O título é de autoria
do editor deste blog, tendo em vista as informações contidas no texto a seguir,
extraído de uma publicação mais extensa.
Por
SGCMRAB
Para
entender a grande divisão da Maçonaria em Graus Simbólicos e Altos Graus, é
preciso compreender o que ocorria nas Ilhas Britânicas e na França, nos séculos
XVII e XVIII. A Inglaterra e seu vizinho do Norte, a Escócia, tinham uma
convivência turbulenta para dizer o mínimo. A Escócia, desde há muito, era
aliada tradicional da França, por sua vez inimiga tradicional da Inglaterra.
TUDOR
- Elizabeth I (1533-1603), morre sem deixar herdeiros
O
cenário político
Em
1603, Elizabeth I, Rainha da Inglaterra, indicou o filho de sua grande rival,
Mary Stuart, rainha da Escócia, como seu sucessor. James I, que era Rei da
Escócia como James VI, passa a governar também a Inglaterra e a Irlanda, dando
início à dinastia dos Stuarts. Foi sucedido por seu filho, Charles I.
STUART
- James I (1566-1625), união das Coroas da Inglaterra e Escócia
Embora
Inglaterra e Escócia fossem protestantes. Charles casou-se com uma princesa
francesa e católica, Henrietta Maria. Influenciado pelo poder real absoluto na
França, tentou impor um governo sem Parlamento. Acabou por levar seus súditos a
uma série de conflitos fratricidas (1639-1660).
STUART
- Charles I (1600-1649), tenta impor o “direito divino” dos reis; a rainha e os
príncipes Stuart seguem para o exílio
Perdeu
a luta e foi executado em 1649. Sua Rainha e seu filho, o Príncipe Charles,
exilaram-se na França, enquanto a Inglaterra tornava-se uma república, dirigida
com mão de ferro por Oliver Cromwell. Muitas foram as tentativas de reconduzir
os Stuarts ao trono britânico no período de Cromwell, mas todas fracassaram.
STUART
- Charles II (1630-1685), morre sem deixar herdeiros legítimos
Em
1660, cansado da intolerância religiosa e da ditadura republicana puritana, o
povo traz a monarquia de volta à Inglaterra. O Príncipe exilado assume o trono
como Charles II e tenta reconciliar diferenças políticas e religiosas. Esse é
justamente o período em que emerge das sombras a Franco-Maçonaria.
STUART
- James II (1633-1701), irmão de Charles; tenta impor o catolicismo na
Grã-Bretanha; segue para o exílio na França.
Entretanto,
Charles, apesar dos muitos filhos naturais, morre sem deixar um herdeiro ao
trono. Foi sucedido por seu irmão, James II, que não tinha o seu tato. James
convertera-se ao catolicismo. Embora desagradando ingleses e escoceses, essa
conversão não teria maiores consequências se, em 1688, não tivesse nascido um
filho homem, James Edward Stewart.
STUART
- Mary (1662-1694) e William (1650-1702), morrem sem deixar herdeiros
Um
acontecimento na França veio reacender entre os ingleses a antipatia pelo
catolicismo. Quase cem anos antes, em 1598, o Rei Henri IV havia posto fim às
terríveis lutas político-religiosas entre católicos e protestantes, que enlutaram
a França do século XVI. ao promulgar o Edito de Nantes, Henri garantia
liberdades civis e de culto aos protestantes. Mas, em 1685, Louis XIV, o Rei
Sol, figura máxima do absolutismo, revogou o Edito de Nantes.
STUART
- Anne (1665-1714), morre sem deixar herdeiros
A
liberdade religiosa chegava ao fim na França católica, onde também já não mais
existia liberdade política.
James
Edward (1688-1766), Velho Pretendente
Charles
Edward (1720-1788), Jovem Pretendente
Ingleses
e escoceses, fartos de lutas religiosas, passaram a considerar inaceitável uma
sucessão católica ao trono britânico, uma ameaça real às suas próprias
liberdades. O trono foi então oferecido à filha de James II, Mary, casada com
William, chefe de estado da Holanda. James foi praticamente deposto e exilou-se
na França. Infelizmente, William e Mary faleceram sem deixar herdeiros. A irmã
de Mary, a Rainha Anne, que a sucedeu, também não deixou herdeiros.
HANOVER
- George I (1660-1727)
O
trono foi então oferecido a um Príncipe alemão, bisneto de James I, que iniciou
a dinastia de Hanover no trono britânico, sob o nome de George I. Mas os
Stuarts tinham muitos partidários dos dois lados do canal. Até a derrota final
dos stuartistas ou jacobitas (de Jacobus,
forma latina de James), na batalha de Culloden, em 1745, o movimento de
restauração da dinastia Stuart ameaçou seriamente a estabilidade da dinastia
Hanover.
HANOVER
- George II (1683-1760)
A
Maioria dos Maçons ignora, mas é nessa rivalidade entre as duas dinastias
rivais, Hanover e Stuart, que serão desenhados os Graus Simbólicos e os Altos
Graus Maçônicos.
HANOVER
- George III (1738-1820)
HANOVER
- George IV (1762-1830)
O Cenário Maçônico
Londres,
após o grande incêndio de 1666, teve que ser reconstruída. Mas de alvenaria, não
mais de madeira e estuque. A grande demanda de pedreiros fez crescer o status e
despertou o interesse do público em geral pelo ofício.
“O
Grande Incêndio de Londres”, de Lieve Verschuier
Ao
mesmo tempo, o clima de distensão, abertura e tolerância atraiu imigração
seleta, grandes inteligências, incapazes de aceitar a opressão, como os
huguenotes franceses. E permitiu que fossem criadas agremiações onde podiam
reunir-se as cabeças pensantes, muitas delas envolvidas no processo londrino de
reconstrução geral. Talvez somente na Inglaterra daquela época seria tolerado
que um grupo se reunisse a portas fechadas. Em qualquer outro lugar, isso
despertaria suspeitas das autoridades. A Royal Society, os clubes, as
sociedades e a Franco-Maçonaria afloraram justamente nessa época.
Brasão
de armas da Royal Society
Nada
mais natural que os Maçons de então fossem dedicados à dinastia Stuart.
Brasão
de armas da Grande Loja Unida da Inglaterra
Como
vimos, os Stuarts foram afastados do trono em 1688. Bons monarcas ou não, o
fato é que eles ganharam uma aura romântica no exílio.
Em
contrapartida, o novo Rei britânico, George I, era insípido, grosseiro e
impopular. Jamais falou inglês. Seus descendentes foram insípidos e
impopulares, quando não escandalosos.
Bem,
dirá você, mas o que tem isso tudo a ver com a Maçonaria? Aqui é preciso levar
um fator muito importante em consideração.
Nestes
tempos de comunicação fácil, não avaliamos o papel das Lojas como centros de
irradiação de ideias. Mas as autoridades da época sabiam muito bem. As Lojas e
os Maçons, com seus juramentos e segredos, pareciam uma ameaça potencial
intolerável. Como aceitar uma sociedade secreta, sabidamente composta por
partidários do ancien regime e
dispostos a reconduzir ao trono a dinastia Stuart?
FONTE: SGCMRAB. Real Arco – atualidades & reminiscências. Rio de Janeiro: SGCMRAB, 2005.
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