O título é de autoria
do editor deste blog, tendo em vista as informações contidas no texto a seguir,
extraído de uma publicação mais extensa.
Por
SGCMRAB
Vamos
acabar com essa subversão!
Muitos historiadores acham
que a própria fundação da Primeira Grande Loja teria sido uma estratégia para
trazer a Franco-Maçonaria à esfera da nova dinastia alemã. Mas, mesmo que não
tenha sido este o motivo, que a coisa estava fervilhando nas Lojas, não há
dúvida alguma. A ata inicial da Primeira
Grande Loja, datada de 1723, demonstra nitidamente a tensão existente entre
as duas facções na Primeira Grande Loja! E se quisermos pesquisar, há outros
indícios, como a criação do Terceiro Grau ou as Constituições de Anderson. O primeiro Livro das Constituições, de 1723, era indubitavelmente cristão. Já
o segundo, de 1738, tinha trazido a Maçonaria para uma visão muito mais
ecumênica. Decididamente, por influência dos humanistas da Royal Society e por necessidade política, a Maçonaria dos Graus Simbólicos,
controlada pela Primeira Grande Loja,
mudara consideravelmente. A religião, em cujo nome se praticou muitas
atrocidades e se exerceu muita opressão, não mais seria um foco de
intolerância.
Mas o mundo gira.
A Maçonaria, fora da
influência da corte inglesa, ganhara ou, quem sabe, revivera outros princípios.
Isso pode ter acontecido na França, onde estavam os monarcas britânicos
exilados, ou na Escócia, de for-te influência Templária. Ou, quem sabe, em
ambos os lugares estão envolvidos na sua gênese. Pouco importa. O fato é que,
em poucos anos, lá por 1740, os Altos
Graus assumiram uma preeminência avassalado-ra. E, é claro, para a Primeira
Grande Loja, esses Altos Graus, temperados com uma boa dose do romantismo Stuartista, decididamente cheiravam a
subversão!
Mais
lenha na fogueira
Em 1730, Samuel Prichard
publicou sua Maçonaria Dissecada,
espalhando aos quatro ventos os supostos segredos maçônicos, o que levou a
Primeira Grande Loja a alterar os rituais, desagradando os puristas – é claro
que os puristas já existiam, naquela época!
Em 1751, Maçons irlandeses
solicitaram ingresso na Primeira Grande Loja e foram solenemente esnobados. A
Grande Loja se elitizara e não estava interessada em pés-rapados. Estes
resolveram fazer sua própria Grande Loja. E deram a sorte de ter um Grande
Secretário, Laurence Dermott, que era terrivelmente indigesto. Ele passou à
ofensiva aberta contra a Primeira Grande Loja, apelidando seus afiliados de
“moderninhos”, pejorativamente, acusando-os de terem alterado os rituais e por
não praticarem a verdadeira Maçonaria de
York. Sim, de York, por causa da tradição implícita nas Antigas Obrigações (Old Charges). Já eles, os irlandeses e ingleses descontentes,
consideravam-se Antigos (Antients,
com t, à moda latina!), eles sim, os
fiéis depositários das verdadeiras tradições maçônicas.
Como não davam a mínima para
os tabus da Primeira Grande Loja e reconhecendo a atração potencial dos Altos
Graus, adotaram o mais notável deles, o Real Arco, considerando-o um
complemento indispensável à educação do Mestre Maçom. Para eles, o Real Arco
era “o cerne, a raiz, o coração da
Franco-Maçonaria”. E o Real Arco foi um diferencial tão importante que a
Grande Loja dos Antigos passou a ser conhecida como a Grande Loja dos Quatro Graus. E tão popular que começou a ser procurada
por muitos Maçons filiados à Grande Loja dos Modernos...
E assim, aos trancos e
barrancos, conviveram as duas Grandes Lojas.
Só que a dos Antigos, mais aguerrida e menos esnobe,
estreitou suas relações com as Grandes Lojas da Irlanda (criada em 1723) e da
Escócia (criada em 1736), basicamente pela afinidade da prática ritualística e
pela antipatia à Primeira Grande Loja.
Os Modernos continuaram em seu esplêndido isolamento.
A Maçonaria
no Novo Mundo
Mas, nesse meio tempo, a
Maçonaria fincou pé do outro lado do Atlântico, levada principalmente pelas Lojas
Militares, um fenômeno criado na Grande Loja da Irlanda, mas logo adotado pelas
demais. Assim, no território americano, as Lojas Maçônicas receberam suas
Cartas Constitutivas de quatro Obediências: Grande Loja da Irlanda, Grande Loja
da Escócia, Grande Loja dos Antigos e
Grande Loja dos Modernos.
Na agitação da época da independência
americana, os Maçons da Grande Loja dos Modernos
tendiam para o lado inglês, enquanto, gradativamente, os das outras jurisdições
identificavam-se mais e mais com os colonos.
Quando foram criados os
Estados Unidos como nação independente, as Grandes Lojas Provinciais britânicas
tornaram-se Grandes Lojas Estaduais americanas, absorvendo as Lojas de todas as
origens. Com a Independência, a Maçonaria americana ganhou vida própria, onde a
visão dos Antigos naturalmente prevaleceu,
já que os Modernos perderam o
prestígio, por razões óbvias...
Foi assim que o venerável
nome York entrou com toda a força
para a Maçonaria americana – e o Real Arco manteve sua transcendental
importância. E não podemos esquecer que, apesar de numerosas referências ao Real Arco na Irlanda e na Inglaterra, o
primeiro registro que se tem da colação do Grau de Maçom do Real Arco aconteceu
na América, na Loja Fredericksburg,
Virgínia, na noite de 22 de dezembro de 1753. Em 1758, já existia um Capítulo
em Filadélfia.
Em 1797, um ritualista
americano, Thomas Smith Webb, baseou-se nas famosas Ilustrações da Maçonaria (Illustrations
of Masonry), de William Preston, e organizou o seu The Freemason’s Monitor, base da li-turgia e da organização da
Maçonaria nos Estados Unidos. Webb ainda fez mais: conseguiu que representantes
de diversos Capítulos do,Real Arco se reunissem em Boston, em 24 de outubro de
1797.
Essa Convenção é considerada
hoje como o ponto de partida para o Grande
Capítulo Geral.
Os primeiros Grandes
Capítulos estaduais americanos datam, também, de 1797. A partir de 1799, o
corpo formado pelos diversos Capítulos passou a ser reconhecido como The General Grand Chapter of Royal Arch
Masons, acrescentando Internacional
a partir de 1954. O primeiro Grande Sumo Sacerdote Geral, Ephraim Kirby, foi
eleito em 24 de janeiro de 1798.
A
turma do deixa disso
Mas voltemos à Inglaterra. A
causa dos Stuarts estava morta. Embora decrescesse a oposição ao Real Arco, os Altos Graus ainda eram tabu. As duas Grandes Lojas ainda se hostilizavam,
mesmo depois da extinção da causa Jacobita. Cessou a causa, mas não os seus
efeitos.
Enquanto isso, o Real Arco exercia tal fascínio que os
Antigos resolveram estendê-lo não apenas aos Mestres Eleitos ou Instalados, mas
a todos os Mestres, com a criação do Grau de Past Master Virtual. Ainda que abominado pela Grande Loja dos
Modernos, tornou-se cada vez mais popular, mesmo entre os Maçons a ela
jurisdicionados. Tão grande foi esse interesse que, paradoxalmente, foi na
Grande Loja dos Modernos que surgiu um Grande
Capítulo do Real Arco, como entidade separada da Primeira Grande Loja, em 1766!
A situação incômoda de duas
Grandes Lojas rivais, ambas dirigidas nominalmente por nobres, tinha que ser
acomodada. Boa palavra, acomodada. Pois foi a acomodação que norteou todos os
entendimentos para a União. Só que levou o Real Arco inglês a uma situação bem
diferente da prática americana, mais tradicional.
Com um Príncipe de sangue
real como Grão-Mestre tanto da Grande Loja dos Modernos como na dos Antigos,
finalmente foram dados os passos finais para acabar com a contenda de sessenta
anos. Uma comissão de notáveis examinou os rituais Antigos e Modernos,
reescrevendo, cortando, emendando e criando novo ritual, aceitável para ambos
lados, embora tivesse prevalecido em muito a forma de trabalhar Antigos.
Até aí, tudo bem. Mas como o
problema do Quarto Grau, os Modernos só admitiam três? Matar o Real Arco não daria, porque o protesto
seria geral.
Mais
lenha na fogueira
A saída que se arranjou pode
ter sido honrosa, mas é complicada: três
Graus que são quatro ou quatro Graus
que são três... Diz o Segundo Artigo da União das Grandes Lojas de Antigos
e Modernos, de 1813 – “está declarado e
pronunciado que a pura Maçonaria Antiga consiste de três graus e nenhum mais,
isto é, os de Aprendiz Registrado, Companheiro de Ofício e Mestre Maçom,
incluindo a Suprema Ordem do Sagrado Arco Real. Porém, este artigo não visa
impedir qualquer Loja ou Capítulo de reunir-se em qualquer dos Graus das Ordens
de Cavalaria, de acordo com as Constituições das citadas Ordens”.
Em que pese a segunda frase
do Artigo, na prática a nova Grande Loja
Unida da Inglaterra hesitava aceitar os Altos Graus. Tanto que manteve o
mais popular deles na Inglaterra sob seu controle direto, como complemento da
educação do Mestre Maçom. Nada mau. Arco
Real é verdadeiramente essa complementação. O problema é que ele foi
condensado num único Grau, lateral ao Grau de Mestre.
Naturalmente, muita coisa
interessante ficou de fora. Por isso, hoje, os Maçons jurisdicionados à Grande
Loja Unida da Inglaterra (United Grand
Lodge of England) e às obediências ligadas a ela têm um Arco Real diferente, embora haja uma tendência
natural para separar o Arco Real dos Graus Simbólicos.
Comparado ao sistema
americano, o sistema inglês não é seqüencial.
Temos um exemplo do Grau de
Marca, que já tinha feito parte do segundo Grau Simbólico. Cronologicamente, ele é anterior ao Arco Real. Só que, no sistema inglês, ele é conferido depois, só
para quem já tenha recebido o Grau de Maçom
do Arco Real. E é conferido por uma Grande
Loja de Marca, que é Capitular!
Os problemas na
intervisitação são resolvidos com bom senso. Os Companheiros ingleses que
tenham o Grau de Maçom do Arco Real
somente podem visitar um Capítulo americano se este estiver trabalhando neste
Grau. Para assistir a qualquer dos outros, terá de ser iniciado. Aquele que
tenha também o Grau de Marca inglês,
pode ser recebido também no Grau de Mestre
de Marca, o primeiro dos Graus Capitulares do Rito de York americano, ao
qual ele corresponde.
O Real Arco hoje é, assim, praticado em duas versões: americana e
inglesa.
O Real Arco americano chegou à sua forma atual em 1797, simultaneamente
com os Graus Simbólicos, antes,
portanto, da versão inglesa moderna, que é posterior à União dos Modernos e
Antigos. A primeira exibição do novo ritual simbólico inglês aconteceu em 23 de
agosto de 1815.
A primeira Loja de
Instrução, The Lodge of Stability,
funcionou a partir de 1817. E o Arco Real
inglês ganhou um ritual impresso em 1834. A hesitação da Grande Loja Unida
da Inglaterra quanto aos Altos Graus
atingiria também o Rito Escocês Antigo e
Aceito. O Supremo Conselho inglês surgiria somente em 1845, também
diferente da maioria dos Supremos Conselhos. Os graus do 4° ao 17° e do 19° ao
29° são apenas comunicados. Somente os graus 18°, 30°, 31° e 32° são
efetivamente trabalhados.
Não há dúvida que a
Inglaterra foi o berço da Maçonaria moderna. Em se tratando de Simbolismo, ela tem feito muito para
evitar as interpolações e deformações de inventores, conservando um rigor que
lhe dá um status de árbitro inquestionável.
Mas, em se tratando dos Altos Graus, os americanos já tinham
resolvido todos os impasses bem antes de 1813. E de forma muito pragmática.
Como a Maçonaria já estava estruturada nos Graus Simbólicos, não havia mais o que mexer. Assim, os Graus
Capitulares, tanto do Rito de York
quanto do Rito Escocês Antigo e Aceito,
foram organizados numa estrutura simples e seqüencial, acima dos Graus Simbólicos de Aprendiz, Companheiro e
Mestre. O lado Escocês da famosa escada maçônica vai do Grau 4 ao 33, enquanto
o lado York vai de Mestre de Marca, o primeiro dos Graus do Real Arco, até o
último do Rito, Cavaleiro Templário.
Real
Arco ou Arco Real?
Tanto faz. [...]
Só é preciso marcar bem as
diferenças:
– O Real Arco americano, nos seus quatro Graus, é Maçonaria Capitular, com estrutura, liturgia e organização
próprias. Forma um todo sequencial, cronológico e harmonioso. Não está ligado
às Lojas Simbólicas e nada tem a ver, administrativamente, com as Obediências,
a não ser relações fraternas e respeitosas.
– O Arco Real inglês é uma extensão lateral do Grau de Mestre Maçom, do
qual é o complemento. Está ligado sempre a uma Loja Simbólica, ficando,
portanto, sujeito à Obediência Simbólica que o abriga.
Como dissemos, muitos Maçons
ingleses tem expressado seu desejo de ver seu Real Arco como Maçonaria
Capitular. Se conseguirão ou não, só o tempo dirá.
Enquanto isso, apesar das
diferenças estruturais, lembramos que tanto a essência como a origem de ambas as
versões é a mesma. Muito teremos a ganhar com a visitação e o aprendizado
mútuos, que esperamos ver como realidade.
FONTE:
SGCMRAB. Real Arco – atualidades
& reminiscências. Rio de Janeiro: SGCMRAB, 2005. p. 6-13.
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