Por Octavio da Cunha Botelho
Para
os muitos ocidentais que não conhecem as tradições antigas da Índia, a exótica International
Society for Krishna Consciousnes (ISKCON), mais conhecida popularmente como
Movimento Hare Krishna, parece uma recente e artificial adaptação de
tradições hindus, intencionalmente destinada a provocar o sentimento de
exotismo nos ocidentais, sem nenhuma linhagem tradicional. Também, outros
pensam que suas doutrinas e suas práticas representam o Hinduísmo como um todo.
No entanto, a realidade é diferente, a origem do movimento se encontra numa
antiga tradição vishnuísta (culto ao deus Vishnu) conhecida como
tradição Gaudiya Vaishnava, iniciada nos estados de Bengala e de Orissa,
Índia, no século XVI e.c., por um santo devoto do deus Krishna conhecido como Sri
Chaitanya Mahaprabhu (1486-1533).
[...]
Mais precisamente, o Movimento Hare Krishna é
a ramificação ocidental de um centro missionário da religião gaudiya
vaishnava denominado Gaudiya Math, fundado por Srila Bhaktisiddhanda
Saraswati Thakura, em 1920, na cidade de Mayapura, no estado de
Bengala, Índia.
[...]
O estremecimento das estruturas do Movimento
teve início logo após a morte de seu fundador, Sri Bhaktivedanta Pabhupada,
em 1977. Nas palavras de E. Burke Rochforf Jr: “Logo após a morte de Prabhupada,
os Hare Krishnas enfrentaram contínuos problemas de sucessão. Questões
surgiram quase imediatamente sobre se sucessores de Prabhupada na
verdade tinham sido iniciados por ele para atuarem como gurus na sua ausência.
Dentro de uma década, a maioria dos onze gurus sucessores de Prabhupada
foram obrigados a sair do movimento por causa de transgressões e/ou
comportamento ilegal. Em seguida, um número de reformas foi implantado para
limitar a volatilidade da instituição dos gurus, os Hare Krishnas agora
têm aproximadamente cem gurus iniciando discípulos pelo mundo. Apesar das
mudanças, contudo, a controvérsia persiste sobre o papel e a autoridade dos
gurus Hare Krishnas e a instituição dos gurus como um todo” (Rochford Jr.,
2005: 103).
[...]
Destas
ações judiciais mencionadas acima, as que mais abalaram a reputação e a
estrutura da instituição foram as ações promovidas pelos ex-alunos dos colégios
internos para crianças (gurukulas), alegando abuso infantil.
[...]
O
motivo que levou os monges Hare Krishnas a cometerem estas crueldades
com as crianças tem um fundo ideológico e é explicado por E. Burke Rochford Jr.
assim: “Como o número de casamentos e de filhos começou a crescer nos meados
dos anos 1970, a vida familiar foi definida pela elite de renunciantes dos Hare
Krishnas como um símbolo de fraqueza espiritual. Como um grupo
politicamente marginal e estigmatizado, os pais de família foram deixados
incapazes de afirmar sua autoridade de pais sobre suas vidas e de seus filhos.
As crianças foram abusadas em parte porque elas não eram valorizadas pelos
líderes, e mesmo, muito frequentemente, por seus próprios pais, que aceitavam
as justificativas teológicas e outras mais oferecidas pela liderança para
permanecerem não envolvidos nas vidas de seus filhos” (Rochford, 1998).
[...]
As consequências de todas estas turbulências foram que a prática da sankirtan (distribuição de livros, revistas e incenso em troca de doações) foi abolida e as gurukulas (escolas internos para crianças) foram fechadas. Com o fim da sankirtan, os monges Hare Krishna tiveram de procurar emprego no mercado de trabalho para se sustentarem, uma vez que a renda obtida da prática de distribuição em troca de doações foi paralisada. Também, com o fechamento das gurukulas, os filhos dos adeptos passaram a estudar em escolas públicas, tal como a maioria das crianças. Enfim, o resultado foi que, a partir de então, o tão conservador e exótico Movimento Hare Krishna foi obrigado a se submeter a um processo de secularização, o qual resultou numa radical transformação no perfil e no estilo de vida de seus adeptos, o que explica, em grande parte, o motivo da diminuição da sua visibilidade, em vista da amenização do seu caráter exótico (Rochford Jr., 2005: 101-8 e 2007: 97-114).
[...]
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