar-se com isso. É por isso que um homem é um demônio para o outro: eles ficam se atormentando reciprocamente – e isso por um mero punhado de terra ou por pedras – que, na terra é o que não falta! Isso não é incrível, um prodígio?

 

REFERÊNCIA:
BOEHME, Jacob. A vida tripla do ser humano. São Paulo: Polar, 2016. p. 359; III 16:8-10.

domingo, 4 de abril de 2021

WIEDERGEBOREN

 



Happy Easter!

 

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My Friend, the things that do attain
Written by Martial (1st sec. AD)
Translated by Henry Howard, Earl of Surrey (1516-1547)

 

My friend, the things that do attain
The happy life be these, I find:
The riches left, not got with pain;
The fruitful ground; the quiet mind;

 

The equal friend; no grudge; no strife;
No charge of rule, nor governance;
Without disease, the healthy life;
The household of continuance;

 

The mean diet, no dainty fare;
Wisdom joined with simpleness;
The night discharged of all care,
Where wine the wit may not oppress:

 

The faithful wife, without debate;
Such sleeps as may beguile the night;
Content thyself with thine estate,
Neither wish death, nor fear his might.


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Meu amigo, as coisas que conduzem (A vida feliz)
Escrito por Marcial (I sec. DC)
Traduzido por Henry Howard, Conde de Surrey (1516-1547)


Meu amigo, as coisas que conduzem
À vida feliz são estas, creio eu:
Riquezas à disposição, não obtidas com dor;
O solo fértil; a mente quieta;

 

O amigo constante; sem rancor; sem contenda;
Sem lei ou governo opressores;
Sem doença, a vida saudável;
A perpetuação da família;

 

A dieta frugal, sem pratos requintados;
Sabedoria aliada à simplicidade;
A noite livre de qualquer vigilância,
Onde o vinho à inteligência oprimir não pode:

 

A esposa fiel, sem discussões;
À noite, agradável sono dormir;
Contenta-te com teu quinhão,
Nem deseje a morte, nem a tema.


quinta-feira, 1 de abril de 2021

GAURA PURNIMA 2021

 


Sri Gaura Purnima is the auspicious appearance day of Sri Chaitanya Mahaprabhu who is also known as Gauranga due to His golden complexion. This festival also marks the beginning of the New Year for Gaudiya Vaishnavas. 

As stated in the scriptures, the Supreme Lord Sri Krishna appeared as Sri Chaitanya Mahaprabhu to establish Sankirtana (chanting of the Holy Names) – the Yuga Dharma for this age of Kali. He appeared on Phalguni Purnima, the full moon day in the month of Phalguna, (Feb-March) in the year 1486 AD (1407 Shakabda) at Sridham Mayapura as the son of Sri Jagannath Mishra and Srimati Sachidevi. His parents named Him Nimai since He was born under a Nimba (neem) tree in the courtyard of His paternal house. 

This year we are celebrating the 534th anniversary of Sri Chaitanya Mahaprabhu’s appearance on March 28, 2021.

 

FONTE: 
ISKCON BANGALORE. Sri Gaura Purnima. Disponível em: https://www.iskconbangalore.org/sri-gaura-purnima/. Acesso em: 28 mar. 2021.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

SRI NITYANANDA TRAYODASHI 2021

 






 Sri Nityananda Trayodashi is the auspicious appearance day of Sri Nityananda Prabhu. The Supreme Lord Sri Krishna appeared in Navadvipa, West Bengal as Sri Chaitanya Mahaprabhu to establish Sankirtana Movement (Congregational chanting of the holy name of the Lord, the Yuga-dharma for this age). To help the Supreme Lord in His mission, Lord Balarama appeared as Nityananda Prabhu. He assisted Sri Chaitanya Mahaprabhu by spreading the holy name of the Lord throughout Bengal.

Nityananda Prabhu appeared in the village of Ekachakra, in the district of Birbhum (West Bengal) as the son of Padmavati and Hadai Pandita in the year 1474 AD. He was born on the thirteenth day of the bright fortnight in the month of Magha (Magha Shukla Trayodashi). Even today pilgrims visit the place of birth of Lord Nityananda in Ekachakra. This temple is called Garbhavasa. The parents of Lord Nityananda hailed from a family of pious Brahmins, originally from Mithila.

This year we are celebrating Sri Nityananda Trayodashi on Thursday, February 25, 2021.

 

REFERÊNCIA: 
ISKCON BANGALORE. Sri Nityananda Trayodashi – Feb 25, 2021. Disponível em: https://www.iskconbangalore.org/sri-nityananda-trayodashi/. Acesso em: 25 fev. 2021.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

SOMOS TODOS ROMI!

 


Por Carlos André Cavalcanti

 

TEMPO DE REFLETIR

 Nas sociedades cristãs, a Quaresma é um tempo sagrado anual que clama pela reflexão. Tanto à reflexão divina quanto à reflexão humana. É o tempo certo que os bispos católicos, via CNBB, escolheram para a Campanha (anual) da Fraternidade (CF). Este ano, a CF se volta para o diálogo entre igrejas e religiões. Este chamado incomodou fundamentalistas... Em defesa da pastora que coordena a campanha, faço minhas as palavras (aspeadas abaixo) do teólogo Roberto E. Zwetsch (www.brasildefators.com.br).

 

QUEM É ROMI?

“Romi M. Bencke é teóloga luterana, estudou nas Faculdades EST, de São Leopoldo (RS), formando-se nos anos de 1990, depois de um longo período de estudos. Foi pastora de comunidade na IECLB, mais tarde realizou estudos de mestrado na Universidade Federal de Juiz de Fora, tornando-se mestre em Ciências da Religião.”

 

COMO SE PAUTA?

“(Romi) sempre pautou sua vida e ministério pela ética do evangelho do amor e da justiça que aprendemos de Jesus de Nazaré. Sabe bem o que isto significa numa sociedade machista, racista e homofóbica. Nunca – que eu saiba – desistiu dessa luta que não tem fim.”

 

O QUE FAZ?

“Mais recentemente foi escolhida e chamada para assumir a Secretaria Executiva do CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, com sede em Brasília, onde vem desenvolvendo um trabalho ecumênico da maior envergadura, sendo reconhecida no Brasil e no exterior como uma pessoa que contribui de forma excepcional à causa ecumênica. Esta trajetória vivencial neste momento vem sendo atacada de forma vil e injuriosa por quem não compreende a relevância transcendental da causa ecumênica que nasce da oração de Jesus (João 17).”

 

PROTAGONISMO

“Seu protagonismo e a oportuna decisão do CONIC de lançar em 2021 uma nova edição da Campanha da Fraternidade Ecumênica sob o tema “Fraternidade e Diálogo”, lamentavelmente, feriu dogmatismos e concepções equivocadas da fé cristã. Isto lhe valeu e ao CONIC uma campanha vergonhosa que vem atacando a ela e ao Conselho das formas mais vis e reprováveis.”

 

CAMPANHA FRATERNA

É dentro do espírito da próprio Campanha deste ano, que enfatizo a nossa solidariedade e a nossa firmeza na defesa da dignidade e das ações fraternas da pastora Romi. Se você concorda com o ecumenismo, solidarize-se com Romi em suas redes sociais, em sua família e junto aos seus amigos. É preciso, pois a maioria silenciosa pode acabar refém de uma minoria barulhenta.


138 ANOS DA PASSAGEM DO PADRE IBIAPINA

 


Por Diógenes Faustino do Nascimento

 

Padre Ibiapina suscitou uma nova prática religiosa de resgate e promoção da dignidade e da valorização das experiências humanas, por intermédio das Casas de Caridade e das demais obras missionárias desenvolvidas nas províncias da Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Ceará e Alagoas, entre os anos de 1856 e 1883. Suscitando assim uma nova cultura religiosa que influenciou um novo cristianismo na América Latina, especificamente no Brasil, por meio das obras e missões que realizou.

Seus princípios permanecem e são atualizados constantemente, gerando seguidores que fomentam novas práticas cristianizantes para a contemporaneidade por meio da promoção da caridade. Por meio das obras de caridade, promoveu a libertação dos mais pobres e marginalizados do seu tempo, a ponto de considerarmos que o padre José Antônio de Maria Ibiapina foi o indutor de um novo cristianismo católico no Nordeste brasileiro, fomentado por meio dos seus sermões, máximas espirituais, obras missionárias e por uma prática catequética renovada.

A religiosidade popular permanece viva nos devotos de Ibiapina, tornando-se condição essencial resultante da universalização dos interesses dos indivíduos ao consentir livremente em participar de uma nova práxis cristã pertinente aos anseios do povo de cada tempo em seus espaços e territorialidades. A religiosidade popular assume aqui mais uma vez a função de consolo e de justificativa, significando uma união identitária entre seus membros e seguidores, assumindo para si os mesmos ideais e partilhando das mesmas circunstancias sociais. Os devotos, as beatas, beatos e os agentes de religiosidade popular acreditam que por meio das devoções aos “santos” e ao participarem das festas religiosas realizam seus desejos de viver em um tempo sagrado, viver num mundo real, sacralizado e santificado. Buscando técnicas de orientações e de construções do espaço sagrado, mesmo que essas não dependam apenas de seus esforços físicos. É nesse ambiente de religiosidade onde se restabelecem as amizades, se formam mutirões para construir açudes, casas, cemitérios e que também nos apresenta uma mudança prática de hábitos e costumes elementares da vida cotidiana como comer, vestir, andar, namorar, casar e rezar.

 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

RENOVATIO

 











Por Jacob Boehme


Presta atenção: quando Deus perdoa teus pecados, quando O chamas, Ele não tira nada de ti. Nem desce do Céu até chegar a ti. Explica-se: Ele sempre esteve dentro de tua alma, desde toda a eternidade, mas no princípio Dele. Tua alma nada mais fez que passar Dele – de seu princípio (entenda: da Santa Vontade da Majestade) – para a cólera. Então estavas na cólera, na morte eterna, e o homem-Cristo, que é Deus e homem, abriu um caminho para a Majestade de Deus através da morte e da cólera. É preciso apenas que te voltes [na direção certa] e que sigas por esse caminho rumo à Majestade, através da morte de Cristo – ou seja, através da cólera. Então serás recebido como um anjo querido que nunca teve pecado algum – e, com efeito, mais nenhum pecado é percebido em ti, mas apenas a maravilhosa obra de Deus, que deve ser manifestada na cólera, pois o amor nada poderia [abrir ou manifestar] nesse fogo da cólera. Explica-se: ele também não se mistura com esse fogo, mas se afasta dele.

Portanto, apesar de orares dizendo: “Deus, perdoa-me”, no que diz respeito a teus pecados sempre estarás duvidando se Deus quer perdoá-los e vir a teu coração. Presta atenção: não faças assim, pois, com tua dúvida, estás desprezando a Majestade – e isso também é um pecado. Junta todos os teus pecados num monte, sem os contar. Então, vem até Deus com tua alma desejosa, com confiança, em humildade – e entra em Deus. Basta apenas desviar tua alma da vontade deste mundo para a Vontade de Deus! E, se teu coração e teu demônio disserem alto: “Não!”, abafa tua razão exterior, entra com força e permanece em Deus. Não olhes para trás, como a mulher de Ló, que foi transformada numa coluna de enxofre e sal: permanece firme. Deixa que o demônio, o espírito deste mundo e também teu coração de carne e sangue se debatam. Não apoies tua razão. Se ela te diz: “Estás fora de Deus”, então dize: “Não. Estou em Deus. Estou no céu. Estuo Nele e não quero mais me afastar Dele! O demônio pode ficar com meus pecados e o mundo pode tomar meu corpo. Vivo na Vontade de Deus: sua Vida deve ser minha vida, sua Vontade deve ser minha vontade. Quero estar morto em minha mente, a fim de que Ele viva em mim. Todo os meus atos devem ser Seu ato”. Abandona-te a Ele em todos os teus projetos: aquilo que empreendes, recomenda-o a Seu regime, a fim que tudo ocorra dentro de Sua Vontade.

Presta atenção: quando ages assim, todas as atrações más se afastam de ti, pois ficas firme na presença de Deus, e a Virgem da Sabedoria te conduz e te abre a Via para a Vida eterna. Ela te desvia dos maus caminhos e sempre te impulsiona para a frente, para que te emendes e te resignes.

 

REFERÊNCIA:
BOEHME, Jacob. A vida tripla do ser humano. São Paulo: Polar, 2016. p. 242-243; 11:62-64.

O BUDISMO EM SIDDHARTHA, DE HERMANN HESSE


Por Carlos André Macêdo Cavalcanti e João Florindo Batista Segundo

 

RESUMO

 

O presente trabalho visa analisar a filosofia budista sob a ótica do livro Siddhartha, publicado em 1922 pelo aclamado escritor alemão e Nobel em Literatura Hermann Hesse, que é a estória de um personagem fictício que se alterna entre a vida material e a vida religiosa dos tipos brâmane, asceta, budista e mística, na busca pela Iluminação. Inspirado em uma viagem pessoal à Índia, o livro é fruto também dos estudos do autor sobre o Oriente e de suas leituras de filósofos como Nietzsche e Schopenhauer, também fascinados pelo budismo. Em síntese, a obra prega o ceticismo em relação a qualquer conjunto de doutrinas religiosas, a importância da jornada íntima e pessoal pela verdade (que é incomunicável e intransmissível) e afirma a possibilidade do aprendizado a partir dos erros, temas já decantados pelo budismo, porém relidos para um público outrora ainda desconhecedor do distante Oriente e apresentados com a beleza e a potência singulares que somente a palavra escrita em prosa e verso detém.

 

Palavras-chaves: Siddhartha; Hermann Hesse; budismo

 

ABSTRACT

 

This paper analyzes the Buddhist philosophy from the perspective of the book Siddhartha, published in 1922 by Hermann Hesse, an acclaimed German writer and Nobel Literature. The book tells the story of a fictional character who alternates between material life and religious life of the types Brahmin, ascetic, Buddhist and mystic, in the quest for Enlightenment. Inspired by a personal trip to India, the book is also the result of the author’s studies on the East and his readings of philosophers such as Nietzsche and Schopenhauer, also fascinated by Buddhism. In short, the book preaches the skepticism about any set of religious doctrines, the importance of intimate and personal journey for the truth (which is incommunicable, non-transferable) and affirms the possibility of learning from mistakes, issues already decanted by Buddhism, But re-read to an audience once still unaware of the Far East and presented with the beauty and singular power that only the word written in prose and verse holds.

 

Keywords: Siddhartha; Hermann Hesse; Buddhism

 

CAVALCANTI, Carlos André Macêdo; SEGUNDO, João Florindo Batista. O budismo em Siddhartha, de Hermann Hesse. In: MARANHÃO, Eduardo Meinberg de Albuquerque (org.). 3º Simpósio Nordeste da ABHR, 2019, João Pessoa.  Anais do 3º Simpósio Nordeste da ABHR. João Pessoa: Fogo Editorial, 2020. v.1. p. 473-502.

 

Texto completo no link abaixo:

 https://amarfogo.com/wp-content/uploads/2020/03/ABHRAnaisNordeste19.pdf


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

O VIOLADOR, A FÚRIA E O GOLPE EMASCULADOR SOB UM OLHAR DURANDIANO

 














Por João Florindo Batista Segundo e Carlos André Macêdo Cavalcanti

 

RESUMO

 

Dentre os mitemas que compõem os mitos presentes em diversas civilizações, encontra-se o da personagem masculina – mortal ou imortal – que tem sua coxa ou sua região genital golpeada por uma espada, lança ou raio no momento em que é dominado por uma violenta emoção (em geral, um desejo luxurioso). Tal ferimento não chega a ser fatal, mas o emascula e, em certos casos, até o impede de concretizar atos impensados que ousava praticar. Seja na tradição judaica, nas mitologias grega e irlandesa, na demanda do Santo Graal ou nas religiões de matriz africana, há o registro dessa ferida na virilidade, que degrada e paralisa. Pela mitanálise e com base nas Estruturas Antropológicas do Imaginário, de Gilbert Durand, procuraremos a origem comum deste mitema e seu impacto em culturas tão dessemelhantes.

 

BATISTA SEGUNDO, J. F.; CARLOS ANDRÉ MACÊDO CAVALCANTI. O violador, a fúria e o golpe emasculador sob um olhar durandiano. InReligare: Revista do Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões da UFPB, [S. l.], v. 17, n. 2, p. 673–693, 2021. DOI: 10.22478/ufpb.1982-6605.2020v17n2.50495. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/religare/article/view/50495.


Texto completo no link abaixo:

https://periodicos.ufpb.br/index.php/religare/article/view/50495

sábado, 23 de janeiro de 2021

O DIA DAS RELIGIÕES

 

Por Carlos André Cavalcanti

  

CULTURA DE PAZ

 

O Dia Internacional das Religiões e o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa coincidem na mesma data: 21 de janeiro. Realizamos nesta data o Café da Diversidade Religiosa. Uma nova parceria pela Cultura de Paz surgiu com a presença de uma pesquisadora da Associação Brasileira de Antropologia (ABA): Regina Negreiros. É dela, o texto que segue.

 

POR QUE?

 

“E por que precisamos desta data? Primeiramente porque é importante afirmarmos nossa identidade, lembrarmo-nos de onde viemos, quem somos e para onde queremos ir; é importante lembrar a história, revisitá-la!”

  

RETALHOS

 

“E o Brasil é uma imensa colcha de retalhos onde a diversidade e a pluralidade se fazem presentes no nosso cotidiano, e com elas, há gigantes retalhos da cultura e da religiosidade afro-brasileira, por isso, histórias como a da diáspora africana devem ser lembradas para que não sejam repetidas jamais!”

  

POR QUE CELEBRAR?

 

“Celebrar o Dia 21 de Janeiro – Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa –, portanto, é lutar pela garantia de uma isonomia social, de igualdade de direitos e garantias individuais e coletivas, preservando o estado democrático de direito, rompendo com quaisquer lampejos de estruturas totalitárias que não reconheçam as minorias, as diferenças, a pluralidade e a diversidade humana, garantindo assim a dignidade da pessoa humana, fortalecendo a sociedade justa, plural e igualitária, conforme consta na nossa Constituição Federal.”

  

REFLITA!

 

“É necessário provocar a reflexão e o empoderamento das chamadas minorias, ao tempo em que se propaga a cultura de paz, para chegarmos ao lugar de igualdade e justiça social, cortando como quilhas o mar agitado da adversa sociedade para reconstruí-la sobre os pilares da equidade. Como diz o poeta russo Maiakoviski: “não estamos alegres, é certo, mas também por que razão haveríamos de ficar tristes? O mar da história é agitado. As ameaças e as guerras havemos de atravessá-las, rompê-las ao meio, cortando-as como uma quilha corta as ondas”.”


quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

DIE STEINERNE KIRCHEN

 











Por Jacob Boehme


Diz-se que o demônio vem ao homem sob a forma de um anjo. Isso é verdade! Vede tudo o que ele faz para que possa ser tido por anjo e por piedoso. Quando a pobre alma se mostra assim prostrada de fadiga e muitas vezes apresenta ao seu corpo a morte e a cólera de Deus sob os olhos, ele não a impede. Muitas vezes deixa a pobre alma correr com o corpo para as casas de pedra ou para todo lugar que ela queira. Ele a conduz mais para as igrejas de pedra e então diz à alma: “Sim, és piedosa, vais de bom grado à igreja!”

Mas o que ele realmente está fazendo? Quando alguém ensina sobre o templo de Cristo e o novo nascimento, então ele vai semeando no homem outros pensamentos, de acordo com o espírito deste mundo! Ora semeia sua cobiça, ora dirige seus olhos para o orgulho e para uma pessoa bela. Ora ocupa seu espírito com a atração da imaginação concernente a homens ou mulheres, conforme seu sexo e faz cócegas no coração com a sensualidade. E, às vezes também o apanho pelo sono.

Mas se o pregador é um sofista e um difamador maligno, ou se repreende a muitos em razão de sua cátedra e imaginando os bons serviços que seus seguidores podem lhe prestar, ah, então o demônio abre as grandes e pequenas portas e faz cócegas nos corações dos ouvintes. Então, os corações vão desejando isso cada vez mais: é muito agradável [para o predicador quando eles não adormecem]. Ora, quando essas pessoas saem da igreja, podem repetir de cor todas as suas palavras e bem melhor quando se trata de criticar os outros. Alimentam-se com isso a semana toda! E isso lhes é mais doce do que a palavra de Deus.

Prestai atenção: é um demônio sob a forma de anjo! Desse modo, as pessoas acham que basta correr para a igreja com os outros para ser verdadeiramente um bom cristão. Mas se não aprendeste nada mais do que escárnios e brincadeiras e levas isso para casa, terias feito melhor se durante esse tempo tivesses chafurdado num lago de lama ou se tivesses dormido – ao menos o demônio não teria ferido teu coração com paixões e desdém numa igreja de pedra. Ah, como é ditoso o sono na igreja quando o demônio se convida para ser hóspede de nosso coração. É melhor dormir do que criar imagens nas paixões ou encher-se de calúnias.

Ó vós, sofistas, que pregais caluniando os antigos que estão mortos há muito tempo! Vós, que muitas vezes caluniais corações piedosos por ciúme e inveja. Como vós vos quereis manter com vosso rebanho, que deveis apascentar em pastagens verdes e conduzir pelos caminhos de Cristo ao amor, à castidade e à humidade, se o encheis de blasfêmias? Estaríeis melhor com vossas blasfêmias iníquas no estábulo dos animais do que num púlpito: ao menos não desgarraríeis ninguém!

 

REFERÊNCIA:
BOEHME, Jacob. A vida tripla do ser humano: conforme o mistério dos três princípios da manifestação divina / escrito a partir de uma elucidação divina por Jacob Boehme, no ano de 1620. Américo Sommerman (tradução e notas). 1. ed. São Paulo: Polar editorial, 2016. p. 184-185.