Por
Allan Kardec
A raça negra é perfectível? Segundo
algumas pessoas, esta questão é julgada e resolvida negativamente. Se assim é,
e se esta raça é votada por Deus a uma eterna inferioridade, segue-se que é
inútil nos preocuparmos com ela e que devemos nos limitar a fazer do negro uma
espécie de animal doméstico, preparado para a cultura do açúcar e do algodão.
Entretanto a Humanidade, tanto quanto o interesse social, requer um exame mais
cuidadoso. É o que tentaremos fazer. [...] A frenologia nos servirá de ponto
de partida. Exporemos sumariamente as suas bases fundamentais para melhor
compreensão do assunto.
La race nègre
est-elle perfectible? Selon quelques personnes, cette question jugée est
résolue négativement. S’il en est ainsi, et si cette race est vouée par Dieu à
une éternelle infériorité, la conséquence est qu’il est inutile de s’en
préoccuper, et qu’il faut se borner à faire du nègre une sorte d’animal
domestique dressé à la culture du sucre et du coton. Cependant l’humanité,
autant que l’intérêt social, requiert un examen plus attentif: c’est ce que
nous allons essayer de faire; [...]. La phrénologie nous servira de point de
départ; nous en exposerons sommairement les bases fondamentales pour l’intelligence
du sujet.
[...]
O exame frenológico
dos povos pouco inteligentes constata a predominância das faculdades
instintivas e a atrofia dos órgãos da inteligência. Aquilo que é excepcional
nos povos avançados é a regra em certas raças. Por quê? Será uma injusta
preferência? Não; é sabedoria. A Natureza é sempre previdente; nada faz de
inútil. Ora, seria inútil dar um instrumento completo a quem não tenha os meios
para dele se servir. Os Espíritos selvagens são ainda crianças, se assim
podemos nos exprimir. Neles muitas faculdades ainda estão latentes.
L’examen
phrénologique des peuples peu intelligents constate la prédominance des
facultés instinctives, et l’atrophie des organes de l’intelligence. Ce qui est
exceptionnel chez les peuples avancés est la règle chez certaines races.
Pourquoi cela? Est-ce une injuste préférence? Non, c’est de la sagesse. La
nature est toujours prévoyante; elle ne fait rien d’inutile; or, ce serait une
chose inutile de donner un instrument complet à qui n’a pas les moyens de s’en
servir. Les Esprits sauvages sont des Esprits encore enfants, si l’on peut s’exprimer
ainsi; chez eux, beaucoup de facultés sont encore latentes.
[...]
Assim, as raças são perfectíveis pelo corpo,
pelo cruzamento com raças mais aperfeiçoadas, que trazem novos elementos,
aí enxertando, por assim dizer, os germes de novos órgãos. Esse
cruzamento se faz pelas migrações, as guerras e as conquistas.
Les races sont aussi perfectibles par le corps,
mais ce n’est que par le croisement avec des races plus perfectionnées, qui
y apportent de nouveaux éléments, qui y greffent pour ainsi dire les
germes de nouveaux organes. Ce croisement se fait par les émigrations, les
guerres et les conquêtes.
[...]
Assim, como organização física, os negros
serão sempre os mesmos; como Espíritos, trata-se, sem dúvida, de uma raça inferior,
isto é, primitiva; são verdadeiras crianças às quais muito pouco se pode
ensinar. Mas, por meio de cuidados inteligentes é sempre possível modificar
certos hábitos, certas tendências, o que já constitui um progresso que levarão
para outra existência e que lhes permitirá, mais tarde, tomar um envoltório em
melhores condições. Trabalhando em sua melhoria, trabalha-se menos pelo seu
presente que pelo seu futuro e, por pouco que se ganhe, para eles é sempre uma
aquisição.
Les nègres donc,
comme organisation physique, seront toujours les mêmes; comme Esprits, c’est
sans doute une race inférieure, c’est-à-dire
primitive; ce sont de véritables enfants auxquels on peut apprendre bien peu de
chose; mais par des soins intelligents on peut toujours modifier certaines
habitudes, certaines tendances, et c’est déjà un progrès qu’ils apporteront
dans une autre existence, et qui Ieur permettra plus tard de prendre une
enveloppe dans de meilleures conditions. En travaillant à Ieur amélioration, on
travaille moins pour leur présent que pour leur avenir, et quelque peu que l’on
gagne, c’est toujours pour eux autant d’acquis; chaque progrès est un pas en
avant qui facilite de nouveaux progrès.
[...]
Por isso as raças selvagens, mesmo em
contato com a civilização, permanecerão sempre selvagens; porém, à medida que
as raças civilizadas se espalham, as selvagens diminuem, até desaparecerem
completamente, como aconteceu com a raça dos Caraíbas, dos Guanches
e outras. Os corpos desapareceram; quanto aos Espíritos, em que se
transformaram? Muitos deles, talvez, se encontrem entre nós.
Voilà pourquoi les races sauvages, même au
contact de la civilisation, restent toujours sauvages; mais à mesure que les
races civilisées s’étendent, les races sauvages diminuent, jusqu’à ce qu’elles
disparaissent complètement, comme ont disparu les races des CaraÏbes, des
Guanches et autres. Les corps ont disparu, mais que sont devenus les
Esprits? Plus d’un est peut-être parmi nous.
Publicação original, em
francês (p. 96-ss online e 101-ss do PDF baixado):
https://archive.org/details/IAPSOP-revue_spirite_v5_1862/page/96/mode/2up
FÉLIX, Franklin. O racismo de Kardec e o calcanhar de Aquiles dos espíritas. Carta Capital. 16 fev. 2022. Acesso em: 22 dez. 2023.
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