Por Carlos André Cavalcanti
(de sua coluna semanal no jornal O
Poder)
No diálogo Inter-religioso há uma notória ausência. A Religião dos
Orixás, ou as Religiões de Matriz Africana, precisam ter maior volume de voz.
As africanidades são muitas neste país tropical abençoado por Deus, como disse
o poeta. Porém, é na religião que “o bicho pega”. Comida e música africanas são
bem vindas, mas a religião não.... Às vezes, a mesma pessoa que gosta de samba,
come acarajé e fala “oxalá!”, não admite sequer a existência do candomblé, da
umbanda e da jurema. Por quê?
RACISMO RELIGIOSO
O sistema escravista que marcou a história do Brasil permanece vivo
em hábitos e mentalidades arcaicas. A escravidão “acabou” de forma
irresponsável e deletéria para a dignidade humana das pessoas em situação de
escravidão. Os chamados “ex-escravos” foram deixados ao léu, sem emprego, sem
profissão que o mercado aceitasse e sem educação formal escolar. Além disso,
ganharam a alcunha de preguiçosos.... Por consequência, a poderosa e bela
religião que seus ancestrais trouxeram à força para o Brasil, continuou a ser
sinônimo de feitiçaria ou curandeirismo, como já era desde o “descobrimento” do
Brasil. Consolidou-se, então, o vínculo ideológico que junta a etnia preta com
a religião que cultivaria o “mal”, que é uma acusação absurda.
INTOLERÂNCIA RELIGIOSA
A semente da forma contemporânea da intolerância religiosa no
Brasil estava lançada. A própria Constituição e as leis da República à época
iriam reconhecer no crime de curandeirismo atos típicos das religiões afro. Os
juízes republicanos passaram a julgar “com vários argumentos que a Santa
Inquisição defendia no passado. Esta junção cruel de fatores de dominação com a
exclusão, tornou religião afro um caso de polícia no Brasil. As polícias,
aliás, se acostumaram a controlar e, muitas vezes, desrespeitar as tradições
afro-brasileiras. Os esforços que são feitos para romper com esta memória
perversa não foram suficientes até hoje (!!) para vencer este desafio.
TOLERÂNCIA
A ONU, Organização das Nações Unidas, tem uma sólida política
planetária de combate real às consequências desumanas da intolerância religiosa
e do desrespeito à liberdade religiosa: crises migratórias e guerras por
exemplo. O conceito desta que é a principal instituição mundial na luta pela
Diversidade Religiosa é este: Tolerância e Harmonia no combate à intolerância.
Contudo, na língua portuguesa a palavra tolerância dita no Brasil tem um
sentido parcialmente negativo. Por isso, por aqui, nós preferimos usar a
palavra respeito, mesmo sabendo das noções que são internacionalmente aceitas.
RESPEITO
Se existe uma coisa que falta por parte dos fundamentalistas
religiosos no Brasil, é o respeito às religiões e igrejas que não sigam as
ordens dadas pelo próprio “clero” fundamentalista. O desrespeito é tanto que
agora já existem forças politicamente organizadas tentando abalar a laicidade
do Estado.... Sendo assim, reapresento uma proposta que fiz quando fui membro
do Comitê Nacional da Diversidade Religiosa: o Brasil precisa de uma lei que
normatize o respeito ao Fenômeno Religioso do(s) outro(s), mesmo quando
transformados em estátuas de pedra ou gesso ou em terreiros e outros templos
sagrados!!
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