segunda-feira, 9 de setembro de 2024

DA ILUSÃO, A DESOLAÇÃO

 


Por Montesquieu
  
CARTA 118
 
USBEK AO MESMO
 
 

O que há de singular é que essa América, que recebe todos os anos tantos novos habitantes, está deserta e não tira proveito das perdas contínuas da África. Esses escravos, que são transferidos para outro clima, morrem aos milhares; os trabalhos nas minas a que são destinados tanto os nativos como os estrangeiros, as exalações maléficas que delas efluem, o mercúrio que deve ser usado continuamente, os destrói sem retorno.

Não há nada de tão extravagante como fazer perecer um número incontável de homens para tirar do fundo da terra ouro e prata; esses metais, em si mesmos totalmente inúteis, e que só são riquezas porque foram escolhidos para serem símbolos.

 
 

De Paris, último dia da lua de Shahban, 1718.

 
  
REFERÊNCIA:
MONTESQUIEU. Cartas Persas. v. II. Tradução de Antônio Geraldo da Silva. Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal, n. 47. São Paulo: Editora Escala, 2006. p. 282.

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