domingo, 29 de maio de 2022

TOLERÂNCIA OU RESPEITO?

 

 

Por Carlos André Cavalcanti

(de sua coluna semanal no jornal O Poder)

  

No diálogo Inter-religioso há uma notória ausência. A Religião dos Orixás, ou as Religiões de Matriz Africana, precisam ter maior volume de voz. As africanidades são muitas neste país tropical abençoado por Deus, como disse o poeta. Porém, é na religião que “o bicho pega”. Comida e música africanas são bem vindas, mas a religião não.... Às vezes, a mesma pessoa que gosta de samba, come acarajé e fala “oxalá!”, não admite sequer a existência do candomblé, da umbanda e da jurema. Por quê?

 

RACISMO RELIGIOSO

 

O sistema escravista que marcou a história do Brasil permanece vivo em hábitos e mentalidades arcaicas. A escravidão “acabou” de forma irresponsável e deletéria para a dignidade humana das pessoas em situação de escravidão. Os chamados “ex-escravos” foram deixados ao léu, sem emprego, sem profissão que o mercado aceitasse e sem educação formal escolar. Além disso, ganharam a alcunha de preguiçosos.... Por consequência, a poderosa e bela religião que seus ancestrais trouxeram à força para o Brasil, continuou a ser sinônimo de feitiçaria ou curandeirismo, como já era desde o “descobrimento” do Brasil. Consolidou-se, então, o vínculo ideológico que junta a etnia preta com a religião que cultivaria o “mal”, que é uma acusação absurda.

 

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

 

A semente da forma contemporânea da intolerância religiosa no Brasil estava lançada. A própria Constituição e as leis da República à época iriam reconhecer no crime de curandeirismo atos típicos das religiões afro. Os juízes republicanos passaram a julgar “com vários argumentos que a Santa Inquisição defendia no passado. Esta junção cruel de fatores de dominação com a exclusão, tornou religião afro um caso de polícia no Brasil. As polícias, aliás, se acostumaram a controlar e, muitas vezes, desrespeitar as tradições afro-brasileiras. Os esforços que são feitos para romper com esta memória perversa não foram suficientes até hoje (!!) para vencer este desafio.

 

TOLERÂNCIA

 

A ONU, Organização das Nações Unidas, tem uma sólida política planetária de combate real às consequências desumanas da intolerância religiosa e do desrespeito à liberdade religiosa: crises migratórias e guerras por exemplo. O conceito desta que é a principal instituição mundial na luta pela Diversidade Religiosa é este: Tolerância e Harmonia no combate à intolerância. Contudo, na língua portuguesa a palavra tolerância dita no Brasil tem um sentido parcialmente negativo. Por isso, por aqui, nós preferimos usar a palavra respeito, mesmo sabendo das noções que são internacionalmente aceitas.

 

RESPEITO

 

Se existe uma coisa que falta por parte dos fundamentalistas religiosos no Brasil, é o respeito às religiões e igrejas que não sigam as ordens dadas pelo próprio “clero” fundamentalista. O desrespeito é tanto que agora já existem forças politicamente organizadas tentando abalar a laicidade do Estado.... Sendo assim, reapresento uma proposta que fiz quando fui membro do Comitê Nacional da Diversidade Religiosa: o Brasil precisa de uma lei que normatize o respeito ao Fenômeno Religioso do(s) outro(s), mesmo quando transformados em estátuas de pedra ou gesso ou em terreiros e outros templos sagrados!!

 

LINK JORNAL O PODER: www.jornalopoder.com.br


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