Por
A. C. Bhaktivedanta Swami
Originalmente, existia somente um Veda,
e não havia necessidade de lê-lo. As pessoas eram tão inteligentes e tinham
memórias tão aguçadas que o compreendiam, ouvindo uma só vez dos lábios do
mestre espiritual. Elas captavam todo o sentido imediatamente. Porém, 5.000
anos atrás Vyāsadeva passou os Vedas para a
linguagem escrita, própria para a gente desta era, Kali-yuga. Ele sabia que,
com o decorrer do tempo, as pessoas teriam vida curta, suas memórias seriam
muito fracas e suas inteligências não muito aguçadas. “Portanto, que eu ensine
este conhecimento védico em forma escrita.” Ele dividiu os Vedas em
quatro: Ṛg, Sāma, Atharva e Yajur e deixou-se a cargo de seus
diferentes discípulos. [...] Levou em conta a classe feminina, a dos śūdras
(classe dos trabalhadores) e a dvija-bandhu. Dvija-bandhu
refere-se àqueles que nascem numa família elevada, mas que não são qualificados
apropriadamente. Um homem nascido na família de um brāhmaṇa, que não é qualificado como um brāhmaṇa, é chamado dvija-bandhu. Para estas pessoas, ele compilou o
Mahābhārata, chamado a história da Índia, e os dezoito Purānas.
Compõem a literatura védica: os Purānas, o Mahābhārata, os quatro
Vedas e os Upaniṣads. Os Upaniṣads são parte dos Vedas.
Então Vyāsadeva resumiu todo o conhecimento védico para eruditos e filósofos
no que é chamado Vedānta-sūtra. Esta é a última palavra dos Vedas.
Vyāsadeva escreveu pessoalmente o Vedānta-sūtra sob as
instruções de Nārada, seu guru-mahārāja, mestre espiritual, mas ainda assim não ficou satisfeito. Esta é
uma longa história, descrita no Śrīmad-Bhāgavatam. Vedavyāsa não ficou
completamente satisfeito mesmo após compilar muitos Purānas, Upaniṣads
e, até mesmo depois do Vedānta-sūtra. Então seu mestre espiritual, Nārada, instruiu-o: “Explique o Vedānta.” Vedānta significa conhecimento último, e o
conhecimento último é Kṛṣṇa. Kṛṣṇa diz que, do começo ao fim de todos os Vedas, a pessoa tem
que compreender Kṛṣṇa. Vedānta-kṛd veda-vid eva
cāham. Kṛṣṇa diz: “Eu sou o compilador do Vedānta e o conhecedor dos Vedas.”
Portanto o objetivo último é Kṛṣṇa. Isso está
explicado em todos os comentários Vaiṣṇavas sobre a filosofia Vedānta. Nós, Gauḍīya Vaiṣṇavas, temos
nosso comentário sobre a filosofia Vedānta, chamado Govindabhāṣya,
escrito por Baladeva Vidyābhūṣana. Da mesma forma, Rāmānujācārya tem um e Madhvācārya
tem outro. A versão de Śaṅkarācārya não é o único comentário. Há muitos
comentários do Vedānta, mas, por não terem os Vaiṣṇavas apresentado o primeiro, as pessoas
estão sob a impressão errada de que o de Śaṅkarācārya é o único. Além disso, o
próprio Vyāsadeva escreveu o comentário
perfeito do Vedānta, o Śrīmad-Bhāgavatam. O Śrīmad-Bhāgavatam também
começa com as palavras iniciais do Vedānta-sūtra: janmādy asya yatah.
E este janmādy asya yatah é integralmente explicado no Śrīmad-Bhāgavatam.
O Vedānta-sūtra simplesmente sugere o que é Brahman, a Verdade Absoluta:
“A Verdade Absoluta é aquele de quem tudo emana.” Isto é um resumo, mas está
explicado detalhadamente no Śrīmad-Bhāgavatam. Se tudo emana da Verdade
Absoluta, então qual é a natureza da Verdade Absoluta? Isso está explicado no Śrīmad-Bhāgavatam.
A Verdade Absoluta tem que ser consciência. Ele é auto-refulgente (sva-rāṭ).
Desenvolvemos nossa consciência e conhecimento recebendo conhecimento de
outros, mas se diz que Ele é auto-refulgente. O resumo total do conhecimento
védico é o Vedānta-sūtra, e o Vedānta-sūtra é explicado pelo
próprio escritor no Śrīmad-Bhāgavatam. Finalmente, pedimos àqueles que
estão realmente em busca do conhecimento védico que tentem compreender a
explicação de todo o conhecimento védico que se encontra no Śrīmad-Bhāgavatam
e no Bhagavad-gītā.
[...]
Como é aconselhado no Décimo Terceiro Capítulo
do Bhagavad-gītā (Bg. 13.8-12), a pessoa deve cultivar conhecimento da seguinte
maneira:
(1) Tornar-se
um cavalheiro perfeito e aprender a dar o devido respeito aos outros.
(2) Não
passar por religioso, simplesmente em troca de nome e fama.
(3) Não
causar ansiedade para os outros pelas ações de seu corpo, pelos pensamentos de
sua mente, ou por suas palavras.
(4) Aprender
a ser tolerante, mesmo diante da provocação alheia.
(5) Evitar
a duplicidade em seu relacionamento com os outros.
(6) Procurar
um mestre espiritual autêntico que possa conduzi-la gradualmente ao estágio de
realização espiritual, submetendo-se a ele, prestando-lhe serviço e fazendo-lhe
perguntas relevantes.
(7) Para
alcançar a plataforma de auto-realização, seguir os princípios reguladores
prescritos nas escrituras reveladas.
(8) Fixar-se
nas doutrinas das escrituras reveladas.
(9) Abster-se
completamente das práticas que são prejudiciais ao interesse da
auto-realização.
(10) Não
aceitar mais do que necessita para a manutenção de seu corpo.
(11) Não se identificar falsamente com o corpo
material grosseiro, nem considerar que os corpos relacionados com seu corpo são
de sua propriedade.
(12) Lembrar-se sempre que, enquanto tiver um
corpo material, tem que enfrentar as misérias de repetidos nascimentos, velhices,
doenças e mortes. Não é vantagem fazer planos para se livrar dessas misérias do
corpo material. O melhor é descobrir o meio pelo qual possa reconquistar sua
identidade espiritual.
(13) Não se apegar a nada além das necessidades
da vida indispensáveis para o avanço espiritual.
(14) Não se apegar à esposa, filhos e lar mais
do que as escrituras reveladas ordenam.
(15)
Não ficar feliz ou aflita por causa de coisas desejáveis ou indesejáveis
criadas pela mente.
(16) Tornar-se um devoto puro da Personalidade
de Deus, Śrī Kṛṣṇa, e servir-Lhe com esmerada atenção.
(17) Desenvolver
o gosto de morar em lugar afastado com atmosfera calma e quieta, favorável ao
cultivo espiritual, e evitar lugares congestionados onde não-devotos se reúnem.
(18) Tornar-se
um cientista ou um filósofo e pesquisar sobre o conhecimento espiritual,
reconhecendo que o conhecimento espiritual é permanente, enquanto que, com a
morte do corpo, o conhecimento material acaba.
Estes dezoito itens, combinados, formam um processo
gradativo através do qual o conhecimento verdadeiro pode ser desenvolvido. Além
destes, consideram-se todos os outros métodos na categoria da ignorância.
REFERÊNCIA:
BHAKTIVEDANTA SWAMI, A. C. Śrī Īśopaniṣad.
Mahakala dasa (Márcio Lima Pereira Pombo); Lakasaki dasa (Lúcio Valera)
(trad.). São Paulo: Bhaktivedanta Book Trust, 1986. p. XII-XIV, 51-53.
HOW TO ACQUIRE VEDIC KNOWLEDGE
Originally
there was only one Veda, and there was no necessity of reading it. People
were so intelligent and had such sharp memories that by once hearing from the
lips of the spiritual master they would understand. They would immediately
grasp the whole purport. But 5,000 years ago Vyāsadeva put the Vedas in writing for the people in this age, Kali-yuga.
He knew that eventually the people would be short-lived, their memories would
be very poor and their intelligence would not be very sharp. “Therefore, let me
teach this Vedic knowledge in writing.” He divided the Vedas into four: Ṛk, Sāma, Atharva, and Yajur. Then he gave the charge of these Vedas
to his different disciples. [...] He considered the woman
class and śūdra class (worker class) and dvija-bandhu.
Dvija-bandhu refers to those who are born in a high family but who are
not properly qualified. A man born in the family of a brāhmaṇa, who is not qualified as a brāhmaṇa, is called dvija-bandhu. For these
persons, he compiled Mahābhārata, called the history of India, and the
eighteen Purānas. These are all Vedic literatures: the Purānas, the Mahābhārata, the four Vedas, and the Upaniṣads. The Upaniṣads are part of the Vedas. Then Vyāsadeva summarized all Vedic knowledge for scholars and philosophers in what
is called the Vedānta-sūtra. This is the last word of the Vedas. Vyāsadeva personally wrote Vedānta-sūtra
under the instructions of Nārada, his Guru Mahārāj, spiritual master, but still he was not
satisfied. That is a long story, described in the Śrīmad-Bhāgavatam. Vedavyāsa was not very satisfied even after compiling many Purānas,
Upaniṣads, and even after Vedānta-sūtra. Then his spiritual
master, Nārada, instructed him, “You explain Vedānta.” Vedānta means Ultimate Knowledge, and the Ultimate Knowledge is Kṛṣṇa. Kṛṣṇa says that
throughout all the Vedas one has to understand Kṛṣṇa. Vedānta-kṛd veda-vid eva cāham. Kṛṣṇa says, “I am
the Compiler of Vedānta, and I am the Knower of the Vedas.”
Therefore the Ultimate Objective is Kṛṣṇa. That is explained in all the Vaiṣṇava commentaries on Vedānta philosophy. We Gauḍīya Vaiṣṇavas have our commentary on Vedānta philosophy,
called Govindabhāṣya by Baladeva Vidyābhūṣana. Similarly, Rāmānujācārya
has a commentary and Madhvācārya has one. The version of Śaṅkarācārya is not
the only commentary. There are many Vedānta
commentaries, but because the Vaiṣṇavas did not present the first Vedānta commentary,
people are under the wrong impression that Śaṅkarācārya’s is the only Vedānta commentary.
Besides that, Vyāsadeva himself wrote the perfect Vedanta commentary, Śrīmad-Bhāgavatam. Śrīmad-Bhāgavatam also begins with the first words of the
Vedanta-siit Vedānta-sūtra: janmādyasya yatah. And that janmādyasya
yatah is fully explained in the Śrīmad-Bhāgavatam. The Vedānta-sūtra simply hints at what is Brahman, the
Absolute Truth: “The Absolute Truth is that from Whom everything emanates.”
This is a summary, but it is explained in detail in Śrīmad-Bhāgavatam. If everything is emanating from the Absolute Truth, then what is the
nature of the Absolute Truth? That is explained in Śrīmad-Bhāgavatam.
The Absolute Truth must be conscious. Svarāṭ. He is Self-effulgent. We
develop our consciousness and knowledge by receiving knowledge from others, but
for Him it is said that He is Self-effulgent. The whole summary of Vedic
knowledge is the Vedānta-sūtra, and the Vedānta-sūtra is
explained by the writer himself in the Śrīmad-Bhāgavatam. We finally
request those who are actually after Vedic knowledge to try to understand the
explanation of all Vedic knowledge from the Śrīmad-Bhāgavatam and the Bhagavad-gītā.
[...]
The culture
of knowledge can be practically conducted in the following way, as is advised
in the Bhagavad-gītā (Thirteenth Chapter). There it is said
that:
1. One
should become a perfect gentleman himself, an learn to give proper respect to
persons other than himself.
2. One
should not pose himself as a religionist simply for name and fame.
3. One
should not become a source of anxiety to others by the actions of his body,
mind or words.
4. One
should learn forbearance, even if there is provocation from others.
5. One
should learn to avoid duplicity in his dealings with others.
6. One must
have a bona fide spiritual master who can lead him gradually to the stage of
spiritual realization, and to such an ācārya or spiritual master he must
submit himself with service and relevant questions.
7. One must follow the regulative principles enjoined in the revealed Scriptures, in order to approach the platform of self realization.
8. One must be fixed up in the tenets of the revealed Scriptures.
9. One
should completely refrain from practices which are detrimental to the interest
of self realization.
10. One
should not accept more than what he requires for the maintenance of the body.
11. One
should not falsely identify himself with the material covering of the gross
body nor consider as his own those who are related with his body.
12. One
should always remember that so long as he has a material body, he must face the
miseries of repeated birth, death, old age, and disease. There is no use in
making plans to get rid of these miseries of the material body. The best thing
is to find out the means by which one may regain his spiritual identity.
13. One
should not be attached to more than the necessities of life required for
spiritual advancement.
14. One
should not be more attached to wife, children and home than is ordained in the
revealed Scriptures.
15. One
should not be happy or distressed in regard to the desirables and undesirables
created by the mind.
16. One
should become an unalloyed devotee of the Personality of Godhead, Śrī Kṛṣṇa, and
serve Him with rapt attention.
17. One
should develop a feeling for residing in a secluded place with a calm and quiet
atmosphere favorable for spiritual culture, and thus avoid congested places
where the non-devotees congregate.
18. One
should become a scientist or philosopher, and make research into spiritual
knowledge – not material knowledge – recognizing that spiritual knowledge is
permanent, whereas material knowledge ends with the death of the body.
These
eighteen items form a gradual process for developing real knowledge. Except for
these eighteen items, all other items whatever are grouped within the category
of nescience.
REFERENCE:
BHAKTIVEDANTA SWAMI, A. C. Śrī Īśopaniṣad.
Japan: ISKCON Books, 1969. p. 7-8, 49-51.
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