Por Ernst Kantorowicz
Seria erróneo entreouvir,
nessa sinfonia de teologia, filosofia escolástica e direito, a expressão do
humanismo, ou subestimar a influência da literatura clássica no desenvolvimento
das ideologias ocidentais de pátria. Nada seria mais fácil que extrair
diversas passagens relevantes dos escritos de Petrarca, Boccaccio, Salutáti,
Bruni e outros, e demonstrar como as ideias cristãs secularizadas de martyr
e caritas eram acompanhadas, daí em diante, pelas noções clássicas de heros
e amor (patriae). Mas seria supérfluo arrolar outras fontes aqui
apenas para provar o que é auto-evidente: o humanismo exercia alguns efeitos
facilmente reconhecíveis sobre o culto da pátria e sobre a
autoglorificação nacional, e a heroificação final do guerreiro que morria pela
pátria era uma conquista dos humanistas. Não há nenhuma dúvida de que o amor
patriae romano — ressuscitado, cultivado e glorificado de modo tão
passional pelos humanistas — moldou a mentalidade secular moderna.
REFERÊNCIA:
KANTOROWICZ, Ernst H. Os dois corpos do rei: um estudo sobre teologia política medieval. Cid Knipel Moreira (trad.). São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 155-156.
KANTOROWICZ, Ernst H. Os dois corpos do rei: um estudo sobre teologia política medieval. Cid Knipel Moreira (trad.). São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 155-156.
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