Buda
A pessoa que tem preconceitos favoráveis a
determinado sistema filosófico, os tem também contrários a outros sistemas. Uma
pessoa assim disputa e não consegue vencer o motivo da disputa.
Ela se apega a tudo o que parece “bom”, que soe
“bem”. Ela se apega às ações que em particular lhe pareçam boas, a tudo, enfim,
quanto pense ser bom e, ao fazê-lo, rotula as demais coisas de más.
Todos os que possuem experiência nesse campo
concordam em que o homem que rotula uma coisa deverá tornar-se, por isso mesmo,
incapaz de vê-la como naturalmente é. É por este motivo que o indivíduo
disciplinado não deve dar colorido ao que vê, nem ao que ouve, devendo
limitar-se à contemplação do fato em si. Também não deve basear a sua fé na
virtude, ou nas vitórias que alcance, ou na tradição.
Ele não se deve fundamentar num sistema
organizado de filosofia, como também deve mostrar-se favorável a qualquer
deles, quer por suas palavras, quer por suas ações. Não se considera “melhor”,
nem “pior” do que os outros e nem mesmo “igual”.
Livre de preconceitos e de simpatias, e sem se
deixar influenciar por convenções, o indivíduo disciplinado não pertence a
qualquer religião formal, nem a qualquer seita. Ele não se escraviza a regras
preestabelecidas, quaisquer que elas sejam.
Para ele não mais se faz necessário qualquer
esforço no sentido de transformar-se nisto ou naquilo, tanto neste mundo quanto
no próximo. Além disso, deixa de estudar as diversas filosofias por não mais
carecer do consolo que elas possam oferecer.
Com relação às coisas que vê e que ouve,
mantém-se inatingível pelo preconceito; um brâmane como esse nunca se deixará
levar, nunca se deixará iludir.
Nada há que aceite, nada há que prefira e não
se prende a nenhuma filosofia, em particular. Não é por suas virtudes ou por
seus feitos gloriosos que o verdadeiro brâmane há de atingir a outra margem
para de lá, nunca mais voltar. (Sutta Nipata, Atthaka 5.)*
*Os
restos do Sutta Nipata, Atthaka 5, 8, 11, 12 foram traduzidos
pelo Prof. Herbert Wilkes e Dr. Gil Fortes da obra do Bhikkhu Sri Y.
Nyana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário