Por Ramon Bolivar Cavalcanti Germano
Sabemos que uma árvore
frutífera como a figueira dá muitos frutos. Mas o que é um fruto? Não basta
definir "fruto" como faz o botânico, pois nem todo fruto é a
maturação dos ovários das flores. Dizemos que o nosso trabalho rendeu frutos,
falamos em frutos do espírito e do fruto do ventre materno. Então, o que é um
fruto? É algo que se recebe e se dá de graça! Se contemplarmos os frutos da
figueira, veremos como eles crescem graciosamente e como são oferecidos
gratuitamente a todos os seres vivos. Ora, assim como nenhuma árvore exerce o
poder sobre os seus próprios frutos; assim como nenhuma figueira tem os seus
frutos como propriedade sua, igualmente todo e qualquer fruto é a expressão
exuberante da gratuidade e da generosidade da vida. Aquilo que não se recebe
nem se doa de graça, não é fruto, é posse. Porque ao exercer posse sobre algo,
pressupomos que não o recebemos de graça e, por isso mesmo, não o doamos de
graça.
Não é assim com o fruto!
Para que algo seja um fruto, precisamos ofertá-lo de graça, de modo que a nossa
atitude desprendida demonstre vivamente que o temos recebido também de graça!
Se retivermos aquilo que nos foi dado e nos apegarmos à coisa de tal maneira
que nos tornemos incapazes de abrir a mão e ofertá-la – então não se trata mais
de um fruto, mas de uma mera posse ou em muitos casos, de um roubo!
De modo que não produzir
frutos equivale a não doar de graça aquilo que de graça recebemos.
REFERÊNCIA:
GERMANO, Ramon Bolivar Cavalcanti. O Riacho e outras meditações filosóficas. São Paulo: Editora Liber Ars, 2020. p. 22-23.
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