Por João Florindo Batista
Segundo
“A pobreza medida pela
finalidade da natureza é uma grande riqueza; a riqueza se não limitada, é uma
grande pobreza.”
(Epicuro.
Sent. Vat. 25)
Epicuro (341 a.C. – 271 ou 270 a.C.), discípulo de Demócrito, legou-nos
atemporais lições de vida em seu texto Carta sobre a felicidade, o qual,
apesar de pouco extenso, contém profundos orientações para quem busca uma vida
feliz.
Aqui, contextualizaremos a referida obra com a
sentença epicurea acima, levando em consideração a lição do sábio sobre a phronesis
(prudência, ponderação), que é o supremo bem adquirido pelo ser humano que se
autodomina.
Tal ponderação é caracterizada pela rejeição de
desejos supérfluos, os quais são como mel no início, mas se tornam fel no
final. Em detrimento disso, o sábio deve fruir dos desejos naturais e dos
desejos necessários, buscando a felicidade e o bem-estar físico e mental.
Logo, o ensinamento de Epicuro não exige um
estilo de vida marcado por extremas austeridades ou eremitismo, mas também não
aprova o gozo desenfreado dos prazeres. Podemos dizer que a Carta nos apresenta
um “caminho do meio”.
Portanto, a riqueza sem limites está no polo
oposto de uma vida de miséria absoluta e ambas não conduzem o ser humano a uma
existência prazerosa (lembrando que o prazer é o início e a consecução da vida
feliz).
Despiciendo elencar as dificuldades que uma
vida de miséria traz à pessoa, que sequer ingere os nutrientes suficientes para
manter o próprio corpo. Então, precisamos esclarecer como a riqueza pode se
tornar pobreza.
Ora, quem acumula riquezas, geralmente, quanto
mais tem, mais quer. Diversificando suas atividades, realizando investimentos
de alto risco, a pessoa ocupa cada vez mais seu tempo com o aumento da própria
riqueza. Enchendo-se de ansiedade e incertezas, dedicando cada vez menos tempo
ao cuidado de si e ao carinho da família, lentamente, ela se torna escrava de
seu patrimônio.
Por vezes, até os círculos sociais desses
abastados são marcados pelas falsas amizades, que deles se aproximam apenas
pelo que têm e não pelo que são. Ademais, desde a Antiguidade, os ricos
necessitam cercar-se de guardas para protegerem seu patrimônio.
Deslocando esse panorama para os nossos dias,
os constantes relatos de suicídios de milionários demonstram que apenas o
sucesso material é insuficiente para nos trazer felicidade. Deste modo, permanece
verdadeira a afirmação de Epicuro que a riqueza sem limites é uma grande
pobreza.
Por outro lado, aquele que aprende a viver com
o suficiente para a manutenção própria e da família, sem excessos incompatíveis
com sua condição financeira, segundo o filósofo, possui as condições de
potencialmente ser feliz, pois o pouco que tem não lhe causa as precauções e
ansiedades que acometem os ricos, bem como, a tendência geral é que seus amigos
sejam de fato verdadeiros, pois sabem que o ponderado pouco de material tem a
oferecer.
Chegamos ao fim dessa curta jornada pelo
pensamento de Epicuro, enfatizando que surpreendentemente, nossa sociedade, com
todo o seu progresso, ainda sofre das mesmas mazelas dos antigos, todas
decorrentes da falta de ponderação.
REFERÊNCIAS:
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