domingo, 14 de julho de 2024

CLEMENCE ISAURE

  


  

Por Julie Scott, SRC

  

Quem foi Clemence Isaure?

O nome Clemence significa clemência ou misericórdia e Isaure significa Ísis de ouro, ou Ísis Dourada. Várias fontes descrevem Clemence Isaure como uma pessoa real, que viveu no Território de Oc no final dos anos 1400 e no começo dos anos 1500, cuja beleza e talento eram raros e inspiradores. Outros dizem que ela era uma personagem fictícia criada para perpetuar as tradições femininas dos tempos antigos.

De acordo com a lenda, depois da morte de seu amado trovador, que a enaltecia com as belas canções e a quem ela adorava, Clemence Isaure fez um voto de castidade e silêncio. No entanto, antes de fazer isso, ela fez um donativo à cidade de Toulouse para restaurar os concursos de poesia da Gai Savoir, uma sociedade poética estabelecida em 1323 por meio de um novo grupo chamado de Jeux Floraux.

Clemence Isaure simbolizava a nobre ação, beleza e sabedoria inspiradas pela poesia. Acima de tudo, ela representava a perpetuação dos antigos mistérios, principalmente aqueles associados ao feminino e, de forma mais específica, à deusa Isis.

 

O Misterioso Território de Oc

Na Idade Média, a metade sudeste onde agora é a França, partes da Espanha e Mônaco era chamada de Occitânia ou Território de Oc. Hoje essa região é chamada de Languedoc (o idioma de Oc) ou L’Occitanie. A vibrante cultura occitana permitiu direitos iguais para mulheres e homens, incentivando a compreensão e o diálogo entre todas as fés, proporcionando uma educação excelente para seus cidadãos, e era muito pacífica e próspera.

Baseando-se nas tradições místicas mais antigas, as primeiras versões da Cabala surgiram dessa área no começo do século XII. Os Cátaros, uma seita de místicos cristãos cujas crenças provavelmente se originaram nas tradições da Antiga Europa e no maniqueísmo (gnosticismo persa), também viviam em Languedoc e em outras partes da Europa iniciando no século XI.

Os reis da França do norte (na época um país separado) e a Igreja Católica Romana queriam a riqueza, as terras e os convertidos de Languedoc, principalmente os Cátaros para que essas duas poderosas forças conspirassem contra o povo de Oc, resultando em sua perseguição e a iminente extinção das tradições occitanas, pelo menos em sua presença pública nos anos 1200. Cerca de 500.000 pessoas de Languedoc, incluindo cristãos, judeus e outros místicos, podem ter sido assassinadas durante a Cruzada Albigense ao longo de 20 anos e, em seguida, a Inquisição que durou um século.

Os trovadores, que cantavam no idioma de Oc, encontraram uma forma oculta de perpetuar as tradições occitanas e suas fontes, os antigos mistérios, através do simbolismo poético. Enquanto os trovadores pareciam estar cantando sobre o amor de um homem por uma mulher, na verdade, eles estavam se referindo às leis do amor universal. Eles estavam expressando a benção da união com o Divino e a paz que resulta desta comunhão. Um dos símbolos que os trovadores usavam para representar o desejo interior da alma por essa união mística era a rosa.

 

A “Gai Savoir” e a “Jeux Floraux”

Depois de intensa perseguição na área, em 1323 sete indivíduos em Toulouse, conhecidos como os sete trovadores, fundaram uma sociedade mística chamada de Gai Savoir, que significa “feliz conhecimento”. A missão exotérica dessa sociedade era transformar o mundo em um lugar melhor e mais feliz através da poesia. Embora oculto, o significado esotérico de suas poesias era claro para aqueles com olhos para exergá-lo.

Os sete trovadores colocaram uma carta em circulação para todos os poetas em Languedoc, convidando-os para apresentar sua poesia em um concurso no mês de maio seguinte (1324). O painel dos sete juízes escolheu os vencedores, que foram premiados com a violeta (sua cor simbolizando o grau místico mais elevado), a calêndula (representando o ouro filosófico), e a rosa silvestre.

A Gai Savoir operava como uma Ordem, com uma filosofia e regras que eles chamavam de “leis do amor”. Eles reuniram as antigas tradições místicas que se espalharam ao longo dos séculos, as preservando e discretamente perpetuando.

Durante as Guerras Religiosas na França nos anos 1500 (um século de horríveis guerras entre os Católicos Franceses e os Protestantes Huguenotes) a Gai Savoir adormeceu. Mais tarde, o grupo reapareceu na forma de Jeux Floraux, com a descoberta alegórica de uma tumba, da mesma forma que a tumba de Christian Rosenkreuz foi descoberta e aberta.

A tumba, que foi descoberta em Toulouse, foi a de Clemence Isaure, a fundadora alegórica de Jeux Floraux. Flores também foram encontradas nessa tumba, em alusão às premiações florais concedidas anteriormente pela Gai Savoir. A basílica, na qual dizem estar localizada a tumba, chamada de La Dourade, se encontra no local do primeiro Templo dos Visigodos em Gália, um antigo templo à Minerva (Ísis), que hoje é dedicado à “Virgem Negra” com uma bela estátua dela olhando a capela principal do alto.

 

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“Clemence Isaure” – a Pintura

De 1892 a 1897, sob a direção de Joséphin Péladan (que tinha fortes laços com a Jeux Floraux e com a Rose-Croix de Toulouse), a Rose-Croix da França organizava os Salões da Rose-Croix em Paris. Esses salões, que recebiam milhares de convidados todos os anos, apresentava música e ritual Rosacruz, assim como arte. O famoso compositor rosacruz Erik Satie foi nomeado como o diretor musical da Ordem da Rose-Croix no começo dos anos 1890. Claude Debussy, amigo de Satie e um dos grandes compositores franceses, também era um Rosacruz.

Os Salões Rosacruzes exibiam obras de muitos pintores do movimento do Simbolismo, incluindo Henri Martin de Toulouse, cujas pinturas foram exibidas em 1892. Neste mesmo ano, Martin foi contratado para criar várias pinturas para o Hall of the Illustrious no Capitólio de Toulouse.

Ele escolheu como tema a Jeux Floraux. Uma dessas pinturas é “A Aparição de Clemence Isaure aos Trovadores”. Nela, Clemence Isaure mostra aos sete trovadores um pergaminho da Jeux Floraux, que inclui a rosa e a cruz. Ela está acompanhada de três Musas e da deusa Minerva, a Ísis Egípcia.

 

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Who Was Clemence Isaure?

The name Clemence means clemency or mercy, and Isaure means Isis of gold, or Golden Isis. Several sources describe Clemence Isaure as an actual person, who lived in the Territory of Oc in the late 1400s and early 1500s, whose beauty and talent were rare and inspiring. Others say she was a fictional character created to perpetuate the feminine traditions of earlier times.

According to legend, following the death of her troubadour love, who praised her through his beautiful songs and whom she adored, Clemence Isaure took a vow of chastity and silence. Before doing so, however, she established an endowment for the city of Toulouse to re-establish the poetry contests of the Gai Savoir, a poetry society established in 1323, through a new group called the Jeux Floraux.

Clemence Isaure symbolized noble action, beauty, and wisdom inspired through poetry. Above all, she represented the perpetuation of the ancient mysteries, especially those associated with the feminine and particularly with the goddess, Isis.

 

The Mysterious Territory of Oc

In the Middle Ages, the southern half of what is now France, parts of Spain, and Monaco were called Occitania or the Territory of Oc. Today this region is referred to as the Languedoc (the language of Oc) or L’Occitanie. The vibrant Occitan culture allowed equal rights for women and men, encouraged understanding and dialogue between all faiths, provided excellent education for its citizens, and was very peaceful and prosperous.

Drawing heavily on older mystical traditions, the first versions of Kabbalah emerged from this area in the early twelfth century. The Cathars, a sect of Christian mystics whose beliefs most likely originated from the traditions of Old Europe and Manichaeism (Persian Gnosticism), also lived in the Languedoc and other parts of Europe beginning in the eleventh century.

The kings of northern France (a separate country at the time) and the Roman Catholic Church wanted the wealth, land, and converts of the Languedoc, especially of the Cathars, so these two powerful forces plotted against the people of Oc, resulting in their persecution and the near extinction of the Occitan traditions, at least their public presence, in the 1200s. As many as 500,000 people of the Languedoc, including Christians, Jews, and other mystics, may have been murdered during the twenty-year Albigensian Crusade and the century-long Inquisition that followed.

The troubadours, who sang in the language of Oc, found a veiled way to perpetuate the Occitan traditions and their source, the ancient mysteries, through poetic symbolism. While the troubadours appeared to be singing about the love of a man for a woman, they were really referring to the laws of spiritual love. They were expressing the bliss of union with the Divine and the peace that results from this communion. One of the symbols the troubadours used to represent the inner desire of the soul for this mystical union was the rose.

 

The Gai Savoir and Jeux Floraux

Following the intense persecution in the area, in 1323 seven individuals in Toulouse, known as the seven troubadours, founded a mystical society called the Gai Savoir, meaning “happy knowledge.” The exoteric mission of this society was to make the world a happier and better place through poetry. Though veiled, the esoteric meaning of their poetry was clear for those with eyes to see.

The seven troubadours circulated a letter to all the poets in the Languedoc, inviting them to present their poetry at a contest the following May (1324). The panel of seven judges chose the winners, who were awarded a violet (its color symbolic of the highest mystical degree), a marigold (representing the philosophical gold), and the wild rose.

The Gai Savoir operated as an Order, with a philosophy and rules that they called “the laws of love.” They gathered together the ancient mystical traditions that had been scattered over the centuries, preserved and discreetly perpetuated them.

During the Wars of Religion in France during the 1500s (a century of horrible wars between the French Catholics and Protestant Huguenots), the Gai Savoir became dormant. The group later reappeared in the form of the Jeux Floraux, with the allegorical discovery of a tomb, similar to the way in which Christian Rosenkreuz’s tomb was found and opened.

The tomb, which was discovered in Toulouse, was that of Clemence Isaure, the allegorical founder of the Jeux Floraux. Flowers were also found in this tomb, alluding to the floral prizes earlier awarded by the Gai Savoir. The basilica where the tomb is said to be located, called La Dourade, is on the site of the first Visigoth temple in Gaul, a previous temple to Minerva (Isis), and today is dedicated to “the black Madonna,” with a beautiful statue of her overlooking the main chapel.

 

[…]

 

Clemence Isaure – the Painting

From 1892 to 1897 under the direction of Joséphin Péladan (who had strong ties to the Jeux Floraux and the Rose-Croix of Toulouse), the Rose+Croix of France organized the Salons of the Rose-Croix in Paris. These salons, which hosted tens of thousands of guests each year, presented music and Rosicrucian ritual, as well as art. Well-known composer and Rosicrucian Erik Satie was named the musical director of the Order of the Rose+Croix in the early 1890s. Claude Debussy, Satie’s friend and one of France’s greatest composers, was also a Rosicrucian.

The Rosicrucian Salons exhibited the works of many painters of the Symbolist movement, including Henri Martin from Toulouse, whose paintings were exhibited in 1892. That same year Martin was commissioned to create a number of paintings for the Hall of the Illustrious in Toulouse’s Capitole. He chose as his theme – the Jeux Floraux.

One of these paintings is The Appearance of Clemence Isaure to the Troubadors. In it, Clemence Isaure shows the seven troubadours the charter of the Jeux Floraux, which includes the rose and the cross. She is accompanied by three Muses and by the goddess Minerva, the Egyptian Isis.

 

REFERÊNCIAS:
SCOTT, Julie. Clemence Isaure – a Isis Dourada Rosacruz. O Rosacruz. n. 308, Curitiba, AMORC-GLP, p. 12-18, outono 2019. Trechos selecionados.
 
SCOTT, Julie. Clemence Isaure: The Rosicrucian Golden Isis. Rosicrucian Digest, San Jose, AMORC, v. 99, n. 1, p. 55-59, 2021. Excerpts.

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