sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

CABALÁ – A CRIAÇÃO E OS NÍVEIS DA TORÁ






Por Nery Fernandes, FRC

Gostaríamos de expor aos Fratres e Sorores mais alguns elementos da tradição mosaica. A Bíblia Sagrada no âmbito do Judaísmo é constituída dos livros que vão de Gênesis a Malaquias, nas traduções em geral, e de Gênesis a Crônicas II dentro da compilação tradicional judaica ou cânon judaico. E todo esse conjunto nasce a partir da entrega pelo Eterno, bendito seja Ele, dos 10 Mandamentos a Moisés, nosso mestre, que são paralelos às 10 Asserções com as quais os mundos foram criados, e dados durante o êxodo do povo hebreu do reino do Egito ou Mitsráim (nome hebreu cuja raiz tem o sentido de restrição e opressão) em direção a Canaã, a terra prometida aos patriarcas de Israel.





Em relação às Asserções, ou às palavras Divinas que deram como resultado a Criação, devemos dizer que as palavras ditas pela fala do Eterno, bendito seja Ele, são a revelação da luz e da força vital Divinas, que usando das forças da luz infinita criou os mundos.

 

A luz infinita sofreu uma série incontável de contrações e diminuições nos níveis da Sua intensidade, os tsimtsumim, que num encadeamento contínuo, ou ordem de desci­da da luz, chamada de “seder hishtalshelut”, permitem aos mundos e aos seres existirem e aos seres criados terem a ilusão de que são se­parados e independentes do Eterno, bendito seja Ele, pois se assim não fosse, os seres não resistiriam ao poder Divino e voltariam ao estado anterior de não-existência.

 

As imensuráveis transformações cósmicas das energias criativas são interações incríveis das emanações Divinas, as 10 sefirot, que combinadas com as forças arquetípicas repre­sentadas pelas 22 letras hebraicas constituem todo o universo multidimensional e toda existência possível através do que se conhe­ce como os 32 caminhos de Sabedoria. De fato, somente em relação aos próprios seres criados houve mudanças, enquanto que Nele não houve mudança alguma de Sua unici­dade; Ele é o mesmo antes, durante e depois da Criação. Embora usemos o termo palavra ou fala de Deus, ou mesmo verbo Divino, é somente por simbolismo e analogia à fala humana que algo revela um pensamento do intelecto ou desejo do coração; e ao serem falados, revelam a sua vontade e se separam do indivíduo. Porém, em relação à Criação, a revelação da infinita luz Divina e Sua infinita força vital são manifestações da Sua vonta­de e não se separam Dele; Sua unicidade é eterna e imutável.

 

A luz infinita, Or Eín Sof, como um fluxo primordial próprio do Eterno, bendito seja Ele, e Ele e Sua luz são um, é toda doadora e benfazeja, e gerou, por assim dizer, num · primeiro momento a alma do homem, criada à imagem e semelhança do Eterno, bendito seja Ele, com a característica de ser um receptor infinito da bondade Divina. Foi a primeira criação.

 

Esta característica receptora da alma não é meramente uma noção egoísta, e sim uma qualidade que faz o homem desejar se elevar, se harmonizar com as leis naturais e manifestar a Luz Maior. Seu desejo de receber para si deve ser transformado em desejo de receber para compartilhar, pelo processo que dissemos ser o trabalho de retificação ou tikun. A alma do homem no seu nível cósmi­co vivia em absoluta plenitude quando então, num dado momento, desejou compartilhar as benesses que a luz infinita lhe oferecia. E para isso gerou, por assim dizer, num segun­do momento, pelo seu elevadíssimo nível de consciência e pela natureza doadora da luz, o plano onde deve realizar este trabalho, através de incontáveis “tsimtsumim” da luz infinita. E surgiu o universo, o plano material da Criação ou os mundos onde todos os seres humanos e angelicais existem. Foi a segunda criação. Ao desejar compartilhar, a alma pro­vocou na luz infinita uma primeira restrição ou “tsimtsum”, a que se seguiram incontáveis outras e assim surgiram as dimensões físicas e espirituais do universo conhecido, com as suas dimensões e níveis diferenciados de consciência e existência.

 

Este é o plano onde o trabalho é inevitá­vel e necessário como uma benção que a luz infinita concedeu ao homem e à mulher para que realizem o tikun e assim tragam as irradiações da luz infinita a todos os quadrantes do universo e, realmente, transformem este plano onde vivemos numa verdadeira morada para o Eterno, bendito seja Ele.

 

Essa cosmogonia é extraída da revelação de Sua vontade segun­do os textos da Torá, o Pentateuco bíblico e os ensinamentos dos mestres da Cabalá. A revelação da Torá é ex­pressa de forma magna nas leis contidas nos Dez Mandamentos, e deu-se no 50° dia após a saída do Egito, complementando-se no período de 40 anos que durou todo o êxodo, como final da primeira diáspora do povo hebreu. Moisés, nosso mestre, compilou todo o conteúdo da Torá, o conjunto dos cinco primeiros livros da Bíblia que constituem a essência do ensina­mento moral e espiritual do povo judeu. Os 10 Mandamentos constituem a essência da mensagem Divina à humanidade e o núcleo da Torá, sendo um patrimônio da humanida­de, e não um patrimônio exclusivo do povo de Israel. Após os 50 dias da saída do Egito e depois de todo o povo hebreu ter presenciado sinais e milagres prodigiosos, o povo passou por uma transformação interior profunda e se uniu como um povo uno, tornando-se digno da revelação do Alto. Desta resultou um majestoso despertar de Baixo de todos os milhões de hebreus envolvidos naqueles Dias Gloriosos. É dito que o despertar do Alto resulta da manifestação do Ein Sof, bendito seja, ou o do infinito sobre os seres criados e que ele, o Ein Sof, representa a Suprema Vontade do Eterno, bendito seja Ele, e Ele e Sua vontade são um. É esta ação Divina e também a manifestação de Sua providência e do Seu poder criador que eternamente perpetua a obra da Criação. 

 

Do mesmo modo, o homem pode manifestar a ação da sua própria vontade sobre as forças superiores numa ação de Teurgia, de acordo com o tempo e o lugar, para produzir, por assim dizer, um despertar do Alto que causa uma atração dessas forças para si ou para situações neste mundo e, assim agin­do, a luz que ele manifesta se reflete acima e volta ao mundo, alcançando muitos outros homens que estão numa mes­ma frequência ou nível de consciência. Esta capacidade ou faculdade teúrgica de atrair as forças cósmicas para alterar situações e criar efeitos no mundo é o “dom da recep­tividade” concedido ao homem desde sua criação, que deve ser resguardado e ativado de acordo com o bom discernimento e a justa sabedoria. Essas práticas exigem uma conduta motivada por aspirações puras e a Cabalá nos ensina numa obra antiga, Shir haMaalot, do rabi Yochanan Alemanno: “Após uma limpeza externa do corpo e uma mudança interior e purificação espiritual de toda mácula, a pessoa torna-se tão clara e pura como os céus. Uma vez que se despiu de todos os pensamentos materiais, deverá ler apenas a Torá e os nomes Divinos nela escritos. E então lhe serão revelados segredos impressionantes e visões divinas tais como as que podem ser emanadas sobre as almas puras, preparadas para recebê-los, como é dito: preparai-vos por três dias e lavai vossas vestes. Há três preparativos: do exterior (do corpo), do interior e da imaginação”. Como resultado dessas ações, o homem alcança conhecimentos, profecias e elevação espiri­tual, a sua e a de todos, o que alcança com as suas ações. Em outro trecho ele afirma: “Um profeta com o poder de fazer com que a emanação do influxo Divino do Ein Sof desça sobre a hyle (matéria), pela intermediação da sefirá de Malchut, realiza feitos maravilhosos, impossíveis na natureza”. Por isto é ensinado que “o homem tem o dever de transformar-se numa espécie de recipiente para a emanação da sefirá de Malchut”, pois toda a sabedoria que advém do conhecimento das leis da tradição oral e o poder de agir sobre a natureza e a compreensão e a harmonização com alei cósmica vem da sefirá Malchut, camada em alguns lugares de o plano espiritual sublunar. As ações que visam atrair o influxo das forças cósmicas para este mundo pelo homem ou pela mulher são decorrentes de um íntimo e profundo despertar de Baixo, da consciência humana no mundo. Tudo isso é muito delicado e impõe elevada consciência dos riscos e conseqüências de agir segundo esses conhecimentos e capacidade. Daí a enorme responsabilidade dessa forma de atuação da vontade humana sobre a natureza e a vida neste mundo e nos mundos acima, onde cada pensamento, palavra e ação de cada indivíduo geral efeitos sobre o todo da humanidade e suas atitudes, o que confirma a afirmação de nossa amada Ordem que “cada indivíduo pode ser responsável pela guerra ou pela paz no mundo de acordo com as ações geradas pelo uso de seu livre-arbítrio.”

 

Essa relação de forças do Alto e do Baixo e vice-versa é uma relação de correspondência ou uma correlação da manifestação da vontade ou de ativação de forças do Cósmico. Esta relação entre o despertar do Alto que gera um correspondente despertar de Baixo e/ou vice-versa, é representada pelo hexagrama ou escudo de David. O que houve no Sinai foi um despertar da consciência em que todos os hebreus no deserto revelaram dons proféticos e onde todos se responsabilizaram por cumprir e estudar as leis e princípios revelados e por apoiar e preservar cada indivíduo e família de todo o acampamento, num gesto coletivo de real e verdadeira fraternidade, que se manifesta no plano moral e muito mais ainda, no plano material e econômico. Tornaram-se então um povo e uma nação.

 

O Eterno, bendito seja Ele, por meio da Torá nos ofereceu os meios ou cabos, por assim dizer, de nos conectarmos permanentemente com Ele, bendito seja, através dos estudos e do cumprimento de suas mitsvót, mandamentos ou preceitos, que revelam como Ele, bendito seja, compartilha conosco um ínfimo de Sua infinita Sabedoria e como, ao cumprirmos Sua vontade excelsa e sobera­na, manifestamos a Luz Maior no mundo da ação. Muitos ainda pensam que a Torá é a lei judaica, no entanto, o termo Torá sig­nifica ensinamento e dos seus textos foram extraídas as leis morais, familiares, sociais, co­merciais e éticas que orientam a vida de cada israelita desde seu recebimento por Moisés, nosso mestre, e por todo o povo aos pés do monte Sinai.

 

Segundo a tradição, os livros que com­põem a Torá são os cinco primeiros livros, do Gênesis ao Deuteronômio, e obedecem a um conjunto de 13 princípios de interpretação ou hermenêutica, sendo estudados e interpre­tados dentro de quatro níveis de aprofunda­mento. Esses níveis são representados por um acróstico hebraico na palavra “PARDES”. O primeiro nível é o de sentido literal, o Peshat; o segundo nível é o de significados simbó­licos, o Ramez; o terceiro nível é o alusivo, que reflete associações e analogias, o Drash; e o quarto nível é o oculto ou esotérico, o Sod, é reflete as miríades de imagens místicas da Cabalá. A Cabalá pretende nos ensinar como receber e compartilhar as luzes Divinas que desejamos para realizarmos o grande trabalho do tikun ha-midót, de retificação e aperfeiçoamento dos nossos caracteres pessoais e do tikun ha-olam, a retificação e aperfeiçoamento do mundo como um todo, manifestando essas sagradas Luzes na vida de todos os seres do nosso mundo, o mundo da ação, chamado em hebraico de olam há-Assiá. E este trabalho sagrado, avodat hakôdesh, realmente místico, inclui por meios de nossas ações objetivas, subjetivas e orações a respon­sabilidade de libertarmos as chispas Divinas que desde a Criação estão ainda envolvidas por cascas energéticas ou espirituais chama­das de klipót, e que devem ser rompidas por nossos pensamentos, palavras e ações, para que essas chispas sejam elevadas aos planos da Santidade e, assim, podermos manifestar maiores luzes e bênçãos e realizar o papel para o qual fomos criados, ou seja, completar a obra da Criação, trazendo a plenitude da luz infinita a todos os mundos. As ações dos homens reverberam nos mundos superiores como um processo onde as luzes reveladas e ativadas neste mundo, onde vivemos, são refletidas, pois na Criação nada é realmente separado e isolado, como mostra a conhecida figura da “Árvore da Vida” com as 1 O sefirót. Nela, a correspondência e unidade entre os mundos superiores e o mundo da ação são demonstradas pela continuidade da Árvore, onde a sefirá de Malchut (a décima sefirá, que indica a manifestação plena de um nível de existência e consciência) de um plano superior se torna a primeira sefirá ou Kéter, a Coroa (a primeira sefirá e que manifesta o desejo ou vontade pura de realização) do mundo imediatamente abaixo, desde o olam há-Atsilut ou mundo das emanações, onde há uma infusão inimaginável da luz infinita até o nosso plano de existência, onde há um nível mínimo de manifestação plena da Luz Maior. Entretanto, a luz infinita permanece por igual em todos os mundos, porém de modo oculto, e somente uma face desta po­derosa irradiação se manifesta aos seres indi­viduais como força vital, consciência da alma e energia que é responsável pela manifestação das miríades de formas da matéria conhecida nos ensinamentos rosacruzes como a energia de “Espírito” .

 

Em todos os níveis não há setor isolado na Criação e a luz infinita permanece oculta; no entanto, a luz é como difusa por igual em todos os mundos e não apenas no mundo de Atsilut, pois há uma integração e interação contínua das sefirót em todos os mundos e, assim, nas sefirót de Assiá estão inclusas as sefirót de Yetsirá, e nestas estão inclusas as sefirót de Beriá e nelas as sefirót de Atsilut e fazendo com que a luz do Ein Sof esteja por igual difusa em todos os mundos. .

 

A Terra como um planeta pode ser dita Malchut de Malchut de Assiá e todos os fenômenos podem ser definidos dentro das conexões das sefirót, Assim, o plano espiritual dos espíritos livres, ou mundo das almas, pode ser dito como Yetsirá de Malchut de Malchut de Assiá. Esta luz imanente e transcendente, como dissemos, é a providencia Divina ou hashgahá pratit, que alcança cada indivíduo e todas as coletividades e nações nos mun­dos. Além de nos ensinar a receber as luzes que bus­camos, ainda visa a Cabalá, em seus muitos ensina­mentos, também explicar os “por­quês” das leis e ensinanças morais e alegóricas dos textos da Torá.

Os preceitos, ou mitsvót, se divi­dem ainda em dois grandes grupos: 248 preceitos  positivos, que nos di­zem para fazermos alguma coisa que ativará um órgão ou função objetiva ou subjetiva do corpo e um correspondente órgão ou função nos mundos superiores; e mais 365 preceitos negativos, que nos dizem para não fazermos algoe que devem ser lebrados e observados durante os 365 dias do ano.

O caráter divino desses 613 preceitos também é expresso desta forma no livro “Likutei amarim Tanya”, de Chabad-Lubavitch, escrito pelo sábio rabi Schneor Zalman de Liadi: “D-us comprimiu Sua vontade e sabedoria nos 613 mandamentos da Torá e em suas leis, e nas combinações das letras das Escrituras (Torá, Nevi’im e Ketuvim), e na exposição dos versículos encontrados nas Agadót e Midrashim dos nossos sábios, de abençoada me­mória. Em todos esses, D-us com­primiu Sua vonta­de e sabedoria com a finalidade de que toda neshamá ou mesmo as mais baixas almas dos níveis de rúach e néfesh, que se en­contram no corpo humano, sejam capazes de alcan­çá-las com seu intelecto, a fim de que a néfesh ou o rúach ou a neshamá as cumpram o quanto elas podem ser cumpridas, em ação, fala e pensamento; e com isto vestindo-se todas as suas 10 faculdades (sefirót) nestas três roupagens ( do pensamento, da fala e das ações de Torá e mitsvót)”. O termo “Torá”vai muito além dos livros do Pentateuco, sendo usado para se referir a toda a Bíblia e, de modo geral, a toda sabedoria extraída dos seus textos, o que inclui ensinamentos orais que constituem a Mishná, a qual vem a ser o conjunto das interpretações orais da Torá, os ensinamentos das hagadót ou lendas e alegorias desenvolvidas durante milênios, e todo o conjunto incontável de ensinamentos da própria Cabalá.

É dito que a Torá pode ser dividida em seus ensinamentos místicos em dois grandes grupos: Taamei Torá, ou razões da Lei, que são ensinamentos profundos eu todos podem ter acesso e com muitas explicações metafísicas das leis da Torá, que são chamados de “maasse Bereshit”, e os Sitrei Torá, ou segredos da Lei, que são níveis restritos de conhecimentos e práticas místicas e reservados a alguns iniciados que se preparam para receber estes iluminados conhecimentos. São chamados de “maasse Merkavá”. Como falamos acima na Mishná, convém lembrar que a jurisprudência ou interpretações tradicionais da Torá vêm desde Moisés, sendo transmitidas de geração a geração, e esta tradição era, até o início da era comum, oral e passada do mestre aos seus discípulos, até que foi compilada no conjunto da Torá oral chamada de Mishná ou segunda Torá. Ela é considerada a “alma da Torá”, e a Cabalá é chamada de “a alma da alma da Torá”. Foi compilada pelo sábio príncipe de Israel, Rabino Yehudá há-Nassí, num conjunto de seis grandes ordens ou volumes de tratados, que abordam todos os assuntos relativos às leis ou halachót extraídas da Torá de fato, segundo o grande comentarista espanhol Maimônides, autor da célebre obra “Mishnê Torá”, existem cinco classes de conteúdo tradicional:

 

1. Explanações recebidas por Moisés, com base direta nas Escrituras e que delas podem ser deduzidas;

 

2. leis da tradição mosaica que não têm suporte direto nas Escrituras;

 

3. Leis deduzidas racionalmente;

 

4. Máximas legais introduzidas pelos Profetas e Mestres de cada geração, visando estabelecer “uma cerca de proteção em torno da Torá”;

 

5. Leis de observação empírica do comportamento e que não se constituem nem acréscimo e nem diminuição das normas e tradições da Torá.

 

A Mishná foi, posteriormente, comentada e discutida por dezenas de sábios que, novamente, compilaram e escreveram essas discussões no conjunto que recebeu o nome de Guemará, e juntando os dois imensos conjuntos sagrados de ensinamentos, temos o Talmude.

Dentro do cânon judaico, por assim dizer, temos três obras que possuem o mesmo nível de pureza, elevação e santidade, ou nível de obra sagrada, as quais são: a Bíblia propriamente dita, chamada em hebraico de Tanách; o Talmude e o Zohar haKadosh.

 

Quanto ao aprendizado da Cabalá, consideramos importante lembrar alguns princípios que norteiam esse aprendizado segundo a Tradição. De pronto, devemos dizer que é tolice tentar conhecer os fundamentos da Cabalá sem uma sólida formação ética, de modo a despertar e desenvolver na consciência e no coração um explícito, espiritual e material amor (Ahavat haShem) pelo Eterno, bendito seja Ele, e por todos os semelhantes, pois somente por atos solidários e concretos que expressam amor ao próximo é que podemos receber amor pelo Divino Pai. E também devemos desenvolver um profundo, honesto e íntimo temor reverencial (e não um medo assustador) a D-us, Criador e Mantenedor de todos os seres vivos (Yrat HaShem). E dizemos que realmente tentar aprender esses fundamentos sem conhecer os comentários da Torá ou as palavras da Torá, chamadas em hebraico de “divrei Torá”, e também sem conhecer os princípios básicos da Halachá, a lei que se extrai dos textos da Torá como estão na Mishná, o caminho do entendimento amplo dos assuntos cabalísticos, poderá ser mais difícil ao buscador para que ele possa atingir de forma plena seus objetivos. Depois atingir de forma plena seus objetivos. Depois, atingir de forma plena seus objetivos. Depois de assimilar os elementos básicos da filosofia e da cosmogonia, então, pode o buscador alcançar a conexão com as luzes sagradas da Tradição, iniciar e mergulhar sua atenção e esforços nos conhecimentos profundos e vas­tos da santa Cabalá. E aí, conhecer algumas de suas obras e tratados, que chegam a mais de 3000 obras escritas. Poderá então sentir o sabor e respirar o perfume desta cara “ciência da Árvore da Vida” e mesmo aprofundar-se no sagrado Zohar, o Livro do Esplendor. A cada um é dado .de acordo com o seu próprio entendimento.  

 

O Zohar é considerado corno a “Bíblia dos Cabalistas” e se constitui na maior obra de ensinamentos esotéricos da Torá, tendo sido escrito no século I e.c., pelo Rabino Shimon Bar Yochai, chamado, graças à imensa profun­didade e iluminação de suas ensinanças, de a “Lâmpada Sagrada” ou Ner haKôdesh. Ele reu­niu em torno de si.um grupo de homens jus­tos e sábios e foi digno de receber revelações do profeta Elias e do próprio Moisés, nosso mestre. É claro que todos esses ensinamentos são baseados em tradições antigas e todas extraídas dos textos da Torá. Existem milhares de obras e volumes dedicados à Cabalá. No entanto, podemos citar outras obras que são consideradas como a base do tripé escriturís­tico dela, que são: o Sefer Yetsirá, o Livro da Formação, escrito, segundo a tradição, pelo próprio patriarca maior de Israel, Abraham Avinu, e o terceiro volume que é o Sefer Bahir, escrito pelo sábio Rabino Nehuniá ben ha­-Kaná, dentro dos estilos do Zohar. Então, é bom lembrar que dentro do edifício imenso do saber da Cabalá estão, além dos estudos e ensinamentos práticos de interpretações das Escrituras Sagradas, outros profundos ensi­namentos de Astrologia, Angelologia, Arte Talismânica, Ética, Psicologia, Numerologia etc. Cada um, homem ou mulher, desde o inicio do século XX, se for seu desejo since­ro, poderá buscar aprender e se aprofundar nesses ensinamentos sagrados daTradição.

 

E, como está escrito em relação a esses estu­dos: “Estuda, aprende e pense por si mesmo”, pois o buscador deve manifestar maturidade ética e espiritual para saber receber, assimilar, transformar e passar ou compartilhar as luzes recebidas com todos aqueles dignos de

as receberem, para que o “tikun ha-olam” ou retificação moral, social e espiritual do mundo, diga-se, do caráter das ações no mundo, seja realizada para todos nós que compartilhamos o raro privilégio de sermos humanos em evolução contínua. Assim poderemos usufruir da paz, da fraternidade, da justa igualdade e da convivência social solidária e livre consciência, para decidirmos e agirmos com discernimen­to, sabedoria, confiança e coragem, sabendo dar os melhores passos para a continuidade harmoniosa da vida individual e coletiva da Grande Família Humana na Terra.

 

Que o Eterno, bendito seja Ele, nos aben­çoe com a paz e as Luzes que necessitamos para realizarmos e atualizarmos este imenso trabalho espiritual para o benefício de toda a Grande Família Humana na Terra! Amén! Selá! Qpe assim seja!

 


FONTE: FERNANDES, Nery. A Criação e os níveis da Torá. In O Rosacruz. n. 274, primavera 2010. Curitiba: AMORC-GLP, 2010. p. 18-25.

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