sexta-feira, 24 de junho de 2022

FICHAMENTO DE “O TRABALHO DO ANTROPÓLOGO”

 

 

Por João Florindo Batista Segundo

 

Esse esquema conceitual (da disciplina for­madora de nossa maneira de ver a realidade), disciplinadamente apreendido durante o nosso itinerário acadêmico (daí o termo disciplina para as matérias que estudamos), funciona como uma espécie de prisma por meio do qual a realidade observada sofre um pro­cesso de refração. (p. 15)

 

Retomando o nosso exemplo, veríamos que para se dar conta da natu­reza das relações sociais mantidas entre as pessoas da unidade residencial [...], somente o Olhar não seria suficiente. (p. 17)

 

Evidentemente tanto o Ouvir quanto o Olhar não podem ser tomados como faculdades totalmente independentes no exercício da investigação. (p. 18)

 

Se aparentemente a entrevista tende a ser encarada como algo sem maiores dificuldades, salvo, naturalmente, a limitação linguística – i.e., o fraco domínio do idioma nativo pelo etnólogo –, ela toma-se muito mais complexa quando consideramos que a maior dificuldade está na diferença entre “idiomas culturais”, [...]. (p. 19-20)

 

A rigor, não há verdadeira interação entre nativo e pesquisador, porquanto na utilização daquele como informante o etnólogo não cria con­dições de efetivo “diálogo”. A relação não é dialógica. (p. 20)

 

Devemos entender, assim, por Escrever o ato exercitado por excelên­cia no gabinete, cujas características o singularizam de forma marcante, sobretudo quando o compararmos com o que se escreve no campo, seja ao fazermos nosso diário, seja nas anotações que rabiscamos em nossas cadernetas. (p. 22)

 

Temos de admitir que mais do que uma tradução da “cultura nativa” na “cultura antropológica” (i.e., no idioma de minha disciplina), o que realizamos é uma “interpretação” que, por sua vez, está balizada pelas categorias ou pelos conceitos bási­cos constitutivos da disciplina. (p. 24)

 

Porém, o fato de se escrever na primeira pessoa do singular – como pa­recem recomendar os defensores desse terceiro tipo de monografia – não significa necessariamente que o texto deva ser intimista. (p. 27)

 

Isso signifi­ca que nesse caso o texto não espera que o seu autor tenha primeiro to­das as respostas para, só então, poder ser iniciado. (p. 29)

 

Permito-me dizer que talvez seja ela [“observação participante”] responsável por caracterizar o trabalho de campo da antropologia, singularizando-a, enquanto discipli­na, dentre suas irmãs nas ciências sociais. (p. 30)

 

Nesse sentido, os atos de Olhar e de Ouvir são, a ri­gor, funções de um gênero de observação muito peculiar (i.e., peculiar à antropologia), por meio da qual o pesquisador busca interpretar (melhor dizendo: compreender) a sociedade e a cultura do Outro “de dentro”, em sua verdadeira interioridade. (p. 31)

 

REFERÊNCIA:

OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. O Trabalho do Antropólogo: Olhar, Ouvir, Escrever. In: Revista de Antropologia. São Paulo, USP, v. 39, nº 1. p. 13-37. 1996. Disponível em: http://www2.fct.unesp.br/docentes/geo/necio_turra/MINI%20CURSO%20RAFAEL%20ESTRADA/TrabalhodoAntropologo.pdf. Acesso em: 12 maio 2020.

 

Disciplina: Pesquisa Etnográfica e Ciências das Religiões 

Nenhum comentário:

Postar um comentário