quarta-feira, 1 de junho de 2022

COMO ADQUIRIR CONHECIMENTO VÉDICO

 

 

Por A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupāda

 

Originalmente, existia somente um Veda, e não havia necessidade de lê-lo. As pessoas eram tão inteligentes e tinham memórias tão aguçadas que o compreendiam, ouvindo uma só vez dos lábios do mestre espiritual. Elas captavam todo o sentido imediatamente. Porém, 5.000 anos atrás Vyāsadeva passou os Vedas para a linguagem escrita, própria para a gente desta era, Kali-yuga. Ele sabia que, com o decorrer do tempo, as pessoas teriam vida curta, suas memórias seriam muito fracas e suas inteligências não muito aguçadas. “Portanto, que eu ensine este conhecimento védico em forma escrita.” Ele dividiu os Vedas em quatro: Ṛg, Sāma, Atharva e Yajur e deixou-se a cargo de seus diferentes discípulos. [...] Levou em conta a classe feminina, a dos śūdras (classe dos trabalhadores) e a dvija-bandhu. Dvija-bandhu refere-se àqueles que nascem numa família elevada, mas que não são qualificados apropriadamente. Um homem nascido na família de um brāhmaṇa, que não é qualificado como um brāhmaṇa, é chamado dvija-bandhu. Para estas pessoas, ele compilou o Mahābhārata, chamado a história da Índia, e os dezoito Purānas. Compõem a literatura védica: os Purānas, o Mahābhārata, os quatro Vedas e os Upaniṣads. Os Upaniṣads são parte dos Vedas. Então Vyāsadeva resumiu todo o conhecimento védico para eruditos e filósofos no que é chamado Vedānta-sūtra. Esta é a última palavra dos Vedas. Vyāsadeva escreveu pessoalmente o Vedānta-sūtra sob as instruções de Nārada, seu guru-mahārāja, mestre espiritual, mas ainda assim não ficou satisfeito. Esta é uma longa história, descrita no Śrīmad-Bhāgavatam. Vedavyāsa não ficou completamente satisfeito mesmo após compilar muitos Purānas, Upaniṣads e, até mesmo depois do Vedānta-sūtra. Então seu mestre espiritual, Nārada, instruiu-o: “Explique o Vedānta.” Vedānta significa conhecimento último, e o conhecimento último é Kṛṣṇa. Kṛṣṇa diz que, do começo ao fim de todos os Vedas, a pessoa tem que compreender Kṛṣṇa. Vedānta-kd veda-vid eva cāham. Kṛṣṇa diz: “Eu sou o compilador do Vedānta e o conhecedor dos Vedas.” Portanto o objetivo último é Kṛṣṇa. Isso está explicado em todos os comentários Vaiṣṇavas sobre a filosofia Vedānta. Nós, Gauḍīya Vaiṣṇavas, temos nosso comentário sobre a filosofia Vedānta, chamado Govindabhāṣya, escrito por Baladeva Vidyābhūṣana. Da mesma forma, Rāmānujācārya tem um e Madhvācārya tem outro. A versão de Śaṅkarācārya não é o único comentário. Há muitos comentários do Vedānta, mas, por não terem os Vaiṣṇavas apresentado o primeiro, as pessoas estão sob a impressão errada de que o de Śaṅkarācārya é o único. Além disso, o próprio Vyāsadeva escreveu o comentário perfeito do Vedānta, o Śrīmad-Bhāgavatam. O Śrīmad-Bhāgavatam também começa com as palavras iniciais do Vedānta-sūtra: janmādy asya yatah. E este janmādy asya yatah é integralmente explicado no Śrīmad-Bhāgavatam. O Vedānta-sūtra simplesmente sugere o que é Brahman, a Verdade Absoluta: “A Verdade Absoluta é aquele de quem tudo emana.” Isto é um resumo, mas está explicado detalhadamente no Śrīmad-Bhāgavatam. Se tudo emana da Verdade Absoluta, então qual é a natureza da Verdade Absoluta? Isso está explicado no Śrīmad-Bhāgavatam. A Verdade Absoluta tem que ser consciência. Ele é auto-refulgente (sva-rāṭ). Desenvolvemos nossa consciência e conhecimento recebendo conhecimento de outros, mas se diz que Ele é auto-refulgente. O resumo total do conhecimento védico é o Vedānta-sūtra, e o Vedānta-sūtra é explicado pelo próprio escritor no Śrīmad-Bhāgavatam. Finalmente, pedimos àqueles que estão realmente em busca do conhecimento védico que tentem compreender a explicação de todo o conhecimento védico que se encontra no Śrīmad-Bhāgavatam e no Bhagavad-gītā.

 

  

[...]



Como é aconselhado no Décimo Terceiro Capítulo do Bhagavad-gītā (Bg. 13.8-12), a pessoa deve cultivar conhecimento da seguinte maneira:

(1)     Tornar-se um cavalheiro perfeito e aprender a dar o devido respeito aos outros.

(2)     Não passar por religioso, simplesmente em troca de nome e fama.

(3)     Não causar ansiedade para os outros pelas ações de seu corpo, pelos pensamentos de sua mente, ou por suas palavras.

(4)     Aprender a ser tolerante, mesmo diante da provocação alheia.

(5)     Evitar a duplicidade em seu relacionamento com os outros.

(6)     Procurar um mestre espiritual autêntico que possa conduzi-la gradualmente ao estágio de realização espiritual, submetendo-se a ele, prestando-lhe serviço e fazendo-lhe perguntas relevantes.

(7)     Para alcançar a plataforma de auto-realização, seguir os princípios reguladores prescritos nas escrituras reveladas.

(8)     Fixar-se nas doutrinas das escrituras reveladas.

(9)     Abster-se completamente das práticas que são prejudiciais ao interesse da auto-realização.

(10)   Não aceitar mais do que necessita para a manutenção de seu corpo.

(11) Não se identificar falsamente com o corpo material grosseiro, nem considerar que os corpos relacionados com seu corpo são de sua propriedade.

(12) Lembrar-se sempre que, enquanto tiver um corpo material, tem que enfrentar as misérias de repetidos nascimentos, velhices, doenças e mortes. Não é vantagem fazer planos para se livrar dessas misérias do corpo material. O melhor é descobrir o meio pelo qual possa reconquistar sua identidade espiritual.

(13) Não se apegar a nada além das necessidades da vida indispensáveis para o avanço espiritual.

(14) Não se apegar à esposa, filhos e lar mais do que as escrituras reveladas ordenam.

  (15) Não ficar feliz ou aflita por causa de coisas desejáveis ou indesejáveis criadas pela mente.

(16) Tornar-se um devoto puro da Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, e servir-Lhe com esmerada atenção.

(17)   Desenvolver o gosto de morar em lugar afastado com atmosfera calma e quieta, favorável ao cultivo espiritual, e evitar lugares congestionados onde não-devotos se reúnem.

(18)   Tornar-se um cientista ou um filósofo e pesquisar sobre o conhecimento espiritual, reconhecendo que o conhecimento espiritual é permanente, enquanto que, com a morte do corpo, o conhecimento material acaba.

Estes dezoito itens, combinados, formam um processo gradativo através do qual o conhecimento verdadeiro pode ser desenvolvido. Além destes, consideram-se todos os outros métodos na categoria da ignorância.

 

REFERÊNCIA:

 

BHAKTIVEDANTA SWAMI, A. C. Śrī Īśopaniṣad. Mahakala dasa (Márcio Lima Pereira Pombo); Lakasaki dasa (Lúcio Valera) (trad.). São Paulo: Bhaktivedanta Book Trust, 1986. p. XII-XIV, 51-53.


 


HOW TO ACQUIRE VEDIC KNOWLEDGE

 

Originally there was only one Veda, and there was no necessity of reading it. People were so intelligent and had such sharp memories that by once hearing from the lips of the spiritual master they would understand. They would immediately grasp the whole purport. But 5,000 years ago Vyāsadeva put the Vedas in writing for the people in this age, Kali-yuga. He knew that eventually the people would be short-lived, their memories would be very poor and their intelligence would not be very sharp. “Therefore, let me teach this Vedic knowledge in writing.” He divided the Vedas into four: Ṛk, Sāma, Atharva, and Yajur. Then he gave the charge of these Vedas to his different disciples. [...] He considered the woman class and śūdra class (worker class) and dvija-bandhu. Dvija-bandhu refers to those who are born in a high family but who are not properly qualified. A man born in the family of a brāhmaṇa, who is not qualified as a brāhmaṇa, is called dvija-bandhu. For these persons, he compiled Mahābhārata, called the history of India, and the eighteen Purānas. These are all Vedic literatures: the Purānas, the Mahābhārata, the four Vedas, and the Upaniṣads. The Upaniṣads are part of the Vedas. Then Vyāsadeva summarized all Vedic knowledge for scholars and philosophers in what is called the Vedānta-sūtra. This is the last word of the Vedas. Vyāsadeva personally wrote Vedānta-sūtra under the instructions of Nārada, his Guru Mahārāj, spiritual master, but still he was not satisfied. That is a long story, described in the Śrīmad-Bhāgavatam. Vedavyāsa was not very satisfied even after compiling many Purānas, Upaniṣads, and even after Vedānta-sūtra. Then his spiritual master, Nārada, instructed him, “You explain Vedānta.” Vedānta means Ultimate Knowledge, and the Ultimate Knowledge is Kṛṣṇa. Kṛṣṇa says that throughout all the Vedas one has to understand Kṛṣṇa. Vedānta-kd veda-vid eva cāham. Kṛṣṇa says, “I am the Compiler of Vedānta, and I am the Knower of the Vedas.” Therefore the Ultimate Objective is Kṛṣṇa. That is explained in all the Vaiṣṇava commentaries on Vedānta philosophy. We Gauḍīya Vaiṣṇavas have our commentary on Vedānta philosophy, called Govindabhāṣya by Baladeva Vidyābhūṣana. Similarly, Rāmānujācārya has a commentary and Madhvācārya has one. The version of Śaṅkarācārya is not the only commentary. There are many Vedānta commentaries, but because the Vaiṣṇavas did not present the first Vedānta commentary, people are under the wrong impression that Śaṅkarācārya’s is the only Vedānta commentary. Besides that, Vyāsadeva himself wrote the perfect Vedanta commentary, Śrīmad-Bhāgavatam. Śrīmad-Bhāgavatam also begins with the first words of the Vedanta-siit Vedānta-sūtra: janmādyasya yatah. And that janmādyasya yatah is fully explained in the Śrīmad-Bhāgavatam. The Vedānta-sūtra simply hints at what is Brahman, the Absolute Truth: “The Absolute Truth is that from Whom everything emanates.” This is a summary, but it is explained in detail in Śrīmad-Bhāgavatam. If everything is emanating from the Absolute Truth, then what is the nature of the Absolute Truth? That is explained in Śrīmad-Bhāgavatam. The Absolute Truth must be conscious. Svarāṭ. He is Self-effulgent. We develop our consciousness and knowledge by receiving knowledge from others, but for Him it is said that He is Self-effulgent. The whole summary of Vedic knowledge is the Vedānta-sūtra, and the Vedānta-sūtra is explained by the writer himself in the Śrīmad-Bhāgavatam. We finally request those who are actually after Vedic knowledge to try to understand the explanation of all Vedic knowledge from the Śrīmad-Bhāgavatam and the Bhagavad-gītā.

  

[...]

  

 

The culture of knowledge can be practically conducted in the following way, as is advised in the Bhagavad-gītā (Thirteenth Chapter). There it is said that:

1. One should become a perfect gentleman himself, an learn to give proper respect to persons other than himself.

2. One should not pose himself as a religionist simply for name and fame.

3. One should not become a source of anxiety to others by the actions of his body, mind or words.

4. One should learn forbearance, even if there is provocation from others.

5. One should learn to avoid duplicity in his dealings with others.

6. One must have a bona fide spiritual master who can lead him gradually to the stage of spiritual realization, and to such an ācārya or spiritual master he must submit himself with service and relevant questions.

7. One must follow the regulative principles enjoined in the revealed Scriptures, in order to approach the platform of self realization.

8. One must be fixed up in the tenets of the revealed Scriptures.

9. One should completely refrain from practices which are detrimental to the interest of self realization.

10. One should not accept more than what he requires for the maintenance of the body.

11. One should not falsely identify himself with the material covering of the gross body nor consider as his own those who are related with his body.

12. One should always remember that so long as he has a material body, he must face the miseries of repeated birth, death, old age, and disease. There is no use in making plans to get rid of these miseries of the material body. The best thing is to find out the means by which one may regain his spiritual identity.

13. One should not be attached to more than the necessities of life required for spiritual advancement.

14. One should not be more attached to wife, children and home than is ordained in the revealed Scriptures.

15. One should not be happy or distressed in regard to the desirables and undesirables created by the mind.

16. One should become an unalloyed devotee of the Personality of Godhead, Śrī Kṛṣṇa, and serve Him with rapt attention.

17. One should develop a feeling for residing in a secluded place with a calm and quiet atmosphere favorable for spiritual culture, and thus avoid congested places where the non-devotees congregate.

18. One should become a scientist or philosopher, and make research into spiritual knowledge – not material knowledge – recognizing that spiritual knowledge is permanent, whereas material knowledge ends with the death of the body.

These eighteen items form a gradual process for developing real knowledge. Except for these eighteen items, all other items whatever are grouped within the category of nescience.

 

REFERENCE:

 

BHAKTIVEDANTA SWAMI, A. C. Śrī Īśopaniṣad. Japan: ISKCON Books, 1969. p. 7-8, 49-51.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário