Algumas pessoas costumam afirmar: “Esta
doutrina é a que torna os homens puros”, enquanto outras dizem: “Aquela outra
doutrina é que dá pureza.” Cada qual considera sua própria doutrina a única
certa. As pessoas assim perdem a noção do razoável e começam a discutir entre
si, chamando-se tolas umas às outras e recorrendo a velhos e repetidos
argumentos; e assim é que, procurando angariar elogios, apresentam-se como
autoridades no assunto. Esmagar o opositor é para elas uma verdadeira delícia.
Têm pavor de ser derrotadas pela dialética alheia; ao se sentirem vencidas no
debate, tais pessoas logo se mostram aborrecidas e irritadas, ao mesmo tempo em
que procuram, a todos os instantes, envergonhar o rival. Se a opinião dos que
ouvem lhes for desfavorável, logo se afligem e passam a guardar rancor a seu
adversário.
Em alguns casos, essas contendas chegam a
provocar brigas e até pancadaria.
Evitai, portanto, as disputas, pois que os
elogios delas oriundos são inúteis, de nada valem. O vencedor dessas querelas
enche-se de orgulho e se exalta. O elogio sobe-lhe, então, à cabeça. A semelhante
orgulho segue-se, habitualmente, uma queda, pois o disputante agora se excede e
na sua arrogância torna-se intolerável. Ao verdes isto, renunciai às disputas,
pois que elas jamais conduzem à pureza.
Da mesma forma como o campeão real vai
destemidamente lançando por aí seu desafio, assim também é que tu deves
prosseguir, meu herói, embora não se trate aqui de nenhum combate. Quando os
adeptos de um determinado partido começam a discutir, cada um deles convencido
de que seu partido é que tem razão, dizei-lhes, sem qualquer cerimônia e bem
claramente, que vós não estais interessados em discussões. Mas que poderás tu
dizer, Pasura, aos que seguem seu caminho sem jamais enunciarem qualquer teoria
própria em oposição às tuas, uma vez que eles não se apegam a qualquer
conceito?
Cheio de confiança em tuas próprias teorias
vieste aqui, Pasura, numa tentativa de vencer com elas um ser perfeito, mas não
conseguiste acompanhar-lhe o ritmo, não é?... (Sutta Nipata, Atthaka
8.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário