Por Arthur Schopenhauer
A chamada boa sociedade admite os méritos de todas as classes, exceto os
intelectuais, que são como um contrabando. Impõe o dever de manifestar uma
paciência ilimitada para toda tolice, toda loucura, todo absurdo, toda
estupidez. Os méritos pessoais, pelo contrário, se veem forçados a mendigar seu
perdão ou a ocultarem-se; pois a superioridade intelectual fere por sua simples
existência, sem que nisso haja qualquer intenção. Ademais, essa suposta boa
sociedade não só tem o inconveniente de nos pôr em contato com pessoas
incapazes de conquistar nosso louvor ou afeição, senão que não nos permite que
sejamos nós mesmos segundo nossa natureza. Pelo contrário, nos obriga, em nome
da harmonia, a nos apequenarmos e até a nos deformarmos. Conversas e ideias
intelectuais só servem à sociedade intelectual; na sociedade vulgar são
detestadas por completo, porque para se agradar nessa é imprescindível ser
completamente insípido e limitado. Portanto, em tal sociedade, devemos praticar
uma severa abnegação, abrindo mão de três quartos de nossa própria
personalidade para nos assemelharmos aos demais. É certo que, em troca, temos
os demais; porém, quanto mais mérito se tem, mais se verá que aqui o ganho não
cobre o prejuízo, e que isso redunda em nosso detrimento. Porque as pessoas
são, em regra, falidas; isto é, não têm em seu trato nada que possa
indenizar-nos do tédio, das fadigas e dos desgostos proporcionam nem do
sacrifício de si mesmo que exigem. Resulta que quase toda a sociedade é
composta de tal modo que quem a troca pela solidão sempre faz um bom negócio.
Arthur Schopenhauer. In: Aforismos Para a
Sabedoria de Vida, p. 65 - trecho do aforismo 09.
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