sábado, 19 de janeiro de 2013

ORIGEM DA MAÇONARIA ESPECULATIVA ANGLÓFONA - PARTE 01


O título é de autoria do editor deste blog, tendo em vista as informações contidas no texto a seguir, extraído de uma publicação mais extensa.


Por SGCMRAB

  
Para entender a grande divisão da Maçonaria em Graus Simbólicos e Altos Graus, é preciso compreender o que ocorria nas Ilhas Britânicas e na França, nos séculos XVII e XVIII. A Inglaterra e seu vizinho do Norte, a Escócia, tinham uma convivência turbulenta para dizer o mínimo. A Escócia, desde há muito, era aliada tradicional da França, por sua vez inimiga tradicional da Inglaterra.


 TUDOR - Elizabeth I (1533-1603), morre sem deixar herdeiros



O cenário político

Em 1603, Elizabeth I, Rainha da Inglaterra, indicou o filho de sua grande rival, Mary Stuart, rainha da Escócia, como seu sucessor. James I, que era Rei da Escócia como James VI, passa a governar também a Inglaterra e a Irlanda, dando início à dinastia dos Stuarts. Foi sucedido por seu filho, Charles I.


STUART - James I (1566-1625), união das Coroas da Inglaterra e Escócia



Embora Inglaterra e Escócia fossem protestantes. Charles casou-se com uma princesa francesa e católica, Henrietta Maria. Influenciado pelo poder real absoluto na França, tentou impor um governo sem Parlamento. Acabou por levar seus súditos a uma série de conflitos fratricidas (1639-1660).

STUART - Charles I (1600-1649), tenta impor o “direito divino” dos reis; a rainha e os príncipes Stuart seguem para o exílio


Perdeu a luta e foi executado em 1649. Sua Rainha e seu filho, o Príncipe Charles, exilaram-se na França, enquanto a Inglaterra tornava-se uma república, dirigida com mão de ferro por Oliver Cromwell. Muitas foram as tentativas de reconduzir os Stuarts ao trono britânico no período de Cromwell, mas todas fracassaram.

STUART - Charles II (1630-1685), morre sem deixar herdeiros legítimos


Em 1660, cansado da intolerância religiosa e da ditadura republicana puritana, o povo traz a monarquia de volta à Inglaterra. O Príncipe exilado assume o trono como Charles II e tenta reconciliar diferenças políticas e religiosas. Esse é justamente o período em que emerge das sombras a Franco-Maçonaria. 

STUART - James II (1633-1701), irmão de Charles; tenta impor o catolicismo na Grã-Bretanha; segue para o exílio na França.

Entretanto, Charles, apesar dos muitos filhos naturais, morre sem deixar um herdeiro ao trono. Foi sucedido por seu irmão, James II, que não tinha o seu tato. James convertera-se ao catolicismo. Embora desagradando ingleses e escoceses, essa conversão não teria maiores consequências se, em 1688, não tivesse nascido um filho homem, James Edward Stewart.

STUART - Mary (1662-1694) e William (1650-1702), morrem sem deixar herdeiros


Um acontecimento na França veio reacender entre os ingleses a antipatia pelo catolicismo. Quase cem anos antes, em 1598, o Rei Henri IV havia posto fim às terríveis lutas político-religiosas entre católicos e protestantes, que enlutaram a França do século XVI. ao promulgar o Edito de Nantes, Henri garantia liberdades civis e de culto aos protestantes. Mas, em 1685, Louis XIV, o Rei Sol, figura máxima do absolutismo, revogou o Edito de Nantes.

STUART - Anne (1665-1714), morre sem deixar herdeiros


A liberdade religiosa chegava ao fim na França católica, onde também já não mais existia liberdade política.


James Edward (1688-1766), Velho Pretendente

Charles Edward (1720-1788), Jovem Pretendente

Ingleses e escoceses, fartos de lutas religiosas, passaram a considerar inaceitável uma sucessão católica ao trono britânico, uma ameaça real às suas próprias liberdades. O trono foi então oferecido à filha de James II, Mary, casada com William, chefe de estado da Holanda. James foi praticamente deposto e exilou-se na França. Infelizmente, William e Mary faleceram sem deixar herdeiros. A irmã de Mary, a Rainha Anne, que a sucedeu, também não deixou herdeiros.

HANOVER - George I (1660-1727)


O trono foi então oferecido a um Príncipe alemão, bisneto de James I, que iniciou a dinastia de Hanover no trono britânico, sob o nome de George I. Mas os Stuarts tinham muitos partidários dos dois lados do canal. Até a derrota final dos stuartistas ou jacobitas (de Jacobus, forma latina de James), na batalha de Culloden, em 1745, o movimento de restauração da dinastia Stuart ameaçou seriamente a estabilidade da dinastia Hanover.

HANOVER - George II (1683-1760)


A Maioria dos Maçons ignora, mas é nessa rivalidade entre as duas dinastias rivais, Hanover e Stuart, que serão desenhados os Graus Simbólicos e os Altos Graus Maçônicos.


HANOVER - George III (1738-1820)

 HANOVER - George IV (1762-1830)



O Cenário Maçônico

Londres, após o grande incêndio de 1666, teve que ser reconstruída. Mas de alvenaria, não mais de madeira e estuque. A grande demanda de pedreiros fez crescer o status e despertou o interesse do público em geral pelo ofício.

“O Grande Incêndio de Londres”, de Lieve Verschuier


Ao mesmo tempo, o clima de distensão, abertura e tolerância atraiu imigração seleta, grandes inteligências, incapazes de aceitar a opressão, como os huguenotes franceses. E permitiu que fossem criadas agremiações onde podiam reunir-se as cabeças pensantes, muitas delas envolvidas no processo londrino de reconstrução geral. Talvez somente na Inglaterra daquela época seria tolerado que um grupo se reunisse a portas fechadas. Em qualquer outro lugar, isso despertaria suspeitas das autoridades. A Royal Society, os clubes, as sociedades e a Franco-Maçonaria afloraram justamente nessa época.

Brasão de armas da Royal Society


Nada mais natural que os Maçons de então fossem dedicados à dinastia Stuart.

Brasão de armas da Grande Loja Unida da Inglaterra


Como vimos, os Stuarts foram afastados do trono em 1688. Bons monarcas ou não, o fato é que eles ganharam uma aura romântica no exílio.

Em contrapartida, o novo Rei britânico, George I, era insípido, grosseiro e impopular. Jamais falou inglês. Seus descendentes foram insípidos e impopulares, quando não escandalosos.

Bem, dirá você, mas o que tem isso tudo a ver com a Maçonaria? Aqui é preciso levar um fator muito importante em consideração.

Nestes tempos de comunicação fácil, não avaliamos o papel das Lojas como centros de irradiação de ideias. Mas as autoridades da época sabiam muito bem. As Lojas e os Maçons, com seus juramentos e segredos, pareciam uma ameaça potencial intolerável. Como aceitar uma sociedade secreta, sabidamente composta por partidários do ancien regime e dispostos a reconduzir ao trono a dinastia Stuart?


FONTE: SGCMRAB. Real Arco – atualidades & reminiscências. Rio de Janeiro: SGCMRAB, 2005.

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