sábado, 4 de junho de 2022

IMAGENS E IMAGINÁRIO

 



Por João Florindo Batista Segundo

 

Neste trabalho, nos debruçaremos sobre o texto “Imagens e imaginário: subsídios teórico-metodológicos para a interpretação das imagens simbólicas e religiosas”, de autoria de Etienne Alfred Higuet, publicado no livro “Imagens e imaginário”, organizado por Paulo Augusto de Souza Nogueira.

Higuet retoma a teoria hermenêutica do simbólico, com inspiração em Paul Ricoeur, na linha junguiana desenvolvida por Gaston Bachelard, Gilbert Durand e Henry Corbin e guiado pelo filósofo francês Jean-Jacques Wunenburger, que sob a ótica do autor, sintetizou estas contribuições em vista da análise das imagens.

O autor define imagem como uma representação concreta, sensível, de um objeto  material ou ideal presente ou ausente do ponto de vista perceptivo; uma representação intermediária entre o concreto e o abstrato, o real e o pensado, o sensível e o inteligível.

Destas, há duas grandes famílias, sendo a primeira mental ou psíquica, e a outra material. Já quanto à passagem pelo corpo, há as imagens visuais e as linguísticas, sendo que estas últimas apresentam equivalências estruturais e funcionais com as representações visuais, muito embora elas não se oponham de todo.

Na primeira parte do texto, ele retoma a caracterização do mundo das imagens no sentido amplo, incluindo o mental e o material, o visual e o linguístico, com a adoção da reflexão a caracterização da imagem como representação intermediária entre a percepção e a conceptualização como eixo central, com destaque para os pontos fortes, os pontos fracos e os pontos de contato da imagem verbal e da imagem visual. Distingue as representações imagéticas segundo a sua relação com o tempo e com o grau de consciência e apresenta a categoria fundamental das imagens matriciais, especialmente os schêmes e os arquétipos .

Segundo Higuet, Wunenburger considera duas formas de hermenêutica:

a)   a hermenêutica redutora, que visa desmitologizar narrativas imaginárias e encontrar o sentido literal sob os sentidos figurados ou alegóricos.  

b)   a hermenêutica amplificadora, que pretende reconstituir os sentidos desnivelados e ocultos de um texto ou de uma imagem em diferentes campos e momentos da experiência humana.

Na segunda parte, ele resume os três métodos privilegiados por  Wunenburger: antropologia   das   estruturas   figurativas,   hermenêutica   e   fenomenologia   das   imagens simbólicas.

O autor trabalha as grandes linhas metodológicas atuais de análise do imaginário, a saber a transcendental (inspirada em Kant), a hermenêutica e a fenomenológica.

Higuet esboça três níveis de formação de imagens:

a)   a imagética (intencionalidade de metaforizar), em que as imagens mentais e materiais se perfilam como representações do real quando se apresentam como “coisas” representadas, que duplicam o mundo a fim de memorizá-lo, deslocá-lo ou estetizá-lo; passível de estudos semiológicos

b)   o imaginário (intencionalidade de imaginar), em que imagens que se apresentam como substituição de um real ausente, desaparecido ou inexistente, abrindo desse modo um campo de representação do irreal; encontra-se sob a análise das ciências da fantasia e da ficção; e

c)   o imaginal (intencionalidade de imaginalizar), que se compõe de representações metafóricas surreais que tornam presentes formas sem equivalentes ou modelos na experiência; encontra-se sob o estudo da iconologia simbólica, que inclui a hermenêutica filosófica e a fenomenologia religiosa.

Assim, o autor resume a teoria do imaginário em cinco pontos principais:

a)   o imaginário obedece a uma “lógica” de constituição de um “estruturalismo figurativo” e organiza-se em estruturas que permitem formular leis (Bachelard, Lévi-Strauss, Durand);

b)   o imaginário é obra de uma imaginação transcendental independente dos conteúdos acidentais da percepção empírica (Durand);

c)   a imaginação é uma atividade simultaneamente conotativa e figurativa que nos leva a pensar para além daquilo que a consciência é (Ricoeur);

d)   através das obras, as imagens visuais e linguísticas contribuem para enriquecer a representação do mundo (Bachelard, Durand) ou para elaborar a identidade do Eu (Ricoeur); e

e)   o imaginário apresenta-se como uma esfera de representações e de afetos profundamente ambivalente: fonte de erros e de ilusões ou revelação de verdades metafísicas (Wunenburger).

Na terceira e última parte, Higuet apresenta exemplos elaborados por Wunenburger, tais como o ícone e o ser da imagem, a imagem pictural, a imagem não-figurativa, a imagem mítica (o mal e a autoridade) e os espaços espiritualizados (deserto, casas da alma, vazio).

Por fim, afirma que a imagem possui dupla posição (entre o sensível e o inteligível) e que o pensamento simbólicio permite criar um mundo encostado ao real pelos quais a consciência transita por meio dos signos, de modo que realidades sensíveis são imagens de uma realidade sobrenatural. E isto só pode acontecer com a ativação do imaginário.

 

REFERÊNCIA:

HIGUET, Etienne Alfred. Imagens e imaginário: subsídios teórico-metodológicos para a interpretação das imagens simbólicas e religiosas. In: NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza (org.). Religião e linguagem: abordagens teóricas interdisciplinares. Coleção Sociologia e Religião. São Paulo: Paulus, 2015. p. 15-62.

 

Disciplina: Pedagogia Simbólica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário