A
solidão é o caminho pelo qual o destino quer conduzir o homem em direção a si
mesmo.
Por
Allan Percy
A
solidão assusta muitas pessoas. Schopenhauer dizia que «o instinto social dos homens não se baseia no amor à sociedade, mas sim
no medo da solidão».
Este
receio empurra o homem para a procura da companhia dos outros, mas de onde
nasce? O que torna a solidão tão temível?
No
silêncio da solidão encontramo-nos connosco mesmos e, frequentemente, isso
deixa-nos aterrados. O que fazer connosco mesmos? Com quem falar? O medo desse
encontro íntimo leva muitas pessoas a procurar qualquer tipo de companhia: um
companheiro inadequado, um grupo de amigos com quem temos pouco em comum, um
lugar de reunião forçado.
Tudo
para não ficarmos com os nossos pensamentos.
O
ruído é outra maneira de mascarar a solidão. Em casa, muitas pessoas ligam a
televisão ou o rádio, apesar de estarem a fazer outra coisa. Porquê? Porque não
suportam o silêncio e cobrem-no com o som de outras vozes. Atualmente, além
disso, temos a possibilidade de encher o nosso silêncio de música até quando
não estamos em casa. Os trajetos de um sítio a outro fazem-se com iPods, mp3,
mp4, iPhones… qualquer aparelho que nos possa acompanhar no nosso passeio e
impedir o silêncio.
No
entanto, se não nos dermos ao luxo de estar sozinhos e em silêncio, quando é
que poderemos parar por instantes?
Nietzsche
dizia que caminhar ajuda a encontrar as ideias, a encontrarmo-nos a nós mesmos.
Mas se ao andarmos só estivermos suspensos do que se ouve nos auriculares, como
poderemos encontrar as nossas ideias nesse mar de sons alheios?
Não
devemos ter medo desse encontro íntimo. Somos aqueles com quem vamos conviver
toda a nossa vida e evitar a solidão também é evitarmo-nos a nós mesmos.
Oferecermo-nos
um momento de solidão permite-nos ordenar os pensamentos, interrogarmo-nos
sobre a vida, sobre o que verdadeiramente desejamos. É o nosso momento de
recolhimento, de paz, o nosso espaço para sermos criativos, para nos deixarmos
levar pelo nosso ser.
É
importante reservar uma parcela do dia para nós mesmos, não só para nos
mimarmos, como para estarmos aqui e agora, para tomarmos consciência,
relaxarmo-nos e assim evitar que os acontecimentos nos assolem.
Estamos
tão dependentes de um sem número de coisas ao longo do dia que precisamos de um
espaço próprio para fugir do bulício e
pensar, gerir as emoções, ou simplesmente para estarmos em contacto com a nossa
essência.
Eckhart
Tolle fala-nos de como pode chegar a ser problemático o ruído mental, estar
constantemente a pensar. Se a nossa cabeça estiver sempre em ebulição, é muito
difícil podermos saborear um momento de paz para sentir que estamos aqui e
agora, assumir que todas as outras coisas podem ficar à espera por uns minutos.
É
preciso afastarmo-nos do bulício para nos descobrirmos a nós mesmos, para nos
compreendermos, para estudarmos o que desejamos, o que nos inquieta. Podemos
fugir para a natureza, para um quarto da casa, para um lugar onde possamos
pensar…
Qualquer
espaço que possamos considerar nosso é um bom sítio para desligarmos do mundo e
ligarmo-nos a nós. Descobriremos que a solidão é curativa, criativa
e libertadora. Se reservarmos uma pequena parte do dia para nós,
conseguiremos tirar prazer da vida mais plenamente.
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