Por João Florindo Batista Segundo
Neste trabalho, nos debruçaremos sobre o texto “Imagens e
imaginário: subsídios teórico-metodológicos para a interpretação das imagens
simbólicas e religiosas”, de autoria de Etienne Alfred Higuet, publicado
no livro “Imagens e imaginário”, organizado por Paulo Augusto de Souza Nogueira.
Higuet retoma a teoria hermenêutica do simbólico, com inspiração em
Paul Ricoeur, na linha junguiana desenvolvida por Gaston Bachelard, Gilbert
Durand e Henry Corbin e guiado pelo filósofo francês Jean-Jacques Wunenburger,
que sob a ótica do autor, sintetizou estas contribuições em vista da análise
das imagens.
O autor define imagem como uma representação concreta, sensível, de
um objeto material ou ideal presente ou
ausente do ponto de vista perceptivo; uma representação intermediária entre o
concreto e o abstrato, o real e o pensado, o sensível e o inteligível.
Destas, há duas grandes famílias, sendo a primeira mental ou
psíquica, e a outra material. Já quanto à passagem pelo corpo, há as imagens
visuais e as linguísticas, sendo que estas últimas apresentam equivalências
estruturais e funcionais com as representações visuais, muito embora elas não
se oponham de todo.
Na primeira parte do texto, ele retoma a caracterização do mundo
das imagens no sentido amplo, incluindo o mental e o material, o visual e o
linguístico, com a adoção da reflexão a caracterização da imagem como
representação intermediária entre a percepção e a conceptualização como eixo
central, com destaque para os pontos fortes, os pontos fracos e os pontos de
contato da imagem verbal e da imagem visual. Distingue as representações
imagéticas segundo a sua relação com o tempo e com o grau de consciência e
apresenta a categoria fundamental das imagens matriciais, especialmente os schêmes e os arquétipos .
Segundo Higuet, Wunenburger considera duas formas de hermenêutica:
a)
a hermenêutica redutora, que visa
desmitologizar narrativas imaginárias e encontrar o sentido literal sob os
sentidos figurados ou alegóricos.
b)
a hermenêutica amplificadora, que pretende
reconstituir os sentidos desnivelados e ocultos de um texto ou de uma imagem em
diferentes campos e momentos da experiência humana.
Na segunda parte, ele resume os três métodos privilegiados por Wunenburger: antropologia das estruturas figurativas, hermenêutica e fenomenologia das imagens simbólicas.
O autor trabalha as grandes linhas metodológicas atuais de análise
do imaginário, a saber a transcendental (inspirada em Kant), a hermenêutica e a
fenomenológica.
Higuet esboça três níveis de formação de imagens:
a)
a imagética (intencionalidade de metaforizar), em que as imagens mentais e
materiais se perfilam como representações do real quando se apresentam como “coisas”
representadas, que duplicam o mundo a fim de memorizá-lo, deslocá-lo ou
estetizá-lo; passível de estudos semiológicos
b)
o imaginário (intencionalidade de imaginar), em que imagens que se apresentam
como substituição de um real ausente, desaparecido ou inexistente, abrindo
desse modo um campo de representação do irreal; encontra-se sob a análise das
ciências da fantasia e da ficção; e
c)
o imaginal (intencionalidade de
imaginalizar), que se compõe de representações
metafóricas surreais que tornam presentes formas sem equivalentes ou modelos na
experiência; encontra-se sob o estudo da iconologia simbólica, que inclui a
hermenêutica filosófica e a fenomenologia religiosa.
Assim, o autor resume a teoria do imaginário em cinco pontos
principais:
a)
o
imaginário obedece a uma “lógica” de constituição de um “estruturalismo
figurativo” e organiza-se em estruturas que permitem formular leis (Bachelard,
Lévi-Strauss, Durand);
b)
o
imaginário é obra de uma imaginação transcendental independente dos conteúdos
acidentais da percepção empírica (Durand);
c)
a
imaginação é uma atividade simultaneamente conotativa e figurativa que nos leva
a pensar para além daquilo que a consciência é (Ricoeur);
d)
através
das obras, as imagens visuais e linguísticas contribuem para enriquecer a
representação do mundo (Bachelard, Durand) ou para elaborar a identidade do Eu
(Ricoeur); e
e)
o
imaginário apresenta-se como uma esfera de representações e de afetos
profundamente ambivalente: fonte de erros e de ilusões ou revelação de verdades
metafísicas (Wunenburger).
Na terceira e última parte, Higuet apresenta exemplos elaborados
por Wunenburger, tais como o ícone e o ser da imagem, a imagem pictural, a
imagem não-figurativa, a imagem mítica (o mal e a autoridade) e os espaços
espiritualizados (deserto, casas da alma, vazio).
Por fim, afirma que a imagem possui dupla posição (entre o sensível
e o inteligível) e que o pensamento simbólicio permite criar um mundo encostado
ao real pelos quais a consciência transita por meio dos signos, de modo que
realidades sensíveis são imagens de uma realidade sobrenatural. E isto só pode
acontecer com a ativação do imaginário.
REFERÊNCIA:
HIGUET, Etienne
Alfred. Imagens e imaginário:
subsídios teórico-metodológicos para a interpretação das imagens simbólicas e
religiosas. In: NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza (org.). Religião e
linguagem: abordagens teóricas interdisciplinares. Coleção Sociologia e
Religião. São Paulo: Paulus, 2015. p. 15-62.
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