O
Mistério de Luz e Imagem
O drama
e a glória de vosso Ser.
P. A. Freire*
O Cósmico dotou nossa mente de uma fértil imaginação, que
é tanto maior quanto maior for a nossa inteligência. Com a imaginação, podemos
viajar no tempo e no espaço sem as estreitas limitações do mundo material, no
qual vivemos num fastidioso cotidiano. Para este, trazemos os enfeites
pictóricos das mais variadas cromias encontradas nas imagens, também formadas
pela imaginação daqueles que, num passado longínquo, desejosos de enriquecer as
mensagens que deveriam atravessar os milênios e chegarem até nossos dias - a
salvo das garras felinas da ignorância - legaram para nós, cunhadas na pedra,
criptografadas em papiros ou sonorizadas pela palavra, as lendas que hoje
constituem um acervo de sabedoria, que é o Símbolo.
O iniciado, valendo-se desse dom que a imaginação lhe
proporcionou, pode escutar, com o devido cuidado, o distante sussurro de nossos
antigos sábios, transmitindo as verdades eternas.
Esta imaginação não é pura podeis ver, tanto no mundo de
hoje como no passado, foi antes imaginado na mente daquele que o projetou.
A história de Aishá, sois vós na eternidade... Nela estão
narrados todo o drama e toda a glória de vosso Ser... Encenados no pensamento
do Universo...
A
HISTÓRIA DE AISHÁ
"No princípio,
criou DEUS o Céu e a Terra. A Terra, porém, estava vazia e nua; e as trevas
cobriam a face do abismo; e o espírito de DEUS era levado por cima das águas...
Disse DEUS: faça-se a
Luz, e fez-se a Luz ... a Luz que deveria refletir a criação, a Alma do
universo - Aishá.
A alma do Homem.
Escutai o cântico do mistério.., A vossa história, vivida no pensamento de
DEUS.
Vou contar-vos uma
história, dentro das imagens que possam encontrar dimensões em vossa
compreensão. Esta história é simples, mas encerra, em seu contexto, um profundo
significado que, espero, consiga unir-nos neste encontro de amor.
-Era uma vez uma alma
que habitava o Divino Éter: pura como uma columba - sem a consciência de si
mesma.
Sua morada chamava-se
"Shamaim" e seu nome era Aishá.
Faltava-lhe um
atributo: a compreensão.
Um dia, pôde
contemplar toda a beleza da criação arquitetada por DEUS e, por ela
fascinando-se, no desejo imenso de conhecê-la, projetou-se nos abismos em
trevas dos espaços imensos. E, caindo de esfera em esfera, foi esquecendo a sua
origem, mergulhando profundamente na mais densa morada da matéria informe. Lá,
nas profundezas desse abismo, começa ela a caminhar, a chamar pelo nome de
todas as formas primitivas de energias caóticas. Parecia que tudo era um
começo.
Sozinha, esquecida
das origens, inconsciente de sua escolha, começa um caminho de sofrimento e de
dor!
Desorientada, sentiu
a necessidade de coordenar essas energias dentro de um princípio que lhe
pareceu melhor. E, aí, começou a entoar o seu primeiro cântico! O cântico das
pequeninas esferas: era o mundo atômico, material, com que começava Aishá a
construir o primeiro degrau da escada experimental das formas.
Ela havia decidido,
mas não sabia.
Ela era a própria luz
que devia refletir cada página, cada ciclo evolutivo das formas da criação. E
assim teve origem a sua jornada, origem dos primeiros acordes da sinfonia das
esferas. Eram as notas das grades de um teclado universal que Aishá deveria
perceber, nota por nota, para que, com esse conhecimento, pudesse cumprir sua
missão. Sim, a sua missão como a divina compositora desse grande concerto que
encerra, em cada partitura, as notas vibratórias que, desdobradas pela
experiência, manifestariam o pensamento primordial Daquele de quem estava
esquecida, mas que continuava vivo no seu impulso interior!
Depois de imensa
jornada em imensurável tempo, ela acorda para uma nova etapa. Conseguira
colocar cada partitura em seu devido lugar. E, no aprimoramento de cada nota,
Aishá conseguira
manifestar o primeiro mistério - A VIDA!
Pela primeira vez,
sentiu que era uma alma vivente. E, assim, dentro de sua natureza, usando das
águas do Céu e das águas da Terra, surgiram as primeiras flores em seu caminho.
O espaço entre os
pequeninos vegetais, sua então morada, ela o preenchia dos mais variados
perfumes, como uma prece, uma oferenda ÀQUELE que lhe determinara a criação!
Esta foi, senhoras e
senhores, a vossa primeira prece!
Cada espécie criada
por Aishá se tornava o "habitat da vida.
De missão cumprida,
continua seu caminho e, de repente, mais uma página foi virada.
Com sua experiência,
percebeu Aishá que novas moradas estavam no grande projeto e, com os elementos
tirados da experiência, ela gerou uma nova dimensão: surgira a primeira célula
vivente. E das águas da Terra com as águas do Céu nascera o primeiro
"coacervado - o unicelular que, com o sacrifício de si mesmo, num
verdadeiro "dar-se", dividia-se em dois; e, assim, nessa progressão
geométrica, começava Aishá a povoar as esferas suspensas no infinito universo.
Aishá podia mover-se
e, por onde caminhava, levava a sua espécie.
Em sua nova morada,
sentiu que, unindo cada célula, poderia construir novas dimensões de si mesma,
num trabalho extenuante e penoso.
Nascera, então, o
primeiro invertebrado!
Era a vida que
aumentava a sua movimentação e, com cuidados especiais, começa Aishá a formar
os pequenos filetes que, conduzindo sensações para um centro, dava ao pequenino
ser a possibilidade de sentir o exterior de si mesmo na pequena consciência de
seu interior.
O trabalho de Aishá
acelerava-se, e foi criando e habitando, assim, novas dimensões da vida, com
que ela povoou as esferas celestes.
Surgiram agora os
primeiros vertebrados!
Pelas enormes
dimensões de suas estruturas, necessitavam de um órgão que mantivesse a sua
forma com maior movimentação e de novas janelas de seu interior para o
exterior. E Aishá deu nome a todas essas formas, vivendo-as, uma a uma, diante
do universo!
Aishá contemplava a
sua obra!
Em cada período de
repouso, ela procurava sentir a vontade Daquele que determinara a criação.
Sofrida, cansada,
continuava o seu trabalho; com as águas da Terra e com as águas do Céu ela
havia povoado os Mares e as florestas; porém, sentia que faltava alguma coisa.
Precisava criar uma nova morada que fosse mais perfeita do que tudo que havia
habitado. Então, criou ela a primeira semente que geraria a forma pré-humana.
E, de dentro de sua nova dimensão, de sua nova manifestação, levantando os
braços, Aishá começava a rever, através dos símbolos de seu interior, a
primeira luz que, em forma de disco, parecia ser uma de suas expressões.
A luz maior,
expressada na luz menor, era contemplada.
Aishá chorou pela
primeira vez. Ela não podia entender, mas podia sentir.
Era o parto dolorido
da espécie humana; era a primeira lágrima que rolava sobre um rosto. Era a sua
e a vossa segunda prece. Aishá sentiu, pela primeira vez, o Amor; mas sentiu
também quão difícil seria a sua jomada para encontrar aquela luz que se
escondia por detrás daquele disco.
Seu interior fremia
de contentamento; suas lágrimas de dor e de alegria fundiam-se numa só emoção
porque, em cada dor, surgia a alegria de uma nova vivência, de uma nova
experiência.
Em cada período de
repouso, ela contemplava a sua obra e partia para novas dimensões. Era mais uma
etapa vencida na direção do grande destino que a aguardava. E, assim, Aishá,
nesta nova morada, nesta nova forma de expressão, acelerava o caminhar. Era a
forma humana que se aprimorava. Porém, dada a complexidade dessa expressão,
surgiu aquilo a que chamamos o "bem e o "mal .
Era a ciência dos
opostos que ela conscientizava.
Foi aí que Aishá
percebeu que o mal existia para que o bem se evidenciasse.
Era uma lei que
surgia, oriunda dos conjuntos, para, através desta mais alta forma de vida,
usando da liberdade que lhe foi conferida para lhe facilitar a obra, dar a ela
o direito de escolha.
E, assim, chegou
Aishá aos nossos tempos - às vossas dimensões.
Não mais preciso
continuar esta história porque, de agora em diante, em vez de narrada, será
vivida por vós mesmos - Aishá dessa história.
Entretanto, posso
dizer-vos que estes tempos já estão concluídos. Todos já fizeram a sua escolha.
Neste momento, estamos vivendo um êxodus desta para uma nova dimensão. Estamos
num êxodus desta para uma nova terra: para a terra de Canaã dos hebreus; para a
Salem de Melquizedek; para o outro lado do sol - para o REINO DO SENHOR!
Por isso, eu vos
peço, neste momento, numa apoteose a esta dimensão, no clímax deste êxodus,
cantai comigo este poema de Amor:
"UM DIA PISAREI
A TERRA DO SENHOR!"
*Texto extraído da abertura da
Convenção Mundial Rosacruz - AMORC realizada no Brasil, em Curitiba-PR, em outubro
de 1975. Gravado posteriormente em áudio e lançado no LP de nome “A Cruz e a
Rosa – Filosofia Perene/ História de Aishá”, em 1976, pelo selo Tapecar. Áudio do
disco com Luiz Eça, Carlos Alberto e P.A.Freire.
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