Por João Florindo Batista Segundo
O presente trabalho visa analisar o capítulo I de “Iconografía
Cristiana: guía básica para estudiantes”, de Juan Carmona Muela. O livro é
dedicado a quem pretende se iniciar no mundo da iconografia cristã, descrevendo
personagens bíblicos e os santos mais importantes e representados nas obras de
arte.
Observa-se de início as proibições ao culto de imagens presente na
própria Bíblia e depois, como, ao longo dos séculos, representantes do
cristianismo se posicionaram contra e/ou a favor das imagens sacras e
religiosas e qual a argumentação que cada grupo empregava.
Para os defensores das imagens, estas servem como elemento
pedagógico, pois funcionam para converter os povos pagãos, em geral analfabetos
e “ignorantes”. A iconografia, enquanto símbolo, transcederia a própria letra
da Bíblia e traria para mais perto do homem a realidade descrita em suas
páginas.
Neste sentido, o texto deixa claro também que em determinada época
(especialmente na Idade Média), os artistas (pintores e escultores) ficaram
completamente sob o controle das instituições religiosas cristãs e mesmo os que
não pertencessem a alguma ordem, quando contratados para executar alguma peça,
precisavam seguir certos padrões estéticos e pintar as cenas que lhes eram
ditadas, com frequência inserindo imagens de demônios cruéis e de almas danadas
sendo atiradas às profundezas do inferno. Pode-se dizer que desse modo o que
ocorria era uma pedagogia do medo.
Outro argumento em favor das imagens é que estas seriam ícones e
não ídolos. Condenável seria a idolatria (tratar a imagem como um deus). O
ícone, por seu turno, seria a representação de um deus ou de um santo, imagem
que quando contemplada, remeteria nossa memória àquele ser que está numa esfera
transcendente. Assim, a veneração se daria à pessoa representada e não à imagem
em si.
Curiosamente, os contextos político e religioso desde àquela época
se entrechocam e a iconografia sempre esteve aí envolvida. Neste particular, o
texto deixa claro como na região de Bizâncio as imagens foram rechaçadas pelos governantes
em razão do descontrolado mercado de imagens ali instaurado por antagonistas
daqueles.
De nosso ponto de vista, o cristianismo, ora em expansão pelo mundo
conhecido, para se desvincular de sua origem judaica, lançou mão da iconografia,
vez que o judaísmo não a adota. Além disso, para catequizar os “gentios” de
outras nações seria necessário utilizar instrumentos que lhes eram conhecidos,
no que se destacava o uso de imagens. Logo, nada mais natural que a adoção de
tais objetos, que foram sacralizados.
É interessante perceber em algumas outras publicações que nos
primórdios do cristianismo, povos outrora considerados pagãos adotavam um
sincretismo entre o cristianismo e suas religiões de origem. Exemplo disso é um
Pyx (vaso contendo o pão consagrado da celebração eucarística), que
lendariamente fora um presente do Papa Gregório, o Grande, à Columba em Bobbio,
no século V, onde Cristo é representado como sendo Orfeu, trazendo uma harpa à
mão; ou ainda o Orfeu-Cristo das Catacumbas do Cemitério dos Dois Lauréis (ca.
século IV).
À guisa de conclusão do capítulo, o autor traça um retrospecto dos
aspectos históricos apresentados anteriormente e também deixa claro que apesar
do controle exercido sobre a produção iconográfica cristã, sempre havia aqueles
que assimilavam imagens à margem do padrão oficial (a exemplo dos quadros
rechaçados de Caravaggio).
Muela também demonstra que a gradual secularização da sociedade
permitiu que a criação artística sagrada e profana se desenvolvessem, assim
como a Igreja foi obrigada a aceitar a cisão entre ciência e fé e a organização
dos Estados nacionais, marcados por certa autonomia em relação à autoridade
papal.
Por fim, importante frisar que é preciso contextualizar o período
em que a obra de arte foi produzida para que se possa entender a função
comunicativa e pedagógica que seu autor buscou exprimir.
REFERÊNCIA:
MUELA, Juan Carmona.
Iconografía Cristiana: guía básica
para estudiantes. Madri: Akal, 2008.
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