Por Kennyo
Ismail
Resumo
O presente artigo teve por objetivo
selecionar as principais Ordens de inspiração rosa cruz, analisando suas
histórias e líderes e verificando suas influências doutrinárias. O resultado
desse estudo foi a definição de seis vertentes rosacruzes distintas e o desenho
de uma árvore genealógica abrangendo as vinte e uma Ordens apresentadas.
Palavras-Chave:
Rosacrucianismo; sociedades secretas; esoterismo.
Abstract
This
article aimed to
select the main
Orders of rosicrucianism inspiration,
analyzing their stories and
checking their leaders
and doctrinal influences.
The result of
this study was the definition of six distinct Rosicrucians strands and
the design of a family tree spanning the twenty-one submitted Orders.
Keywords:
Rosicrucianism; Secret Orders; esoterism.
Introdução
O Rosacrucianismo é
tradicionalmente conhecido como tendo sido desenvolvido na Alemanha por
Christian Rosenkreuz, que teria vivido no século XV e que supostamente
promulgou as doutrinas rosacrucianas básicas (STEINER, 2000). Essas doutrinas
compõem a literatura rosacruciana original, publicada pela primeira vez na
Europa no início do século XVII. Fama Fraternitatis e Confessio Fraternitatis
são os dois principais textos do rosacrucianismo, publicados anonimamente em
1610 e 1615, respectivamente, na Alemanha (YATES, 1972).
O Fama Fraternitatis
descreve o surgimento e história de Christian Rosenkreutz, um personagem
lendário ou talvez alegórico. Buscando por conhecimento, o Frater C.R.C. 1
realiza uma viagem ao Oriente Médio, encontrando-se com sábios e místicos
(possivelmente mestres Sufis e zoroastristas), aprendendo ensinamentos
esotéricos e desenvolvendo poderes de cura. Ao retornar para a Europa suas
descobertas são rejeitadas por religiosos e acadêmicos, fundando então uma
fraternidade restrita chamada Ordem da Rosa Cruz, na qual os membros eram
chamados de rosacrucianos. O livro também descreve o trabalho desenvolvido por
seus discípulos e a descoberta do túmulo oculto de Rosenkreutz. Confessio
Fraternitatis aprofunda nos ensinamentos Rosa Cruzes e propõe um plano de
reforma mundial com a criação de uma comunidade invisível chamada “Spiritus
Sancti” com a qual a Ordem pode crescer secretamente.
Focando no desenvolvimento
pessoal, a publicação desses manifestos causou uma resposta instantânea de
grupos intelectuais na Europa, que tentavam entrar em contato com os membros de
tal ordem secreta.
Os primeiros membros
historicamente conhecidos cujos esforços foram de transformar o conhecimento
Rosacruz em um sistema de estudo eram maçons escoceses, por meio da Societas
Rosicruciana (WESTCOTT, 1966). A literatura ocultista indica que os maçons
Rosacruzes permaneceram sozinhos nessa via por pelo menos 88 anos. Depois
disso, muitas outras Ordens com base nas tradições Rosacruzes foram
desenvolvidas, muitos delas também por maçons.
Este artigo é uma visão
geral das mais importantes Ordens Rosacruzes, e, embora ele não esgote o tema,
pretende-se que sirva como um guia de pesquisa para acadêmicos que desejam
explorar a interligação das várias Ordens.
Breve
Históricos das Ordens
Societas
Rosicruciana – a Rosa Cruz Maçônica: Essa sociedade,
restrita a Mestres Maçons, surgiu inicialmente na Escócia, em 1800. Atualmente
está presente na Escócia, Inglaterra, EUA, Canadá, Irlanda, Portugal, França e
Brasil. Seus ensinamentos são baseados no Fama Fraternitatis e no Confessio
Fraternitatis.
A seguir um breve resumo das
duas mais representativas Societas em número de membros:
Societas
Rosicruciana in Anglia – SRIA: Fundada em Londres entre 1865 e
1867 por Robert Wentworth Little, um maçom, que havia sido iniciado na Societas
Rosicruciana in Scotia (CHURTON, 2009). Muitos ocultistas famosos do século XIX
eram membros: John Yarker, Paschal Bervely Randolph, Arthur Edward Waite,
William Wynn Westcott, Eliphas Levi, Theodor Reuss, Frederick Hockley e William
Carpenter, além de muitos outros (PAIJMANS, 1998). Foi por intermédio da SRIA
que a Societas Rosicruciana in Canada teve sua origem.
Societas
Rosicruciana in Civitatibus Foederatis – SRICF: Fundada na
Pensilvânia em 1880 sob os auspícios da Societas Rosicruciana in Scotia. Sua
sede atual está em Washington, DC. A Societas nos EUA mantém laços estreitos
com a Societas da Escócia, Inglaterra e Canadá, e promove o crescimento e
fortalecimento da causa rosacruciana maçônica em outros países, como no Brasil.
Hermetic
Order of the Golden Dawn: Fundada por três Mestres Maçons
da Societas Rosicruciana in Anglia: William Wynn Westcott, Samuel MacGregor
Mathers e William Robert (GUILEY, 2006). Criada em 1888, logo se espalhou para
França, Escócia, Boston, Filadélfia e Chicago. A Ordem promovia estudos sobre
Kabbalah, Alquimia, Simbolismo, Astrologia e Tarô (McINTOSH, 1997), por meio de
um sistema de graus diretamente herdado da Societas Rosicruciana in Anglia –
SRIA (SABLÈ, 1996). Não demorou muito para que a Ordem se tornasse popular
entre os acadêmicos daquela época (AKERMAN, 1998). Sua popularidade foi enorme
entre 1892 e 1896. Em 1897, a Golden Dawn começou a ruir: Westcott, um médico
legista, sucumbiu à pressão e abandonou a Ordem devido às pressões de que um
médico legista da Coroa estivesse associado a uma entidade ocultista. Nesse
contexto, Mathers percebeu que o caminho estava livre para ele assumir a
liderança da Ordem, e, a partir daí, muitos conflitos com as lideranças das
Lojas começaram a ocorrer.
A situação ficou pior com a
chegada de Aleister Crowley. Pouco tempo após sua admissão, Crowley exigiu seu
ingresso no Círculo Íntimo que comandava a Ordem. Ele tornou-se próximo de
Mathers, que deu a ele autoridade sobre as Lojas na Inglaterra (HOWE, 1985).
Isso levou a um levante dos membros ingleses que acabaram expulsando Mathers e
Crowley da Ordem em 1900. William Butler Yeats, que se tornaria um laureado com
o Nobel de Literatura alguns anos depois, tornou-se o líder da Ordem, mas
renunciou ao cargo em menos de um ano (Ibid., p. 285). Passada essa fase, a
Golden Dawn foi perdendo membros até que finalmente desapareceu em 1915.
Ordem
Rosacruciana de Alpha e Omega – ROAO: Uma Ordem criada em
1900 por Samuel Mathers depois de sua expulsão da Golden Dawn (CICERO, 2003).
Mathers promoveu uma cisão na Golden Dawn, levando consigo um grupo leal que
deu início à ROAO. Um de seus mais famosos membros foi Dion Fortune. Porém, ela
acabou sendo expulse da Ordem depois de muitas discussões e discordâncias com
Mathers. Samuel Mathers conseguiu manter a ROAO em funcionamento até sua morte,
em 1918. Sua esposa, Moina Mathers, assumiu seu posto até que ela faleceu, em
1928 (Ibid., p. 63).
Stella Matutina: Também
conhecida como “Rosa Mística”, esse grupo surgiu de um dos desmembramentos da
Golden Dawn em 1900, mas diferente da Ordem Rosacruciana de Alfa e Omega – a
qual foi leal ao Mathers, a Stella Matutina foi composta por aqueles contra
Mathers (REGARDIE, 2003). O foco da Ordem, além do conhecimento rosacruz
(herdado da Golden Dawn), era o desenvolvimento da habilidade de projeção
astral. A Ordem teve seus trabalhos encerrados em 1939.
Ordre
Kabbalistique de la Roise Croix – OKRC: A Ordem Cabalística
da rosa Cruz foi fundada em Paris, em 1888, por Stanislas de Guaita (AKERMAN,
1998). O comando da Ordem era exercido por um conselho de doze membros, seis
desses “desconhecidos” para garantir a sobrevivência da Ordem em caso da falha
dos outros (CHURTON, 2009).A OKRC atraiu atenção de muitos ocultistas da época,
como Papus (Gérard Encausse), François Barlet, Joséphin Péladan e Spencer Lewis
(McINTOSH, 1997). Os ensinamentos da Ordem envolviam conhecimento de Tarô,
Astrologia, Alquimia, Teurgia, Numerologia, e Kabbalah. Essa Ordem ainda
sobrevive, e atualmente a maioria dos ensinamentos da OKRC é relacionada à
Kabbalah 2.
Ordem
da Rosa Cruz Católica – CRC: Fundada por Joséphin Péladan em
Paris, em 1890. Péladan foi cofundador da OKRC, mas declarou ter recebido de
seu irmão mais velho Adrian uma diferente linhagem de Rosa-Cruz, seguindo
caminho diferente de Stanislas de Guaita. Além de estudos esotéricos, a Ordem
focou em estudos relacionados a Ciências, Cultura, Música, Teatro e Artes em geral
(DI PASQUALE, 2009). Ele morreu em 1918 e seus discípulos tentaram dividir a
Ordem entre eles. O único que obteve sucesso foi Emile Dantinne, com a OARC.
Ordo
Aureae & Rosae Crucis – OARC: Criada por um
discípulo belga de Péladan, Emile Dantinne, em 1923 (SABLÈ, 1996). Ele dividiu
a Ordem em três partes: Rose-Croix Universitaire, Rose-Croix Universelle e
Rose-Croix Interioure. A Ordem era composta de um sistema de vinte e dois
graus, dos quais o ultimo grau era o “Emperor.” Harvey Spencer Lewis, o fundador
da Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis, e seu filho, Ralph Maxwell Lewis,
receberam o grau de Emperor pelas mãos de Dantinne na Europa (LEWIS, 2009).
Esta é uma evidência da relação fraterna entre a OARC e a AMORC. A OARC ainda
existe na Europa através de muitos pequenos grupos que trabalham discretamente.
Ordo
Templi Orientis – OTO: Esta sociedade teve início em 1895,
aparentemente por Carl Kellner, Henry Klein, Theodor Reuss, e Franz Hartmann. A
OTO seguiu as tradições rosacrucianas durante o período que Reuss e Hartmann
participaram. Há uma carta de Reuss enviada a Harvey Spencer Lewis, datada de
1921, na qual ele explica a origem rosacruciana da OTO (STARR, 2003). Lewis se
juntou à OTO depois do convite de Reuss e saiu da Ordem quando Crowley assumiu sua
liderança, em 1924. Muitos grupos se desligaram da OTO durante a administração
de Crowley, o qual modificou o conteúdo e estrutura da Ordem, dando-lhe um
aspecto telemita.
Muitas vertentes surgiram
após a “Era Crowley”, apresentando a si mesmos como a legítima OTO. A que
alcançou maior sucesso foi uma sediada em New York e que tem trabalhado a Ordem
internacionalmente. Ela foi fundada por Grady Louis McMurtry, em 1979, quando a
Loja “Agape” foi reaberta, uma vez que funcionou na Califórnia e era diretamente
ligada à OTO original.
Um fato interessante foi a disputa legal que a OTO de McMurtry enfrentou pelos
direitos de governar a instituição e os direitos patrimoniais sobre os
materiais literários da Ordem. Seu oponente era a Ordem brasileira chamada SOTO
– Societas Ordo Templi Orientis, fundada em 1962 e administrada por Marcelo
Ramos Motta, que se declarava o legítimo sucessor de Crowley (LEWIS, 1999).
Marcelo Motta foi o primeiro divulgador telemita no Brasil e era o líder
esotérico de Paulo Coelho 3. A OTO de McMurtry ganhou na justiça e
detém o direito de continuar usando o nome OTO e publicando seu material
literário.
Pansophicum Collegium – PC: Fundada por
Heinrich Tranker, em 1921. Ele foi o líder da filial alemã da OTO durante a
liderança de Reuss e se rebelou quando Crowley assumiu (D’AOUST & PARFREY,
2007). Atualmente o PC considera-se a única mantenedora dos verdadeiros
segredos da fraternidade rosacruciana. Entre 1921 e 1931 o PC manteve parceria
com a AMORC. Durante esse período, um grupo de membros do PC, insatisfeito com
a direção da Ordem, fundou a Fraternitas Saturni – FS, com uma visão mais
voltada para Thelema. Ambas as Ordens, PC e FS, ainda existem.
Fraternitas Saturni – FS: Criada na
Alemanha por dissidentes da Pansophicum Collegium – PC, em 1928, sob a
liderança de Gregor Gregorius (FLOWERS, 2006). Esse grupo especializado em
Thelema foi inspirado pelo Rito Escocês Antigo e Aceito, criando um sistema de
trinta e três graus. Em 1936, o governo nazista proibiu a FS e Gregorius fugiu
da Alemanha para evitar a prisão. Com o fim do nazismo, Gregorius retornou para
a Alemanha e reestabeleceu a FS, promovendo muitas reformas internas.
Fraternitas Rosicruciana
Antiqua –
FRA: Fundada
pelo alemão Henrich Arnold Krumm-Heller no México, em 1927, sua sede
inicialmente funcionou na Alemanha (KONIG, 1995). Krumm-Heller era membro da
OTO e recebeu ordens de Reuss para colaborar com a expansão da OTO na América
Latina, mas, em vez disso, ele decidiu criar sua própria Ordem. FRA fez sucesso
em países da América Latina e chegou a outros países como Espanha e Austrália,
mas com resultados menores. Krumm-Heller não formou novas lideranças nem nomeou
um sucessor, então, depois de sua morte, a FRA passou a operar com lideranças
locais, sem uma unidade internacional. Em muitos países a FRA se aliou à FRC
para sobreviverem. Isso enfraqueceu a instituição, causando o desaparecimento
em muitos países, estando a Ordem ativa atualmente apenas no Brasil e em outros
poucos lugares.
Fraternitas Rosae Crucis – FRC: Fundada na
Pensilvânia, em 1920, por Reuben Clymer que afirmava dar continuidade na missão
de Paschal Beverly Randolph (RANDOLPH & CLYMER, 1939).
Na verdade, Clymer
comprou alguns arquivos
e anotações de Randolph através de sua viúva. A FRC dedicava
muito tempo e esforços na tentativa de derrubar a AMORC e seu fundador, HS
Lewis (CLYMER, 1935; SABLÈ, 1996). A família de Randolph desmentiu as
afirmações de que Clymer detinha todo conhecimento de Randolph, o que gerou
grande impacto na Ordem. Em qualquer caso, Clymer manteve-se como importante
fonte para muitos outros ocultistas da época, tais como Krumm-Heller, fundador
da FRA. Em muitos países, a FRC e FRA se fundiram.
Rosicrucian Fellowship: Também
conhecida como Associação dos Cristãos Místicos, ou, simplesmente, a
Fraternidade Rosa Cruz, esse grupo foi estabelecido nos EUA por Max Heindel, em
1909 (HEINDEL, 2012). Essa é uma das poucas instituições que, em vez de se
autoproclamar a descendente direta e legítima da primeira Ordem Rosacruciana, declara-se
inspirada e não a continuação da Fraternidade rosacruciana original. Ao invés
de Lojas, seus membros chamam o local de reuniões pelo termo Igrejas. De fato,
esse é um termo mais adequado, visto a Ordem funcionar mais parecido com uma
religião do que com uma Ordem (SABLÈ, 1996; LEWIS, 2004). Sua sede fica na
Califórnia.
Lectorium
Rosicrucianum: Também conhecida como Escola Internacional
da Rosa Cruz Áurea. Foi fundada na Holanda, em 1924, por Wim Leene, Jan Leene e
Henriette Stok-Huizer como o segmento holandês
da Rosicrucian Fellowship,
até tornar-se uma instituição separada,
trabalhando independente, em
1936 (SABLÈ, 1996).
O nome “Lectorium Rosicrucianum” foi
adotado em 1945.
Com a morte
de Wim Leene
em 1938, a Ordem
passou a ser
governada simultaneamente pelos
dois fundadores remanescentes,
ambos compartilhando o título de Grão-Mestre. Depois da morte de Jan Leene
em 1968, a
Ordem passou a
ser governada por um colegiado
de treze membros. A Ordem tem
aproximadamente 15.000 membros e está presente em trinta e seis países,
incluindo muitos países na Europa, América do Sul, América do Norte, África,
Austrália e Nova Zelândia (INTROVIGNE, 1997).
Ancient
Mystical Order Rosae Crucis – AMORC: Uma das mais
conhecidas Ordens rosicrucianas, a AMORC foi fundada por Harvey Spencer Lewis,
em 1915, nos EUA (GUILEY, 2006). Ele declarou que havia sido iniciado em
Toulouse, em 1909, e declarou que a AMORC era a única legítima Ordem Rosa Cruz,
baseado em estudos desenvolvidos pelo historiador maçônico, Dr. Julius
Friedrich Sachse, que afirma que houve uma expedição rosacruciana em 1694 que
estabeleceu uma colônia na Pensilvânia. Como uma estratégia de crescimento e de
ganhar mais legitimidade, Lewis incorporou à AMORC muitas pequenas, porém
antigas, Ordens rosacrucianas de toda a Europa. Isso foi possível por meio da
oferta de apoio material e financeiro que a AMORC proveria àqueles dispostos a
serem incorporados. Apesar disso, o grande desenvolvimento da AMORC aconteceu
quando o filho de HS Lewis, Ralph Maxwell Lewis, assumiu o posto do pai. Ralph
criou os sistemas de instrução por correspondência e de iniciações em casa,
além de reduzir o conteúdo teúrgico em seus materiais, focando no
místico-esotérico. Os rituais de iniciação aparentam ter sido muito
influenciados pela Maçonaria, especialmente pelo Rito Memphis-Misraim. Através
do trabalho de RM Lewis, a AMORC se expandiu para muitos países, incluindo a
criação da Grande Loja AMORC de Língua Portuguesa, com sede no Brasil.
O grande erro de Ralph
Maxwell Lewis foi não ter preparado um sucessor, assim como não ter
estabelecido com Conselho Administrativo capaz de dar continuidade ao trabalho.
Depois de sua morte, Gary Stewart assumiu seu posto em 1987 como Imperator, mas
permaneceu apenas três anos como o líder da AMORC, diante de um escândalo
financeiro envolvendo a Ordem. Após três anos de batalha judicial, foram
retiradas as acusações de desvio de fundos existentes sobre Stewart e ele fez
um acordo com a AMORC, renunciando ao cargo. Stewart foi sucedido por Christian
Bernard, em 1990 (GREER, 2009).
A AMORC possui uma Ordem
anexa: a Tradicional Ordem Martinista – TOM. O Imperator da AMORC é também o
chefe maior da TOM, e para se tornar membro da TOM é necessário ser um membro
regular da AMORC.
Antiquos Arcanus Ordo Rosae
Rubae et Aureae Crucis –
AAORRAC: Fundada na Áustria por Edward Munninger, essa foi
uma cisão da jurisdição alemã da AMORC, que aconteceu em 1952. Eles têm adotado
o nome original da AMORC como uma estratégia de incutir à Ordem um senso de
antiguidade que, de fato, não possui. Os ensinamentos da AAORRAC são baseados
nos estudos da AMORC, e eles têm sido acusados de apropriação indébita de
materiais da AMORC e da OTO. Sua sede atual está localizada na Áustria
(LAMPRECHT, 2004).
Antient Rosae Crucis – ARC: Esse grupo foi
fundado em 1990 por dissidentes da AMORC nos EUA, quando dos escândalos da
administração de Gary Stewart. Esse grupo em particular permaneceu leal a
Stewart e contra a AMORC, e pediu a Stewart que aceitasse ser o seu Imperator.
Seus materiais são baseados no da AMORC utilizados nos anos de 1950 4.
Confraternity
of the Rose Cross – CR+C: Fundada pelo ex-Imperator da
AMORC, Gary Stewart, como uma alternativa após o incidente judicial. Opera
similarmente à AMORC, utilizando o material da época do HS Lewis antes das
várias mudanças implementadas por seu filho. CR+C trabalha em comunhão com a
OMCE – Ordo Militia Crucifera Evangelica, uma Ordem de inspiração templária. O
conteúdo dos materiais da CR+C é considerado por muitos como o mais fiel aos
conceitos da moderna Rosa Cruz 5.
Ordem
do Templo da Rosa Cruz – OTRC: Fundada em Londres,
em 1912, por duas mulheres e um homem: Annie Besant, Marie Russak e James
Ingall Wedgwood. A Ordem foi inicialmente composta por teosofistas e membros da
Comaçonaria Le Droit Humain, e se consideravam os legítimos representantes dos
Templários e dos rosacrucianos. O grupo desapareceu em 1918 (HEIDLE &
SNOEK, 2008).
Corona
Fellowship of Rosicrucians – CFR: Criada por um dos
remanescente da OTRC quando ela foi fechada. Os membros criaram o “Novo Teatro
Rosacruciano”, em Hampshire, uma espécie de fórum que servia de palco para
debates ocultista em onde muitos famosos ocultistas surgiram, como Gerald
Gardner. Aparentemente essa Ordem não sobreviveu à Segunda Guerra Mundial
(McINTOSH, 1997).
Les
Freres Aines de la Rose-Croix – FARC: Essa instituição
declara que foi fundada em 1316, poucos anos depois do fim da Ordem templária.
De acordo com seus membros, alguns cavaleiros templários foram para a Escócia
onde reabriram sua Ordem como a FARC. Entretanto, a FARC foi oficialmente
criada em 1971 por Roger Caro, alquimista francês, autor da lenda sobre a
origem templária da Ordem (CARO, 1970). Ele serviu a Ordem como seu Grão-Mestre
até sua morte, em 1992. A instituição tem por foco os estudos dele de alquimia.
Depois da morte de Roger, a FARC foi dissolvida de acordo com seus últimos
desejos.
Conclusões
O presente estudo
permite-nos identificar seis vertentes rosacrucianas distintas. Com a intenção
de obter melhor compreensão, essas vertentes serão nomeadas considerando as
características doutrinárias que as distinguem: Hermética, Cabalística,
Thelêmica, Gnóstica, Mística e Teosófica. Uma breve descrição da doutrina que
nomeia cada vertente é feita a seguir 6:
Hermetismo: o
estudo e prática da filosofia oculta cujo autor é Hermes Trimegisto;
Cabala:
esoterismo judaico cujo objetivo é prover conexões entre espírito e matéria;
Thelema:
filosofia baseada em amor e vontade, tendo por base seu próprio “Livro da Lei”;
Gnose:
diz respeito à busca do conhecimento espiritual e divino por meio de
sentimentos e experiências pessoais intuitivas;
Misticismo:
estudos e práticas que permitem a comunicação direta entre o homem e o Divino,
sem intermediários ou restrições de qualquer sistema teológico fechado;
Teosofia: um
sistema que compreende a interpretação harmonizada de princípios filosóficos,
religiosos e científicos.
A divisão das Ordens
apresentadas no desenvolvimento deste estudo nas vertentes apresentadas, bem
como a relação histórica entre o surgimento das mesmas, pode ser visto no
seguinte gráfico:
Este estudo proporcionou um
interessante achado, a relação de proximidade e de colaboração entre os
principais líderes responsáveis pela divulgação da tradição Rosacruciana
durante o final do século XIX e início do século XX: Clymer, Crowley, Eliphas
Lévi, Guaita, Krumm-Heller, Mathers, Papus, Péladan, Reuss e Spencer Lewis.
Apesar de alguns conflitos que ocorreram entre umas dessas personalidades, como
Clymer e Lewis, a história mostra que era comum que líderes de algumas Ordens
eram membros de outras, assinavam manifestos em conjunto, trocavam cartas e
títulos.
Algumas Ordens se fundiram e
outras trabalharam juntas. Tudo isso indica que, apesar dos interesses pessoais
e institucionais, a difusão do conhecimento rosacruciano básico foi geralmente
tratada como prioridade.
Outra evidência dessa
intenção sinérgica foi a iniciativa de Papus, a qual contou com a associação de
muitos dos líderes citados anteriormente, que foi a criação da FUDOSI –
Federatio Universalis Dirigen Ordines Societatesque Initiationis (LEWIS, 2004),
uma associação global de sociedades esotéricas, muitas das quais rosacrucianas.
O primeiro passo para esse objetivo ocorreu em 1908. Porém, muitos dos líderes
dessas organizações não partilhavam um sentimento de mútuo respeito, o que
levou a FUDOSI a encerrar suas atividades em 1951.
É também interessante
observar que muitos dos mais populares e respeitados nomes do ocultismo, como
Eliphas Lévi, Papus, Stanislas de Guaita e, o mais polêmico de todos, Aleister
Crowley, eram adeptos da tradição rosacruciana e estavam engajados em sua
causa. Isso é definitivamente uma forte evidência da importância e
credibilidade que a tradição rosacruciana possui no meio ocultista.
NOTAS
1 - Frater é o termo
referente a Irmão em Latim. CRC é a abreviação de Christian Rosenkreutz, cuja
primeira aparição foi em “Casamento Alquímico de Christian Rosenkreutz”,
publicado em Strasbourg, em 1616.
2 - Vide: http://www.okrc.org/
3 - Paulo Coelho é um
imortal da Academia Brasileira de Letras e um dos escritores mais lidos
atualmente no mundo. Alguns de seus livros mais famosos têm temática esotérica,
como “Diário de um Mago”, “O Alquimista” e “Brida”.
4 - Alvin Sen
Evanger. “Manifestations of the Neo-Rosicrucian Current”.
The Alchemy Web
Site, http://www.levity.com/alchemy/alvin.html.
5 - Confraternity of
the Rose Cross – CR+C, Website Oficial: http://www.crcsite.org/crc.htm.
6 - Sobre essas
doutrinas, leia: Nevill Drury, The Dictionary of the Esoteric (Londres: Watkins
Publishing, 2002).
FONTE:
ISMAIL, Kennyo. A Tradição
Rosacruciana e Suas Ordens:
Um
Levantamento Histórico. Disponível em: < http://www.altosgraus.com/sites/default/files/A%20TRADIC%CC%A7A%CC%83O%20ROSA-CRUZ%20E%20SUAS%20ORDENS.pdf>.
Aceso em: 07 jul. 2015.
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