Por Florbela
Espanca
Mistério
Gosto
de ti, ó chuva, nos beirados,
Dizendo
coisas que ninguém entende!
Da tua
cantilena se desprende
Um
sonho de magia e de pecados.
Uma alada canção palpita e ascende,
Frases que a nossa boca não aprende
Murmúrios por caminhos desolados.
Fazes passar o lúgubre arrepio
Das sensações estranhas, dolorosas...
Talvez
um dia entenda o teu mistério...
Quando, inerte, na paz do cemitério,
O meu corpo matar a fome às rosas!
Quando, inerte, na paz do cemitério,
O meu corpo matar a fome às rosas!
Florbela
Espanca, in “Charneca em Flor”
Não
Ser
Quem
me dera voltar à inocência
Das coisas brutas, sãs, inanimadas,
Despir o vão orgulho, a incoerência:
– Mantos rotos de estátuas mutiladas!
Das coisas brutas, sãs, inanimadas,
Despir o vão orgulho, a incoerência:
– Mantos rotos de estátuas mutiladas!
Ah!
arrancar às carnes laceradas
Seu mísero segredo de consciência!
Ah! poder ser apenas florescência
De astros em puras noites deslumbradas!
Seu mísero segredo de consciência!
Ah! poder ser apenas florescência
De astros em puras noites deslumbradas!
Ser
nostálgico choupo ao entardecer,
De ramos graves, plácidos, absortos
Na mágica tarefa de viver!
De ramos graves, plácidos, absortos
Na mágica tarefa de viver!
Ser
haste, seiva, ramaria inquieta,
Erguer ao sol o coração dos mortos
Na urna de oiro duma flor aberta!...
Erguer ao sol o coração dos mortos
Na urna de oiro duma flor aberta!...
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