segunda-feira, 5 de setembro de 2022

RESUMO DE “A ESTRUTURA DAS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS”

 


 

Por João Florindo Batista Segundo

 
A Estrutura das Revoluções Científicas (The Structure of Scientific Revolutions, no original) é o título do livro de 1962 no qual Thomas Kuhn (1922-1996) explica didaticamente como se dá uma revolução científica. Nessa obra de história da ciência, o filósofo demonstra que a ciência não segue por uma via linear e contínua, mas progressivamente, por saltos e revoluções.
Pelo exposto no livro, é possível apresentarmos as seguintes teses:
Tese 1 – a ciência é um produto histórico. Isso porquê a ciência se desenvolve a partir de descobertas da comunidade científica e não a partir de descobertas individuais. Além disso, ela se constitui a partir da aceitação de paradigmas, orientações dadas pela comunidade científica para pesquisadores.
O cientista não trabalha com a ciência normal buscando revoluções, mas, sim, procurando desenvolver teorias no âmbito daquela.
Os paradigmas são as visões de mundo dos cientistas e os métodos utilizados por eles; algo que estabelece limites; o padrão; o modelo; orientações dadas a um cientista ou à comunidade científica para dar encaminhamento a uma pesquisa.
Os cientistas procuram resolver os problemas e desenvolver o potencial de suas teorias e assim comprovar que estão corretos e conformes o paradigma vigente. E somente por meio do paradigma é que a ciência normal funciona.
Tese 2 – paradigma é o campo no qual a ciência normal trabalha sem crise.
Fazer ciência é resolver “quebra-cabeças” definidos pelo paradigma.
No período cumulativo, a ciência não passa por crises e revoluções.
Insucessos na pesquisa cientifica são considerados um problema do pesquisador e não do paradigma.
Aqui, Kuhn apresenta sua intuição do que vem a ser a ciência, que é a terceira grande imagem, que critica as imagens formuladas anteriormente:
1ª intuição – Platão – a partir da pirâmide;
2ª intuição – Aristóteles – a partir do edifício;
3ª intuição – Kuhn – o quebra-cabeça.
Cada peça do quebra-cabeça representa uma ciência particular. A ideia dessa imagem é que deve existir uma coerência e não uma hierarquia entre as e mudanças ciências. Cada crise e revolução nesse quebra-cabeça não gera instabilidades apenas na ciência em crise, mas também nas ciências próximas. Assim, tem-se uma crítica ao atomismo cartesiano. A ciência agora é vista como holista, complexa e coerentista e não tanto fundacionista como o era na imagem do edifício. E o quebra-cabeça não possui um fundamento, um fundo, como a pirâmide e o edifício cartesiano.
Tese 3 – as anomalias são os problemas que a comunidade científica precisa enfrentar e que determinam crises no paradigma, crises na ciência normal. E lembremos que ciência normal é montar quebra-cabeças. Logo, paradigma é o modelo de quebra-cabeça onde cada peça deve ser gradativamente encaixada, de acordo com o modelo.
Anomalias são casos críticos em que os problemas nas teorias se acumulam. Com a crise, inicia-se o perídio da ciência extraordinária. Anomalias pontuais são resolvidas com hipóteses ad hoc. Todavia, quando as anomalias crescem, o paradigma começa a ser colocado em xeque pela comunidade científica.
Outro fato a observar é que a pesquisa científica envolve um teor social e político. Deixa-se de lado a visão romântica de descobertas individuais do tipo epifânico (Arquimedes e a banheira, Newton e a maçã, Franklin e a pipa, etc). Na realidade, os chamados descobridores estavam cercados de anomalias em seu contexto que levaram a comunidade científica a detectar a existência de um problema no paradigma.
Quando cresce o questionamento do paradigma não se deve abandoná-lo instantaneamente; de acordo com Kuhn, entra-se no período chamado de ciência extraordinária. Não se tem confiança no paradigma antigo, mas ainda não foi possível eleger outro para substituí-lo.
Tese 4 – as revoluções são períodos de ruptura e de criação de novos paradigmas.
A substituição de um paradigma por outro é o que se chama de revolução científica. Isso depende do momento histórico.
As revoluções científicas podem ser comparadas a uma mudança gestáltica: ora vemos uma imagem, ora vemos outra imagem; a mudança é instantânea. Esse período é chamado de não-cumulativo.
É comum que dentro de uma ciência normal aconteçam problemas que um paradigma não consegue responder. Quando isso ocorre, seria o momento de pensar em trocá-lo; mas a ciência sempre precisa de um paradigma para se conectar à pesquisa dita científica.
Parte da comunidade científica continua usando o paradigma antigo, mas nessa transição não se pode mais dizer que estamos diante de um período de ciência normal, porque o paradigma antigo não é mais plenamente “funcional”. Parte da comunidade científica pesquisa por meio dele e parte troca-o por outro paradigma a fim de chagar a explicações palpáveis da realidade.
A aceitação do novo paradigma depende do quanto ele consegue responder aos problemas de determinado momento. Os cientistas abandonam um paradigma quando surge um novo e mais forte, não cometendo as falhas do anterior e dando aos cientistas maiores possibilidades explicativas.
Tese 5 – após a revolução, surge uma nova ciência normal, a qual determina um novo paradigma.
A história da ciência é evolutiva, não é teleológica, não há uma finalidade intrínseca à ciência. Ex.: passagem do geocentrismo ao heliocentrismo.
Nova ciência normal é o período em que um novo paradigma passa a ser majoritariamente aceito pela comunidade científica.
São cumulativos o período da ciência normal e o da nova ciência normal.
Em geral, quem funda um novo paradigma são pessoas de fora, i. e., pertencentes a outra área de conhecimento.
Os cientistas aderem por conversão ou persuasão ao que consideram ser o melhor paradigma para continuar a fazer ciência.
Deste modo, o quadro de progressão da ciência pode ser descrito da seguinte forma:

a) pré-ciência;
b) ciência normal (paradigma);
c) crise (ciência extraordinária);
d) revolução científica; e
e) nova ciência normal (novo paradigma).

Em suma, para Kuhn, não há paradigma melhor ou pior. Existe uma relação de incomensurabilidade entre paradigmas. Um paradigma responde a problemas de maneiras diversas daquelas como outro paradigma responde.

  
REFERÊNCIA: 
KUHN, Thomas. A Estrutura das Revoluções Científicas. Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira (trad.). 12. ed. São Paulo: Perspectiva, 2013.

Disciplina: Filosofia da Ciência

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