Por
Peter Wohlleben
Para
chegar a essa conclusão, os cientistas avaliaram cerca de 700 mil árvores de todos
os continentes. O resultado foi surpreendente: quanto mais velha a árvore, mais
rápido ela cresce. Assim, árvores com 1 metro de diâmetro de tronco produziam três
vezes mais biomassa do que espécimes que tinham apenas metade dessa largura. Portanto,
no caso das árvores, ser velha não significa ser fraca, curvada e frágil. Pelo contrário:
as árvores idosas são eficientes e cheias de energia. São claramente mais produtivas
que as jovens, além de importantes aliadas do homem na mudança climática.
Se
quisermos usar as florestas para combater a mudança climática, precisaremos deixá-las
envelhecer, como exigem as grandes organizações de proteção à natureza.
Estudantes
da Universidade RWTH Aachen descobriram a diferença de temperatura entre uma mata
ensolarada de coníferas e uma antiga mata natural de faias dentro da nossa floresta.
Em um dia quente de agosto (verão no hemisfério Norte) no qual o termômetro marcava
37º C, o chão da floresta de frondosas estava cerca de 10 graus mais frio do que
o da floresta de coníferas, a poucos quilômetros de distância. Esse resfriamento,
que reduz a evaporação de água, é causado pelas sombras das frondosas, mas, sobretudo,
pela biomassa da mata de faias.
Quanto
mais madeira viva ou morta tem uma floresta, mais espessa é a camada de húmus do
solo e mais água é armazenada. A evaporação leva ao resfriamento, que por sua vez
reduz a evaporação.
Ela
[Anastassia Makarieva, do Instituto de Física Nuclear de São Petersburgo, na Rússia] e seu grupo realizaram pesquisas em diferentes
florestas espalhadas pelo mundo e chegaram sempre às mesmas conclusões: na floresta
tropical ou na taiga siberiana, eram as árvores que transportavam a umidade necessária
à vida para o interior do continente.
Também
descobriram que o processo inteiro é interrompido quando as florestas costeiras
são desmatadas. É como se alguém removesse os tubos de sucção de água de uma bomba
elétrica. No Brasil, as consequências já começaram a surgir: o nível de umidade
da Floresta Amazônica está cada vez mais baixo. A Europa Central, a cerca de 600
quilômetros da costa, ainda faz parte da área de alcance da bomba de sucção, e felizmente
ainda existem florestas na região, apesar de sua área já ter diminuído bastante.
As
florestas de coníferas do hemisfério Norte têm outra forma de influenciar o clima
e o equilíbrio hídrico: exalando terpenos, substâncias que funcionam originalmente
como proteção contra doenças e parasitas. Quando essas moléculas entram na atmosfera,
concentram a umidade. Com isso, formam-se nuvens duas vezes mais densas do que em
superfícies sem florestas.
Já
as formigas adoram o sumo açucarado que o pulgão excreta e o tomam assim que ele
sai do animal. Para acelerar o processo, as formigas o estimulam com as antenas.
E, para que nenhum outro predador tenha a ideia de simplesmente devorar as valiosas
colônias de pulgões, as formigas os protegem, desenvolvendo uma verdadeira criação
de insetos nas copas. E o que as formigas não conseguem explorar não é desperdiçado.
A película adocicada que cobre a vegetação ao redor da árvore é rapidamente ocupada
por fungos e bactérias, mofa e ganha uma coloração negra.
Você
verá que o câmbio é levemente resinoso, tem sabor parecido com o da cenoura e é
bastante nutritivo. Os besouros escolitídeos concordam, por isso perfuram a casca
e botam ovos perto dessa fonte de energia. Assim, bem protegidas dos inimigos, as
larvas podem comer até se satisfazerem. Para se proteger o abeto produz terpenos
e substâncias fenólicas, podendo até matar o besouro (mesmo quando não mata o inseto,
ele acaba grudado nas gotas de resina).
Plantas
que não são verdes não contêm clorofila, por isso não realizam a fotossíntese. Portanto,
precisam de ajuda externa: acessam a micorriza (a associação entre o micélio de
certos fungos e as raízes de árvores, que envolve a troca de nutrientes entre as
espécies) e, como não precisam de luz, vivem até nas matas de abetos mais escuras,
onde interceptam parte dos nutrientes que fluem entre fungos e árvores.
Na
hora de escolher a espécie de árvore, os cervos e as corças procuram a mais rara
da região, talvez porque o aroma da casca funcione como um perfume exótico. Os humanos
raciocinam de forma semelhante: o que é raro provoca desejo.
As
corujas não cabem nos buracos de pica-pau, por isso precisam esperar alguns anos
para ocupá-los. Nesse período a árvore se decompõe e a abertura cresce. É comum
algumas árvores terem um rastro de furos próximos uns dos outros, que acabam se
juntando e acelerando o processo. São originalmente construídos por pica-paus, que
fazem da árvore uma espécie de “prédio de apartamentos”.
A
árvore tenta se defender como pode, porém a essa altura já é tarde demais para agir
contra os fungos, pois as portas estão abertas para eles há anos. Mesmo assim ela
pode estender consideravelmente sua expectativa de vida se ao menos controlar os
ferimentos externos. Com isso, continua se decompondo por dentro, mas permanece
estável, como um cano oco, e ainda pode viver mais 100 anos.
Um
dos motivos para a interrupção é a água, que deve estar líquida para que a árvore
possa trabalhar. Se seu “sangue” congela, seus sistemas param de funcionar e ela
pode até sofrer danos graves (por exemplo, caso a madeira esteja muito úmida, o
congelamento pode fazê-la simplesmente estourar, como acontece com um cano). Por
isso, ainda no auge do verão a maioria das espécies começa a reduzir sua umidade
e, com isso, as atividades. Porém, dois motivos as impedem de interromper por completo
as atividades no inverno: primeiro, elas usam os últimos dias quentes do fim do
verão para encher os tanques de energia (desde que não sejam parentes das cerejeiras);
segundo, a maioria das espécies precisa transportar os nutrientes que estão nas
folhas para o tronco e as raízes.
Tem
sentido formar até 1 milhão de folhas novas todo ano para usá-las apenas por
alguns meses e em seguida se dar o trabalho de jogá-las fora? A evolução responde
que vale a pena, sim, pois, quando as frondosas se desenvolveram há 100 milhões
de anos, as coníferas já existiam havia 170 milhões de anos. Ou seja, em comparação,
as frondosas são recentes. Assim, no outono seu comportamento tem muito sentido,
pois ao desfolhar elas evitam os efeitos de uma força devastadora: as tempestades
de inverno.
Quando
os ventos fortes começam a soprar nas florestas a partir do meio do outono, muitas
árvores passam a correr risco de vida. Acima de 100 km/h os ventos podem derrubar
árvores grandes, velocidade que em certos anos é alcançada toda semana. As chuvas
de outono amolecem o solo, que, enlameado, não proporciona muita base de apoio às
raízes. A tempestade pode atingir um tronco
adulto com força de aproximadamente 200 toneladas. A árvore que estiver mal preparada
não suportará a pressão e cairá.
Dessa
forma, basta uma leve brisa para que as folhas caiam e a árvore possa descansar
e se recuperar dos esforços da estação anterior. Quando isso não acontece a árvore
sofre privação de sono, e, assim como acontece com o homem, isso põe sua vida em
risco. Por isso os carvalhos e as faias plantados em vasos não sobrevivem em uma
sala de estar.
Enquanto
muitas espécies se esforçam para ter uma vida austera, amieiros, freixos e sabugueiros
esbanjam. Descartam as folhas ainda verdes e não contribuem em nada para o colorido
das florestas no outono. Ou seja: as árvores que mudam de cor no outono são mais
comedidas? Não é bem assim. Os tons de amarelo, laranja e vermelho surgem quando
a clorofila é retirada da folhagem e armazenada na árvore, mas os carotenoides e
antocianos (substâncias que determinam essas colorações nas folhas) também acabam
sendo decompostos. O carvalho, por exemplo, é uma espécie tão econômica que guarda
tudo o que pode e elimina apenas as folhas marrons. Já as faias perdem folhas de
tonalidade marrom e amarelada, ao passo que as cerejeiras perdem folhas vermelhas.
No
entanto, as árvores precisam ter noção de tempo não apenas para a folhagem. Esse
conhecimento é igualmente importante para a procriação. Se a semente cair no solo
durante o outono, não conseguirá germinar de imediato, pois enfrentará dois problemas:
por um lado, as mudas sensíveis não conseguem lignificar e acabam congelando. Por outro, no inverno cervos e corças quase não
encontram o que comer, por isso atacam os brotos verdes e frescos. O ideal é que
nasçam na primavera, com todas as outras espécies. Logo, pode-se concluir que as
sementes registram mudanças de temperatura, e seus brotos só se atrevem a sair da
casca quando há períodos de calor prolongados após o frio.
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