Por
A. C. Bhaktivedanta Swami
O
Senhor Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, fala sobre o mais elevado
sistema de yoga no Sexto Capítulo do Bhagavad-gītā. Ele explica
ali o sistema de haṭha-yoga. Lembre-se, por favor, que estamos
pregando este movimento da consciência de Kṛṣṇa baseados na autoridade do
Bhagavad-gītā. Nada do que fazemos é inventado. O sistema de bhakti-yoga
é autorizado, e se você quer conhecer Deus, tem de adotar este sistema de bhakti-yoga,
porque no Sexto Capítulo do Bhagavad-gītā conclui-se que o yogī
mais elevado é aquele que, internamente, está sempre pensando em Kṛṣṇa.
Kṛṣṇa, a autoridade suprema, recomendou o
sistema óctuplo de yoga. O primeiro passo neste sistema de yoga é
escolher um local sagrado e muito isolado. A meditação óctupla não pode ser
executada numa cidade moderna. Tal coisa não é possível. Na Índia, portanto,
aqueles que levam a sério a prática da yoga vão a Hardwar, um local bem
isolado nos Himalaias, onde permanecem a sós e seguem um processo muito estrito
de comer e dormir. Atividade sexual está fora de cogitação. Essas regras e
regulações devem ser seguidas à risca. Fazer uma mera exibição de ginástica não
é a perfeição da yoga. Yoga significa controle dos sentidos. Se
você satisfaz seus sentidos irrestritamente mas simula uma exibição de prática
de yoga, jamais será bem sucedido. Você tem de escolher um local
sagrado; então, você deve sentar-se com os olhos semicerrados e concentrar-se
na ponta de seu nariz. Você não pode mudar sua postura. Há muitas regras e
regulações que realmente não podem ser seguidas atualmente.
Mesmo
há cinco mil anos, quando as condições no mundo eram diferentes, este sistema
de yoga era impraticável. Mesmo uma personalidade tão elevada como
Arjuna, que pertencia à família real, que era grande guerreiro e amigo íntimo
de Kṛṣṇa, vivendo constantemente com Ele, após ouvir Kṛṣṇa expor-lhe este
processo de yoga em diálogo face a face, disse: “Meu querido Kṛṣṇa, não
é possível seguir-Te”. Ele admitiu francamente: “Para mim essas regras e
regulações e a prática do controle da mente são impossíveis”. Isto leva a
pensar: há cinco mil anos uma personalidade como Arjuna expressou sua
incapacidade de praticar este sistema óctuplo de yoga, como, então,
poderemos segui-lo agora?
Nesta
era, as pessoas têm vida muito curta. A média de duração de vida na Índia é de
trinta e cinco anos. Pode ser que em seu país seja mais que isso. Mas, na
verdade, ao passo que seu avô podia viver cem anos, você não pode. As coisas
estão mudando. A duração de vida vai se reduzir mais ainda. Há predições nas
escrituras de que nesta era a duração de vida do homem, sua misericórdia e sua
inteligência estão se reduzindo. Os homens não são muito fortes e a duração de
suas vidas é curtíssima. Estamos sempre perturbados e praticamente não temos
conhecimento da ciência espiritual.
Por exemplo, nas centenas e milhares de
universidades em todo o mundo não há departamento de conhecimento onde se
ensine a ciência da alma. Na verdade, somos todos almas espirituais. Aprendemos
no Bhagavad-gītā que estamos transmigrando de um corpo a outro, mesmo em
nossas vidas atuais. Todos nós tivemos alguma vez o corpo de um bebê. Onde está
esse corpo? Esse corpo se foi. Atualmente, sou um homem velho, mas me lembro de
que uma vez fui um bebê. Ainda lembro quando tinha cerca de seis meses de vida;
eu estava deitado no colo de minha irmã mais velha, que estava tricotando, e eu
brincava. Posso me lembrar disso, de modo que é possível qualquer pessoa se
lembrar de que teve um corpo pequeno. Onde estão esses corpos? Todos eles já se
foram. Este é um corpo diferente. Explica-se no Bhagavad-gītā que quando
eu abandonar este corpo, terei de aceitar outro corpo. Isto é muito simples de
ser entendido. Já troquei de corpos tantas vezes, não apenas da infância para a
juventude, mas, segundo a ciência médica, nossos corpos estão mudando a cada
segundo, imperceptivelmente. Este processo indica que a alma é permanente.
Embora eu tenha trocado de corpo tantas vezes, posso lembrar meu corpo de bebê
e meu corpo infantil — sou a mesma pessoa, a mesma alma. Analogamente, quando
eu, finalmente, mudar de corpo, terei de aceitar outro. Esta fórmula simples é
exposta no Bhagavad-gītā. Todos podem refletir sobre isso, e seria
preciso pesquisar cientificamente esta área. Recentemente, recebi uma carta de
um professor de Toronto, em que ele sugeria que existe corpo e existe alma. Eu
me correspondi com ele. Na verdade, isso é um fato. A alma existe. Há muitas
provas disso, não apenas na literatura védica, mas mesmo pela experiência
comum. A alma existe, e está transmigrando de um corpo a outro, mas,
infelizmente, não se estuda seriamente este assunto nas universidades. Isso não
é nada bom. O Vedānta-sūtra diz: “Esta forma de vida humana destina-se à
busca do espírito, a Verdade Absoluta”. O sistema de yoga é usado para
se buscar os princípios espirituais dentro deste mundo material. Este processo
de busca é recomendado no Bhagavad-gītā pelo próprio Kṛṣṇa. Quando
Arjuna disse: “O sistema que estás recomendando, o
sistema de haṭha-yoga, não é possível para mim”, Kṛṣṇa
garantiu-lhe que ele era o maior de todos os yogīs. Ele apaziguou-o
dizendo-lhe que não se afligisse por não ser capaz de praticar haṭha-yoga.
Ele disse-lhe: “De todos os diferentes tipos de yogīs — haṭha-yogīs,
jñãna-yogīs, dhyãna-yogīs, bhakta-yogīs, karma-yogīs
– tu és o melhor yogī”. Kṛṣṇa diz: “De todos os yogīs,
aquele que está constantemente pensando em Mim internamente, meditando em Mim
no coração, é o yogī de primeira classe”.
Quem
pode pensar sempre em Kṛṣṇa dentro de si mesmo? Isso é muito fácil de entender.
Só se você ama alguém é que pode pensar sempre nele dentro de você; de outro
modo, não é possível. Se você ama alguém, então naturalmente você pensa sempre
nele. Isso é descrito no Brahma-saṁhitā. Alguém que tenha desenvolvido
amor a Deus, Kṛṣṇa, pode pensar nEle constantemente. Quando falo de Kṛṣṇa, você
deve entender que Ele é Deus. Outro nome de Kṛṣṇa é Śyāmasundara, que significa
que Ele é negro como uma nuvem, mas é belíssimo. Em um verso do Brahma-saṁhitā
se diz que um santah, uma pessoa santa, que tenha desenvolvido amor por Śyāmasundara,
Kṛṣṇa, pensa no Senhor constantemente dentro de seu coração. Na realidade,
quando se chega ao ponto de samādhi no sistema de yoga, pensa-se,
sem cessar, na forma Viṣṇu do Senhor dentro do coração. A pessoa absorve-se
neste pensamento.
Kṛṣṇa, Śyāmasundara, é o Viṣṇu original. Isso
é afirmado no Bhagavad-gītā. Kṛṣṇa inclui Brahmā, Viṣṇu, Śiva e todos os
demais. Segundo a escritura védica, Ele Se expande primeiramente como Baladeva,
Baladeva expande-Se como Saṅkarṣaṇa, Saṅkarṣaṇa expande-Se como Nārāyaṇa e Nārāyaṇa
expande-Se como Viṣṇu (Mahā-Viṣṇu, Garbhodakaśāyī Viṣṇu e Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu). Essas são
afirmações védicas. Podemos compreender que Kṛṣṇa é o Viṣṇu original, Śyāmasundara.
Este
é o sistema perfeito. Qualquer pessoa que esteja pensando sempre em Kṛṣṇa
dentro de si mesma é um yogī de primeira classe. Se você quer a
perfeição na yoga, não se satisfaça apenas com a prática de códigos.
Você precisa aprofundar-se mais. Na verdade, a prática de yoga é
alcançada quando você está em samādhi, pensando sempre na forma Viṣṇu do
Senhor dentro de seu coração, sem perturbar-se. Portanto os yogīs vão a
um local isolado, e, controlando todos os sentidos e a mente, absorvendo-se em
pensar na forma de Viṣṇu, eles atingem o samādhi. Isto chama-se
perfeição da yoga. Na realidade, este sistema de yoga é
muitíssimo difícil. Talvez seja possível para algum homem solitário, mas para a
massa popular em geral ele não é recomendado nas escrituras: harer nāma
harer nāma harer nāmaiva kevalam / kalau nāsty eva nāsty eva nāsty eva
gatir anyathā. “Nesta era de Kali, deve-se cantar o santo nome do Senhor
para se alcançar a salvação. Não há outra maneira. Não há outra maneira. Não há
outra maneira” (Bṛhan-Nāradīya Purāṇa).
O
sistema de yoga, tal como se recomendava na Satya-yuga, a Era Dourada,
consistia em meditar sempre em Viṣṇu. Na Tretā-yuga, podia-se praticar yoga
executando-se grandes sacrifícios, e na era seguinte, Dvāpara-yuga, podia-se
atingir perfeição através da adoração no templo. A era atual chama-se
Kali-yuga. Kali-yuga significa a era da desavença e discórdia. Ninguém concorda
com ninguém. Todos têm suas próprias teorias; todos têm suas próprias
filosofias. Se eu não concordo com você, você luta comigo. Este é o sintoma de
Kali-yuga. O único método recomendado nesta era é cantar o santo nome.
Simplesmente cantando os santos nomes de Deus, pode-se atingir a
auto-realização perfeita que se atingia através do sistema de yoga na
Satya-yuga, através da execução de grandes sacrifícios na Tretā-yuga e através
de grandiosas adorações no templo na Dvāpara-yuga. Essa perfeição pode ser
atingida pelo simples método de hari-kīrtana. Hari significa a
Suprema Personalidade de Deus; kīrtana significa glorificar.
Este
método é recomendado nas escrituras, e nos foi dado por Caitanya Mahāprabhu há
quinhentos anos. Ele apareceu em uma cidade conhecida como Navadvīpa, a qual
está localizada a cerca de oitenta quilômetros ao norte de Calcutá. As pessoas
ainda hoje visitam essa cidade. Nós temos lá um centro e um templo. Caitanya
Mahāprabhu apareceu ali, e começou este movimento de saṅkīrtana de
massa, que é praticado sem discriminação. Ele predisse que este movimento de saṅkīrtana
se espalharia por todo o mundo e que o mantra Hare Kṛṣṇa seria cantado em toda
aldeia e cidade na superfície do globo. No cumprimento da ordem do Senhor Caitanya
Mahāprabhu, seguindo-Lhe os passos, vamos introduzindo este movimento de saṅkīrtana,
cantando Hare Kṛṣṇa, e o resultado é que somos bem sucedidos em toda a parte.
Estou pregando especialmente em países estrangeiros, em toda a Europa,
Américas, Japão, Canadá, Austrália, Malásia, etc. Tenho introduzido este
movimento de saṅkīrtana e atualmente temos centros em todo o mundo.
Todos os oitenta centros estão sendo recebidos com grande entusiasmo. Não
importei esses rapazes e moças da Índia; eles, porém, estão levando este
movimento muito a sério porque ele atrai diretamente a alma.
Passamos
por diferentes fases em nossa vida – o conceito corpóreo de vida, o conceito
mental de vida, o conceito intelectual de vida e o conceito espiritual de vida.
Na realidade, estamos interessados no conceito espiritual. Aqueles que são
seduzidos pelo conceito corpóreo não passam de cães e gatos. Se aceitamos que “eu
sou este corpo”, então não passamos de cães e gatos porque este é o conceito de
vida deles. Devemos compreender que “eu não sou este corpo”, como Kṛṣṇa quis
convencer Arjuna no começo de Seu ensinamento do Bhagavad-gītā: “Antes
de mais nada, tenta compreender o que és. Por que estás te lamentando
fundamentado no conceito de vida corpórea? Tens de lutar. Decerto terás de
lutar contra teus irmãos, cunhados e sobrinhos, e estás te lamentando. Mas,
antes de mais nada, analisa se és o corpo ou não”. Esse é o começo do Bhagavad-gītā
Kṛṣṇa tentou fazer Arjuna compreender que ele não era o corpo. Esta instrução
não era exclusivamente para Arjuna, mas para todos. Antes de mais nada, temos
de aprender que “eu não sou este corpo”, que “sou alma espiritual”. Esta é a
instrução védica.
Assim
que você chegar ao ponto de estar firmemente convencido de que não é este
corpo, você estará na fase brahma-bhūta de compreensão do Brahman. Isso
é conhecimento, verdadeiro conhecimento. Avanço de conhecimento para comer,
dormir e acasalar-se é conhecimento animalesco. Um cão também sabe comer,
dormir, acasalar-se e defender-se. Se nossa educação abrange apenas esses
pontos (o cão está comendo de acordo com sua natureza, e nós também, com a
diferença apenas de o fazermos num lugar elegante, com comida bem preparada,
sobre boa mesa), isso não é avanço. Basicamente isto é ainda comer. De forma
semelhante, pode ser que você durma num ótimo apartamento num prédio de seis
andares ou num edifício de cento e vinte andares, e pode ser que o cão durma na
rua, mas quando ele dorme e quando você dorme, não há diferença. Talvez você
nem saiba que está dormindo em um arranha-céu ou no chão, porque pode estar
sonhando que alguém o tirou da cama. Você pode esquecer que seu corpo está
deitado ali na cama, e no sonho estar voando pelo ar. Portanto, aperfeiçoar o
método de dormir não é avanço de civilização. Analogamente, o cão não segue
usos sociais para acasalar-se. Sempre que aparece uma cadela, ele faz sexo onde
estiver. Pode ser que você faça sexo silenciosamente, em local secreto (embora
atualmente as pessoas estejam aprendendo a fazer sexo como cães), mas o sexo é
o mesmo. O mesmo princípio aplica-se ao ato de defender-se. Um cão tem dentes e
unhas com as quais pode defender-se, e vocês têm bombas atômicas. Mas o
objetivo é defender-se, isso é tudo. Portanto, a escritura diz que a vida
humana não se destina apenas a esses quatro princípios ou exigências corpóreas
da vida. Há outras coisas – um ser humano deve ser inquisitivo para aprender o
que é a Verdade Absoluta. Essa educação é que está faltando.
Segundo
a civilização védica, um brāhmaṇa é um homem erudito, ou aquele que
conhece o espírito. Na Índia, os brāhmaṇas são tidos como homens
eruditos, mas de fato não podem chegar a ser brāhmaṇas por nascimento. É
de se esperar que eles saibam o que é espírito.
Por nascimento, todos são śūdras, homens de quarta
categoria, mas podem reformar-se pelo processo purificatório. Há dez tipos de
processos purificatórios. Uma pessoa submete-se a todos esses processos e por
fim chega ao mestre espiritual que lhe dá o cordão sagrado como reconhecimento de
seu segundo nascimento. Um nascimento é dado pelos pais, e o outro é dado pelo
mestre espiritual e o conhecimento védico. Este é o segundo nascimento. Nessa
altura o candidato recebe a oportunidade de estudar e compreender o que é Veda.
Estudando bem todos os Vedas, ele realmente compreende que é espírito e qual
é sua relação com Deus, e então torna-se um brāhmaṇa. Elevando-se além desta plataforma de compreensão do Brahman
impessoal, ele chega à plataforma de compreensão do Senhor Viṣṇu, a Suprema
Personalidade de Deus; então ele se torna um vaiṣṇava. Este é o processo
de perfeição.
REFERÊNCIA:
BHAKTIVEDANTA SWAMI, A. C. Meditação e superconsciência. Mahakala Das (Márcio Lima Pereira Pombo); Advaya Das (José Adailtom Miranda Cavalcanti); Angira Muni Das (Aloiziio Biesek) (trad.). 5. ed. Pindamonhangaba: Bhaktivedanta Book Trust, 1990. p. 1-6.
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