Por João Florindo Batista Segundo
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por escopo explicar o
que é interdisciplinaridade, tomando por base duas obras, a saber, Integração
e interdisciplinaridade no ensino brasileiro – efetividade ou ideologia (de
Ivani Catarina Arantes Fazenda) e Práticas Interdisciplinares na escola
(organizada por Ivani Catarina Arantes Fazenda).
Da primeira, nos deteremos sobre o primeiro
capítulo, Gênese
e formação do conceito de interdisciplinaridade, onde a
autora enfoca as divergências entre destacados pesquisadores quanto ao signo
(nome) e atributos (características, explicar o que é) das terminologias
correlatas à interdisciplinaridade, bem como expõe as conclusões destes no que
toca à finalidade desta que alguns ousam denominar ciência das ciências.
Na segunda seção, analisaremos os textos escritos por um grupo de então
alunos sob a orientação de Ivani Fazenda, ao longo de um ano de investigações
quanto à definição de interdisciplinaridade e sua aplicabilidade.
1. INTERDISCIPLINARIDADE
EM “INTEGRAÇÃO E INTERDISCIPLINARIDADE NO ENSINO BRASILEIRO”
De acordo com Fazenda, “interdisciplinaridade” é
um neologismo que ainda carece de uma definição conclusiva, ao qual são dados
múltiplos significados. Todavia, há um princípio a ser observado no que tange
ao tema: a característica da necessária interação e troca de informações entre
os especialistas e de um grau aguçado de integração das disciplinas no âmbito
de uma pesquisa.
Veja-se então que embora o significado do termo
não esteja plenamente definido, a interdisciplinaridade remonta há indagações
de longa data.
Ao estudar a história da filosofia, Georges
Gusdorf indica que desde os sofistas e romanos até hoje há traços na cultura de
aprimoramento das pesquisas interdisciplinares, destacando as épocas em que
houve maio ênfase, a exemplo do século XVIII, quando os enciclopedistas
buscaram transcender do Múltiplo ao Uno.
Todavia, no século XIX, com o boom da
industrialização (que continua até hoje), surge a especialização das tarefas e
das pesquisas, com a fragmentação dos saberes.
Hoje, a
civilização vive a crise da busca do saber unificado e do restabelecimento da
ordem perdida pela dissociação da vida do homem da realidade que o cerca.
1.1 CONCEPÇÕES ATUAIS DE INTERDISCIPLINARIDADE
Unificar os conhecimentos e enfrentar os
resultados disso tem sido objeto de estudo internacionalmente. Vejamos algumas
abalizadas produções a esse respeito.
O
relatório do CERI/HE/CP/69.01, elaborado em 1990 e congregando peritos da Alemanha,
França e Grã-Bretanha concluiu que há preconceito quanto à integração,
resultando na falta de precisão terminológica e impossibilitando a plena
interdisciplinaridade nas universidades.
Em 1970, um grupo de especialistas analisou o
relatório supracitado e as pesquisas de Guy Michaud e apresentou as seguintes
definições de termos muito citados, mas cujo significado por vezes é relegado:
Disciplina
—
conjunto específico de conhecimentos com suas próprias características sobre o
plano do ensino, da formação dos mecanismos, dos métodos e das matérias.
Multidisciplina — justaposição
de disciplinas diversas, desprovidas de relação aparente entre elas.
Pluridisciplina —
Justaposição de disciplinas mais ou menos vizinhas nos domínios do
conhecimento.
Interdisciplina —
Interação existente entre duas ou mais disciplinas. Passa pela comunicação de
ideias e pode chegar à integração dos conceitos diretores da epistemologia, da
terminologia, da metodologia, dos procedimentos, dos dados etc. Receber
formação em diferentes domínios do conhecimento é que habilita um pesquisador a
compor um grupo interdisciplinar.
Transdisciplina —
Resultado de uma axiomática comum a um conjunto de disciplinas (ex.
Antropologia, considerada “a ciência do homem e de suas obras”, segundo a
definição de Linton).
Dando continuidade a esses estudos, em 1970, em
Nice, realizou-se um seminário com 21 representantes de países-membros da OCDE,
que entre outras metas, buscou esclarecer os conceitos de pluri, inter e
transdisciplinaridade. Do resultado deste trabalho, pode-se traçar o quadro a
seguir de correspondência terminológica:
G. MICHAUD |
H. HECKAUSEN |
M. BOISOT |
E. JANTSCH. |
Disciplinaridade |
Disciplinaridade |
– |
Multidisciplinaridade |
Multidisciplinaridade |
Interdisciplinaridade
heterogênea Pseudointerdisciplinaridade |
Interdisciplinaridade
restritiva |
Pluridisciplinaridade |
Interdisciplinaridade; Interdisciplinaridade
linear; cruzada, auxiliar e estrutural |
Interdisciplinaridade
auxiliar Interdisciplinaridade
complementar Interdisciplinaridade
unificadora |
Interdisciplinaridade
linear Interdisciplinaridade
estrutural |
Disciplinaridade cruzada |
Transdisciplinaridade |
– |
– |
Transdisciplinaridade |
Vez que há diferentes nomes para um mesmo
atributo e como cada pesquisador o analisou sucintamente, mister se faz
realizar a seguir uma análise sintética das conclusões às quais chegaram.
1.1.1.
A Análise
empírica de Heinz Heckhausen
Segundo Heinz Heckhausen, a
interdisciplinaridade é a ciência das ciências. Quanto à disciplina, ele a
define como “Exploração científica especializada de um domínio determinado e
homogêneo de estudos, exploração que consiste em fazer surgir novos
conhecimentos que se substituem a outros mais antigos”.
Para ele, o exercício de uma disciplina resulta
na reformulação contínua dos conhecimentos adquiridos em determinado domínio e
esta necessita de sete critérios (etapas anteriores à interdisciplinaridade), a
saber:
a) domínio
material — compreende a série de objetos de que se ocupa uma disciplina.
b)
domínio de estudos — ex: comportamento constitui o domínio de estudos da
psicologia;
c) nível
de integração teórico — ex.: em psicologia seria o comportamento do
organismo intacto (ou personalidade) enquanto sistema;
d) métodos
— toda disciplina possui seus arranjos metodológicos próprios;
e) instrumentos
de análise;
f) aplicações
práticas;
g) contingências
históricas — há obstáculos e contingências históricas que aceleram ou retardam
o desenvolvimento das disciplinas.
Propõe cinco tipos de relações
interdisciplinares:
a) Interdisciplinaridade
Heterogênea — dedicada à combinação de programas diferentemente dosados, cujos
participantes necessitam adquirir uma visão geral não aprofundada, mas
superficial. Ex.: professores primários ou assistentes sociais.
b) Pseudointerdisciplinaridade
— a interdisciplinaridade intrínseca poderia estabelecer-se entre as
disciplinas que recorrem aos mesmos instrumentos de análise. Ex.: uso comum da
matemática.
c) Interdisciplinaridade
Auxiliar — utilização de métodos de outras disciplinas, num nível de
integração ao menos teórico.
d) Interdisciplinaridade
Complementar — certas disciplinas aparecem sob os mesmos domínios
materiais, juntam-se parcialmente, criando assim relações complementares entre
seus domínios de estudo. Exemplo: Psicobiologia, Psicofisiologia.
e) Interdisciplinaridade
Unificadora — advém de uma coerência estreita dos domínios de estudo de
duas disciplinas, com integração teórica e metodológica. Ex.: biologia + física
= biofísica.
Todavia, ao se converter a interdisciplinaridade
na ciência das ciências ela se tornaria uma transdisciplinaridade e uma nova
ciência, com as ambições e preconceitos de ciência tradicional.
Na verdade, com a interdisciplinaridade não se
busca anular a contribuição de cada ciência em particular, mas uma atitude que
venha a impedir que se estabeleça a supremacia de determinada ciência. Deve ser
uma lógica da descoberta, uma abertura recíproca, uma comunicação entre os
domínios do saber e não um formalismo que anula todas as significações.
Seguindo Heckhausen, quanto à interdisciplinaridade
auxiliar, Luiz Pereira critica o estilo de pensamento pedagógico dos
brasileiros, que lhe é insuficiente e inadequado, da mesma forma que salienta a
importância do estilo de pensamento dos cientistas sociais.
1.1.2 A
Análise formal de Boisot
Para Boisot Disciplina é considerada
Estrutura…, “aquilo que designa um sistema no qual se reconhece uma organização
e no qual a soma de suas partes não coincide com sua totalidade”.
Igualmente uma subdisciplina já é em si uma
disciplina…, “assim como um subconjunto é um conjunto”.
Boisot distingue três tipos de
interdisciplinaridade:
a) Interdisciplinaridade
Linear — em que um conjunto de leis de uma disciplina pode ser aplicada com
sucesso a outras (corresponderia à interdisciplinaridade auxiliar em
Heckhausen). Ex.: a equação de propagação de D’Alembert aplicada à acústica,
eletromagnetismo e mecânica ondulatória.
b) Interdisciplinaridade
Estrutural — a interação de duas ou mais disciplinas resulta na criação de
um campo de leis novas (corresponderia à interdisciplinaridade unificadora em
Heckhausen). Ex.: o eletromagnetismo, que abrange a eletrostática, o magnetismo
e as equações de Maxwell (prolongamento da teoria da relatividade de Einsten).
c) Interdisciplinaridade
Restritiva — em dado projeto, cada disciplina delimita seu raio de ação,
impondo certas restrições ou barreiras à interação com as demais (corresponderia
à pseudointerdisciplinaridade em Heckhausen). Ex.: num projeto sobre urbanismo
podem ser ouvidos psicólogos, sociólogos, especialistas em transportes,
arquitetos, assim como o economista, que emitirão restrições que delimitarão o espaço
em que o projeto de pesquisa ocorrerá.
Para Boisot, no âmbito da interdisciplinaridade
linear a linguagem a ser empregada pode ser mais simples, mas, ao se atingir o
nível da interdisciplinaridade estrutural, surge a exigência de uma linguagem
específica para exprimir as leis e fenômenos estudados.
Como Gusdorf, quando a linguagem converte-se num
fim em si, a ciência do homem passa a existir sem o homem; porém, há acontecimentos
imprevisíveis que põe por terra as tentativas de substituição do homem por
autômatos lógico-matemáticos, simuladores da atividade intelectual.
Boisot entende que a interdisciplinaridade é “o
instrumento epistemológico capaz de alargar os limites da formalização
lógico-matemática”.
1.1.3.
A Análise socioantropológica de Jantsch
Jantsch questiona a possibilidade de existirem
relações estruturais independentes de uma finalidade humana e social. Para ele,
a interdisciplinaridade supõe a organização da ciência visando uma finalidade (contrária
à colocação anterior que pressupõe uma estrutura desumanizada da realidade);
assim, as interações dinâmicas têm por fim influenciar o desenvolvimento da
sociedade.
Se o ensino tem por objeto dar à sociedade a
capacidade de autorrenovação, então este é o mais relevante agente de renovação,
para o que se necessita da organização das disciplinas escolares de modo
particular em busca da inovação.
Exemplo: ao se submeter um determinado sistema
a uma noção de progresso (inerente ao pensamento cristão), ter-se-á um sistema
de ensino e inovação inteiramente diferente de outro, resultante de uma noção
de equilíbrio ecológico ou de desenvolvimento cíclico (inerentes ao budismo e
ao hinduísmo).
Jantsch pressupõe a necessidade de coordenação
e cooperação entre as disciplinas para efetivação da interdisciplinaridade e introduz
uma etapa intermediária, que denomina “disciplinaridade cruzada”, ou seja, a
reinterpretação dos conceitos e objetivos das disciplinas à luz do objetivo
específico da disciplina em questão.
Ele entende que interdisciplinaridade é “[…]
axiomática comum a um grupo de disciplinas conexas, definida ao nível ou
subnível hierárquico imediatamente superior, o que introduz uma noção de
finalidade”.
E a disciplinaridade cruzada “[…] é a
axiomática de uma só disciplina, imposta a outras disciplinas do mesmo nível
hierárquico.”
Jantschh propõe uma diferenciação entre pluri,
multi, inter e transdisciplinaridade que ratifica e completa a de Guy Michaud.
a) Multidisciplinaridade
— conjunto de disciplinas que se propõem simultaneamente, mas sem expor as
relações que possam existir entre si; para sistema de um só nível e de
objetivos múltiplos, mas sem cooperação.
b) Pluridisciplinaridade
— justaposição de diversas disciplinas, situadas geralmente no mesmo nível
hierárquico e agrupadas de modo que façam aparecer as relações existentes entre
elas; para sistema de um só nível e de objetivos múltiplos, onde há cooperação,
mas não coordenação.
c) Interdisciplinaridade
— destina-se a um sistema de dois níveis e de objetivos múltiplos onde há
coordenação oriunda do nível superior.
d) Transdisciplinaridade
— coordenação de todas as disciplinas e interdisciplinas do sistema de ensino
inovado sobre a base de uma axiomática geral; para um sistema de nível e
objetivos múltiplos — há coordenação com vistas a uma finalidade comum dos sistemas.
Ao propor uma modificação na atitude
epistemológica de compreensão do conhecimento, Jantsch enfoca a necessidade de
uma finalidade na organização das ciências, iniciando um novo discurso
pedagógico, que influi até na definição da interdisciplinaridade: como meio de autorrenovação
e como forma de cooperação e coordenação crescente entre as disciplinas.
2.
Em Práticas Interdisciplinares na Escola,
Fazenda e um grupo de então alunos da PUC-SP (hoje professores em diversas
Universidades), apresentam o resultado do estudo realizado por eles ao longo de
um ano sobre a teoria da interdisciplinaridade, ao entrelaçá-la com as práticas
da sala de aula. Foi editada pela Cortez, em 2001 e demonstra que um projeto
interdisciplinar requer uma revisita ao nosso “interior” a fim de que
compreendamos momentos pessoais e profissionais que nos marcaram profundamente
e intervêm na maneira de ensinar e aprender. Para a organizadora da obra “perceber-se
interdisciplinar é o primeiro movimento em direção a um ‘fazer’
interdisciplinar [...]”.
Na coletânea, a Profª Fazenda apresenta
o texto de sua lavra “Interdisciplinaridade: definição, projeto, pesquisa e
busca reflexibilizar os aspectos epistemológicos e práticos que cingem a
construção de um projeto interdisciplinar”. Revela que tal pesquisa vem se
expandindo no meio acadêmico, principalmente a partir dos anos 1990. Destaca,
contudo, que há incompreensões quanto ao tema, fazendo com que apesar de
comentada por muitos, a interdisciplinaridade seja praticada por uma minoria. Deve
haver reflexão para superar qualquer insegurança, invocando o diálogo com as
outras áreas do saber e gerando parceria entre nossas dúvidas e certezas com as
de outros atores. Aí sim ocorrerá a interdisciplinaridade.
Fazenda ressalta ainda que há outras
dificuldades a vencer (de ordem material, pessoal, institucional e gnosiológica),
o que requer perante as formas de saber e de se fazer pesquisa, uma postura
marcada pela ousadia.
No texto “Ciência
e Interdisciplinaridade”, Maria
Elisa de M. P. Ferreira trata da relação entre as disciplinas e como é o
pensar ciência hoje e como foi no passado. Destaca ainda que a civilização contemporânea
vê a natureza como algo distinto do indivíduo, que erroneamente se considera
independente dela. Ressalta então a manutenção da interconexão vida-natureza.
Questiona ainda a dificuldade de renovar a maneira de pensar os saberes,
cabendo ao leitor diante desse quadro assumir uma postura interdisciplinar se
quiser alcançar o pleno entendimento do conhecimento ao seu redor.
Ismael
Assumpção, em “Interdisciplinaridade:
uma tentativa de Compreensão do fenômeno” busca explicar o que é interdisciplinaridade,
indo à matriz etimológica da palavra: o prefixo “inter”, o sufixo “dade” e
“disciplina”.
Em “Aspectos
da História desse Livro”, Dirce
Encarnación Tavares apresenta uma sinopse do desenvolvimento do estudo
realizado pelo grupo a respeito da matéria. Relata a busca utópica de ser
interdisciplinar e alega que a teoria “pura” e dissociada da prática empobrece
e impede a visão do todo.
Em “Introduzindo
a noção de Interdisciplinaridade”, Sandra
Lúcia Ferreira afirma que há muita confusão que cerceia o pleno
entendimento da palavra e sua aplicação prática. Para ela, a interdisciplinaridade
é impossível de ser definida como apenas uma.
De Leci
S. de Moura e Dias vem o texto “Interdisciplinaridade:
em tempo de diálogo”, no qual versa sobre a prática inicial (funcionalista)
e a transformada (dialética/interdisciplinar). Destaca que não basta ser
“ator”, mas que é preciso sentir-se “autor” no momento da escrita, da práxis e
da pesquisa.
Em “Uma
experiência Interdisciplinar”, Ruy
C. do Espírito Santo revela que conseguiu aproximar sua prática das
leituras por ele realizadas. Enquanto professor, permitiu inserir a
interdisciplinaridade em sala de aula, através de um trabalho sobre a
identidade dos alunos, com o trabalho da História sobre o hoje/agora e por
trazer à baila a utopia. Os alunos constataram que mesmo no mais ínfimo dos
seres está presente o caos aparente que se expõe ante as mudanças que se processam
no viver.
Já Maria
de Los Dolores J. Peña, em “Interdisciplinaridade:
questão de Atitude” demonstra a alegria de quem se descobre
interdisciplinar e assume tal atitude. Ela relata sua trajetória de
professora/pesquisadora, que apreendeu a lidar e a perceber essas questões em
sua prática. As reflexões de Peña iniciam nas dificuldades iniciais encontradas
e vão até as benesses da chegada a novas descobertas, vez que o aprendizado não
tem fim.
Em “A
Competência do Educador Popular e a Interdisciplinaridade do Conhecimento”,
Derly Barbosa narra uma experiência
vivenciada em Osasco, SP, com a Educação de Jovens e Adultos (EJA), no âmbito das
disciplinas de História e Geografia. De início, houve uma intenção e o desejo
interdisciplinar da parte dela, mas que se deparou com enormes dificuldades até
dar início à ação. Aí surgiram outros empecilhos, principalmente os de ordem
política (ser aceito pelo grupo) e os de competência. Todavia, Barbosa não
desistiu e de acordo com ele “[...] ser interdisciplinar, hoje, requer uma
atitude política e pedagógica que demanda coragem, despojamento e muita
dedicação”. Mister se fez esclarecer da possibilidade de se fazer
diferente e envolver a todos com as novas formas de pensar e fazer as referidas
disciplinas. Atribuir sentido e significado foram necessários, além de relacionar
essas aprendizagens com o conhecimento do dia-a-dia, dos quais emanam as
possibilidades de efetiva compreensão.
Com “Interdisciplinaridade,
competência e escola pública”, Laurizete
F. Passos e Maria de Fátima Chassot discutem e habitam esses conceitos
através do relato de um estudo de caso em pesquisa coordenada pelas professoras
Ivani Fazenda e Marli André, da qual ambas eram membros. Utilizam-se das horas
de observações sobre uma professora, em sua classe e com seus alunos, visando
relacionar o observado com o vivido. O enfoque foi a atuação profissional da professora
Luciana, quem emprega o equilíbrio como fio condutor de sua práxis. Uma prática
que emana envolvimento, competência e a solidão de muitos professores que se
atrevem a ver diferente. Luciana é reveladora dessa força que a cada dia leva o
professor inquieto a perceber o porquê é educador em meio a tantas adversidades.
Marisa
Del Cioppo Elias e Marina Graziela Feldmann, em “A busca da Interdisciplinaridade e
Competência nas Disciplinas dos cursos de Pedagogia” entendem que o
referido curso tem por fim formar educadores “competentes”, com saberes
sistematizados, capazes de criar uma metodologia própria para construir esses
conhecimentos. Tal meta enseja novos meios de aceitar e ministrar tal processo,
ficando patente o descontentamento com os já existentes. Outrossim, as mudanças
geralmente não têm facial aceitação, o que torna esse trabalho, a princípio,
solitário. Apresentam ainda o trabalho desenvolvido em algumas disciplinas que
compõem o curso, a exemplo de Metodologia, Prática de Ensino, Estágio
Supervisionado e Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º e 2º Graus, onde
fizeram ver que a atitude interdisciplinar é uma necessidade.
No texto “Tevê:
a Sedução Interdisciplinar”, João
Baptista Winck trata da relevância dos cursos de comunicação e da
necessidade de ressignificar seus currículos para que se coadunem às novas
concepções de formação de profissionais. Winck trata da disciplina que leciona
na Universidade Paulista (UNIP), Comunicação Comparada I, e permite aos
leitores acompanhá-lo ao longo das dezoito semanas de duração da matéria. Ele
também compara a comunicação televisiva à interdisciplinaridade, pois essa
utiliza diferentes linguagens para veicular suas informações, sem perda das características
próprias. Quanto aos resultados da pesquisa, demonstra as precariedades da
universidade para o desenvolvimento da prática interdisciplinar.
“Da saia
pregueada e da calça Lee: construindo a representação Interdisciplinar” é a
narrativa de Mercedes A Berardi da
trajetória dela, desde a saída do Paraná à chegada a São Paulo para estudar na
PUC. Narra a metamorfose que nela se processou como professora e referenda
Solange, um nome fictício que utiliza para destacar a importância do trabalho
em parceria do Pré aos Programas de Pós-Graduação. Comunga com Fazenda sobre a
necessidade da transformação individual para o aprimoramento das práticas.
Por sua vez, Ivani C. A. Fazenda, em “O Trabalho Docente como síntese
Interdisciplinar”, apresenta suas reflexões sobre a importância do processo
de pesquisa, bem como as dificuldades encontradas por seus orientandos ao
relacionar a teoria estudada com a prática vivida, dicotomia arraigada no meio
educacional. Apresenta a importância da observação e descrição dos fenômenos para
uma análise teórica, a saber “a explicação dos fatos se torna mais simples, na
medida em que o pesquisador vai apropriando-se [...]”. Esse processo de
registro inicialmente caótico, tornar-se-á coeso quando os aspectos mais
importantes forem priorizados. Ela elenca outros trabalhos sob sua coordenação
e compilados em livro, demonstrando que não basta razão para produzir
conhecimento, é preciso pensamento e compartilhá-lo.
Regina
Bochniak traça em “O Questionamento
da Interdisciplinaridade e a Produção do seu Conhecimento na Escola”
reflexões em relação às questões que cingem o contexto interdisciplinar e escolar.
Relata o seu pensar a respeito da interdisciplinaridade, sempre envolvida com
inquietações, olhares diferentes, demonstrando a atualidade do tema. Tece
elogios à professora Ivani Fazenda e relata que o estudo requer a incursão de
uma atitude interdisciplinar capaz de lidar com as ambiguidades que envolvem os
atos de apreender e de pesquisar.
E por fim, em “Ubaiatu: ‘Canoa das águas aplaudentes’... Um lugar para a
Interdisciplinaridade”, Carla M. A.
Fazenda e Mírian Machado apresentam o Ubaiatu, um palco-teatro em que se
processa o “drama desse novo homem”. Narram a história do teatro e o relacionam
com a Interdisciplinaridade. No palco, as pessoas fazem parte da plateia, do
mesmo modo que na pesquisa interdisciplinar os pesquisadores utilizam suas
práticas para compreender a totalidade da teoria. O espaço tem a característica
de ser móvel e sem fronteiras, além de abrigar o público; a
interdisciplinaridade recebe todos que a buscam e os envolve harmonicamente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A apresentação das pesquisas de renomados
pesquisadores nacionais e estrangeiros no que toca à interdisciplinaridade deixou
clara a existência de variações quanto ao no nome, ao conteúdo e à práxis.
Concernente aos conceitos de pluri, multi,
inter e transdisciplinaridade, constata-se o interesse dos autores em
estabelecer uma gradação entre aqueles, com fins à adequada coordenação e
cooperação nas pesquisas.
A interdisciplinaridade pressupõe uma questão
de atitude, essencial ao educador de hoje para a plena e eficaz articulação
entre o universo epistemológico e o universo pedagógico.
REFERÊNCIAS:
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