Por João Florindo Batista Segundo
Desde a divulgação do famoso discurso do Maçom
e Cavaleiro de São Lázaro Andrew Michael Ramsay (1686-1743), que muitos Maçons
especulativos se apegaram à ideia – carente de comprovação – de que a confraria
descende das ordens de cavalaria católicas medievais, em especial da Ordem dos
Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, mais conhecida como Ordem dos
Cavaleiros Templários, ou Ordem do Templo. Igualmente, não há qualquer prova de
que o “Discurso pronunciado na recepção de Maçons por Monsieur de Ramsay, Grande
Orador da Ordem”, de 1737, foi lido em Loja.
A mais famosa associação de cavaleiros da
história, a Ordem do Templo surgiu em 1118 e teve suas atividades extintas em
1312, através da bula papal Vox in
excelso, de Clemente V, não por suficiência de provas das acusações que lhe
foram feitas, mas porque a má fama gerada pelas denúncias tornara-a não mais
“muito útil à cristandade” (FEIJÓ apud ADRIÃO, 2011, p. 232).
Os bens e propriedades templários foram
transferidos para a Ordem dos Hospitalários. O auge da infâmia se deu com a
execução de Jacques de Molay (último grão-mestre) e Geoffroy de Charnay, numa fogueira,
na Île de la Cité, em Paris, pouco depois das vésperas, em 18 de março de
1314; dezenas de outros membros sucumbiram ao longo dos vários anos de tortura
durante o processo em razão da acusação de heresia (DAFOE, 2009a).
Somente em 2007, os responsáveis pelo Arquivo
do Vaticano apresentaram publicamente o volume “Processus contra Templarios”, que reedita o “Pergaminho de Chinon”,
ou seja, as atas nas quais o Bispo de Roma exime de culpa a Ordem do Templo (CABREJAS, 2007).
A supressão da Ordem gerou grande comoção no
mundo ocidental e deu azo a muitas teorias mirabolantes, inclusive de sua perpetuação.
Dentre estas, há as que relatam a conexão dos Templários com os Maçons, com
destaque para quatro principais, a seguir explicadas sucintamente:
1.
A de que Jacques de Molay, na prisão, passou o comando da ordem para John Mark
Larmenius.
2.
A do apoio templário ao rei Robert Bruce na batalha de Bannockburn.
3.
A de que um grupo sob o comando de Pierre d’Aumont fugiu para a Escócia e
fundou a Maçonaria.
4.
A de que os templários ingressaram na Ordem de Cristo, em Portugal.
Teoria 1 – A Carta
patente de Larmenius
Segundo Dafoe (2009b), este documento
encontra-se de posse da Ordem do Templo, hoje conhecida como Ordem Suprema e
Militar do Templo de Jerusalém (sigla OSMTH, em latim) e embora não mencione a
Maçonaria, no passado foi aceito como autêntico por célebres autores maçônicos,
a exemplo de James Burnes e Albert G. Mackey.
A carta foi supostamente encontrada por
Bernard-Raymond Fabré-Palaprat (1773-1838), que fundou e dirigiu a OSMTH por
certo período (1804-1838). Nela consta que De Molay, na prisão, reuniu um Capítulo
Geral e passou o comando da Ordem do Templo a John Mark Larmenius (1313-1324) e
que a transmissão continuou até os dias atuais (CHURTON, 2009).
Dentre os erros grosseiros deste documento,
pode-se citar o seguinte:
a)
A transliteração do código indica que o latim empregado na redação do documento
não era o da época;
b)
É improvável que De Molay pudesse convocar um Capítulo Geral na prisão; e
c)
O código empregado é incompatível com os templários, vez que eles não usavam
código algum em suas comunicações.
Hoje, a maioria dos
autores (inclusive maçons) considera que a Carta é uma fraude, provavelmente de
autoria do próprio Palaprat.
Teoria 2 – Os Templários
na Batalha de Bannockburn
Entre o final do
século XIII e início do século XIV, a Inglaterra estava em guerra com a
Escócia. Em 1307, Templários fugitivos das perseguições teriam se aliado a
Robert Bruce, rei da Escócia, à época excomungado pelo envolvimento no
assassinato de John Comyn. Esta aliança teria sido fundamental à vitória de
Bruce na Batalha de Bannockburn, quando, com apenas 9.000 homens, venceu os 25.000
soldados de Eduardo II da Inglaterra. Era 24 de junho de 1314, meses após a
morte de De Molay e dia da Festa de São João Batista.
Em reconhecimento à
bravura templária, Bruce teria criado a Ordem Real da Escócia (maçônica, que na
verdade surgiu em torno de 1741!); outras versões dizem que o rei criou a Ordem
de Santo André do Cardo (cavaleiresca), porém esta foi fundada em 1440, por
Jaime II; e alguns entusiastas chegam ao ponto de dizer que o governante
acrescentou a Ordem de Heredom como reconhecimento aos contingentes de Maçons
escoceses que lutaram a batalha.
Robert teria ocultado
a presença de templários em seu exército e mais ainda, negado a existência
destes em seu reino, a fim de não perder o reconhecimento papal; porém, teria
permitido a constituição da Maçonaria a fim de que os Templários mantivessem
sua existência e práticas.
De qualquer forma,
quando Bruce foi excomungado, os Templários estavam sendo perseguidos pelo rei
da França e não pela Igreja; logo, esta condição do governante escocês não
daria qualquer amparo aos cavaleiros em fuga (DAFOE, 2009b).
E nenhum historiador
criterioso jamais encontrou qualquer prova deste apoio. Para muitos, esta teoria
é encarada como uma concessão ao orgulho inglês: estes não perderam porque
lutaram contra os escoceses, mas porque enfrentaram a suposta elite da
cavalaria medieval. Em verdade, o posicionamento das forças inglesas entre dois
riachos e em solo pantanoso é a mais provável causa da vitória escocesa.
Na próxima edição,
trataremos das teorias 3 e 4. Aguardem!
REFERÊNCIAS:
ADRIÃO,
Vitor Manuel. Portugal templário:
vida e obra da Ordem do Templo. São Paulo: Madras, 2011.
CABREJAS,
Cristina. Vaticano publica documento
secreto sobre julgamento dos Templários. 25. out. 2007. Disponível em: < http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL158507-5602,00.html>.
Aceso em: 12 jan. 2015.
CHURTON,
Tobias. A história da Rosa-Cruz: os
invisíveis. São Paulo: Madras, 2009.
DAFOE, Stephen. Nascidos em berço nobre: uma história
ilustrada dos cavaleiros templários. Lívia Oushiro (Trad.). São Paulo: Madras,
2009a.
DAFOE, Stephen. O compasso e a cruz: uma história dos
cavaleiros templários maçônicos. Alexandre Trigo Veiga (Trad.). São Paulo:
Madras, 2009b.
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