domingo, 28 de fevereiro de 2016

A IMPROVÁVEL CONEXÃO TEMPLÁRIO-MAÇÔNICA – PARTE 2






Por João Florindo Batista Segundo


No texto anterior, foi explicado que são quatro as principais teorias que atribuem aos Templários uma conexão com os Maçons especulativos, a saber:

1. A de que Jacques de Molay, na prisão, passou o comando da ordem para John Mark Larmenius.
2. A do apoio templário ao rei Robert Bruce na batalha de Bannockburn.
3. A de que um grupo sob o comando de Pierre d’Aumont fugiu para a Escócia e fundou a Maçonaria.
4. A de que os templários ingressaram na Ordem de Cristo, em Portugal.

Destas, as duas primeiras já foram analisadas e refutadas, pelo que, a seguir, passaremos às restantes:


Teoria 3 – Um grupo sob o comando de Pierre d’Aumont fugiu para a Escócia e fundou a Maçonaria

De acordo com este relato lendário, disfarçados de maçons operativos, d’Aumont, preceptor de Auvergne, dois comendadores e cinco cavaleiros fugiram da França para a Escócia, onde criaram uma nova Ordem, a fim de manter suas tradições, a qual adotou o nome de Franco-Maçons (Franco de francês e Maçom, em homenagem ao seu disfarce de operativos).

Deixando de lado o desconhecimento etimológico, de início deve-se observar que realmente o preceptor de Auvergne fugiu da prisão, em 13 de outubro de 1307, mas seu nome era Imbert Blanke. Este refugiou-se na Inglaterra, foi preso e mais tarde, durante os julgamentos, defendeu seus irmãos templários ingleses (DAFOE, 2009b).

O número de fugitivos da lenda também é suspeito, pois recorda sugestivamente os três dirigentes, os cinco componentes e os sete que tornam perfeita uma Loja maçônica.

Esta lenda é a essência do Sistema da Estrita Observância, que ensina ainda que os fugitivos intitularam-se Mabeignac, pretensa origem da palavra Mac-Benac (RAGON, 2006, p. 174-175).

Segundo Churton (2009, p. 367), Karl von Hund e seu sistema vieram demonstrar que a Grande Loja de Londres e as oficinas sob sua influência na Alemanha e na França não detinham os verdadeiros segredos maçônicos, preservados pelos aristocratas e monarcas escoceses, sendo ele – em razão de sua iniciação por um anônimo Maçom britânico – o legítimo transmissor da “Maçonaria cavalheiresca”. Desta maneira “A crença em um vínculo com os antigos Templários criou o fato dos novos Templários” (id., p. 367), pois, “Como observou o historiador maçônico francês Pierre Mollier, o Neotemplarismo atrai os homens que se sentem como estranhos em um mundo que se tornou profano demais” (ibd., p. 368).

Ainda neste sentido, entre 1768 e 1789, foi elaborado o ritual Le Chevalier du Temple, que era trabalhado nas lojas simbólicas e onde se alegava que cavaleiros sobreviventes teriam criado a Maçonaria para preservar as regras de sua extinta Ordem (DAFOE, 2009b).

De acordo com Mackey (apud DAFOE, 2009b, p. 151): “O cavaleiro Ramsay foi o verdadeiro autor da doutrina da origem templária da Maçonaria, e a ele estamos em débito (se o débito tiver algum valor) pela lenda de D’Aumont”; e afirmou ainda que “Dessa besteira nasceu a lenda de Pedro d’Aumont e sua restauração dos Cavaleiros Templários da Escócia” (apud DAFOE, 2009a, p. 308).


Teoria 4 – Os Templários ingressaram na Ordem de Cristo

Esta é menos conhecida, mas aceita em países escandinavos. A Ordem de Cristo foi criada por Dom Dinis, de Portugal, após a supressão do Templo, e sancionada pelo Papa João XXII, em 15 de março de 1319, através da Bula Ad ea ex quibus. Sob controle real, a Ordem perdurou até 1834, quando foi dissolvida, bem como as demais ordens religiosas portuguesas, passando a ser uma Ordem de mérito. Em 1910, ela foi extinta, sendo reformulada em 1918, pela I República, como ordem de mérito, sendo hoje concedida a personalidades associadas ao exercício de funções de soberania e, em especial, à magistratura, à diplomacia e à administração pública.

Afirmam ainda os escandinavos que o sobrinho de De Molay conduziu as cinzas deste a Estocolmo, onde as sepultou e estabeleceu a ordem templária maçônica sueca (DAFOE, 2009a).

Embora seja verdade que Templários originais ingressaram nos quadros da nova Ordem, não há qualquer prova de que detinham segredos maçônicos e muito menos de que os transmitiram aos novos confrades.

De acordo com William Mosley Brown, os fundadores da Ordre du Temple (hoje OSMTH), acreditavam que a Ordem de Cristo detinha segredos templários e em 1804 até pediram reconhecimento dos portugueses, o que foi ignorado (DAFOE, 2009b).

Corroborando as duas teorias acima, também há o relato de que, ao tomar conhecimento das prisões dos irmãos, a esquadra templária – composta de 18 galés –, carregada de tesouros, zarpou de La Rochelle e uma parte rumou para Portugal, onde foi absorvida pela Ordem de Cristo, e a outra para a Escócia; disto tudo não há qualquer prova. George Frederick Johnson é um dos defensores desta lenda, que, segundo Partner, (apud REED, 2001, p. 232), transformou

“[...] os templários (...) de seu aparente status de monges-soldados iletrados e fanáticos para o de videntes cavalheirescamente esclarecidos e sábios, que tinham usado sua estada no Oriente para recuperar seus segredos profundos e para se emancipar da credulidade católica medieval”.

Reed (2001, p. 321) defende que “Os principais agentes desse ‘templarismo’ – a metamorfose dos templários de história em mito – foram os maçons, confrarias secretas comprometidas com o apoio mútuo, cujo deísmo impreciso tornou-as inimigas da Igreja Católica Romana”.

Isto posto, se a Maçonaria vem dos templários que ingressaram na Ordem de Cristo, por que os rituais cavalheirescos dos altos graus são originários de outros países europeus, mas não de Portugal?

Na verdade, Defoe (2009b) afirma que antes do discurso de Ramsay (citado na parte 1) não havia qualquer teoria de perpetuação templária; estas emergiram em seguida. A partir daí, cada nova Ordem (maçônica ou não) alegava a sobrevivência destes cavaleiros e que era a legítima transmissora do saber deles. Não eram as teorias que antecediam as novas ordens, mas, sim, o contrário, pois estas necessitavam de uma pretensa origem tradicional para se estabelecerem.


REFERÊNCIAS:


CHURTON, Tobias. A história da Rosa-Cruz: os invisíveis. São Paulo: Madras, 2009.

DAFOE, Stephen. Nascidos em berço nobre: uma história ilustrada dos cavaleiros templários. Lívia Oushiro (Trad.). São Paulo: Madras, 2009a.

DAFOE, Stephen. O compasso e a cruz: uma história dos cavaleiros templários maçônicos. Alexandre Trigo Veiga (Trad.). São Paulo: Madras, 2009b.

RAGON, Jean Marie. Ortodoxia maçônica; seguido de, A maçonaria oculta, e de, A iniciação hermética. Ziéde Coelho Moreira (Trad.). São Paulo: Madras, 2006.

REED, Piers Paul. Os templários. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001.


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