Por João Florindo Batista Segundo
No texto anterior, foi explicado que são quatro
as principais teorias que atribuem aos Templários uma conexão com os Maçons
especulativos, a saber:
1.
A de que Jacques de Molay, na prisão, passou o comando da ordem para John Mark
Larmenius.
2.
A do apoio templário ao rei Robert Bruce na batalha de Bannockburn.
3.
A de que um grupo sob o comando de Pierre d’Aumont fugiu para a Escócia e
fundou a Maçonaria.
4.
A de que os templários ingressaram na Ordem de Cristo, em Portugal.
Destas, as duas primeiras já foram analisadas
e refutadas, pelo que, a seguir, passaremos às restantes:
Teoria 3 – Um grupo
sob o comando de Pierre d’Aumont fugiu para a Escócia e fundou a Maçonaria
De acordo com este relato lendário,
disfarçados de maçons operativos, d’Aumont, preceptor de Auvergne, dois
comendadores e cinco cavaleiros fugiram da França para a Escócia, onde criaram
uma nova Ordem, a fim de manter suas tradições, a qual adotou o nome de
Franco-Maçons (Franco de francês e Maçom, em homenagem ao seu disfarce de
operativos).
Deixando de lado o desconhecimento
etimológico, de início deve-se observar que realmente o preceptor de Auvergne
fugiu da prisão, em 13 de outubro de 1307, mas seu nome era Imbert Blanke. Este
refugiou-se na Inglaterra, foi preso e mais tarde, durante os julgamentos,
defendeu seus irmãos templários ingleses (DAFOE, 2009b).
O número de fugitivos da lenda também é suspeito,
pois recorda sugestivamente os três dirigentes, os cinco componentes e os sete
que tornam perfeita uma Loja maçônica.
Esta lenda é a essência do Sistema da Estrita
Observância, que ensina ainda que os fugitivos intitularam-se Mabeignac, pretensa origem da palavra Mac-Benac (RAGON, 2006, p. 174-175).
Segundo Churton (2009, p. 367), Karl von Hund
e seu sistema vieram demonstrar que a Grande Loja de Londres e as oficinas sob
sua influência na Alemanha e na França não detinham os verdadeiros segredos maçônicos,
preservados pelos aristocratas e monarcas escoceses, sendo ele – em razão de
sua iniciação por um anônimo Maçom britânico – o legítimo transmissor da
“Maçonaria cavalheiresca”. Desta maneira “A crença em um vínculo com os antigos
Templários criou o fato dos novos Templários” (id., p. 367), pois, “Como
observou o historiador maçônico francês Pierre Mollier, o Neotemplarismo atrai
os homens que se sentem como estranhos em um mundo que se tornou profano
demais” (ibd., p. 368).
Ainda neste sentido, entre 1768 e 1789, foi
elaborado o ritual Le Chevalier du Temple,
que era trabalhado nas lojas simbólicas e onde se alegava que cavaleiros
sobreviventes teriam criado a Maçonaria para preservar as regras de sua extinta
Ordem (DAFOE, 2009b).
De acordo com Mackey (apud DAFOE, 2009b, p.
151): “O cavaleiro Ramsay foi o verdadeiro autor da doutrina da origem
templária da Maçonaria, e a ele estamos em débito (se o débito tiver algum
valor) pela lenda de D’Aumont”; e afirmou ainda que “Dessa besteira nasceu a
lenda de Pedro d’Aumont e sua restauração dos Cavaleiros Templários da Escócia”
(apud DAFOE, 2009a, p. 308).
Teoria 4 – Os Templários
ingressaram na Ordem de Cristo
Esta é menos
conhecida, mas aceita em países escandinavos. A Ordem de Cristo foi criada por Dom
Dinis, de Portugal, após a supressão do Templo, e sancionada pelo Papa João
XXII, em 15 de março de 1319, através da Bula Ad ea ex quibus. Sob controle real, a Ordem perdurou até 1834,
quando foi dissolvida, bem como as demais ordens religiosas portuguesas,
passando a ser uma Ordem de mérito. Em 1910, ela foi extinta, sendo reformulada
em 1918, pela I República, como ordem de mérito, sendo hoje concedida a personalidades
associadas ao exercício de funções de soberania e, em especial, à magistratura,
à diplomacia e à administração pública.
Afirmam ainda os
escandinavos que o sobrinho de De Molay conduziu as cinzas deste a Estocolmo,
onde as sepultou e estabeleceu a ordem templária maçônica sueca (DAFOE, 2009a).
Embora seja verdade
que Templários originais ingressaram nos quadros da nova Ordem, não há qualquer
prova de que detinham segredos maçônicos e muito menos de que os transmitiram
aos novos confrades.
De acordo com William
Mosley Brown, os fundadores da Ordre du
Temple (hoje OSMTH), acreditavam que a Ordem de Cristo detinha segredos
templários e em 1804 até pediram reconhecimento dos portugueses, o que foi
ignorado (DAFOE, 2009b).
Corroborando as duas
teorias acima, também há o relato de que, ao tomar conhecimento das prisões dos
irmãos, a esquadra templária – composta de 18 galés –, carregada de tesouros,
zarpou de La Rochelle e uma parte rumou para Portugal, onde foi absorvida pela
Ordem de Cristo, e a outra para a Escócia; disto tudo não há qualquer prova.
George Frederick Johnson é um dos defensores desta lenda, que, segundo Partner,
(apud REED, 2001, p. 232), transformou
“[...] os templários (...) de seu aparente
status de monges-soldados iletrados e fanáticos para o de videntes
cavalheirescamente esclarecidos e sábios, que tinham usado sua estada no
Oriente para recuperar seus segredos profundos e para se emancipar da
credulidade católica medieval”.
Reed (2001, p. 321)
defende que “Os principais agentes desse ‘templarismo’ – a metamorfose dos
templários de história em mito – foram os maçons, confrarias secretas
comprometidas com o apoio mútuo, cujo deísmo impreciso tornou-as inimigas da
Igreja Católica Romana”.
Isto posto, se a Maçonaria vem dos templários que ingressaram na Ordem de
Cristo, por que os rituais cavalheirescos dos altos graus são originários de
outros países europeus, mas não de Portugal?
Na verdade, Defoe (2009b)
afirma que antes do discurso de Ramsay (citado na parte 1) não havia qualquer
teoria de perpetuação templária; estas emergiram em seguida. A partir daí, cada
nova Ordem (maçônica ou não) alegava a sobrevivência destes cavaleiros e que
era a legítima transmissora do saber deles. Não eram as teorias que antecediam
as novas ordens, mas, sim, o contrário, pois estas necessitavam de uma pretensa
origem tradicional para se estabelecerem.
REFERÊNCIAS:
CHURTON,
Tobias. A história da Rosa-Cruz: os
invisíveis. São Paulo: Madras, 2009.
DAFOE, Stephen. Nascidos em berço nobre: uma história
ilustrada dos cavaleiros templários. Lívia Oushiro (Trad.). São Paulo: Madras,
2009a.
DAFOE, Stephen. O compasso e a cruz: uma história dos
cavaleiros templários maçônicos. Alexandre Trigo Veiga (Trad.). São Paulo:
Madras, 2009b.
RAGON, Jean Marie. Ortodoxia maçônica; seguido de, A
maçonaria oculta, e de, A iniciação hermética. Ziéde Coelho Moreira (Trad.). São
Paulo: Madras, 2006.
REED, Piers Paul. Os templários. Rio de Janeiro: Imago
Ed., 2001.
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