domingo, 8 de janeiro de 2023

A SOLIDÃO NECESSÁRIA

 

 

A solidão é o caminho pelo qual o destino quer conduzir o homem em direção a si mesmo.

 

Por Allan Percy

 

A solidão assusta muitas pessoas. Schopenhauer dizia que «o instinto social dos homens não se baseia no amor à sociedade, mas sim no medo da solidão».

Este receio empurra o homem para a procura da companhia dos outros, mas de onde nasce? O que torna a solidão tão temível?

No silêncio da solidão encontramo-nos connosco mesmos e, frequentemente, isso deixa-nos aterrados. O que fazer connosco mesmos? Com quem falar? O medo desse encontro íntimo leva muitas pessoas a procurar qualquer tipo de companhia: um companheiro inadequado, um grupo de amigos com quem temos pouco em comum, um lugar de reunião forçado.

Tudo para não ficarmos com os nossos pensamentos.

O ruído é outra maneira de mascarar a solidão. Em casa, muitas pessoas ligam a televisão ou o rádio, apesar de estarem a fazer outra coisa. Porquê? Porque não suportam o silêncio e cobrem-no com o som de outras vozes. Atualmente, além disso, temos a possibilidade de encher o nosso silêncio de música até quando não estamos em casa. Os trajetos de um sítio a outro fazem-se com iPods, mp3, mp4, iPhones… qualquer aparelho que nos possa acompanhar no nosso passeio e impedir o silêncio.

No entanto, se não nos dermos ao luxo de estar sozinhos e em silêncio, quando é que poderemos parar por instantes?

Nietzsche dizia que caminhar ajuda a encontrar as ideias, a encontrarmo-nos a nós mesmos. Mas se ao andarmos só estivermos suspensos do que se ouve nos auriculares, como poderemos encontrar as nossas ideias nesse mar de sons alheios?

Não devemos ter medo desse encontro íntimo. Somos aqueles com quem vamos conviver toda a nossa vida e evitar a solidão também é evitarmo-nos a nós mesmos.

Oferecermo-nos um momento de solidão permite-nos ordenar os pensamentos, interrogarmo-nos sobre a vida, sobre o que verdadeiramente desejamos. É o nosso momento de recolhimento, de paz, o nosso espaço para sermos criativos, para nos deixarmos levar pelo nosso ser.

É importante reservar uma parcela do dia para nós mesmos, não só para nos mimarmos, como para estarmos aqui e agora, para tomarmos consciência, relaxarmo-nos e assim evitar que os acontecimentos nos assolem.

Estamos tão dependentes de um sem número de coisas ao longo do dia que precisamos de um espaço próprio  para fugir do bulício e pensar, gerir as emoções, ou simplesmente para estarmos em contacto com a nossa essência.

Eckhart Tolle fala-nos de como pode chegar a ser problemático o ruído mental, estar constantemente a pensar. Se a nossa cabeça estiver sempre em ebulição, é muito difícil podermos saborear um momento de paz para sentir que estamos aqui e agora, assumir que todas as outras coisas podem ficar à espera por uns minutos.

É preciso afastarmo-nos do bulício para nos descobrirmos a nós mesmos, para nos compreendermos, para estudarmos o que desejamos, o que nos inquieta. Podemos fugir para a natureza, para um quarto da casa, para um lugar onde possamos pensar…

Qualquer espaço que possamos considerar nosso é um bom sítio para desligarmos do mundo e ligarmo-nos a nós. Descobriremos  que  a  solidão  é  curativa,  criativa  e libertadora. Se reservarmos uma pequena parte do dia para nós, conseguiremos tirar prazer da vida mais plenamente.

  

REFERÊNCIA:
PERCY, Allan. A Cura Espiritual de Siddhartha. Tradução: Cristina Rodriguez e Artur Guerra. Alfragide: Estrela Polar, 2011. E-book.

Nenhum comentário:

Postar um comentário