Por
Allan Percy
A natureza é a melhor fonte de paz quando o
bulício do dia-a-dia nos sufoca, quando nos sentimos ultrapassados pelos
acontecimentos ou somos dominados por uma tristeza que não conseguimos
entender.
O modo como a natureza nos acolhe, sem fazer
perguntas, sem pedir nada, sem nos julgar, devolve-nos a calma perdida e
liga-nos ao nosso centro espiritual. Há pessoas que vão até ao rio ouvir o som
da água porque dizem que isso as relaxa; outras vão caminhar pela montanha como
terapia para esvaziar a mente das preocupações quotidianas, para estarem
sozinhas com pensamentos mais elevados sobre a existência.
Todo o ser humano precisa de voltar a essa
calma essencial, sair do mundo por uns instantes e ficar sozinho consigo mesmo,
envolvido pela natureza.
No entanto, não existe só esta maneira de nos
entregarmos ao mundo natural. Também podemos contactá-lo através dum diálogo
criativo. Por exemplo, através da jardinagem, uma atividade a que se entregou
de corpo e alma o próprio [Hermann] Hesse durante uma boa parte da sua vida.
A jardinagem demonstrou ser uma terapia muito
forte para reduzir o stresse e a ansiedade. Nalguns centros são dadas tarefas
de jardinagem a pessoas com incapacidades ou em processo de reabilitação.
Quando cuidamos do nosso jardim, os nossos
pensamentos param, enquanto a nossa atenção se centra na vida que cresce diante
dos nossos olhos. Aprendemos com as plantas, damo-nos bem com elas e assumimos
os seus ritmos, mais tranquilos, sem exigências nem expetativas.
Há estudos que indicam que cuidar das plantas
eleva a autoestima, favorece o relaxamento e, claro, ajuda a obter uma
tonicidade física, tanto pelo exercício suave como pelo facto de se estar ao ar
livre.
Por outro lado, pressupõe um grande benefício
espiritual cuidar de alguma coisa que não seja nós próprios. Ajudamos a
natureza a prosperar e, de algum modo, crescemos com ela. Cuidar de uma planta
permite-nos estabelecer um vínculo subtil e até uma comunicação com ela, o que
nos afasta dos quebra-cabeças mundanos.
Contemplar esse crescimento permite-nos fixar a
nossa meta num objetivo pequeno, concreto, onde a observação, e não a ação
constante, é o centro. Essa atenção cuidadosa proporciona-nos uma satisfação
que não conseguimos encontrar fora da natureza.
A planta tem o seu ritmo e a pessoa que cuida
dela aprende a respeitar esse ritmo e até a integrá-lo na sua vida.
Quando nos sentimos perdidos e não sabemos o
que fazer com a nossa vida, quando tudo nos deprime e nos vemos inundados pelo
que nos rodeia, podemos regenerar-nos através de pequenos gestos, sem ter de
entabular uma luta com o mundo e connosco mesmos.
Há muito a aprender com um jardim em
crescimento, dado que o seu estado e os cuidados que lhes prodigamos são um
reflexo do nosso jardim interior. Talvez a lição seja assim simples: quem é
capaz de cuidar do seu jardim, também consegue cuidar de si mesmo.
O ritmo
pausado das plantas, a sua aceitação dos elementos, o silêncio e a calma, são
aspetos que podemos integrar em nós para uma vida mais serena e natural.
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