sábado, 4 de junho de 2022

CHEGANDO AO INCONSCIENTE – O HOMEM E SEUS SÍMBOLOS

  



Por João Florindo Batista Segundo

  

O presente trabalho versará sobre o capítulo 1 do livro “O homem e seus símbolos”, do psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl G. Jung (1875-1961), intitulado “Chegando ao inconsciente”, o primeiro dos cinco capítulos nos quais a obra foi dividida. Este foi o último livro escrito e organizado por ele, que faleceu antes de conclui-la, sendo finalizada por seus colaboradores. Sua escrita é acessível a qualquer pessoa, sem a necessidade de conhecimentos prévios na área, de modo que os temas abordados são de fácil compreensão, o que auxilia o leitor a realizar autoanálise de seus sonhos. Rico em ilustrações, trata da importância das diversas formas de manifestação do inconsciente, transcendendo o reducionismo racionalista das modernas ciências.

Observa-se preliminarmente a importância dos sonhos como supedâneo à produção inconsciente dos símbolos; neste norte, apresenta o termo anima como elemento feminino no homem e o animus como o representante deste na mulher, bem como trata das questões metafísicas presentes nos sonhos e a sua função como principal fonte de comunicação entre o consciente e inconsciente, de modo que a a simbologia é o principal meio de ligação entre eles.

Jung levou o estudo do sonho a um nível mais alto que Freud: para aquele, é sempre um despertar do inconsciente em que formas não conscientes emergem. As imagens primitivas eram relevantes, uma vez que eram observadas em todo lugar: o que para pacientes europeus e esclarecidos era motivo de espanto, para os homens “primitivos” (com os quais ele conviveu na África) era algo natural. Isso levou Jung a considerar o sonho como “um sopro da natureza”, pois a mente não é uma “folha em branco”, mas, sim, um reservatório de imagens coletivas acumuladas desde priscas eras. Fundamenta-se o seu conceito de arquétipo: modelos que se repetem com diferentes variações através dos tempos, derivados dos sonhos e da mitologia. Logo, Jung demonstrava a seus pacientes angustiados com sonhos que estes nada mais eram que a ocorrência no mundo atual de imagens arquetípicas do passado da humanidade.

Segundo Jung, os antigos espíritos que tomavam posse do homem primitivo são forças do irracional ainda fora do controle da consciência e que ainda existem neste mesmo estado. Por terem sido reprimidos, esses elementos do consciente são perigosos ao se apresentarem como inconscientes.

Jung labora sobre a busca do homem pelo significado dos sonhos e dos símbolos religiosos, o que em parte explica a transcendentalidade da humanidade. Tal jornada se dá porque o homem não consegue viver sem significado para sua existência. Para ele, só ao reconhecer a existência de imagens herdadas de seus ancestrais é que o homem pode compreender o funcionamento de sua psique, vez que nem todos os símbolos nos são legados pela experiência sensível.

Encerra o capítulo enfatizando a necessidade do homem ser responsável pelas suas atitudes e pelo seu autodesenvolvimento, apesar de nossa limitada capacidade de resposta aos mistérios da vida. E deixa o estudo do simbolismo individual como uma tarefa em aberto, a ser estudada e aprimorada, mas jamais encerrada, face à dinamicidade do homem.

A leitura é agradável e útil a todos os interessados em ampliar seus conhecimentos em relação à elaboração simbólica, à arte e ao desenvolvimento integral dos indivíduos. Jung conduz brilhantemente o leitor às suas ideias sobre símbolos e sobre a influência dos sonhos como produto do inconsciente para ajustar o self do indivíduo.

 

REFERÊNCIA:

JUNG, Karl Gustav. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.


Disciplina: Pedagogia Simbólica.

Um comentário:

  1. Sim, creio que somente se nos apartarmos do racionalismo e nos reconectar com nossa ancestralidade transcendental é que nos sintonizaremos com a busca pelo bem estar de toda a nossa sociedade.

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