quinta-feira, 6 de abril de 2023

ARAUTOS...



 

Por James Joyce

 

Discussões do baixo clero sobre a historicidade de Jesus. A arte tem que nos revelar ideias, essências espirituais amorfas. A suprema questão para uma obra de arte é quão profunda é a vida de onde ela brota. A pintura de Gustave Moreau é pintura das ideias. A mais profunda poesia de Shelley, as palavras de Hamlet colocam nossa mente em contato com a sabedoria eterna, o mundo das ideias de Platão. Todo o resto é especulação de aprendizes para aprendizes.

A. E. andou dizendo a um repórter ianque. Puxa, macacos me mordam!

— Os mestres primeiro foram aprendizes, Stephen disse ultraeducadamente. Aristóteles foi um dia o aprendiz de Platão.

— E continuou sendo, ou era de se esperar, John Eglinton sereno disse. Dá pra ver, o aprendiz modelo com o seu diplominha debaixo do braço.

Riu de novo do rosto barbado que agora sorria.

Espirituais amorfas. Pai, Verbo e Alento Santo. Todo-pai, o homem divino. Hiesos Kristos, mago do belo, o Logos que sofre em nós a todo momento. Isto em verdade é aquilo. Eu sou o fogo sobre o altar. Sou o óleo sacrificial.

Dunlop, Judge, o mais nobre de todos os romanos, A. E., Arval, o Nome Inefável, no céu nominado: K. H., mestre de todos eles, cuja identidade não é segredo para adeptos. Irmãos do grande concílio branco sempre alerta pra ver se podem ajudar. O Cristo com a irmãnoiva, umidade de luz, nascido de uma virgem almada, sophia arrependida, que partiu para o plano de buddhi. Esotérica existência não para pessoa comum. P. C. tem que eliminar mau karma primeiro. A senhora Cooper Oakley certa vez viu de relance o elemental de nossa ilustríssima irmã H.P.B.

Ah, fu! Fora com isso! Pfuiteufel! A senhorita não devia de olhar, senhorita, não devia não quando uma senhora está mostrando os elementais.

 

REFERÊNCIA:
JOYCE, James. Ulysses. Tradução de Caetano W. Galindo. 1. ed. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2012. p. 338.

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