domingo, 17 de abril de 2016

O SÁBIO








Por Ibn Sina, (Avicena, 980 - 1037)

O ascetismo, em outrem que não o Sábio, é uma espécie de operação comercial, como se fossem comprados com os bens deste mundo os da outra vida. No Sábio ele é ao mesmo tempo uma abstenção do que distrairia da Verdade íntima do seu ser e o desprezo por tudo que não seja a. Verdade.

A piedade, em outrem que não o Sábio, é certa operação comercial, como se a pessoa trabalhasse nesta vida por um salário a receber na outra. Mas, no Sábio, ela é um exercício destinado a retirar pelo hábito do ambiente do erro suas preocupações e as faculdades estimativas e imaginativas de sua alma, para situá-las no ambiente da Verdade. À vantagem que é atribuída aos Sábios se acresce do fato de que eles voltam seu rosto para a Sabedoria. Contempla então a Sabedoria, depois a Misericórdia e o Bem. Assim fazendo terás um vislumbre de um ambiente cujas maravilhas te deslumbrarão. Cumpre bem isto e caminha em retidão!

O Sábio quer a Verdade Primeira somente por ela mesma. Nada existe que ele prefira a este profundo Conhecimento e ele presta culto somente a ele, por um lado porque ele merece adoração e, por outro lado, porque a adoração é uma relação cheia de nobreza com a Verdade; mas não por desejo ardente ou por medo, embora estas duas coisas existam. Com efeito, se o que desejamos ou tememos é o motivo da nossa busca da Verdade, aí está o que buscamos; e então a Verdade não é mais o fim e sim o meto que conduz a uma outra coisa como fim que não a própria Verdade.

O dedicar-se a algo com que não se tem de ocupar e contar com a parte obediente da alma é uma fraqueza. O jactar-se do corpo por servir de veículo para sua própria essência, na medida em que ela pertença a ele, embora esse veículo seja real é um erro orgulhoso. Mas dirigir-se para o Verdadeiro é a Salvação.

Aquele que escolhe o Conhecimento místico por ele mesmo professa o dualismo. Mas o que possui o Conhecimento e se comporta como se não o tivesse encontrado, sem se deter nele e sem se interessar por sua utilidade, este está mergulhado no abismo da ignorância.

O Sábio é alegre, bem humorado, sorridente, honrando o pequeno acima de sua modesta situação assim como honra o grande. Ele se alegra tanto com o homem obscuro quanto com a personalidade célebre. Como não seria ele alegre quando se rejubila com a Verdade e com todas as coisas, pois em todas as coisas vê a Verdade? E como não colocaria todas as pessoas em pé de igualdade, se todas são iguais, merecedoras da Misericórdia Divina mesmo que se ocupem com futilidades?


O Sábio é corajoso. Como não o seria se está longe de temer a morte e é generoso? Como não o seria se está longe de amar o que é falso e é magnânimo? Como não o seria se ele próprio é grande demais para ser levado ao mal pelo erro dos homens e esquece os rancores? Como não o seria se o seu pensamento está ocupado com a Verdade?

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