Por
Pierre Bourdieu
Em
uma sociedade dividida em classes, a estrutura dos sistemas de
representações e práticas religiosas próprias aos diferentes grupos ou
classes, contribui para a perpetuação e para a reprodução da ordem social (no
sentido de estrutura das relações estabelecidas entre os grupos e as classes)
ao contribuir para consagrá-la, ou seja, sancioná-la e santificá-la. Tal sucede
porque no momento mesmo em que ela se apresenta oficialmente como una e
indivisa, esta estrutura se organiza em relação a duas posições polares, a
saber: 1) os sistemas de práticas e de representações (religiosidade dominante)
tendentes a justificar a hegemonia das classes dominantes; 2) os sistemas de
práticas e de representações (religiosidade dominada) tendentes a impor aos dominados
um reconhecimento da legitimidade da dominação fundada no desconhecimento do
arbitrário da dominação dos modos de expressão simbólicos da dominação (por
exemplo, o estilo de vida bem como a religiosidade das classes dominantes),
contribuindo, desta maneira, para o reforço simbólico da representação dominada
do mundo político e de ethos da resignação e da renúncia
diretamente inculcado pelas condições de existência. Em outros termos, trata-se
de reforçar simbolicamente a propensão para medir as esperanças pelas
possibilidades inscritas nestas condições de existência, por intermédio de
técnicas de manipulação simbólica de aspirações tão diversas (embora
convergentes) como o deslocamento das aspirações e conflitos através da
compensação e da transfiguração simbólica (promessa da salvação) ou a transmutação
do destino em escolha (exaltação do ascetismo).
REFERÊNCIA:
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. Sergio Miceli
(introdução, organização e seleção). 8. ed. São Paulo: Perspectiva, 2015. p. 52-53.
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