por
Manuel Cadafaz de Matos
1- A edição do Talmud e a imprensa em Portugal teve
as suas origens em Faro
Falamos sobre a edição do
mais antigo livro impresso (até agora conhecido) no nosso país, ainda em língua
hebraica, em 30 de Junho de 1987[1]. Trata-se da obra Tora [Pentateuco], e a sua impressão ficou a
dever-se a Samuel Gacon [leia-se Samuel Porteiro] que, na sua oficina
tipográfica de Faro editou, no último quartel do século XV, pelo menos, mais
dois tratados, ambos com comentários de Rashi[2] – e incorporadas num mesmo volume do Talmud, dito babilónico: Guitin [Tratado do Divórcio]
e Shevu’ot [Tratado dos
Juramentos] (1492?).
O cólofon daquela edição
do Torah dá-nos a data
precisa do final da composição da obra: “Acabou-se aqui em Faro, a 9 do mês de
Ramuz, no ano Feliz do justo, que
gozará o fruto das suas obras! [Isaías, 3, 10, i.e., 247 = 30 de Junho
de 1487], por ordem do nobre e alto Dom Samuel Gacon[3]. Que o seu Criador e Redentor o proteja”[4].
O Pentateuco é, efectivamente, o mais antigo livro que se
conhece impresso em Portugal. O Sacramental [de
1488?], de Sanchez de Vercial[5] – que em 1988 estudámos na Biblioteca do Rio de Janeiro[6] –, bem como o Tratado
de Confissom, cuja edição [de 1489] em boa hora foi descoberta e
(inicialmente) dada a conhecer através das páginas do Diário de Notícias[7], foram dados ao prelo, como se viu, não muitos meses depois.
Enquanto o Sacramental e o Tratado de Confissom são obras em
língua portuguesa, o Pentateuco, produto
saído de uma das (porventura primeiras) tipografias hebraico-portuguesas
implantadas neste recanto da península, é impresso com caracteres hebraicos[8]. Ele materializa – e é testemunho – (d)esse apego judaico à
arte tipográfica, designadamente em Portugal. Dá conta do significado da
preservação, em documentos escritos, da Lei do Talmud, de forma a que a palavra dos antigos sábios pudesse,
ininterruptamente, ser transmitida de pais para filhos ao longo dos tempos, de
sucessivas gerações.
O único exemplar que hoje se
conhece deste Pentateuco (de
Faro), encontra-se depositado na British Library, em Londres. É o primeiro
grande marco da implantação das artes tipográficas hebraicas no nosso país no
século XV.
2- Das primícias da
acção tipográfica na Europa à vigilância censória
Vejamos, assim, como se
implanta a Tipografia em Portugal – tarefa em que desempenham incialmente um
papel primordial os Judeus – e como daí até à publicação do primeiro incunábulo
(em caracteres hebraicos) na cidade de Faro, vai apenas um passo.
As artes tipográficas
tornaram-se, logo a partir dos alvores da imprensa no século XV, tanto
servidoras como “inimigas” da acção expansionista da Igreja. Por um lado,
graças aos avanços registados nas artes tipográficas (que com Gutenberg haviam
conhecido, entre 1440 e 1450, a descoberta dos
caracteres móveis), passaram-se a editar obras de carácter bíblico em profusão.
Mas foi também graças a essa mesma imprensa que os inimigos da própria Igreja,
os autores hereges por
assim dizer, passaram também a ser divulgados sem limite.
Essa foi uma das primeiras
razões por que, para a Igreja como sólido suporte do poder instituído –
importava agir taxativamente nesse sentido. Impunha-se coagir aqueles autores,
cujos métodos abusivos e prevaricadores, postos ao serviço da interpretação
dos textos sagrados, punham a própria Igreja (e os seus dogmas) em risco. Era
essa a função da censura, instituída no nosso país muito antes da implantação
do Tribunal do Santo Oficio, e cuja acção já remonta – senão mesmo antes – à
terceira década do século XIV, ao final do reinado de D. Dinis[9].
No caso concreto Portugal,
situa-se já em 1324 (pelo menos) a primeira manisfestação de defesa da Igreja e
do poder instituído contra os vários perigos que os afrontavam ou contra esses
ditos hereges. A censura pré-inquisitorial e
a censura inquisitorial, depois, actuam, assim, cumprindo a
“piedosa missão” para que foram criadas, salvaguardando os interesses da
Igreja, antes de mais, e em sua consequência os interesses (aparentes?) da
colectividade.
Pelo que se depreende de
abalizados estudos sobre a censura levados a cabo por António Baião ou I. S.
Revah, uma das motivações imediatas, para a reorganização da actividade
censória fora em meados do século XV aquela descoberta de Gutenberg.
Autores como Henri-Jean
Martin, Roger Chartier, José V. de Pina Martins e Artur Anselmo têm-se
questionado em França e em Portugal, quer sobre a data efectiva da implantação
das primeiras oficinas tipográficas na Europa Central, quer sobre as primeiras
que passaram a actuar em Portugal.
Desde os anos cinquenta e
sessenta do século XV, principiaram, com efeito, a proliferar as mais variadas
oficinas tipográficas por toda a Europa, designadamente na Península Ibérica. E
a Igreja, zelosamente militante pela preservação dos dogmas do Cristianismo,
não só vigiava com atento rigor – graças à sua apertada máquina censória – a
produção dita herética como,
mais do que isso, sempre que podia mandava queimar tais obras como os seus
próprios autores, em pessoa ou em efigie. E isso passava-se pela via da
teatralização religiosa, a encenação do auto-de-fé, incentivando as populações
anónimas (iletradas por excelência) a cometerem contra tais intelectuais o
maior somatório de atentados, que culminavam na maior parte dos casos com a própria
morte.
3-
Das primeiras tipografias com caracteres hebraicos em Portugal
Não se torna hoje muito
fácil a elaboração de um rigoroso e exaustivo catálogo das obras impressas em
Portugal, dado que, certamente, muitas delas não terão chegado até aos séculos
mais próximos. É hoje possível, no entanto, estabelecer que as primeiras
tipografias criadas neste recanto da Península estiveram associadas a famílias
judaicas e laboraram com caracteres (móveis) hebraicos, pelo menos desde 1487.
Um dado porém a não esquecer
é que para o funcionamento dessas tipografias de caracteres hebraicos nesse
último quartel do século XV se tornava imprescindível a observância de quatro
vectores ou vertentes fundamentais:
I- uma técnica de grafismo –
vocacionado para a iluminura – e de impressão capaz de responder às
necessidades de ilustração dos textos, com frequente alusão aos textos
bíblicos;
II- a existência de
caracteres hebraicos (diversos conjuntos de caracteres importados de países
onde esse modelo tipográfico estivesse mais avançado);
III- uma mão-de-obra
(minimamente) especializada que, tanto num plano de impressão como de
conceptualização e realização de grafismos, pudesse corresponder aos desejos e
interesses dos editores;
IV- a existência de
significativos stocks de papel – provenientes das fábricas já existentes em território
nacional[10] – em que se pudesse fazer a respectiva impressão.
Detenhamo-nos, assim, em
primeiro lugar, sobre essa hipótese, atrás formulada, de uma teoria da importação, e consequente
difusão nacional, dos conjuntos de caracteres
móveis hebraicos. É por demais sabido, com efeito, que as famílias
judaicas que viviam em Portugal no século XV se dedicavam, em particular, ao
comércio, transaccionando não apenas dentro das fronteiras do nosso
território, mas com outras firmas sediadas em várias cidades da Europa como
Toledo, Gibraltar, Paris, Livorno, Génova, Nápoles, Antuérpia, Bruges,
Amesterdão, Roterdão e Hamburgo. Nessas cidades situavam-se então algumas das
comunidades judaicas, denotadoras de uma identidade cultural fortemente
enraizada, de que chegou notícia até aos nossos dias.
Terá sido nas suas incursões
comerciais ao estrangeiro que esses comerciantes judaico-portugueses e
espanhóis terão trazido até à Península, quer alguns conjuntos de caracteres
móveis de impressão, quer os métodos de manufactura dos mesmos e,
consequentemente, conhecimentos e técnicas acerca da rudimentar arte de
impressão.
A introdução dos caracteres
tipográficos em Espanha antecedeu, ao que se presume, em cerca de uma década, a
verificada no nosso país. Assim, se o Pentateuco (algarvio)
acabou de se imprimir em Faro – sob os cuidados de Samuel Gacon – em 30 de
Junho de 1487, o marco de lançamento da primeira obra tipográfica em Espanha
nesse tipo de caracteres se deveu a Solomon b. Moses b. Alcabiç Halevi, em
Guadalajara, por volta de 1476 (e não em 1482 em que esse mesmo impressor
editou, na mesma localidade, os Comentários
ao Pentateuco, de David Kimchi).
O dado mais concreto de que
hoje se dispõe, a este respeito, é apresentado, porém, na Geschichte des Spanishen Frühdruckes in
Stammbaümen, de Konrad Haebler, onde se refere que já em 1483 o castelhano
Alfonso Fernandez de Córdoba procedia ao fabrico de caracteres móveis
hebraicos, porventura utilizados nas oficinas de Hijar e de Guadalajara.
4-
Judeus portugueses impressores no nosso país e no exílio
No que respeita às primícias
da arte tipográfica com caracteres hebraicos, executados por judeus
portugueses no exílio ou em Portugal, importa reter, numa primeira análise, os
nomes de Moses b. Shem Tob Ibn Habib e de Samuel Gacon. Ambos viverem em
Portugal no último quartel do século XV, tomando, as suas vidas, a partir de
uma dada altura, rumos diferentes dos da sua família espiritual do Algarve.
Moses Ibn Habib foi um poeta
hebreu, filósofo, tradutor e gramático que nasceu no século XV em Lisboa[11], em data que não se torna possível precisar. Este autor terá
vivido, ao que refere Posnanski[12], durante algum tempo no Levante. Esteve no sul de Itália,
designadamente em Nápoles, vindo a morrer nos começos do século XVI.
Foi precisamente na cidade
italiana de Nápoles que circulou em 1484 a sua gramática Perah shoshan, preparada nesse ano e
sobre a qual trabalhámos, há alguns anos, na British Library de Londres,
seguindo registos de Amzalak[13]. Esta obra, dividida em sete secções, cada uma dividida em
vários capítulos, foi iniciada em 23 de Sivan A. M. 5244, no calendário
hebraico (16 de Junho de 1484) e terminada em 27 Kislev A. M. 5244 (15 de
Dezembro do mesmo ano).
Quanto ao outro judeu
português atrás referenciado, Samuel Gacon, ele já se situa, com mais precisão,
nos primórdios da arte tipográfica portuguesa[14] em território nacional. Samuel Gacon, cuja data de
nascimento também não conhecemos, não teve de optar pela via do exílio.
Sabe-se, apenas, que no ano de 1487 vivia em Faro. Foi precisamente nessa
cidade que, em 30 de Junho desse mesmo ano – três anos depois de Ibn Habib ter
feito divulgar em Nápoles a sua gramática – concluiu a edição do Pentateuco, que Pina Martins[15]considera “a primeira obra impressa em Portugal em caracteres
hebraicos”[16].
5-
Da impressão (em 1487) do Pentateuco
Ao longo dos últimos anos,
tem-se tentado estabelecer uma teoria das ligações dos principais núcleos
tipográficos espanhóis do último quartel do século XV com outros existentes,
quer em Portugal (sobretudo em Faro, Lisboa e Leiria) quer no Norte de África
(onde, a partir do século XV, floresceram também importantes comunidades
judaicas provenientes de Espanha e do nosso país).
Embora não se possa ainda
admitir correctamente a sua região de origem, na zona arábico-andaluza, não
podemos deixar de lembrar que é sensivelmente neste período da edição do Pentateuco – ou seja, cinco
anos depois, por altura do decreto de expulsão dos judeus de Espanha – que
parte para o Norte de África o grande teórico e humanista Yossef Alachkar, dito
El-Rkyèse – que depois de 1502 se estabelece em Tlemecen, onde desenvolve obra
intelectual assinalável, no estudo da Bíblia e
do Talmud.
Samuel Gacon (em Faro),
David Kimchi e Solomon AI-Kabiç (em Guadalajara) e Yossef Alachkar (em
Tlemecem, no Norte de África), afiguram-se-nos, assim, peças importantes de um
mesmo “puzzle” que importa desmontar, reconstituir a analisar até às suas mais
ínfimas partes constituintes.
De Samuel Gacon chegou até
aos nossos dias a primeira obra de que há notícia ter sido impressa em
Portugal. Trata-se de um trabalho que se nos apresenta em 110 fólios, com
composição de 30-32 linhas.
Tendo, no nosso país, sido
primeiramente divulgada a sua existência por Proença e Anselmo[17] a notícia da sua existência já havia, no entanto, sido feita,
segundo adverte Artur Anselmo, nas Origens
da Imprensa em Portugal, por Steinchneider, entre 1852 e 1860.
O Pentateuco (de Faro) cuja realização tipográfica se concluía
em 30 de Junho de 1487, foi impresso precisamente um mês depois de ser editada
em Itália, nas oficinas de Francesco del Tuppo, a obra Apologia de Picco della Mirandola.
Não pode, porém, ainda hoje considerar-se como provada documentalmente a
hipótese de António Ribeiro dos Santos de os caracteres tipográficos móveis
hebraicos terem inicialmente chegado a Portugal provenientes de Itália[18].
6- Dos três núcleos
de produção hebraica quatrocentista portuguesa (Faro, Lisboa e Leiria)
Se o Pentateuco de Faro constitui a
primeira obra editada em caracteres hebraicos no nosso país, a edição do Séfer Abudraham, ou seja Novas da Lei ou Comentários sobre o
Pentateuco, de Moisés ben Nahman, é, na opinião de Pina Martins, “o
primeiro livro impresso na capital portuguesa em caracteres hebraicos”, já
objecto de reedição, em fac-simile, no nosso país[19].
Marque ou não essa edição o
início de uma venturosa época (porém de não muito longa duração) de intensa
actividade dos impressores hebraicos em Portugal, sabemos que ela se expandiu
entre nós na década de 1487-97 por diversos outros pontos do país. Assim, e
mesmo que em 1489 (pelo testemunho de Pina Martins) ou porventura em 1488 – a
confirmar-se a hipótese de Rosemarie Erika Horch em relação ao Sacramental, – já laborassem em Portugal
tipografias com caracteres em língua portuguesa como a de Chaves, é facto
provado que neste período a tipografia hebraica conhecia, já uma significativa
fase de implantação entre nós.
Faro pode hoje, como efeito,
orgulhar-se – justificadamente – de ter sido o berço, da primeira Imprensa
hebraica portuguesa e, daí, o local de realização da mais antiga obra – em
caracteres hebraicos – de que (até agora) há notícia na História da Imprensa no
nosso país.
Não restam hoje dúvidas –
depois das desenvolvidas pesquisas de Artur Anselmo (e contrariando o que
escrevera Joshua Bloch) – que Samuel Gacon e Samuel Porteiro foram uma única e
mesma pessoa. Tal não invalida que Offenberg tenha no índice final de Hebrew Incunabula (p. 187) –
distinguido Samuel Gacon de Samuel Porteiro, referindo que o segundo imprimiu
em Faro até por volta de 1496.
Nessa altura os seus filhos
levaram o prelo (ou componentes do mesmo) para Pesaro, em Itália (onde, segundo
Anselmo sobreviveram “vestígios de caracteres tipográficos” da sua oficina “na
qual só havia tipos quadrados de dois tamanhos, embora as vogais-pontos só
apareçam na matriz maior”). Também elementos da mesma família dos Gacon foram
descobertos por Joshua Bloch em Constantinopla.
Leiria por sua vez foi
testemunha, em 1496, da publicação do Almanach
Perpetuum celestius motuus. Foi esta obra escrita pelo judeu e astrólogo
Abraão Zacuto, destacada figura na corte de D. Manuel[20].
Importa, pois, que se
estabeleça o “rol” de publicações surgidas em cada um dos núcleos tipográficos
judaicos portugueses nesse último quartel do século XV:
I- Faro
1.1487- Pentateuco (Samuel Gacon)
2.1492(?)- Talmud Babilónico. Comentário de
Rashi (Samuel Gacon)[21]
3.1494- Tratado do Divórcio (Samuel Gacon)[22]
II-
Lisboa
1.1489- Novas da Lei ou Comentários ao Pentateuco,
de Moisés ben Nahman (Elieser Toledano)[23]
2.1489- Comentário à Ordem das Orações[24], de David Abudarham (Elieser Toledano)
3.1490(?)- Livro de Orações (Elieser Toledano)[25]
4.1490(?)- Caminhos do Mundo, de Josué Levi
4.1.idem- Livro do temor, de Ionah Gerondi
4.2.idem- Segredos da Penitência, de Ionm Tovb (os
três trabalhos, reunidos num só volume, da responsabilidade também de Elieser
Toledano?)
5.1491- Pentateuco, em versão de Onkelos e com
comentário de Rashi (Elieser Toledano)
6.1492- Provérbios de Salomão. Comentário de
David Ben Salomão ibn Iaachia (Elieser Toledano)
7.1492- Isaías e Jeremias. Comentário de
David Kimchi (Elieser
Toledano)[26]
8.1492(?)- Leis da Matança, de Moisés ben Maimon
(Maimónides) (Elieser Toledano?)[27]
III-
Leiria [prelo da família Ortas[28]]
1.1492- Provérbios de Salomão. Comentário de
Menahem ha-Meiri e Levi ben Gershom (Samuel d’Ortas e filhos)[29]
2.1494- Profetas Primeros. Comentários de Levi
ben Gershom e Davi Kimji (Samuel d’Ortas e filhos)[30]
3.1495- Caminhos da Vida, de Jacob ben Asher
(Abraão d’Ortas)
4.1496- Almanach perpetuum celestius motuus, de
Abraão Zacuto
A estas obras bibliográficas
judaico-portuguesas do século XV poder-se-ão acrescentar, no entanto, ainda
alguns “fragmentos de outros espécimes” que, segundo A. Anselmo “podem ter sido
impressos em Lisboa e Leiria entre 1490 e 1495”. Entre tais trabalhos
contar-se-ão, seguramente, alguns já referenciados em 1971 no censo geral de
incunábulos hebraicos organizado por Herrmann Mezer.
Outra conclusão que
será licito tirar é que, nos dois últimos decénios do século XV, enquanto em
Faro se destacava a acção tipográfica desenvolvidas por Samuel Gacon, em
Lisboa se notabilizava, nesse mesmo contexto a de (entre outros) Elieser
Toledano. Este último, no primeiro ano da sua actividade entre nós (1489), fez
editar obras como Novas da Lei ou
Comentário ao Pentateuco e Comentário
à Ordem das Orações, a última das quais, segundo Amzalak, foi
adquirida no começo da década de vinte, pela Biblioteca Nacional de Lisboa, na
Alemanha. Poder-se-ia concluir, ainda, que na tipografia judaica de Leiria – e
algumas investigações entretanto já realizadas apontam que ela se situaria não
muito longe do castelo da cidade e numa ruela a que tais oficinas chegaram
mesmo a dar o nome – Samuel d’Ortas terá sido o grande “obreiro” neste tipo de
actividade. Tal “mester”, afinal, passá-lo-ia depois (ao que era tão frequente
no espírito corporativo da época) aos seus próprios filhos. Desconhecemos, no
entanto, o laço de parentesco – estrito embora, é certo – entre Samuel d’Ortas
(responsável em 1492 pela edição dos Provérbios
de Salomão) e Abraão d’Ortas que em 1495 (três anos depois, portanto),
fez sair dos seus prelos a obra Caminho
da Vida. Será que Abraão era pai de Samuel e incutiu a este – bem como a
outros filhos – os segredos, o rigor e o “cuidado” da sua Arte?
Tivesse também em Leiria a
produção tipográfica hebraica sido mais ampla (ou não) do que hoje se conhece,
é um facto que aí os impressores, à semelhança do que sucedia em Lisboa e em
Faro, sentiram uma natural e justificada inclinação para editar e, sobretudo,
comentar o Pentateuco.
Nesses fins do século XV era
naturalmente seguida, pela sua importância, a Bíblia dos Setenta. Assim, também os judeus exegetas – segundo o
testemunho de Joaquim Carreira Marcelino das Neves[31] – estavam em crer que “os 72 anciãos, reunidos por
Ptolomeu com o fim de traduzirem o Pentateuco,
actuavam sob o carisma da inspiração divina. Filão de Alexandria diz
explicitamente que os tradutores dos LXX não são apenas tradutores, mas hierophantes et prophétes: ces
hommes qui ont pu suivre par des expressions transparentes la pensée si pure de
Moïse”. Esta tradição é conservada no Talmud Babilónico.
Tendo debatido
exaustivamente esta problemática, Marcelino das Neves acaba por concluir que
“os LXX não são apenas uma tradução, mas também uma recriação e interpretação do
original hebraico. Também é verdade que o Novo Testamento usa destas interpretações para exprimir o
mistério de Cristo. Mas nunca esqueçamos que os LXX são antes de mais
uma actualização do original hebraico com um fim bem determinado: consolar
os fiéis, os pobres, os justos e a diáspora judaica e levar-lhes a certeza da
próxima redenção do jugo inimigo e dos mais judeus que o dirigiam”.
Admita-se que só nas três
cidades de Faro, Lisboa e Leiria actuassem, numa primeira fase, essas mesmas
tipografias hebraicas. Somos levados a concluir, assim, que da região do
litoral tais técnicas – e consequentemente as acções daí resultantes –
passassem assim, a ser dirigidas para o interior do País, presumivelmente entre
1488 e 1495. Nesse modelo de penetração técnico-cultural desempenharam, em particular, um decisivo
papel, a um nível endogâmico e
a um nível exogâmico, três
intervenientes precisos:
- o rico comerciante
judaico;
- o almocreve (inicialmente
ligado, também, ao culto judaico);
- e o aristocrata em viagem.
Quanto ao “rico comerciante judaico”, esse
indivíduo (ou grupo) está associado, a nosso ver, à importação das primeiras
“impressoras”, rudimentares, já se vê. Ele estava motivado, antes de mais,
pela mira do lucro. A introdução do “novo” aliciava-o a agir nesse sentido, com
as “portas” verdadeiramente franqueadas[32].
Um lugar não menos decisivo
ocupou, então, sobretudo num contexto de ruralidade, o almocreve. Era ele – e
alguns estudos de especialistas como Humberto Baquero Moreno atestam nesse
sentido – o grande elo de ligação intercomunitária, ligando espaços rurais a
espaços rurais, ou espaços urbanos a espaços rurais e vice-versa.
O almocreve – para além dos
produtos de comércio (utilitário domésticos) que transportava, designadamente,
azeite, tecidos, botões ou, ainda, novas técnicas como o fogão de barro, uma
forma primitiva de tesoura, e agulhas, etc. – é também um elemento
intermediário e de propaganda, de difusão ou contágio. Não era ele, apenas, que transportava as novas, como
também divulgava o conceito de novo,
ao nível das novas técnicas surgidas.
O almocreve desempenhou
também, de facto, um papel decisivo no que respeita à chegada à aldeia, à
micro-comunidade regional, dos espécimes bibliográficos (mesmo que ele fosse
analfabeto, como em muitos casos, se não mesmo na sua esmagadora maioria, se
verificava.) A cultura da escrita sobrepunha-se,
assim, a essa arcaica cultura
oral-empírica e que muito tardaria a ser suplantada. É evidente que
esse atraso se deveu, fundamentalmente, à falta de amplas medidas tendentes à
alfabetização popular.
Só neste século, em certa
medida, é que o conjunto de analfabetos principiou a atingir índices menos
gritantes (embora, naturalmente, ainda não satisfatórios).
O terceiro componente a que
atrás fazíamos referência é o aristocrata em
viagem. Ele faz chegar ao interior do País – sobretudo junto da aristocracia reinante, descentralizada,
nos contextos de ruralidade da época –, durante as suas incursões de tipo
comercial ou de mero carácter recreativo (designadamente venatório), como prolongamento da sua cultura,
muitas vezes obras de imitação dos clássicos, designadamente Marco Túlio Cícero
ou Séneca[33]. Tais obras normalizam, por
vezes, a conduta social do nobre, disciplinam a sua actividade em termos de
vida social, num plano de exercício em comunidade – os jogos, os torneios,
partidas recreativas – ou em privado, designadamente no que respeita à educação
dos filhos nobres, à maneira de se comportar à mesa, de negociar um casamento,
ou falar ao coração de uma donzela.
7- A
penetração das tipografias judaicas no interior do país
Ao longo da última década do
século XV, a acção tipográfica judaica, nas cidades de Faro, Lisboa e Leiria
foi sendo, gradualmente, objecto de intensificada vigilância. Já nos primeiros
tempos do reinado de D. Manuel, mesmo antes do tão conhecido decreto, de 1496,
da expulsão do povo judaico, a gente
de Nação passou a sentir não só as mais vivas represálias, como a mais
acesa perseguição.
À semelhança do que sucedia
em Lisboa, também nas judiarias das cidades do Sul do país, como Évora, Beja e
Faro, essa perseguição não deixou de ser uma afrontosa realidade. Estamos em
crer que foi na sequência de tal situação que os filhos de Samuel Gacon
Porteiro partiram de Portugal para o Levante, mais concretamente para Itália e
Constantinopla. E, ignorando-se também se o pai daqueles técnicos partiu com
eles, podemos hoje, no entanto, afirmar, que à semelhança do que já no século
XIII fora Moses ben Nahman, Samuel Gacon foi, pelo menos, um editor do Talmud com os olhos postos no
Oriente.
Para aqueles que em 1495
ainda não tinham partido, a perseguição era efectivamente feroz. Isso
verificava-se, pelo menos, na cidade de Évora, o que levou a Rainha D. Leonor a
escrever uma carta – datada de 24 de Outubro desse ano, e dirigida a D.
Fernando de Castro, Conde de Lemos e Trastâmara – em que incumbia aquele
dignitário “de proteger a comuna judaica, então ameaçada de expoliações e
violências”[34] .
Em relação à vida dos
judeus, nesses últimos decénios do séc. XV, em Beja e Faro, ela decorreria
também – à semelhança do que se verificou em relação à comunidade eborense –
também em moldes de uma manifesta segregação ou, mesmo, ao nível de uma
auto-marginalização. Existe documentação apropriada que permite estabelecer,
para este período, um nítido traço de união entre a comunidade judaica de Beja
e a de Faro. Mais importante que isso é, porém, o facto de se poder admitir –
embora a falta de documentos precisos nos impeça de o afirmar categoricamente
– uma identificação de um tal “Gagim Judeu morador” da cidade de Faro, com
Samuel Gacon (ou Porteiro), impressor do Pentateuco, na mesma cidade, em 1487.
Esta hipótese de
identificação foi aventada, pela primeira vez, por Alberto Iria, académico e um
dos mais distintos investigadores da História do Algarve, na conferência “os
Judeus no Algarve Medieval e o Cemitério Israelita de Faro do século XIX,
História e Epigrafia...”[35], pronunciada em 24 de Novembro de 1983 na Academia das
Ciências de Lisboa.
Segundo Alberto Iria “em
Beja, a 9 de Novembro de 1489, el-Rei D. João II confirmava a Abraão Alegria,
morador em Faro (faarão), a carta de aforamento que, nesta vila algarvia, lhe
fizera Fernão de Espanha, contador da Casa Real e, por especial mandado régio,contador neste Regno
do algarue, em 8 de Agosto de 1488.
Neste aforamento,
Fernão de Espanha fez saber que por
díuida que huū manuel (?) gagim Judeu morador na dita villa deuia ao
dito Senhor [Rei] da parte que teue das Remdas do Amoxarifado da dita
uylla o anno passado de lxxxiiijº (sic) lhe foram
tamadas (sic) hūas casas que por ello tinha dadas a fiamça da dita
Remda ho dito anno o dito abraão elegria (sic) seu cunhado.
“Metidas estas casas em
pregão, só Abraão Alegria licitou, pelo que lhe foram aforadas por 400 reais de
foro anual, enfatiota, a pagar em Janeiro, já no ano de 1489”, sublinha ainda o
autor de “Os Judeus no Algarve medieval”...
As casas estavam localizadas
na própia “Judaria”: as
quaes [casas] estam dentro de judaria da dita uilla E partem com
casas de jsaque tolledano e com casas de Joham de dios e com Rua pruuica...
Mas Abraão Alegria ficou com
a obrigação de pagar bem e despachadamente
vimte Reaees de prata destes de vimte Reaees o Real que fazem catorze e ctmco
oytauas e huūa homça por dia de Janeiro em cada huū anno...
Este aforamento – constante
do Livro II de Odiana, a fl. 217
v.º – foi feito em Faro por Fernão Gonçalves, porteiro dos contos por Fernão
Vieira, seu escrivão.
É plausível na óptica de
Alberto Iria (e corroborando a opinião já expressa por Artur Anselmo) que
Samuel Gacon, já referido, “tivesse também exercido em Faro as funções de
porteiro dos Contos, por nomeação régia que, infelizmente, não chegou até nós”.
Estas são algumas das
considerações que se nos oferecem fazer no respeitante quer à implantação da
tipografia em Portugal, no último quartel do século XV, quer às primeiras
tantativas de “pôr a circular” pelo interior do País, o produto cultural saído do
labor desses mesmos artífices (tipógrafos hebraicos, ou de credo judaico).
Assumiu, de facto, uma
enorme importância para a cultura portuguesa de fins da Idade Média e do
Renascimento a introdução da Arte tipográfica em Portugal, por intermédio da
impressão de obras como o Pentateuco, em
1487 em Faro. A esta comunidade estiveram, aliás, ligadas várias famílias
judaicas, até há poucas décadas (Ver APÊNDICE DOCUMENTAL IV).
Foi essa mesma motivação que
levou, em 1489, os judeus, estabelecidos em Lisboa, a imprimir a mais antiga
obra que se conhece, Novas de Lei ou
Comentário ao Pentateuco.
Ou, ainda, a motivação daqueles impressores cristãos que, nesse mesmo
período, imprimiram, em linguagem, o Sacramental (1488?),
ou o Tratado de Confissom (1489).
O Pentateuco comemorou, em 30 de Junho de 1987, o quinto centenário
da sua publicação. E atinge tal relevância a evocação desse remoto
acontecimento (artístico-tipográfico) para o Portugal de hoje – quanto ela permite, também,
fazer a evocação do passado dos portugueses nos mares, ou lembrar à Europa e ao
mundo o peso da Cultura lusíada já nesse tempo.
Rua Francisco Metrass, n.º 10-A, Loja
1350-142 Lisboa Portugal
NOTAS
[1] A passagem desta data, em relação à História da Imprensa
portuguesa, foi assinalada, fundamentalmente, com a criação, por parte do
Estado português, de uma Comissão para as Comemorações do Quinto Centenário do
Livro Impresso, presidida pelo Prof. Doutor José V. de Pina Martins. A mesma data
motivou o aparecimento, na imprensa escrita, de alguns artigos. Cfr. MATOS,
Manuel Cadafaz de, (1987 a; b), p. 25; pp. 6-7.
[2] Rashi, isto é, Salomão ben Isaac, que viveu entre 1040 e
1105.
[3] Ver-se-á, adiante, o significado de Porteiro, quer a um nível de
comunidade cristã, quer a nível de comunidade judaica.
[4] ANSELMO, Artur, (1981), pp. 427-428.
[5] HORCH, Rosemarie Erika (1956), pp. 283-285.
[6] Rosemarie Erika Horch, na sequência das pesquisas que
desenvolveu nesta biblioteca brasileira em particular durante a preparação
do catálogo (referido na
nota anterior) – escreveu um artigo para a revista Prelo, da Imprensa Nacional (Lisboa), onde defende tratar-se
do mais antigo livro impresso em linguagem portuguesa.
[7] Diário de Notícias de
25 de Maio, de 1965. Oito anos depois Pina Martins veio a editar, em
fac-simile, o Tratado de Confissom.
[8] Continua hoje a desconhecer-se qual a oficina de fundição
em que foram produzidos os carateres hebraicos utilizados em Faro por Samuel
Gacon.
[9] MATOS, Manuel Cadafaz de, (1986 / 1987), pp. 256-285
/ pp. 291-312.
[10] Esse papel, no entanto, chegava também a Portugal
(entrando por portos como os de Faro, Lisboa, Porto, Setúbal e Viana do
Castelo), proveniente de regiões do ocidente europeu como da Galiza, do oeste e
norte de França, e da Itália mediterrânica. Cfr. LARES, Maria Manuel Fernandes
Pinto (1989).
[11] AMZALAK, Moses Bensabat (1928), p. 10-11.
[12] POSNANSKI, S. (s.d.), p. 125.
[13] AMZALAK, Moses ben (1941), pp. 1-4.
[14] No campo de autores judaico-portugueses que se
auto-exilaram neste período, conta-se, ainda, David Ibn Yahia Ben Solomon que
nasceu em Lisboa em 1440. Autor de uma gramática, Leshon Linundim, ele optaria mais tarde por partir (em data
que não se tornou possível precisar) para Constantinopla, onde veio a falecer
em 1506.
[15] MARTINS, José V. de Pina (1973), p. 12.
[16] O “único" exemplar que se conhece do Pentateuco é, segundo Amzalak (op.
cit.) o que se encontra depositado no “British Museum”, Londres. Sobre esta
obra trabalhámos na capital britânica nos anos setenta, altura em que
formulámos a intenção de a divulgar em edição fac-similada por altura do seu
quinto centenário. FERNANDES, Leão (1935-1936), p. 44. Este último autor
refere, a tal propósito, conhecer que “o único exemplar conhecido guarda o
British Museum, de Londres”. Também Alberto Iria chamou a atenção (em
conferência na Academia das Ciências em 1983) para a necessidade de uma nova
edição do Pentateuco de
Faro.
[17] PROENÇA, Raul e ANSELMO, António J (1920).
[18] MARTINS, José V. de Pina (1971), p. 208. Francesco
del Tuppo terminou a sua edição da Apologia,
de Giovanni Pico della Mirandola, precisamente em 31 de Maio de 1487.
Curiosamente António Ribeiro dos Santos, apresentou, já há várias dezenas de
anos – e acerca da vinda de caracteres hebraicos de Itália para o nosso país
esta hipótese: “Ela [a tipografia] nos veio transplantada da Itália, e por mãos dos Hebreus, que eram os únicos
naqueles tempos que a estabeleciam e propagavam por toda a parte, porquanto os
Judeus, maiormente os alemães da cidade de Spira, que haviam passado à Itália,
tinham levantado os seus primeiros prelos nas cidades de Socino (sic), de Piobe (sic), de Pesaro, de
Bolonha e de Ferrara; e destes vieram alguns a Portugal, para onde muito os
atraía e convidava a grande quantidade que cá tínhamos de Judeus estrangeiros e
nacionais e a esperança do grosso lucro que lhes prometia o muito fervor com
que então se tratavam os estudos de literatura sagrada nas sinagogas deste
Reino”, in SANTOS, António Ribeiro dos (s.d.), p. 17.
[19]MARTINS, José V. de Pina (1972), apêndice documental,
gravura 2. Desta obra, Comentários
ao Pentateuco, foi feita uma nova edição, em fac-simile, da
responsabilidade de Edições Távola Redonda, Lisboa, 1989, com estudo
introdutório de Manuel Cadafaz de Matos. Tendo nós, no estudo introdutório que
preparámos para essa edição, apresentado (baseados em Artur Anselmo) os
exemplares de tal obra existentes em várias bibliotecas e arquivos mundiais,
fomos informados, em carta, por Offenberg, que essa relação pode ser hoje
ampliada com estes novos dados: Amsterdam, UB, BRos 1(-3 últ. ff) (Burger;
IDL); Berlin (Ocid.), SB 1(VB; Schmitt); Budapest, BN 1(-) (IBH); Cambridge,
Clare CL 1(-) (Cohen; Goldstein); Cambridge, UL 2(1-, var) (Cohen; Oates; Goldstein); Cambridge, Mass., HCL, HoughtL l(-)
(Goff); Chicago, NewbL l(-) (Goff); Cincinnati, HUCL 1(-fl) (Marx; Goff);
Copenhagen, KB 2(1-26ff; 1 frag de 1f) (Madsen); Frankfort/ M., StUB l(Fr.;
Ohly-Sack); Jerusalem, JNUL 3(1-1f) (TishbyIsr);
Jerusalem, SchockInst 1(-74ff) (TishbyIsr);
Leningrad, BAcad, InstOrSt 2(1-9ff; 1-) (Wiener; Chwolson; Jakerson); Lisbon,
BN 1(-) (BiblPort; Anselmo; Sul Mendes); London, BritL 1(2ff esq.) (Zedner; Pr.; STCSp-Port; Goldstein); London, JewsCL
l(-) (Wild; Goldstein); London, ValmTr l(p.c.); Moscow, Lenin B 2(Kiselev;
Verusalimsky; Jakerson); New Haven, YaleUL 2(-) (Goff); New York, HispSocAm
l(Goff); New York, JTSL l(Goff); New York, NYPL l(Goff); New York, PML l(Goff);
New York, YeshUL 1(Goff); Ottawa, NLCan 1(Hill); Oxford, BodIL 2(St.CB; Pr.;
Cowley; Goldstein); Oxford, ChrChurchL l(Goldstein); Paris, BMaz 1(p.c.);
Paris, BN 1(-5ff) (Adler; CIBN); Parma, BPal l(TamaniParma; IGI); Philadelphia, RosFound 1 (Goff); Piacenza, BC l(-)
(TamaniPiacenza; IGI); Provo,
BrYoungUL l(Goff); Reggio Emilia, BM 1(-) (IGI); Rome, BApostVat l(Tishby Vat); Rouen, BM l(Doublet); San Juan,
CasadLibro 1(-) (Goff); San Marino, HuntL l(-)(Mead; Goff); Strasbourg, BNU
l(Catane); Turin, BN 1(Artom; IGI); Uppsala, UB l(Coljnl Uppsala); Vila Viçosa, PaçoDuc 2(1-)
(BiblPort; Peixoto; Anselmo) (exemplar por nós seguido em 1989, no essencial);
Warsaw, ZydlnstHist l(Weil); Washington, LC l(Goff); Zürich, ZB l(-) (p.c.).
[20] Vide SILVA, Armando Carneiro da (1955). O Almanach Perpetum, segundo Artur Anselmo
“documenta a única impressão gótica saída dos prelos hebraicos” (op. cit., 1983, p. 116).
[21] ANSELMO, Artur, (1981), p. 88, referencia esta obra
(além da grande maioria de todas as outros).
[22] Este espécime bibliográfico é descrito (designadamente
com reprodução em fac-simile, de um dos fólios, in AMZALAK, Moses ben (1922),
p. 20-21, Estampa II.
[23] No cólofon desta obra, que é apresentado por Artur
Anselmo (in op. cit., secção “Registo Catalográfico”, afirma-se: “... por um
homem justo e pobre, R. Elieser, que, entre as balanças (i. e.
prensas), trabalhou e imprimiu a Lei com o targum e o comentário de R. Salomão que é a luz dos olhos.
Acabou-se em Lisboa, no ano 251 (= 1491), no
mês de Av, adicionando (aos 251) três mil e dois mil (3000 + 2000 + 251 = 5251). Seja
Deus, que o assistiu, exaltado com harpas, órgãos e címbalos.”
[24] No cólofon deste Comentário à Ordem das Orações, de David Abudarham, refere-se,
designadamente: “Impresso em Lisboa, no meio da qual está situada a sinagoga
que é o amparo e a mãe de todas as principais sinagogas.”
[25] Do Livro de
Orações temos conhecimento directo do espécime existente no Seminário
Teológico Judaico de Nova Iorque (de que até há pouco, pelo menos, era
bibliotecário o dr. Menahem Schmelzer). Veja-se a respeito desta obra hebraica
(e outras). MEZER, Herrmann (1971), vol. 8, cols. 1319-1344. Deve-se a Artur
Anselmo (in op. cit.) a primeira
referenciação desta obra em edição portuguesa.
[26] No cólofon desta obra refere-se, designadamente:
“Impresso em Lisboa, em casa do sábio R. Elieser, no ano Ele voltará radiante de alegria, com as suas
gavelas (Salmos, 126, 6), segundo a Criação.”
[27] Sobre este pensador judaico medieval remetemos para
Romano David (1986) e R.D.B. (1967), pp. 174-175. Este tratado sobre as Hilkhot Shechitali(Leis sobre o Abate
Ritual de rezes), publicado presumivelmente em 1492, contém, na expressão de
Artur Anselmo “os preceitos da degola dos animais, de acordo com as instruções
do Talmud” (op. cit., ed. 1981,
p. 262).
[28] Sendo hoje certo que Samuel d’Ortas teve filhos que
(também) se dedicaram às artes tipográficas, há quem defenda a tese que ele (o
impressor de “Provérbios de Salomão”) e Abraão d’Ortas (o impressor de “Caminho
da Vida”), são uma e a mesma pessoa, que se chamaria precisamente Samuel Abraão
d’Ortas.
[29] No cólofon desta edição dos Provérbios de Salomão afirma-se: “Executado na oficina
impressória do honrado Dom Samuel d’Ortas, num país distante... (com a ajuda do seu hábil filho
Abraão (e à custa de) Samuel Kolodro.
Acabou-se no primeiro dia do mês de Av (= 25 de Julho)... no ano E
eles chegarão a Sião com Júbilo (Isaías, 51, 119...)”.
[30] No cólofon desta edição dos Profetas Primeiros refere-se: “Por ordem textual de pessoas
eminentes e das autoridades residentes na comunidade de Lisboa, cidade feliz
sob todos os aspectos, a composição foi feita pelos três irmãos, dos quais o
pai é o chefe e rei, na vila chamada Leiria, situada na margem do rio do mesmo
nome. Acabou-se no ano de (5)254..., na terceira semana do mês de Shevat,
perícopa sabática de Mishpatim.”
[31] NEVES, Joaquim Carreira Marcelino das, OFM (1973),
pp. 278-280.
[32] Os Judeus tiveram uma particular preponderância em
negócios do reino e, também, na benéfica introdução de novas técnicas,
designadamente no que respeita à tipografia e ao primeiro fabrico de papel.
Nesta época de transição da Idade Média para o Renascimento, a arte tipográfica
– e outras formas de arte – contribuíram, ao que é sabido, para a introdução do
ideal do Renascimento no nosso país. Importaria, a nosso ver, estudar hoje em
detalhe o que concerne à introdução no nosso pais dessas mesmas técnicas
científicas e artísticas.
[33] Vide, por exemplo, as edições do Infante D. Pedro, em
pleno século XIV, XV, intituladas O
Livro da Virtuosa Bemfeitoria (a partir de Beneficiis, de Séneca) ou o Livro dos Ofícios (a partir de De Oficcii, de Cícero).
[34] CAETANO, Oliveira e CARVALHO, José Alberto Seabra
(1990), p. 11.
[35] O
texto desta conferência veio a ser publicado no tomo XXV das Memórias da Academia das Ciências de Lisboa (Classe
de Letras), Lisboa, pp. 293-334 (ver em particular, pp. 320-321).
REFERÊNCIA
MATOS, Manuel
Cadafaz de. O Pentateuco e a edição de 1487. Disponível em: <http://dererummundi.blogspot.com.br/2017/07/pentateuco-de-1487.html>.
Acesso em: 23 jul. 2017.
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