quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

INTERDISCIPLINARIDADE

 
 

Por João Florindo Batista Segundo

  

INTRODUÇÃO

 

O presente trabalho tem por escopo explicar o que é interdisciplinaridade, tomando por base duas obras, a saber, Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro – efetividade ou ideologia (de Ivani Catarina Arantes Fazenda) e Práticas Interdisciplinares na escola (organizada por Ivani Catarina Arantes Fazenda).

Da primeira, nos deteremos sobre o primeiro capítulo, Gênese e formação do conceito de interdisciplinaridade, onde a autora enfoca as divergências entre destacados pesquisadores quanto ao signo (nome) e atributos (características, explicar o que é) das terminologias correlatas à interdisciplinaridade, bem como expõe as conclusões destes no que toca à finalidade desta que alguns ousam denominar ciência das ciências.

Na segunda seção, analisaremos os textos escritos por um grupo de então alunos sob a orientação de Ivani Fazenda, ao longo de um ano de investigações quanto à definição de interdisciplinaridade e sua aplicabilidade.

 

1. INTERDISCIPLINARIDADE EM “INTEGRAÇÃO E INTERDISCIPLINARIDADE NO ENSINO BRASILEIRO”

 

De acordo com Fazenda, “interdisciplinaridade” é um neologismo que ainda carece de uma definição conclusiva, ao qual são dados múltiplos significados. Todavia, há um princípio a ser observado no que tange ao tema: a característica da necessária interação e troca de informações entre os especialistas e de um grau aguçado de integração das disciplinas no âmbito de uma pesquisa.

Veja-se então que embora o significado do termo não esteja plenamente definido, a interdisciplinaridade remonta há indagações de longa data.

Ao estudar a história da filosofia, Georges Gusdorf indica que desde os sofistas e romanos até hoje há traços na cultura de aprimoramento das pesquisas interdisciplinares, destacando as épocas em que houve maio ênfase, a exemplo do século XVIII, quando os enciclopedistas buscaram transcender do Múltiplo ao Uno.

Todavia, no século XIX, com o boom da industrialização (que continua até hoje), surge a especialização das tarefas e das pesquisas, com a fragmentação dos saberes.

 Hoje, a civilização vive a crise da busca do saber unificado e do restabelecimento da ordem perdida pela dissociação da vida do homem da realidade que o cerca.

 

1.1 CONCEPÇÕES ATUAIS DE INTERDISCIPLINARIDADE

 

Unificar os conhecimentos e enfrentar os resultados disso tem sido objeto de estudo internacionalmente. Vejamos algumas abalizadas produções a esse respeito.

 O relatório do CERI/HE/CP/69.01, elaborado em 1990 e congregando peritos da Alemanha, França e Grã-Bretanha concluiu que há preconceito quanto à integração, resultando na falta de precisão terminológica e impossibilitando a plena interdisciplinaridade nas universidades.

Em 1970, um grupo de especialistas analisou o relatório supracitado e as pesquisas de Guy Michaud e apresentou as seguintes definições de termos muito citados, mas cujo significado por vezes é relegado:

Disciplina — conjunto específico de conhecimentos com suas próprias características sobre o plano do ensino, da formação dos mecanismos, dos métodos e das matérias.

Multidisciplina — justaposição de disciplinas diversas, desprovidas de relação aparente entre elas.

Pluridisciplina — Justaposição de disciplinas mais ou menos vizinhas nos domínios do conhecimento.

Interdisciplina — Interação existente entre duas ou mais disciplinas. Passa pela comunicação de ideias e pode chegar à integração dos conceitos diretores da epistemologia, da terminologia, da metodologia, dos procedimentos, dos dados etc. Receber formação em diferentes domínios do conhecimento é que habilita um pesquisador a compor um grupo interdisciplinar.

Transdisciplina — Resultado de uma axiomática comum a um conjunto de disciplinas (ex. Antropologia, considerada “a ciência do homem e de suas obras”, segundo a definição de Linton).

Dando continuidade a esses estudos, em 1970, em Nice, realizou-se um seminário com 21 representantes de países-membros da OCDE, que entre outras metas, buscou esclarecer os conceitos de pluri, inter e transdisciplinaridade. Do resultado deste trabalho, pode-se traçar o quadro a seguir de correspondência terminológica:

 

G. MICHAUD

H. HECKAUSEN

M. BOISOT

E. JANTSCH.

Disciplinaridade

Disciplinaridade

Multidisciplinaridade

Multidisciplinaridade

Interdisciplinaridade heterogênea

Pseudointerdisciplinaridade

Interdisciplinaridade restritiva

Pluridisciplinaridade

Interdisciplinaridade;

Interdisciplinaridade linear; cruzada, auxiliar e estrutural

Interdisciplinaridade auxiliar

Interdisciplinaridade complementar

Interdisciplinaridade unificadora

Interdisciplinaridade linear

Interdisciplinaridade estrutural

Disciplinaridade cruzada

Transdisciplinaridade

Transdisciplinaridade

 

Vez que há diferentes nomes para um mesmo atributo e como cada pesquisador o analisou sucintamente, mister se faz realizar a seguir uma análise sintética das conclusões às quais chegaram.

 

1.1.1.  A Análise empírica de Heinz Heckhausen

 

Segundo Heinz Heckhausen, a interdisciplinaridade é a ciência das ciências. Quanto à disciplina, ele a define como “Exploração científica especializada de um domínio determinado e homogêneo de estudos, exploração que consiste em fazer surgir novos conhecimentos que se substituem a outros mais antigos”.

Para ele, o exercício de uma disciplina resulta na reformulação contínua dos conhecimentos adquiridos em determinado domínio e esta necessita de sete critérios (etapas anteriores à interdisciplinaridade), a saber:

a) domínio material — compreende a série de objetos de que se ocupa uma disciplina.

b) domínio de estudos — ex: comportamento constitui o domínio de estudos da psicologia;

c) nível de integração teórico — ex.: em psicologia seria o comportamento do organismo intacto (ou personalidade) enquanto sistema;

d) métodos — toda disciplina possui seus arranjos metodológicos próprios;

e) instrumentos de análise;

f) aplicações práticas;

g) contingências históricas — há obstáculos e contingências históricas que aceleram ou retardam o desenvolvimento das disciplinas.

Propõe cinco tipos de relações interdisciplinares:

a) Interdisciplinaridade Heterogênea — dedicada à combinação de programas diferentemente dosados, cujos participantes necessitam adquirir uma visão geral não aprofundada, mas superficial. Ex.: professores primários ou assistentes sociais.

b) Pseudointerdisciplinaridade — a interdisciplinaridade intrínseca poderia estabelecer-se entre as disciplinas que recorrem aos mesmos instrumentos de análise. Ex.: uso comum da matemática.

c) Interdisciplinaridade Auxiliar — utilização de métodos de outras disciplinas, num nível de integração ao menos teórico.

d) Interdisciplinaridade Complementar — certas disciplinas aparecem sob os mesmos domínios materiais, juntam-se parcialmente, criando assim relações complementares entre seus domínios de estudo. Exemplo: Psicobiologia, Psicofisiologia.

e) Interdisciplinaridade Unificadora — advém de uma coerência estreita dos domínios de estudo de duas disciplinas, com integração teórica e metodológica. Ex.: biologia + física = biofísica.

Todavia, ao se converter a interdisciplinaridade na ciência das ciências ela se tornaria uma transdisciplinaridade e uma nova ciência, com as ambições e preconceitos de ciência tradicional.

Na verdade, com a interdisciplinaridade não se busca anular a contribuição de cada ciência em particular, mas uma atitude que venha a impedir que se estabeleça a supremacia de determinada ciência. Deve ser uma lógica da descoberta, uma abertura recíproca, uma comunicação entre os domínios do saber e não um formalismo que anula todas as significações.

Seguindo Heckhausen, quanto à interdisciplinaridade auxiliar, Luiz Pereira critica o estilo de pensamento pedagógico dos brasileiros, que lhe é insuficiente e inadequado, da mesma forma que salienta a importância do estilo de pensamento dos cientistas sociais.

 

1.1.2 A Análise formal de Boisot

 

Para Boisot Disciplina é considerada Estrutura…, “aquilo que designa um sistema no qual se reconhece uma organização e no qual a soma de suas partes não coincide com sua totalidade”.

Igualmente uma subdisciplina já é em si uma disciplina…, “assim como um subconjunto é um conjunto”.

Boisot distingue três tipos de interdisciplinaridade:

a) Interdisciplinaridade Linear — em que um conjunto de leis de uma disciplina pode ser aplicada com sucesso a outras (corresponderia à interdisciplinaridade auxiliar em Heckhausen). Ex.: a equação de propagação de D’Alembert aplicada à acústica, eletromagnetismo e mecânica ondulatória.

b) Interdisciplinaridade Estrutural — a interação de duas ou mais disciplinas resulta na criação de um campo de leis novas (corresponderia à interdisciplinaridade unificadora em Heckhausen). Ex.: o eletromagnetismo, que abrange a eletrostática, o magnetismo e as equações de Maxwell (prolongamento da teoria da relatividade de Einsten).

c) Interdisciplinaridade Restritiva — em dado projeto, cada disciplina delimita seu raio de ação, impondo certas restrições ou barreiras à interação com as demais (corresponderia à pseudointerdisciplinaridade em Heckhausen). Ex.: num projeto sobre urbanismo podem ser ouvidos psicólogos, sociólogos, especialistas em transportes, arquitetos, assim como o economista, que emitirão restrições que delimitarão o espaço em que o projeto de pesquisa ocorrerá.

Para Boisot, no âmbito da interdisciplinaridade linear a linguagem a ser empregada pode ser mais simples, mas, ao se atingir o nível da interdisciplinaridade estrutural, surge a exigência de uma linguagem específica para exprimir as leis e fenômenos estudados.

Como Gusdorf, quando a linguagem converte-se num fim em si, a ciência do homem passa a existir sem o homem; porém, há acontecimentos imprevisíveis que põe por terra as tentativas de substituição do homem por autômatos lógico-matemáticos, simuladores da atividade intelectual.

Boisot entende que a interdisciplinaridade é “o instrumento epistemológico capaz de alargar os limites da formalização lógico-matemática”.

 

1.1.3. A Análise socioantropológica de Jantsch

 

Jantsch questiona a possibilidade de existirem relações estruturais independentes de uma finalidade humana e social. Para ele, a interdisciplinaridade supõe a organização da ciência visando uma finalidade (contrária à colocação anterior que pressupõe uma estrutura desumanizada da realidade); assim, as interações dinâmicas têm por fim influenciar o desenvolvimento da sociedade.

Se o ensino tem por objeto dar à sociedade a capacidade de autorrenovação, então este é o mais relevante agente de renovação, para o que se necessita da organização das disciplinas escolares de modo particular em busca da inovação.

Exemplo: ao se submeter um determinado sistema a uma noção de progresso (inerente ao pensamento cristão), ter-se-á um sistema de ensino e inovação inteiramente diferente de outro, resultante de uma noção de equilíbrio ecológico ou de desenvolvimento cíclico (inerentes ao budismo e ao hinduísmo).

Jantsch pressupõe a necessidade de coordenação e cooperação entre as disciplinas para efetivação da interdisciplinaridade e introduz uma etapa intermediária, que denomina “disciplinaridade cruzada”, ou seja, a reinterpretação dos conceitos e objetivos das disciplinas à luz do objetivo específico da disciplina em questão.

Ele entende que interdisciplinaridade é “[…] axiomática comum a um grupo de disciplinas conexas, definida ao nível ou subnível hierárquico imediatamente superior, o que introduz uma noção de finalidade”.

E a disciplinaridade cruzada “[…] é a axiomática de uma só disciplina, imposta a outras disciplinas do mesmo nível hierárquico.”

Jantschh propõe uma diferenciação entre pluri, multi, inter e transdisciplinaridade que ratifica e completa a de Guy Michaud.

a) Multidisciplinaridade — conjunto de disciplinas que se propõem simultaneamente, mas sem expor as relações que possam existir entre si; para sistema de um só nível e de objetivos múltiplos, mas sem cooperação.

b) Pluridisciplinaridade — justaposição de diversas disciplinas, situadas geralmente no mesmo nível hierárquico e agrupadas de modo que façam aparecer as relações existentes entre elas; para sistema de um só nível e de objetivos múltiplos, onde há cooperação, mas não coordenação.

c) Interdisciplinaridade — destina-se a um sistema de dois níveis e de objetivos múltiplos onde há coordenação oriunda do nível superior.

d) Transdisciplinaridade — coordenação de todas as disciplinas e interdisciplinas do sistema de ensino inovado sobre a base de uma axiomática geral; para um sistema de nível e objetivos múltiplos — há coordenação com vistas a uma finalidade comum dos sistemas.

Ao propor uma modificação na atitude epistemológica de compreensão do conhecimento, Jantsch enfoca a necessidade de uma finalidade na organização das ciências, iniciando um novo discurso pedagógico, que influi até na definição da interdisciplinaridade: como meio de autorrenovação e como forma de cooperação e coordenação crescente entre as disciplinas.

 

2. INTERDISCIPLINARIDADE EM “PRÁTICAS INTERDISCIPLINARES NA ESCOLA”

 

Em Práticas Interdisciplinares na Escola, Fazenda e um grupo de então alunos da PUC-SP (hoje professores em diversas Universidades), apresentam o resultado do estudo realizado por eles ao longo de um ano sobre a teoria da interdisciplinaridade, ao entrelaçá-la com as práticas da sala de aula. Foi editada pela Cortez, em 2001 e demonstra que um projeto interdisciplinar requer uma revisita ao nosso “interior” a fim de que compreendamos momentos pessoais e profissionais que nos marcaram profundamente e intervêm na maneira de ensinar e aprender. Para a organizadora da obra “perceber-se interdisciplinar é o primeiro movimento em direção a um ‘fazer’ interdisciplinar [...]”. 

Na coletânea, a Profª Fazenda apresenta o texto de sua lavra “Interdisciplinaridade: definição, projeto, pesquisa e busca reflexibilizar os aspectos epistemológicos e práticos que cingem a construção de um projeto interdisciplinar”. Revela que tal pesquisa vem se expandindo no meio acadêmico, principalmente a partir dos anos 1990. Destaca, contudo, que há incompreensões quanto ao tema, fazendo com que apesar de comentada por muitos, a interdisciplinaridade seja praticada por uma minoria. Deve haver reflexão para superar qualquer insegurança, invocando o diálogo com as outras áreas do saber e gerando parceria entre nossas dúvidas e certezas com as de outros atores. Aí sim ocorrerá a interdisciplinaridade.

Fazenda ressalta ainda que há outras dificuldades a vencer (de ordem material, pessoal, institucional e gnosiológica), o que requer perante as formas de saber e de se fazer pesquisa, uma postura marcada pela ousadia.

No texto “Ciência e Interdisciplinaridade”, Maria Elisa de M. P. Ferreira trata da relação entre as disciplinas e como é o pensar ciência hoje e como foi no passado. Destaca ainda que a civilização contemporânea vê a natureza como algo distinto do indivíduo, que erroneamente se considera independente dela. Ressalta então a manutenção da interconexão vida-natureza. Questiona ainda a dificuldade de renovar a maneira de pensar os saberes, cabendo ao leitor diante desse quadro assumir uma postura interdisciplinar se quiser alcançar o pleno entendimento do conhecimento ao seu redor.

Ismael Assumpção, em “Interdisciplinaridade: uma tentativa de Compreensão do fenômeno” busca explicar o que é interdisciplinaridade, indo à matriz etimológica da palavra: o prefixo “inter”, o sufixo “dade” e “disciplina”.

Em “Aspectos da História desse Livro”, Dirce Encarnación Tavares apresenta uma sinopse do desenvolvimento do estudo realizado pelo grupo a respeito da matéria. Relata a busca utópica de ser interdisciplinar e alega que a teoria “pura” e dissociada da prática empobrece e impede a visão do todo. 

Em “Introduzindo a noção de Interdisciplinaridade”, Sandra Lúcia Ferreira afirma que há muita confusão que cerceia o pleno entendimento da palavra e sua aplicação prática. Para ela, a interdisciplinaridade é impossível de ser definida como apenas uma. 

De Leci S. de Moura e Dias vem o texto “Interdisciplinaridade: em tempo de diálogo”, no qual versa sobre a prática inicial (funcionalista) e a transformada (dialética/interdisciplinar). Destaca que não basta ser “ator”, mas que é preciso sentir-se “autor” no momento da escrita, da práxis e da pesquisa.

Em “Uma experiência Interdisciplinar”, Ruy C. do Espírito Santo revela que conseguiu aproximar sua prática das leituras por ele realizadas. Enquanto professor, permitiu inserir a interdisciplinaridade em sala de aula, através de um trabalho sobre a identidade dos alunos, com o trabalho da História sobre o hoje/agora e por trazer à baila a utopia. Os alunos constataram que mesmo no mais ínfimo dos seres está presente o caos aparente que se expõe ante as mudanças que se processam no viver. 

Maria de Los Dolores J. Peña, em “Interdisciplinaridade: questão de Atitude” demonstra a alegria de quem se descobre interdisciplinar e assume tal atitude. Ela relata sua trajetória de professora/pesquisadora, que apreendeu a lidar e a perceber essas questões em sua prática. As reflexões de Peña iniciam nas dificuldades iniciais encontradas e vão até as benesses da chegada a novas descobertas, vez que o aprendizado não tem fim.

Em “A Competência do Educador Popular e a Interdisciplinaridade do Conhecimento”, Derly Barbosa narra uma experiência vivenciada em Osasco, SP, com a Educação de Jovens e Adultos (EJA), no âmbito das disciplinas de História e Geografia. De início, houve uma intenção e o desejo interdisciplinar da parte dela, mas que se deparou com enormes dificuldades até dar início à ação. Aí surgiram outros empecilhos, principalmente os de ordem política (ser aceito pelo grupo) e os de competência. Todavia, Barbosa não desistiu e de acordo com ele “[...] ser interdisciplinar, hoje, requer uma atitude política e pedagógica que demanda coragem, despojamento e muita dedicação”. Mister se fez esclarecer da possibilidade de se fazer diferente e envolver a todos com as novas formas de pensar e fazer as referidas disciplinas. Atribuir sentido e significado foram necessários, além de relacionar essas aprendizagens com o conhecimento do dia-a-dia, dos quais emanam as possibilidades de efetiva compreensão.

Com “Interdisciplinaridade, competência e escola pública”, Laurizete F. Passos e Maria de Fátima Chassot discutem e habitam esses conceitos através do relato de um estudo de caso em pesquisa coordenada pelas professoras Ivani Fazenda e Marli André, da qual ambas eram membros. Utilizam-se das horas de observações sobre uma professora, em sua classe e com seus alunos, visando relacionar o observado com o vivido. O enfoque foi a atuação profissional da professora Luciana, quem emprega o equilíbrio como fio condutor de sua práxis. Uma prática que emana envolvimento, competência e a solidão de muitos professores que se atrevem a ver diferente. Luciana é reveladora dessa força que a cada dia leva o professor inquieto a perceber o porquê é educador em meio a tantas adversidades.

Marisa Del Cioppo Elias e Marina Graziela Feldmann, em “A busca da Interdisciplinaridade e Competência nas Disciplinas dos cursos de Pedagogia” entendem que o referido curso tem por fim formar educadores “competentes”, com saberes sistematizados, capazes de criar uma metodologia própria para construir esses conhecimentos. Tal meta enseja novos meios de aceitar e ministrar tal processo, ficando patente o descontentamento com os já existentes. Outrossim, as mudanças geralmente não têm facial aceitação, o que torna esse trabalho, a princípio, solitário. Apresentam ainda o trabalho desenvolvido em algumas disciplinas que compõem o curso, a exemplo de Metodologia, Prática de Ensino, Estágio Supervisionado e Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º e 2º Graus, onde fizeram ver que a atitude interdisciplinar é uma necessidade. 

No texto “Tevê: a Sedução Interdisciplinar”, João Baptista Winck trata da relevância dos cursos de comunicação e da necessidade de ressignificar seus currículos para que se coadunem às novas concepções de formação de profissionais. Winck trata da disciplina que leciona na Universidade Paulista (UNIP), Comunicação Comparada I, e permite aos leitores acompanhá-lo ao longo das dezoito semanas de duração da matéria. Ele também compara a comunicação televisiva à interdisciplinaridade, pois essa utiliza diferentes linguagens para veicular suas informações, sem perda das características próprias. Quanto aos resultados da pesquisa, demonstra as precariedades da universidade para o desenvolvimento da prática interdisciplinar. 

Da saia pregueada e da calça Lee: construindo a representação Interdisciplinar” é a narrativa de Mercedes A Berardi da trajetória dela, desde a saída do Paraná à chegada a São Paulo para estudar na PUC. Narra a metamorfose que nela se processou como professora e referenda Solange, um nome fictício que utiliza para destacar a importância do trabalho em parceria do Pré aos Programas de Pós-Graduação. Comunga com Fazenda sobre a necessidade da transformação individual para o aprimoramento das práticas.

Por sua vez, Ivani C. A. Fazenda, em “O Trabalho Docente como síntese Interdisciplinar”, apresenta suas reflexões sobre a importância do processo de pesquisa, bem como as dificuldades encontradas por seus orientandos ao relacionar a teoria estudada com a prática vivida, dicotomia arraigada no meio educacional. Apresenta a importância da observação e descrição dos fenômenos para uma análise teórica, a saber “a explicação dos fatos se torna mais simples, na medida em que o pesquisador vai apropriando-se [...]”. Esse processo de registro inicialmente caótico, tornar-se-á coeso quando os aspectos mais importantes forem priorizados. Ela elenca outros trabalhos sob sua coordenação e compilados em livro, demonstrando que não basta razão para produzir conhecimento, é preciso pensamento e compartilhá-lo. 

Regina Bochniak traça em “O Questionamento da Interdisciplinaridade e a Produção do seu Conhecimento na Escola” reflexões em relação às questões que cingem o contexto interdisciplinar e escolar. Relata o seu pensar a respeito da interdisciplinaridade, sempre envolvida com inquietações, olhares diferentes, demonstrando a atualidade do tema. Tece elogios à professora Ivani Fazenda e relata que o estudo requer a incursão de uma atitude interdisciplinar capaz de lidar com as ambiguidades que envolvem os atos de apreender e de pesquisar. 

E por fim, em “Ubaiatu: ‘Canoa das águas aplaudentes’... Um lugar para a Interdisciplinaridade”, Carla M. A. Fazenda e Mírian Machado apresentam o Ubaiatu, um palco-teatro em que se processa o “drama desse novo homem”. Narram a história do teatro e o relacionam com a Interdisciplinaridade. No palco, as pessoas fazem parte da plateia, do mesmo modo que na pesquisa interdisciplinar os pesquisadores utilizam suas práticas para compreender a totalidade da teoria. O espaço tem a característica de ser móvel e sem fronteiras, além de abrigar o público; a interdisciplinaridade recebe todos que a buscam e os envolve harmonicamente. 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A apresentação das pesquisas de renomados pesquisadores nacionais e estrangeiros no que toca à interdisciplinaridade deixou clara a existência de variações quanto ao no nome, ao conteúdo e à práxis.

Concernente aos conceitos de pluri, multi, inter e transdisciplinaridade, constata-se o interesse dos autores em estabelecer uma gradação entre aqueles, com fins à adequada coordenação e cooperação nas pesquisas.

A interdisciplinaridade pressupõe uma questão de atitude, essencial ao educador de hoje para a plena e eficaz articulação entre o universo epistemológico e o universo pedagógico.

  

REFERÊNCIAS:

FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. (Org.). Práticas Interdisciplinares na Escola. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
 
FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro – efetividade ou ideologia. Coleção Realidade Educacional n. 4. 4. ed. São Paulo: Loyola, 1996.

 
Disciplina: Didática, 2013.

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