Por
Carlos André Cavalcanti
Também é, mas não é só ela e ela não é o
fator principal. A crise afegã, assim chamada pelo Ocidente, é, na verdade, a
história afegã. O Afeganistão fica a meio caminho entre três “mundos”: o Ocidente
cristão, o Oriente Médio muçulmano e a Ásia. Milenarmente, e local de disputas
e de troca recorrente das hegemonias culturais e históricas. Rotas comerciais e
militares passam obrigatoriamente por lá. Onde fica a religião nisso tudo?
O
LUGAR DA RELIGIÃO
Principal amálgama constituinte dos
eufemismos culturais que fazem a história do mundo até o advento da matiz
iluminista, a religião não costuma ter a hegemonia das determinantes
históricas. O islamismo do Talibã sequer representa grupo hegemônico no Islão.
Os talibãs se destacam pela defesa do território afegão contra invasores russos
e norte-americanos há décadas. Seus valores religiosos funcionam como uma
ideologia política e social para combater a norma atividade aparentemente
democrática trazida pelos invasores.
QUEM
APÓIA O TALIBÃ?
Parte das instituições talibãs tem sede no
conturbado território paquistanês. O Paquistão tem uma relação de aproximação e
distanciamento cíclicos com o imperialismo norte-americano. Para os Estados
Unidos e para a Rússia, o Afeganistão é estratégico. Os americanos esperam
compensar ali as influências do Irã e da China. Comunidades afegãs, muitas
vezes culturalmente tradicionais islâmicas, socialmente oprimidas, aceitam o
radicalismo talibã como a única força capaz de governar autenticamente a vida
afegã. Porém, a maior parte da população do país parece preferir um modelo
republicano de tipo ocidental com singularidades afegãs.
E
AGORA?
Agora, virá a imposição de duros preceitos
morais típicos deste grupo político com as tentativas internacionais de alguma
negociação. Os Estados Unidos da América começaram tudo isso ao invadir o país.
Agora, saíram de lá apressadamente e de forma questionável. Caberia à
Comunidade Internacional e à mídia global, ambas aparentemente centradas na
questão religiosa e moral até agora, uma dura cobrança ao governo Biden para
que financie uma ajuda humanitária significativa e a retirada dos que se
consideram oprimidos - principalmente mulheres e meninas - pelo “novo” regime
(re)instalado. Contudo, é duvidoso que isto seja feito...
FONTE: www.jornalopoder.com.br
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