Por
Francisca Soares Leite e João Florindo Batista Segundo
O
documentário “Luz, Trevas e o Método científico” narra a origem do
pensamento humano, sua evolução e o consequente surgimento da ciência,
demonstrando ainda as relações desta com a sociedade e com as estruturas de
poder ao longo dos séculos. Seguem-se imagens e animações enfocando conflitos
religiosos e perseguições a hereges, à ciência e às bruxas.
Com
esse recurso audiovisual, a equipe do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ
teve por meta, num tom extremamente humanista, exibir a evolução da ciência dos
primórdios às descobertas recentes. Destaque para o Prof. Leopoldo de Meis, ao
citar os benefícios e os malefícios causados pela ciência conforme o bom ou mau
uso que dela se faça.
Constata-se
também que a intolerância permeou a história da humanidade. Nos primórdios da
vida comunitária, o homem, espécie mais recente do planeta, se deparava com
dificuldades ao longo de sua existência e se atemorizava da morte, a qual
imaginava ser algo sobrenatural. Para aplacar os males do corpo e auxiliar na
relação com as forças do além surgia o curandeiro, um protótipo de sacerdote, a
quem se devia submissão total. E conforme se organizaram as religiões, muitas
apregoaram o sacrifício humano como forma de aplacar a ira dos deuses.
Porém,
vieram a público os contestadores, que buscavam entender o funcionamento das
coisas e dos seres, advindo a experimentação. Com Hipócrates é negada a origem
divina das doenças. As ciências (inclusive médicas) surgiam e avançavam.
Porém,
a partir do século XII, com sua hegemonia sobre o mundo ocidental,
a Igreja fez objeção às pesquisas científicas e oficializou a perseguição aos
contestadores dos dogmas (pontos indiscutíveis da fé). Através da Inquisição,
houve constante vigilância e quem fosse considerado bruxo ou pecador corria o
risco de ser torturado para confessar os pecados e expiá-los.
Em
verdade, com a formação e consolidação dos Estados nacionais, a
intolerância vincula religião e política, com o herege sendo alçado à condição
de desafiante da ordem política. Dessa forma, nos países de confissão
protestante, embora a ciência avance (como na Inglaterra, onde surgiu a Royal
Society), os dissidentes católicos também foram perseguidos.
Apesar de todas essas querelas, a busca pela verdade continuou com homens como Francis
Bacon, para quem apenas a lógica e a observação são necessárias ao entendimento
da realidade.
E o
avanço seguiu com Copérnico, Galileu, Descartes e tantos outros. A duras penas
e com o sacrifício de muitos “mártires”, a evolução da ciência permitiu ao
homem concretizar alguns de seus mais antigos sonhos, como voar, navegar sob a
água, chegar à lua, aplacar a fome e aumentar a expectativa de vida.
O
legado destes pensadores serviu de base a ideologias que perduram até hoje.
Graças a eles, hoje todos têm livre arbítrio, porém, pela atual deficiência da
formação humana, poucos sabem como empregar sua razão de forma útil para si e
para a coletividade. E quanto ao conceito de ciência, está bastante difuso na
sociedade, com inovações tecnológicas mais acessíveis e presentes na vida das
pessoas, algumas das quais passam a viver uma vida virtual, atreladas aos
modernos meios de comunicação.
Conclui-se
então que o bem pode ser convertido em mal, de maneira que uma análise
maniqueísta da história é insuficiente para entender as dinâmicas sociais e o
querer de cada época. E na busca por soluções dos problemas ainda presentes e
por vir deve-se sempre pesar o risco do uso inadequado dos poderes que a
ciência nos concede, de maneira a não repetirmos os mesmos erros do passado.
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