O
presente artigo foi escrito por Kurt Prober, em 19/01/79, foi publicado na
Revista Maçônica “A Trolha” nº 38 (Dez 1988). Colaboração do Ir.'. Edson
Fernando da Silva Sobrinho, M.'.I.'. Loja Maçônica Acácia Sertaneja nº 2690 GOB,
Feira de Santana - BA.
Por
Kurt Prober
“Não é afirmação jocosa quando observo que
VOCÊ, que está lendo estas linhas, é na verdade um dos poucos componentes deste
grupo minoritário de leitores maçônicos”.
A Comissão de Educação
Maçônica da Grande Loja de Missouri (EUA) recentemente publicou um brilhante
artigo a este respeito, de autoria do Irmão Earl K. Dille Jr., e usando de
alguns trechos das conclusões a que ele chegou, irei tecer um breve comentário
sobre o que acontece no nosso ambiente maçônico.
A simples existência deste
estudo prova que o mal não é somente nosso, mas sim Universal, embora entre nós
muito agravado. Costumam afirmar que a Arte Real não precisa de divulgação
escrita, por ser ela uma agremiação tradicional onde tudo é comunicado “oralmente”.
E todos aqueles que já se dedicaram jornalisticamente à feitura de um jornal
maçônico, ou que, como escritores ou historiadores, já tentaram editar ou mesmo
conseguiram fazê-lo, um livro maçônico, podem sumariamente provar o fato: “O
MAÇOM NÃO GOSTA DE LER” seja por falta de interesse, entusiasmo, motivação
íntima, ou seja, por simples preguiça.
Se recebe um jornal ou
boletim, geralmente distribuído graciosamente por Lojas ou Potências, para
início de conversa esquece a sua obrigação mais elementar de profano, “a de
acusar o recebimento”. Muito contrário, ainda reclama quando lh’o mandam.
Mas, quando o recebe, mal
passa os olhos pelo cabeçalho, se é que algo lhe merece atenção NÃO O GUARDA e
nem dá a algum irmão eventualmente mais interessado. E quando alguém lhe fala
de um determinado artigo, muitas vezes até sem tê-lo lido, “mete a lenha” ou
faz uma alusão desairosa sobre o autor, especialmente quando não é do seu “partido
fofoqueiro maçônico”.
Normalmente arquiva o
boletim na “CESTA-seção...” E o famoso artigo “POR FAVOR, NO LIXO, NÃO...!”,
publicado pelo esforçado “ADAUTO” no “O CINZEL” nº 104/106, em março de 1976
(protesto veemente do redator do O CINZEL - Órgão da Loja Realidade nº 21, de
Recife) é um documento mais do que convincente deste estado de coisas.
Calcula o autor americano
que menos de 10% dos maçons americanos “passam os olhos em tais publicações”,
dizendo os editores de livros maçônicos que menos de 5% COMPRAM UM LIVRO. Mas
se isto acontece num país altamente alfabetizado, o que diremos nós do BRASIL?
Ao ser iniciado, elevado ou
exaltado no simbolismo e a seguir nos graus filosóficos, cada maçom recebe UM
EXEMPLAR do rito de cada grau, uma Constituição e um Regimento Geral.
Pois bem, sendo eu possuidor
da maior Biblioteca Maçônica do Brasil, tenho me perguntado a milhares de
Irmãos de tudo quanto é rito e potência, e RARO é aquele que, mesmo sendo Grau
33 me pode mostrar (ou emprestar para tirar um xerox) dos rituais de sua época,
ou das Constituições que recebeu. Praticamente nenhum Irmão, de Lojas que
durante anos imprimiram Boletim ou Jornais, me pôde mostrar algum e muito menos
ALGUNS números dos mesmos, e a maioria das Lojas que os imprimiram não possuem
uma coleção completa, única que seja. Não quero aqui citar os nomes de pelos
menos 10 Lojas às quais escrevi perguntando, para não envergonhar ninguém.
Basta só citar o BOLETIM DO
GRANDE ORIENTE DO BRASIL, editado continuamente de 1871 até 1976, com poucas
interrupções, perfazendo um total de digamos 800 números. Creio que só existe
UM ÚNICO CONJUNTO COMPLETO, que é o da minha biblioteca, e nem o GOB possui uma
coleção completa, faltando-lhe, creio, quase 8 anos.
Se eu afirmasse
categoricamente que nem 5% dos nossos Irmãos Iniciados e que hoje possuem altos
graus, jamais passaram os olhos nesses rituais e constituições, provavelmente
seria taxado de exagerado. Entretanto, na verdade eu estaria, assim mesmo “mentindo
descaradamente”, pois raros são os que jamais abriram estes livrinhos... e
raríssimos são os que os guardaram carinhosamente. Faça-se em qualquer Loja de
mais de 15 anos de existência a experiência, mandem trazer os rituais de todos
graus que possuem, pelos Irmãos antigos, e terão confirmado o que acabo de
afirmar. Portanto, não é a firmação jocosa quando observo que VOCÊ, que está
lendo estas linhas, é na verdade um dos poucos componentes deste grupo
minoritário de leitores maçônicos.
Existem no mundo muitas
Lojas de Estudos; ARS QUATOR CORONATI da Inglaterra e da Alemanha, a Sociedade “PHILALETES”
dos Estados Unidos, o Centro de Estudos Maçônicos de Jandaia do Sul, etc., que
editam livros e boletins, mas os seus membros e assinantes, evidentemente “contribuintes”,
são em número tão reduzidos que seria ridículo aqui citar números, para a
Maçonaria não morrer de vergonha.
O iniciando, olhando
respeitosamente os membros antigos das Lojas, especialmente os que fazem
questão de “enfeitar o Oriente”, ou os componentes da nossa honorável
Fraternidade, de um modo geral os imagina bem ilustrados e informados, mas na
realidade, em 99% dos casos, está redondamente enganado. Se mostra o desejo de
estudar e aprender alguma coisa, especialmente quando possui um grau de cultura
mais elevado, é sumariamente freado e até ridicularizado com o velho chavão:
Ainda é muito cedo para você ficar sabendo isto, porque isto irá aprendendo com
o tempo, quando for mestre...”
Na hora, o novato ainda
reverencia “tamanha cultura demonstrada”, e quando o tempo passa e ninguém lhe
ensina coisa alguma, então se desencanta, e quando exaltado a mestre, começa a
se afastar e vai faltando ao convívio daqueles que tão vilmente o enganaram.
Com vaidade quase pessoal, os mais vivos citam bombasticamente, e em tudo
quanto é ocasião, os nomes de grandes maçons do passado: Cônego Barbosa, Lêdo,
Nabuco, Rui, Macedo Soares, Saldanha Marinho, George Washington, Franklin, Goethe,
Monroe, etc., mas esquecem que estes maçons se tornaram GRANDES, de fato, por
que estudaram e leram tudo quanto aparecia de impresso, escreveram e publicaram
livros, e assim foram ensinando os seus irmãos contemporâneos e atuais, o que a
maioria de nós NÃO FAZ e não está disposta a fazer.
Para que se tornaram maçons,
então? Se não estão dispostos a “desbastar a pedra bruta”, nem a sua própria e
nem a dos aprendizes, ainda se dispõem a aprenderem alguma coisa? Será que nos
tornamos maçons pelo simples desejo de pertencer ao “sindicato”? A verdade é
que a grande maioria só quer mesmo é bater no peito e “apregoar”, ou então “sussurrar”
ao ouvido dos outros SOU MAÇOM!... Existem bibliotecas maçônicas em algumas
Lojas ou Potências, e eu já fui e ainda sou bibliotecário de algumas, e posso
comprovar que ENTRA ANO E SAI ANO sem sair UM ÚNICO LIVRO para ser lido em
casa, já não se falando para ser “estudado”, e quando alguém aparece
furtivamente é quase sempre para OBTER UMA RESPOSTA a alguma pergunta eventual
e, nesta hora, nem procura saber, nem está disposto a fazê-lo, “pois está com
pressa” mas quer que alguém lhe dê a resposta certa e imediata. E quando não
lhe agrada, pois pretendia que a coisa fosse outra, ainda fica duvidando da
resposta que recebe.
Mas muito pior é quando um
livro sai emprestado por 15 dias, que deve ser o prazo máximo; o bibliotecário
precisa exigir “recibo assinado”, para no fim ficar atrás do livro A SER
DEVOLVIDO, DURANTE 180 DIAS (seis meses). Deve dar-se por feliz quando consegue
reaver a obra, geralmente em mau estado de conservação, e no fim fica mal visto
pela sua insistência. Ou então, no fim de um ano, recebe a resposta lacônica: “Acho
que perdi o livro, pois não o encontro”. E quando lhe é exigida a compra de um
livro igual ou de outro equivalente, recusa-se, então, peremptoriamente,
preferindo nem mais aparecer na oficina.
Isto, não falando dos “amigos
do alheio”, que fazem a sua biblioteca à custa dos irmãos, pedindo livros
emprestados e esquecendo-se de devolvê-los. E poderia até citar o nome de um
Grão-Mestre, cujos familiares venderam a sua biblioteca, depois que este
faleceu, inclusive “várias centenas de livros com carimbo da Biblioteca Oficial
da Casa” e nem tiveram a dignidade de restituir, pelo menos nesta hora, tais
preciosidades, assim perdidas para sempre, pois o comprador paulista não as irá
devolver.
Habituaram-se os nossos
Irmãos a NÃO ESTUDAR E A NÃO LER COISA ALGUMA, preferindo discutir com
veemência sobre o “disse me disse” dos outros. Ou, então, preferem ficar em
casa vendo e ouvindo novela na televisão. Mas chegando na Loja, isto bem
entendido, quando vão, gostam de arrotar sapiência, fazendo discursinhos
estéreis, sempre repetindo as mesmas baboseiras, e ficam muito zangadinhos e
mesmo ofendidos quando um “explicadinho”, destes poucos renitentes que tem
frequência, lhe fazem um pergunta incômoda, que não sabe responder, ou, então,
lhe prova na hora a incongruência de alguns desses seus discursos tipo “comício”,
sem qualquer profundidade cultural e mesmo de valor maçônico (...)
Agora, POR QUE NÃO LEEM...?
Bem, isto é outra página da história, e faço votos que cada um consiga
responder esta pergunta indiscreta, pelo menos a si mesmo, e, depois disto,
pode até ficar com “raiva” de mim, por ter dito a verdade...
FONTE: PROBER,
Kurt. Por que os Maçons não leem? In JB News n. 1980 . Disponível em: <http://www.jbnews33.com.br/informativos/JB_News-Informativo_nr_1980.pdf>.
Acesso em: 03 mar. 2016.
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