segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

GENEROSIDADE

 

Por Ramon Bolivar Cavalcanti Germano

 

Sabemos que uma árvore frutífera como a figueira dá muitos frutos. Mas o que é um fruto? Não basta definir "fruto" como faz o botânico, pois nem todo fruto é a maturação dos ovários das flores. Dizemos que o nosso trabalho rendeu frutos, falamos em frutos do espírito e do fruto do ventre materno. Então, o que é um fruto? É algo que se recebe e se dá de graça! Se contemplarmos os frutos da figueira, veremos como eles crescem graciosamente e como são oferecidos gratuitamente a todos os seres vivos. Ora, assim como nenhuma árvore exerce o poder sobre os seus próprios frutos; assim como nenhuma figueira tem os seus frutos como propriedade sua, igualmente todo e qualquer fruto é a expressão exuberante da gratuidade e da generosidade da vida. Aquilo que não se recebe nem se doa de graça, não é fruto, é posse. Porque ao exercer posse sobre algo, pressupomos que não o recebemos de graça e, por isso mesmo, não o doamos de graça.

Não é assim com o fruto! Para que algo seja um fruto, precisamos ofertá-lo de graça, de modo que a nossa atitude desprendida demonstre vivamente que o temos recebido também de graça! Se retivermos aquilo que nos foi dado e nos apegarmos à coisa de tal maneira que nos tornemos incapazes de abrir a mão e ofertá-la – então não se trata mais de um fruto, mas de uma mera posse ou em muitos casos, de um roubo!

De modo que não produzir frutos equivale a não doar de graça aquilo que de graça recebemos.

 

REFERÊNCIA:

GERMANO, Ramon Bolivar Cavalcanti. O Riacho e outras meditações filosóficas. São Paulo: Editora Liber Ars, 2020. p. 22-23.

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