Por João Florindo Batista
Segundo
Educação
como Prática da Liberdade foi o primeiro livro de Paulo Freire (1921-1997).
Escrito após o golpe de 1964, foi lançado em 1967, quando o hoje Patrono da
Educação Brasileira estava exilado no Chile.
Embora
fosse um educador e não se posicionasse politicamente, Paulo Freire acabou
sendo tão perseguido quanto os que se engajaram na política. E isso ocorreu
porque ele implementava um processo de alfabetização de massa que levava as
pessoas mais pobres deste país – principalmente de um Brasil ainda
profundamente rural e analfabeto – não somente às letras – no processo
tradicional de alfabetização –, mas, principalmente, a uma conscientização da
situação de opressão e miséria à qual as massas populares estavam relegadas.
Vejamos
então o que nos diz o seu primeiro livro, fazendo uma sinopse por capítulo:
No
capítulo 1, A sociedade brasileira em transição, Freire nos informa que
à época da escrita a sociedade brasileira estava mudando, de rural e baseada na
agroexportação para uma sociedade cada vez mais urbana e industrial, o que
requeria uma educação mais potencializada.
O
autor se preocupava com o autoritarismo e o antidiálogo, que obrigam o homem ao
mutismo e à passividade e o impedem de desenvolver sua consciência e atingir a humanização,
oposta à coisificação.
Pelo
aumento do poder de dialogação com outro homem e com o mundo, o homem se
transitiva. E a transitividade é a verdadeira democracia, lembrando
ainda que existir é um conceito dinâmico.
Segundo
Freire, o homem mudo é intransitivado e vive mais vegetativamente que
historicamente.
É
necessário mudar de uma transitividade ingênua para uma transitividade crítica,
através da educação crítica, que conduz à liberdade.
No
capítulo 2, Sociedade fechada e inexperiência democrática, inicia
tratando da sociedade colonial brasileira, que era escravocrata, intransitiva,
antidemocrática e fechada.
De
acordo com Freire, nesse contexto, o mutismo não é inexistência de resposta,
mas a resposta na qual falta o teor marcadamente crítico. O homem-massa (mudo)
não participa na solução dos problemas comuns, graças à nossa colonização, pautada
pela exploração econômica e que se fazia mediante acomodação e ajustamento das
massas às ordens dos proprietário de terra (1967, p. 74).
A
acomodação exige um mínimo de criticidade. Por sua vez, a integração
exige um máximo de razão e de consciência. Porém, em todo o período colonial a
maior parte da população brasileira viveu esmagada pelos senhores de terra.
Já
no capítulo 3, Educação versus massificação, Freire procura respostas à
luz de uma pedagogia que possa auxiliar a sociedade a construir sua democracia,
o que só é possível por uma educação que desenvolva a criticidade. Uma educação
crítica e criticizadora é a maior contribuição do educador brasileiro à sua
sociedade em “partejamento” (FREIRE, 1967, p. 85-86).
A
educação precisa apartar-se de modelos impostos, do elitismo, da memorização de
conceitos e dedicar-se à discussão dos problemas econômicos e da realidade
social brasileira.
A
mentalidade democrática só é possível através de um modelo educacional que
permita ao homem adquirir autonomia no debate dos problemas sociais (FREIRE,
1967, p. 95).
Diante
do crescimento dos meios de comunicação de massa, segundo o educador era
chegado o momento de educar as pessoas para se tornarem aptas a se conscientizarem de sua realidade.
Por
fim, o capítulo 4, Educação e conscientização, é um resumo da educação
popular que visava uma formação de qualidade, crítica à escola brasileira de
então, propondo os círculos de cultura como novo método de ensino para além da alfabetização
puramente mecânica. Para Freire, só um novo modelo educacional permite
aquisição de autonomia no debate dos problemas sociais.
A
educação precisa levar o homem a refletir sobre sua vocação ontológica de ser
sujeito (FREITE, 1967, p. 106). E nesse sentido, o método de educação popular
permitiu que a alfabetização do homem brasileiro o levasse a uma tomada de consciência
pela emersão no processo da realidade nacional, através de uma consciência
transitiva identificada com a realidade e capaz de modificá-la. Tal método
fortalece o educando como sujeito e o habilita a ser um cidadão crítico e
participativo; e para que funcione é necessário uma relação horizontal entre
educador e educando.
Somente
a educação amorosa e corajosa é capaz de pelo debate vencer o desamor acrítico
do antidiálogo.
REFERÊNCIA:
FREIRE,
Paulo. Educação como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.
Disciplina: História da Filosofia no Brasil.
Disciplina: História da Filosofia no Brasil.
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