segunda-feira, 4 de abril de 2016

O TAROT PSICOLÓGICO E INICIÁTICO





Por Louis Caillaud, FRC*


Os tarôs teriam surgido de um vestígio gnóstico dos Cátaros, do qual teria se originado também, na época de Francisco I, uma Confraria que agremiava companheiros e mestres das corporações do Livro, gravadores, iluminadores, encadernadores e também os livreiros que fabricaram os primeiros Tarôs.

Francisco I pertenceu a essa Confraria e, para participar das reuniões em que se desenvolviam seus trabalhos, o soberano deixava incógnito o Palácio do Louvre uma vez por mês para ir até a Rue de l’Arbre-Sec (Rua da Árvore Seca), onde se situava a Confraria, que tinha por nome “Agla” e como sinal de reconhecimento o número 4 associado a um padrão gráfico em forma de coração. No Tarô, o Arcano IV é O Imperador. Francisco I foi o fundador da Imprensa Real. Não nos esqueçamos de que ele foi iniciado à ciência dos mistérios por Leonardo da Vinci, que morou próximo ao rei no Castelo de Amboise.

Apesar das pesquisas, ninguém pode contudo determinar com exatidão as origens do Tarô. De onde ele veio? Alguns o situam em torno da bacia mediterrânea a partir do século XIV. Dele encontramos traços na Espanha com os Árabes, na China e na Europa Oriental, particularmente na Boêmia.

As imagens do Tarô se inscrevem na grande Tradição dos gravadores da Idade Média e dos Alquimistas, que delas fizeram um sistema de reprodução dos conhecimentos antigos. Outrora, a filosofia incluía a metafísica, considerada como um diagrama do Universo, servindo para extrair as raízes da conduta do homem, orientado para uma visão “transpessoal” e restabelecendo a concepção do invisível como parte integrante do patrimônio armazenado nos abismos do inconsciente da humanidade. Isso faz do Tarô um instrumento e guia prestigioso que restitui a evolução da consciência a ela acrescentando as construções psicológicas da natureza humana.

Através do jogo desse fascinante conjunto de imagens que é o Tarô, propomos uma orientação como via de acesso a um procedimento psicológico pessoal, ou seja, em que o consulente é seu próprio guia e intérprete. Nesse procedimento é focalizada uma psicologia que serve de filão para estabelecer, a partir de símbolos, uma relação com o Inconsciente do consulente. Psicólogos como Denise Roussel, Jack Hurley e Stuart Kaplan sustentam que o simbolismo do Tarô é um espelho do “Inconsciente e do Eu”.

Aquilo a que chamamos “símbolo” é um termo, um nome ou uma imagem que remete a um conteúdo mais vasto do que o seu sentido imediato, pois ele não é jamais definido com precisão e nem tampouco plenamente explicado, o que o diferencia do signo, que por sua vez remete unicamente aos objetos aos quais está associado.

O simbolismo do Tarô, nessa orientação, se apresentaria como um suporte de projeção tridimensional: a expressão remete ao consciente, à integração ao inconsciente e à entrega ao Eu. Essa projeção tridimensional é uma dinâmica para se acessar a órbita do imaginário e favorecer uma percepção intuitiva, as quais são essenciais à qualidade numinosa da interpretação. Intuição e imaginário desempenham um papel que não pode ser transformado em sistema intelectual, pois arrisca perder o essencial de sua espontaneidade, o que reduziria o caráter numinoso e vivo do símbolo. Uma sinergia é desse modo inclinada para o inconsciente a fim de suscitar concordâncias e associações e de tentar evidenciar arquétipos e reatar relações com o Eu.

O valor dinâmico dos arquétipos pode ser definido como “engramas”, ou seja, impressões deixadas no inconsciente, tanto individual quanto coletivo. Na alma humana, são símbolos que, desde sempre, serviram para expressar a experiência psicológica do homem em sua história e sua cultura – particularmente sua cultura religiosa. De acordo com Carl Jung, quanto mais arcaico o símbolo, mais universal ele é.

O Tarô parece ter duas funções psicológicas. A primeira é representada pelas 22 lâminas ditas “Maiores”. É uma dinâmica vertical. A segunda é completada pelas 56 lâminas ditas “Menores”. Diremos que esta é uma dinâmica horizontal. Ela se manifesta como um suporte dotado de uma relação de sincronicidade – de coincidênciassignificativas – entre os acontecimentos e as modalidades do fenômeno humano.

 Em seu componente simbólico, a função maior será aquela que emprestaremos. Esse Arcano pode ser visto como um procedimento interior – uma descida no interior de si – de alguma forma semelhante à imagem de um recipiente que se faz descer num poço para dele extrair o conteúdo. Está escrito:“Visita o interior da Terra e, cavando mais fundo, encontrarás a pedra oculta. Apenas a busca conduzir-te-á ao teu próprio mistério”.

Nesse modelo, é o Arcano XIII, A Morte, que vai preceder nossa operação. Ela evoca em sua imagem a passagem da transição, o que quer dizer que “É preciso saber morrer para conceitos moldados aos formatos de nossas ideias”. O esqueleto, desprovido de carne, ilustra o abandono dos preconceitos e dos compromissos que o homem atrela a si em sua existência. A Foice é o instrumento da discriminação. Ela corta os laços do mundo das aparências e de seu cortejo de ilusões; o esqueleto tem a cor da pele para lembrar que toda realização é feita também no mundo, laboratório das experiências humanas. Dentre os elementos que estão espalhados pelo chão, de cor negra (a Sombra), percebemos duas cabeças, uma das quais coroada, o que quer dizer que o homem se abre a visões superiores das coisas da mente.

Este Arcano não está imperativamente a serviço de uma mensagem post-mortem; deve contudo ser sentido como uma possibilidade de renovação – uma espécie de alquimia que transmuta a “Sombra” em “Luz” –, o que redunda em dizer: “Desenvolver um esclarecimento de consciência e discernimento a fim de extrair as verdades essenciais que residem em si”. Isso equivale a “extrair o sutil do grosseiro”. Para tanto é preciso saber “ousar”, tomar o bastão do peregrino, símbolo de apoio e perseverança, necessária a qualquer realização. Este seria o sentido dado ao nosso Arcano VIIII, O Eremita.

 Essa personagem, símbolo de discrição por seu manto, sugere que o visível em todas as coisas é apenas um véu opaco do invisível e particularmente das coisas escondidas dentro de si, as quais devem ser conhecidas pela luz do espírito, representada pela fonte luminosa que o Eremita segura por baixo de seu manto. Essa respeitosa personagem poderia ser comparada a todo ser humano que deseja abandonar as dissipações do mundo a fim de refletir sobre as questões maiores e as realidades fundamentais de sua própria personalidade. Nosso Eremita corresponde à imagem de Diógenes, que à pergunta “Que procuras?” respondia: “Procuro um homem!”.

Essa busca de si postula uma escolha. É o Arcano VI O Enamorado, que ilustra a dificuldade dessa escolha, evocando o livre arbítrio de que o homem pode dispor. Nesse Arcano, a determinação da escolha é representada pelo Cupido, com o arco teso e prestes a atirar sua flecha, representando o sentido da direção justa para conseguir seu objetivo. Ele tenta determinar ao consciente sentimentos e ideais nobres. Isto significa: “O homem, em suas escolhas, tende àquilo que é justo, com reflexão, antes de efetivar o ato decidido”.

É nesta passagem que se apresentam as influências do Arcano XV, O Diabo. Esse arcano personifica de alguma forma os instintos, as paixões e os desejos reprimidos, tanto individuais quanto coletivos, o que faz dele uma entidade. É “a Sombra”. Enquanto essa entidade não é pulverizada para se dissolver, seu poder é reforçado e o homem se debate no conflito de sua dualidade de opostos, sugerida pelos dois diabinhos. O Diabo não ignora que a evolução para um nível espiritual tende a destruir aquilo que se opõe a ela.

É isto que é ilustrado pelo Arcano XVI, A Torre. Essa Torre evoca a estrutura rígida e egoísta de uma psicologia que se rompe. Em sua existência, o homem tenda a transformar suas aspirações em ressentimentos, pela falta de conhecimento de si mesmo, e esquece que pode derrubar a muralha que erigiu e atrás da qual se refugia. Todavia, ele sente necessidade de buscar uma passagem que dê para um horizonte mais amplo. Porém, por não ousar, ele prefere se fechar em si mesmo e esperar. Pelo quê…?

 No entanto, as janelas de cor azul-noite na imagem evocam uma libertação psicológica que o convida a focalizar seu desejo de fugir de sua prisão e se reportar a ideias originais e renovadas. Por isso o orvalho colorido.

Logo, acrescenta-se o Arcano XVII, A Estrela. Essa jovem mulher é comparável a uma fonte de água fresca; ela simboliza a Anima no homem, servindo de mediadora entre o consciente e o inconsciente. A Anima, e o Animus no caso da mulher, são considerados Arquétipos. A água que se derrama do vaso é confiada à inteligência e à intuição, representadas pela corrente e pelos cabelos azuis que emolduram o rosto de nossa jovem. Sua nudez evoca uma transparência capaz de suscitar uma mudança para sentimentos nobres, representados pelo céu estrelado. Além disso, a vegetação verde é considerada como uma esperança de renovação que se inscreve na corrente de sua existência.

Intervém o Arcano X, A Roda da Fortuna. Está no movimento de suas intenções passar pelo centro de si mesmo, lá onde se encontra o eixo, a fim de promover um equilíbrio sereno. Os gravadores medievais acrescentaram à roda dois animais alegóricos, Anúbis e Thyphon. O primeiro reflete os aspectos secretos e numinosos da alma, ao passo que o segundo traz os aspectos conflituosos. O Hermanúbis sentado sobre a roda sugere a razão a serviço da inteligência. O gládio por sua vez é o discernimento das causas justas. Esse Arcano designa indiscutivelmente o movimento: “O homem deve evitar se demorar em atitudes fossilizantes para não agir como a mulher de Loth”.

Isso nos conduz ao Arcano III, A Imperatriz. A coroa, a veste azul e o cetro com a cruz são atributos de ideação espiritual que, mesmo secreta, é o voto piedoso de todo ser humano. Guiado por essa realeza, o homem será capaz de orientar seu despertar interior e tomar consciência de suas próprias potencialidades para melhor se governar.

A fim de reforçar sua ação, apresenta-se o Arcano VIII, A Justiça. O homem tem o dever de se inspirar nele. Ora, como o pensamento engendra o ato, o sentimento de justiça assume uma importância quanto às decisões e comportamentos. A justiça ilustra a ação justa que permite o equilíbrio, como o flagelo e a balança, que oscila em seu centro de estabilidade. Isso merece uma reflexão ao se associar a espada sustentada na mão esquerda. A inteligência do coração! Em outras palavras: “Conduzir um combate com equidade e com uma força tranqüila que exclui toda paixão e todo excesso”.

Esta força tranquila nos é revelada pelo Arcano XI, chamado também Serenidade. Ele se apresenta como uma mulher de aspecto sereno que consegue abrir a boca de um leão.

Se a justiça estabiliza aquele que age de maneira justa, por extensão a Força se predispõe a tornar o homem consciente de que toda ideação e toda busca empreendidas na força do espírito triunfam em favor daquilo que é justo e verdadeiro em si. Aquilo que vem do espírito torna o homem virtuoso. A Bela domina a fera, força criativa do homem que domina as paixões, as quais serão consumidas pelo sacrifício do ego.

É evidente que aquilo que torna virtuoso exige de si mesmo uma determinada autoridade, que é o que designa o Arcano IIII, O Imperador. Essa alta personagem, que representa a autoridade e o poder, sabe que o mundo deve ser regido com dignidade, e não explorado. Notemos que é nisto que o homem, para o seu próprio bem e em favor de seus semelhantes, deve se concentrar. O trono no qual o Imperador está sentado representa aquilo que o homem estabeleceu: suas crenças, seu saber e também o seu poder, muitíssimas vezes explorado para fins pessoais. Esse trono, porém deve lhe garantir a justa medida de sua autoridade. O pássaro Fênix representa aquilo que deve ser mudado e renascer na consciência a fim de se abrir a uma psicologia renovada.

Se por um lado o cetro é um atributo da autoridade, por outro ele confere também a sabedoria que ilumina o Arcano II, A Papisa. Ela revela o caminho que culmina no coração do “Livro” que contém as páginas de nossa própria natureza. Ainda nessa metáfora, decifrar as páginas desse “livro” pode se revelar como algo muito edificante para consigo mesmo. As cores vermelha e azul evocam o fluxo do dinamismo e da devoção.

Logo, o homem com tal desejo aspira ao essencial; para conquistá-lo, ele sente a necessidade de ser guiado pelo Arcano V, O Papa. A imagem desse Arcano transparece a nobreza aparente do semblante emoldurado pela barba e pelos cabelos brancos, marcas de uma grande sabedoria. O dinamismo das cores manifesta os aspectos de um espírito esclarecido, o que garante à nossa personagem o Domínio. Por seu gesto, ele indica a via cardíaca, fonte de devoção espiritual. As duas colunas simbolizam o Rigor e a Clemência sobre as quais a Sabedoria se apóia. Esses três princípios são os catalisadores de uma vocação de Ser. Este sábio, em seu olhar, parece querer nos dizer: “É preciso conhecer a si mesmo para se tornar um Homem de desejo…”.

Isso nos confronta com o Arcano XXI, O Mundo. A imagem nos mostra uma mulher nua no interior de uma coroa oval. Essa jovem mulher representa a alma humana no mundo, representado pela coroa, que sugere os limites da compreensão humana. A nudez é a imagem do despojamento de nossa personalidade. É ainda a imagem de um Arquétipo, o Anima-Animus, que na natureza humana desempenha o papel de mediador entre o Eu objetivo e o Eu subjetivo. É um aspecto de nossa interioridade que é preciso conhecer.

Se o homem deseja conhecer a si mesmo, ele necessita da luz do Espírito, que será portanto o Arcano XVIIII, O Sol. A imagem, por seu desenho, ilustra a luz de uma Consciência superior àquela da mente corporal representada pelas duas crianças de sexos diferentes de mãos dadas num gesto de união com aquilo que vem do alto. O sol é o símbolo do Self. Sua luz atravessa as zonas não luminosas do Eu, sem que com isso o seu brilho seja alterado, representado pelas gotas de orvalho. É de fato reconhecer que a luz do Espírito é o critério imperativo da sabedoria e dos sentimentos nobres. Entretanto, luz e sombra acompanham o homem, revelando o “claro-escuro” de sua natureza, o aspecto de sua dualidade.

Para ilustrar esse aspecto, se apresenta a nós o Arcano XVIII, A Lua. Se o Sol exprime o princípio masculino, a Lua exprime o princípio feminino. Ela é o “claro-escuro” do nosso Eu, que simboliza a água inerte da maré à qual se acrescenta uma lagosta que anda para trás, ilustrando a indecisão e os limites que nos impomos. Reencontramos os nossos instintos não canalizados sob a forma de dois cães que ladram. É aí que o homem encontra suas próprias oposições – seus próprios conflitos que ele deve moderar pela temperança. Eis o que o Arcano XIIII, A Temperança, ilustra bem: essa ida e volta da água efetuada pela mulher, que sugere que o homem fertiliza e fecunda a corrente de seus atos e de seus pensamentos a fim de moderar seus comportamentos. Esse fluxo salvador convida o homem a empreender um despertar espiritual da consciência que, como um eco, repercutirá numa esfera numinosa da personalidade: o Self. “O Self é o centro e o perímetro da natureza do homem”, dizia Carl Jung.

No Arcano XX, O Julgamento, constatamos que essa ressonância engendrará efeitos que provocarão a ruptura de uma psicologia muitas vezes restritiva. Escutemos aquilo que nos diz a concha do anjo que ressoa: “As causas que engendraram efeitos devem ser superadas a fim de que se esteja apto a assumir a Temperança – o equilíbrio de nossa natureza física, psíquica e espiritual”. É isso o que representam as três personagens em atitude de devoção e a outra personagem vista de costas no quadrado verde, símbolo de renovação: “É preciso renascer de cima!”.

Isso exige uma dinâmica refletida pelo Arcano VII, O Carro. O condutor pratica, por um julgamento são, uma arte de se governar empenhando-se em dominar os opostos de sua própria natureza: os dois cavalos. Apoiando-se sobre o Rigor e a Clemência, ele equilibra diligentemente sua dualidade, o que lhe vale o diadema e o cetro, emblemas da autoridade armada pela Temperança, pelo Julgamento e pela Sabedoria. Esse Arcano põe em ação uma dinâmica de progresso e de espiritualidade no mundo a serviço do homem e de si, pois nesse élan o homem é conduzido para si mesmo. “Ninguém pode dar se antes não tiver nada a oferecer…”.

Não é dito que “para ser sábio é preciso ser louco”? Apresenta-se então o Arcano sem número, O Mate, também chamado O Louco. Se ele é louco, é louco pela sabedoria que os homens não podem compreender. Ele também não tem nome, pois o homem que busca a ideação e o conhecimento de si está sozinho consigo mesmo, como o caroço na carne do fruto. Ele transformou sua razão numa intuição bem ordenada, e se ele por um lado sofre com as chacotas e mordidas na carne, não desiste contudo de seu caminho. Sua trouxa parece leve. Ele sabe que tudo aquilo que é fardo entrava qualquer possibilidade de se chegar à realidade fundamental de seu ser, que será revelada pelas operações de uma “Magia sacramental”.

Essa Magia é posta em ação pelo Arcano I, O Saltimbanco, também chamado O Mago. Em sua arte, ele nos demonstra o modo de combinar os elementos de forma a se conseguir um equilíbrio, o que evidencia um espírito sintético – estabelecer uma relação entre razão, saber e inteligência. O bastão que ele traz à mão é marcado por ideias construtivas e por uma ética que transcende a moral. Em sua ação, o Mago expande seus próprios limites (a retidão da mesa) no sentido de uma psicologia mais ampla e mais esclarecida, a qual é representada por seu chapéu na forma de um oito horizontal.

 Todo homem, se o desejar, pode pretender, a exemplo desse Mago, mover-se na direção de uma nova psicologia, que não carecerá nem de elevação e nem de espiritualidade. “O homem será inovador e espiritual. Isso depende dele…”. Ser-lhe-á necessário infalivelmente, por livre escolha, engajar-se numa busca que o conduzirá para a realização interior, que é o próprio da consciência desperta do homem. Desse homem de desejo serão exigidos muitos sacrifícios.

Isso nos conduz à presença do Arcano XII, O Enforcado. Graças à magia de inversão, o alto e o baixo são apenas dois aspectos de uma visão moldada ao formato das coisas desse mundo; o homem deve suplantar essas imposições que condicionam sua predestinação, pois é chamado a se elevar a uma visão global de sua própria natureza e do universo. A posição do crucificado simboliza um retorno à interioridade. É uma “entrada em si” e “uma saída de si”, realizando assim a ligação pela qual ele se constitui o “mediador” entre as oposições de sua própria natureza. A posição vertical é sinal de élan, e aí se trata de um élan de espiritualidade. Esse crucificado, na vertical e na horizontal, revela duas dinâmicas que se fundem num “Centro” representativo do Self, pelo ato de sacrifício, e exige a renúncia do ego, o que põe em evidência o Arcano XII, O Enforcado. Essas palavras do Mestre Eckart ilustram maravilhosamente o significado desse Arcano: “Quem quer vir a Deus, deve vir como um nada…”.


Conclusão

 O Tarô é um autêntico Livro Alquímico. Os Sábios e Magos empenharam- se para torná-lo acessível aos buscadores de axiomas e se preocuparam em incluir nele uma gnose hermética, ou seja, um conhecimento das verdades essenciais da renascença espiritual do homem. Especificamos que o Tarô não é um mero jogo como os outros. É um poema universal.

 O procedimento que é apresentado não é evidentemente exaustivo – é apenas um modelo – que terá por mérito ter ousado oferecer a todo buscador de axiomas uma curiosidade sã que permite, intuitivamente, despertar a dinâmica de uma psicologia que objetiva, acionando os Arcanos, descobrir em si o fio condutor que estabelece a relação do interior das coisas para atingir a nossa Realidade.

Quando fizeres do interior das coisas o exterior, e do exterior o interior, realizarás teu Reino. E se te tornares o gérmen vivo desse Reino, atrairás aqueles que, como tu, procuram a Verdade. Nada há escondido que não possa ser revelado”.

(*) Louis Caillaud, FRC é membro da Universidade Rose-Croix Internacional – URCI.


FONTE:
CAILLAUD, Louis. O tarô psicológico e iniciático. In O Rosacruz. outono 2014, n. 288. Curitiba: AMORC-GLP, 2014. p. 38-47.

























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