Por Rémi
Boyer
Ao longo do século passado,
a história das Ordens e da Ordem Martinista foi rica e movimentada. Se a Ordem
fundada por Papus se ramificou em numerosos ramos, esta árvore foi o fruto da
iniciação martinista, da iniciação livre, da linhagem, de indivíduo à
indivíduo.
Os círculos, grupos, lojas e
Ordens Martinistas ao longo de todo o século passado foram cadinhos que
permitiram os iluministas, ocultistas e hermetistas perdurar e se desabrochar.
A liberdade, a tolerância, o espírito de investigação que dominou, apesar de
algumas inevitáveis vicissitudes, e o movimento martinista, permitiu numerosos
questionadores reencontrarem-se, independente dos seus caminhos particulares,
numa verdadeira comunhão sob a égide do Filósofo Desconhecido.
A Ordem Martinista soube
também acolher no seu seio outras correntes para preservar, ajudar e conhecer
um novo desenvolvimento.
Hoje, a fim de que este
espírito permaneça, de modo que o que está vivo, não se torne fixa, estão
inscritos nesta Carta para o século XXI das Ordens Martinistas, os princípios
simples que contribuíram para a radiação (influência) do Martinismo desde Papus.
A adoção desta Carta é
livre, não confere nenhum direito, somente os deveres decorrentes da ética.
Ninguém terá que prestar contas disto, exceto a si mesmo e a Providência.
Fonte: CIREM. Copia
incentivada.
I – De acordo com Saint-Martin
1
“A minha seita, é a
Providência, meus prosélitos, sou eu; o meu culto, é a justiça.”
“…Estou surpreso que você
encontrou o fraco mérito, de modo que eu posso dar o meu nome para a minha
antiga escola ou a qualquer outra. As instituições, por vezes, são usadas para
mitigar os males do homem, mais na maioria das vezes para aumentar, nunca para
curar.”
“A única iniciação que
procuro, com todo o ardor da minha alma é aquela onde podemos entrar no coração
de Deus e fazer o coração de Deus entrar em nós, para fazer um casamento
indissolúvel, que nos torna o amigo, o irmão e o cônjuge nossa divina
reparadora. Não há outro mistério para chegar a esta santa iniciação, apenas
aprofundar-nos cada vez mais, até as profundezas do nosso ser e não deixar
seguir, de que não chegamos a sentir a raiz viva e vivifiante, porque então de
todos os frutos que devíamos levar de acordo com a nossa espécie ocorrem
naturalmente em nós e fora de nós, como vemos que isto chega às nossas árvores
terrestres, porque são aderentes à sua raiz particular e que não param de
bombear os sucos.”
2
Louis-Claude de Saint-Martin
dedicou grande parte de sua vida, as ordens iniciáticas que frenquentou, não
fundou nenhuma e guardou uma justa reserva para com todas. Pela sua obra, ele
iniciou uma corrente de pensamento iluminista cristã maior e convidou a
montar-se uma fraternidade de espírito. No artigo de sua morte, Louis-Claude de
Saint-Martin “exortando todas as pessoas à sua volta a colocarem a sua
confiança na Providência, e viver entre eles como irmãos, nos sentimentos
evangélicos”.
II –
De acordo com Papus
1
Papus fundou a Ordem
Martinista em várias etapas:
- 1884-1885: primeiras iniciações.
- 1887: primeira loja.
- 1887-1890: estabelecimento da Ordem
Martinista, redação dos estatutos e cadernos de instrução.
- 1891: constituição do primeiro Supremo
Conselho.
2
A iniciação de 1882 à qual
Papus faz referência é aquela que Augustin Chaboseau situa, no que lhe diz
respeito, em 1886, iniciações que transmitiram-se respectivamente em 1888,
continuam a ser incertas na sua natureza e quanto às circunstâncias. Elas
revelam uma forma diferente e apenas ritual. É a iniciação de Papus, não de
Papus-Chaboseau, que constituirá depois a fundação da Ordem Martinista, a
iniciação “martiniste”.
III –
De acordo com a Ordem
1
Papus concebeu e definiu a
Ordem Martinista, ao mesmo tempo, como uma ordem iniciática e uma escola de
cavalaria moral[1] e de ocultismo cristão.
O cristianismo da Ordem
Martinista é marcado pela doutrina da Reintegração Universal de Martinès de
Pasqually, como pela via cardíaca de transmutação interior de Saint-Martin, e o
ocultismo é “o conjunto das doutrinas e as práticas fundadas sobre a teoria
segundo a qual todo objeto pertence a um conjunto único e possui, com qualquer
outro elemento deste conjunto, reportes necessários, intencionais,
não-temporais, e não-espaciais”[2], dita teoria das correspondências.
2
Papus e os Companheiros do
Hierofante, foram animados pelo espírito da investigação, pela especulação não
dogmática que encontra os seus fundamentos assim como os seus resultados no
operativo.
3
Fiel ao seu título, a Ordem
Martinista une-se principalmente para estudar e aplicar o ensinamento original
de Louis-Claude de Saint-Martin e para compreender a influência do seu primeiro
mestre, Martinès de Pasqually e Jacob Böhme, em sua doutrina.[3]
a) Primeira conseqüência: A Ordem Martinista
é unida pela simplicidade das formas rituais, cuja Ordem Martinista primitiva
dá o exemplo.
b) Segunda conseqüência: A fraternidade e o
companheirismo são o coração da experiência martinista: “Você não vai me chamar
de Mestre. Porque existe um só Mestre ; e vocês todos são meus irmãos.[4]”.
c) Terceira conseqüência: Uma Ordem
Martinista é independente de toda Igreja como de toda outra ordem iniciática;
os membros continuam a ser livres para estabelecer quaisquer afiliações em
espírito. As equivalências entre os graus da Ordem Martinista e de outras
ordens iniciáticas já existiu. Elas são desprovidas de sentido iniciático.
d) Quarta conseqüência: A Ordem Martinista
convida seus membros a engajarem-se no caminho da Reintegração. Isto implica em
prepará-los a se libertarem de toda forma de alienação, incluindo a adesão a
todo tipo de iniciação incluindo a Ordem Martinista.
IV –
Da fraternidade
1
Após a morte de Papus, a
Ordem Martinista se ramificou e o processo não se interrompeu. Toda
controvérsia sobre as Ordens Martinistas e precedentes é incoveniente, exceto
se toda ordem qualificada de martinista subscrever os princípios gerais
enunciados acima. Entre as ordens martinista, assim como entre os membros de
cada ordem martinista, a fraternidade é a regra, e a concorrência não é
admissível sob o relação da virtude.
2
Todas as Ordens Martinistas
dispensam a mesma iniciação; um membro de qualquer Ordem Martinista pode e deve
ser recebido como visitante numa reunião conduzida sob os auspícios de uma
outra Ordem Martinista.
[1] Papus. Martinésisme, willermozisme,
martinisme et franc-maçonnerie. Paris. Chamuel. 1899.
[2] L’Occultisme, esquisse d’un monde vivant.
Saint Jean de la Ruelle. Éditions Chanteloup. 1987.
[3] “É à Martinès de Pasqually que devo a
minha entrada nas verdades superiores. É a Jacob Böhme que devo os passos mais
importantes que fiz nestas verdades”. Portrait, n° 418.
[4] Mt. XXIII, 8.
Fonte: OMCC
FONTE:
BOYER, Rémi.
Carta para o século XXI das Ordens
Martinistas. Disponível em: <http://rosacruzes.blogspot.com.br/2011/02/carta-para-o-seculo-xxi-das-ordens.html>.
Acesso em: 23 mar. 2016.
Muito interessante, achei legal as ideias expressas!!!!
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