segunda-feira, 8 de abril de 2013

18º GRAU MAÇÔNICO “ROSE-CROIX”






Por Tobias Churton

Um sobrevivente do peculiar interesse do período na mitologia rosa-cruz está familiarizado com a Maçonaria no mundo inteiro. É o famoso Rose-Croix - ou 18º Grau do Rito Escocês Antigo e Aceito.

Supostamente, o conteúdo do ritual tem muito poucos elementos “rosa-cruzes” óbvios - nenhuma referência a Christian Rosenkreuz ou à Casa do Espírito Santo, ou até à fraternidade R.C. Comentaristas maçônicos acadêmicos acostumaram-se a concluir que as palavras Rose (”Rosa”) e Croix (”Cruz”) são puramente acidentais e não há como inferir nenhuma influência rosa-cruz. Essa crítica não faz sentido dentro do contexto real da Maçonaria da metade do século XVIII, em que os mitos logo perderam sua especificidade, sendo reduzidos a lições morais e éticas.

As lições morais da Rose-Croix permanecem as virtudes cristãs da Fé, Esperança e Amor - aprendidas por meio de uma jornada simbólica empreendida pelo “cavaleiro maçom” em potencial a um local no Oriente, onde um mistério alquímico da primeira ordem é representado - a saber, a crucificação de Cristo em Jerusalém: “A Pedra Cúbica que emana sangue e água”, como o ritual vividamente declara.

É bem possível que o escritor do ritual estivesse ciente do simples misticismo cristão dos textos pós-Fama de Andreae, embora o sabor do ritual sugira com mais força sensibilidades mais católicas que espirituais protestantes. O ritual não está preocupado com a mitologia de Christian Rosenkreuz, apenas com o potencial iconográfico da rosa e da cruz. Essa imagem é combinada com a do pelicano alimentando suas crias com o próprio sangue, um claro símbolo de Cristo e Seu amor salvador.

O ritual foi provavelmente criado como uma maneira poderosamente conveniente de afirmar a identidade cristã dentro da Maçonaria (que estava sob ameaça), embora retenha uma atmosfera de sugestivo mistério maçônico. Que melhor fonte para o tema cristão em um cenário esotérico simpatizante à “casa oculta” ou Loja ideal da Maçonaria do que um Rosacrucianismo de fervor cristão, celestial e fragrantemente místico em espírito. No clímax do rito, por exemplo, o futuro “aprimorado” cavaleiro maçom encontra uma escada (associada com Jacó e Beth-el, o lugar de Deus) que conduz a um altar adornado com rosas.

As palavras Rose-Croix sugerem um Cristianismo místico e mágico do século XVIII e continuam a fazê-lo: algo indefinível e além da razão. A Maçonaria prefere inferência e alusão a qualquer implicação de especificidade confessional e dogma metafísico: universalismo, simbolismo é tudo. Afinal, a Maçonaria seria definida como “um sistema peculiar de moralidade dissimulado em alegoria e ilustrado por símbolos”. Em muitos aspectos, essa última declaração de William Preston (Illustrations of Masonry ,1772) ["Ilustrações da Maçonaria"]; também pode ser aplicada a aspectos de Neorrosacrucianismo.

A composição original do grau do “Soberano Príncipe Rose-Croix ["Rosa-Cruz"], Cavaleiro do Pelicano e da Águia”, há muito foi atribuída a Jean-Baptiste Willermoz (1730-1824). De acordo com A.C.F. Jackson (Rose Croix, A History of the Ancient & Accepted Rite for England and Wales. Lewis Masonic, 1980) ["Rosa-Cruz, Uma História do Rito Antigo e Aceito na Inglaterra e no País de Gales"], o título apareceu pela primeira vez em 1761, como uma deferência aos detentores do grau do Cavaleiro da Águia.

Em 1766, um francês de origem crioula chamado Estienne Morin (falecido em 1771) completou uma série de Constituições, consideradas atualmente pelo Rito Antigo e Aceito da Maçonaria como importantes documentos de fundação. Essas Constituições datavam de 1762, um ano depois que Morin recebeu uma patente da Grande Loja da França, nomeando-o como “Inspetor-Geral”. Morin considerou a indicação como uma missão para difundir a Maçonaria através do Atlântico de uma forma que servia a seus interesses. De fato, ele se tornaria “Inspetor-Geral” de sua própria constituição maçônica. Morin chegou às Índias Ocidentais em 1763, mas não se sabe se ele completara um Ritual Rose-Croix naquela época. O que ele provavelmente tinha era uma lista de cerca de 25 graus obtidos de Jean-Baptiste Willermoz, o arquivista chefe da Maçonaria, em Lyon.

Como veremos, no tempo devido, Willermoz passou bastante tempo em Lyon examinando, meticulosamente, os rituais de toda a Europa, buscando pela doutrina essencial que unificaria o todo. Em 1761, Willermoz e seu grupo formaram um novo rito de 25 graus. A maioria deles era apenas de nomes e ainda precisavam ser elaborados.

Nesse meio-tempo, Willermoz também se correspondia com um certo Meunier de Précourt, mestre de uma Loja em Metz, que sabia um pouco sobre um grau Rose-Croix que estava sendo trabalhado em algum lugar da Alemanha. Em 1762, De Précourt aguçou mais o apetite de Willermoz com promessas de “mil segredos maravilhosos” disponíveis na Alemanha, inclusive uma Ordem do Templo.

Willermoz completou o Ritual Rosa-Cruz em 1765. Se provinha ou não da Alemanha, não se sabe. Estranhamente, em 1765, surgiu um livro, Les Plus Secrets Mystères ["Os Mistérios Mais Secretos"] com cerimônias que incluíam o grau dos “Cavaleiros da Espada e da Rose-Croix”. O grau não tinha semelhança com o de Willermoz. Talvez houvesse um pouco de concorrência com a proto-Gold-und Rosenkreuzers, oferecendo mais do que devoto simbolismo maçônico.

O Rose-Croix era popular e, por volta de 1768, existiu uma instituição em Paris que se denominava o “Primeiro Capítulo Soberano Rosa-Cruz”, cujos estatutos e regulamentos foram emitidos em 1769. Essa iniciativa expandiu-se à Grã-Bretanha, onde foi acolhida pelos poucos que tiveram acesso a seu trabalho como o grau ne plus ultra - a mais alta forma de Maçonaria, pois “não há nada mais além”. A partir de 1775, o grau Rose-Croix era trabalhado nos “Acampamentos” dos Cavaleiros Templários Maçônicos britânicos.

Dois anos antes de a instituição parisiense ser estabelecida, o vice de Morin, Francken, fundou a Loja de Perfeição e Conselho dos Príncipes de Jerusalém em Albany, Nova York. Uma “Loja de Perfeição” foi aberta em Charleston em 1783, a origem do atual “Supremo Conselho, Jurisdição Maçônica do Sul” (Estados Unidos).

Muito importante para a Maçonaria, o grau Rose-Croix transforma a lenda do assassinato de Hiram Abiff por pedreiros invejosos, ao insistir que o evento crítico da Maçonaria ocorreu quando o “Mestre morto” (não Hiram Abiff mas Cristo, “a pedra fundamental que os edificadores rejeitaram”) convidou o pedreiro para “morrer n’Ele” e renascer no Espírito. Por essa razão, o Cavaleiro Maçom da Rose-Croix é “aprimorado” no clímax do grau. A substância dessa mensagem é bastante clara na Fama Fraternitatis, na qual os Irmãos descobrem as seguintes palavras na cripta oculta de Christian Rosenkreuz: “Nascemos de Deus, morremos em Jesus e viveremos de novo pelo Espírito Santo.” Esta é, no Rito Antigo e Aceito, “a perfeição da Maçonaria”.

Os maçons, em geral, têm relutado em acomodar as plenas implicações dessa compreensão. Freemasonry - The Reality, Tobias Churton, Lewis Masonic, 2007).


FONTE:

1 - CHURTON, Tobias. A história da Rosacruz: os invisíveis. São Paulo: Madras, 2009, pp. 362-366.
2 - COSTA, Wagner Veneziani. Blog O Editor. Disponível em <http://oeditor.osupremo.com.br/index.php/maconaria/111-o-18-grau-maconico, acesso em 07 abr. 2013.

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