Carta
de Demissão de Jean Chaboseau como Grão-Mestre da Ordem Martinista
Setembro de 1947
Querida Irmã, Querido Irmão,
Quando, em janeiro de 1946,
o Irmão Augustín Chaboseau me designou para sucedê-lo na Presidência da Ordem
Martinista Tradicional, nomeação referendada pelos membros do Supremo Conselho,
e fui chamado a ocupar este cargo, me vieram à mente algumas perguntas.
Naquela época, as afastei
temporariamente para tentar por em marcha esta Ordem que, há que dizê-lo,
começava de novo. Os ataques de que fui objeto, assim como o apoio moral com os
quais me deparei, me levaram a perseverar naquilo que alguns quiseram chamar
“uma missão”.
Desde essa data, a própria
vida da O.M.T. com suas dificuldades, tanto materiais como morais, me obrigaram
a reconsiderar a questão fundamental que tinha afastado, que não só é a da
existência de uma Obediência, de uma Ordem Martinista, mas também da própria
função de Grão Mestre da Ordem.
O resultado destas reflexões
é o que submeto a vossas meditações.
Quem é legítimo, quem é
Tradicional do ponto de vista Martinista?
Louis Claude de
Saint-Martin, nunca criou uma Ordem, nem uma organização.
Na Ordem dos Elus Cohen
contribuiu, como os demais Réaux-Croix, com a transmissão e propagação de uma
Ordem Maçônica. Mas, depois de retirar-se de qualquer sociedade ou organização,
deixou de transmitir qualquer coisa desse tipo. Não propagou, nem organizou,
nem criou uma Ordem, uma Obediência, uma Sociedade, já que não se poderia
qualificar dessa forma, com tudo o que essa noção abrange a Sociedade dos
Amigos ou dos Íntimos, à qual às vezes se faz referência.
Ele próprio escreveu a
Liebisdorf (carta CX):
“A única iniciação que
predico e que busco, com todo o ardor de minha alma, é aquela em que podemos
entrar no coração de Deus e fazer entrar o coração de Deus em nós… Não há outro
mistério para chegar a esta santa Iniciação que submergirmos cada vez mais até
o mais profundo de nosso ser, etc.…”
E na mesma carta, faz uma
comparação entre essa Iniciação e:
“…essas iniciações pelas
quais passei em minha primeira escola, e que deixei desde há muito, para
dedicar-me à única que seja verdadeiramente segundo meu coração… Posso
assegurar-lhes que recebi pela via interior, verdades e alegrias mil vezes
acima do que recebi do exterior. Não há mais Iniciação que a de Deus, e de seu
Verbo Eterno que está em nós, etc.…”.
Saint-Martin, a partir de
certo momento, deixou de atuar como iniciador com formalismos, Rituais e etc.
Nosso saudoso Irmão Augustín
Chaboseau tinha redigido uma nota sobre o que foi chamada sua “iniciação”, por
sua tia Amélie Boisse-Mortemart, nota que não deixa lugar a nenhuma dúvida a
este respeito. Tratava-se somente da transmissão oral de um ensinamento
particular e de certa compreensão das leis do Universo e da vida espiritual o
que, em nenhum caso, poderia ser considerado como uma iniciação de forma
ritualística.
As “linhagens” que chegaram
a Augustín Chaboseau, a Papus, e a outros e que provém de Saint-Martin são, com
efeito, linhagens de afinidades espirituais e de nenhum modo são constituídas
por uma sucessão ininterrupta de cerimônias intangíveis, no seio de uma
sociedade e em nome da mesma. Porque, para que se possa falar de una iniciação
tradicional, é necessário que exista a transmissão do “sopro”, de “uma
influência espiritual”, como o fazia Réné Guénon, em nome de uma organização,
por fórmulas idênticas e transmitidas sem que se mude sequer uma vírgula.
É precisamente aqui que
aparece a profunda contradição que existe, de um lado entre este desejo de
libertação interior que deve ser liberado de todo formalismo para permitir que
a personalidade espiritual se forme fora das coletividades e, por outro lado,
esta tendência de alguns ocultistas de fins do século XIX, criando suas
associações, ordens e sociedades.
Há uma qualidade da alma que
constitui essencialmente o verdadeiro Martinista, é a afinidade entre as mentes
unidas pelo mesmo grau em suas possibilidades de compreensão e de adaptação,
pelo mesmo comportamento intelectual, pelas mesmas tendências e isto implica em
esta obrigatória constatação de que o Martinismo é composto exclusivamente de
seres isolados, solitários, meditando no silêncio do oratório, em busca de sua
própria iluminação.
O dever de cada um destes
seres, quando alcançam o conhecimento das leis do equilíbrio, é expandir sua
compreensão, para que aqueles que devem ouvir participem no que eles creem e
seja a verdade de sua vida espiritual. É ali onde pode intervir a “Missão de
Serviço” do Martinista. Só neste sentido é que esta corrente espiritual
particular encontra seu lugar na Tradição Ocidental.
No entanto, um Martinista
verdadeiramente “tradicional” não poderia agir legitimamente em nome de uma
Ordem com esse nome, porque então, deixaria de agir segundo as sugestões
espirituais do Filósofo Desconhecido para submeter-se a uma formação recente
procedente inteiramente do movimento intelectual que tinha por tarefa propagar
as doutrinas “ocultistas” dos fins do século passado.
Porque não há uma
regularidade da Ordem Martinista, senão numa relação sentimental para com
Papus, já que não existe nenhuma outra tradição para nenhuma Ordem Martinista,
a não ser a criação do Supremo Conselho em 1891, por Papus.
Com alguns amigos dos quais
se tinha cercado (Papus), criou e organizou tudo. Os Rituais, inclusive, não
existiam, em que pese às lendas. Só se “iniciava” com os “Cadernos da Ordem”,
cuja redação data dessa mesma época. A princípio, entre 1891 e 1900, não houve
nenhuma reunião fechada análoga às das Lojas. Foi só depois, sob a influência
de um elemento que se fez preponderante, que a Ordem Martinista se converteu
numa verdadeira Obediência.
Mas, era uma organização
calcada sobre as ordens maçônicas, o que se chama paramaçonaria. Isto é tão
verídico que sempre se manteve a “Iniciação livre” paralelamente à “Iniciação”
em Loja, lembrança dessa liberdade individual da que goza todo verdadeiro
Martinista, independentemente e pelo mesmo princípio de toda Obediência.
A ausência total de Rituais
antigos, incluídos os qualificados como do “século XVIII”, permitiu a cada
membro que assim desejava compor um. É por isso que o de Teder pode ser
considerado por alguns como o da Ordem Martinista quando sabemos que não é
assim. Neste sentido, qualquer Ritual é válido já que é composto por um
Martinista, mas é inaceitável em si já que não corresponde a seu objetivo:
servir de marco antigo e rígido a uma transmissão espiritual depositada em seu
seio. Ora, este marco está vazio, seja qual seja a formação Martinista que
pretenda aparecer no interior, já que não existe nenhuma transmissão
ritualística deste tipo, e este marco mesmo não tem nenhum alcance mágico,
porque não se apoia em nenhuma tradição real.
Os dois triângulos e os seis
pontos nos quais consistiria a essência da Tradição Martinista, são uma adoção
de Papus, assim como a divisão em três graus de uma iniciação que, pelo
contrário, alguns consideraram como um único grau. O que não significa, em
absoluto, que estes símbolos não puderam ter uma profunda significação e um
valor real.
Todo o precedente não aponta
ainda senão para uma das perguntas consideradas: a que se relaciona com a
legitimidade de uma “Ordem Martinista”.
É evidente que nada impede
as mentes formadas nesta compreensão particular da vida espiritual que, por
costume chamamos “Martinismo”, reagrupar-se para estudar alguns textos, expor o
fruto de suas próprias reflexões e que essas reuniões sejam legítimas se são
livres e se não pretendem, de nenhum modo, constituir ou chegar a ser uma
Obediência, qualquer que esta seja.
A pergunta fundamental, em
minha opinião, é a que traz a mais grave contradição ao espírito livre e
liberado de Saint-Martin, que é uma contradição flagrante e perpétua, a
existência de um Grão-Mestre do Martinismo, de uma personalidade que se
pretenderia depositária da Tradição do Filósofo Desconhecido e que seria
investida pelo direito de sucessão do cargo, de regulador supremo desta
tradição, desta “Iniciação”.
Depois da morte de Papus,
não existiu uma continuidade para a presidência da Ordem Martinista. Papus não
tinha designado seu sucessor e se alguns membros elegeram Teder, uma grande
parte não o aceitou em absoluto.
Victor Blanchard, então
Secretário Geral da Ordem que, não obstante, tinha assinado a proclamação da
“Ata de Teder” como Deputado Grão-Mestre, rejeitou, logo a seguir, esta
organização verdadeiramente nova, tanto por seus ritos como por sua composição
e as novas obrigações que impunha a seus membros.
Blanchard constituiu então,
por sua vez, uma Ordem Martinista, da qual foi reconhecido Grão-Mestre. Teder
teria designado Bricaud – más línguas pretendem que ele se teria autoproclamado
– e Bricaud teve como sucessor Chevillon. Quando este foi assassinado, a Ordem
Martinista, em sua nova apresentação (posto que as tendências maçônicas se
tivessem acusado e lograram uma fusão híbrida com diversas organizações), teve
por continuadores os Irmãos Dupont e Debeauvais. Hoje, não se sabe exatamente
de quem são sucessores, apesar de afirmarem ter uma única regularidade
Martinista.
Em 1931, alguns antigos
membros do Conselho de Papus se reuniram, e rejeitando as novas diretrizes de
Bricaud, quiseram reconstituir a Ordem Martinista de Papus e só ela, já que se
sabia que era impossível ultrapassá-la (mais além de Papus). Foi quando o Irmão
Augustín Chaboseau foi eleito Grão-Mestre. Designou em seu lugar o Irmão
Victor-Emile Michelet, porque este era mais velho que ele, e quando Michelet
faleceu, como não tinha designado seu sucessor, voltaram à escolha anterior de
Augustín Chaboseau.
Uma organização
internacional que se pretende superior a todas as demais e que se apresenta
como habilitada (por quem? quiçá nunca saibamos…) para regularizar as
Sociedades ditas Iniciáticas, quis, em 1934, em Bruxelas, incorporar-se ao
Martinismo: reconheceu como única “regular” a “Ordem Martinista & Sinárquica”
de Blanchard e, em 1939, a Ordem Martinista foi presidida por Augustín
Chaboseau que foi, por sua vez, reconhecida.
Os laços dessa organização,
a F.U.D.O.S.I. (Federação Universal das Ordens e Sociedades Iniciáticas) com a
A.M.O.R.C. (Estados Unidos) e outras diversas sociedades análogas, proíbem a
qualquer pessoa de boa fé, levá-las muito a sério. Observemos, de passagem, que
a Ordem Martinista de Victor Blanchard não levou o nome de “Sinárquica” senão
mais tarde, e isto com o único objetivo de render homenagem à alta
personalidade espiritual de Saint-Yves d’Alveydre.
Ordens Martinistas existem,
desta forma, um pouco por todas as partes, cada uma com seu Grão-Mestre,
pretendendo-se sempre a única legítima e regular. Existe inclusive uma
“Regência do Martinismo Tradicional”, que se apresenta como única na matéria.
Não existe, pois, nenhuma
possibilidade válida para afirmar a “regularidade” de um Grão-Mestre Martinista
e Papus mesmo nunca quis que se referissem a ele para legitimar sua Ordem.
Quando chegou a certo grau
de iluminação espiritual e de compreensão mística, pensou no futuro da Ordem
Martinista e não sentiu, em absoluto, a obrigação de designar um sucessor, nem
tinha previsto nenhum modo de eleição para a sucessão.
O Martinismo, enquanto
Ordem, tendo terminado sua missão deveria, no espírito de Papus, somente
orientado para a mística, voltar ao verdadeiro espírito Martinista individual,
cessando toda existência.
Qualquer continuação do
cargo do qual Papus se tinha revestido, e seja qual for o título é, pois, não
só ilegítimo, mas também uma contradição com sua vontade final.
Quando em junho de 1945, uma
reunião organizada por Augustín Chaboseau para constituir uma Sociedade dos
Amigos de Saint-Martin e estudar o despertar da Ordem, a maioria dos presentes
decidiu renunciar à via da obediência. Ignorando esse desejo, o Irmão Lagrèze
conseguiu do Irmão Augustín Chaboseau que pusesse em vigor a Ordem da qual
tinha sido o Grão-Mestre em 1939.
Aqueles que conheceram bem o
Irmão Chaboseau recordarão suas dúvidas, suas reticências durante esse o
período, Setembro de 1945, e os últimos dias de sua vida. Mais que ninguém,
quiçá, parecia-lhe uma contradição manifesta não só a existência de uma Ordem
Martinista e o pensamento do próprio Saint-Martin, mas também entre a liberdade
individual e individualista do Filósofo Desconhecido e o cargo falaz de Grão-Mestre. Para o Irmão Augustín Chaboseau, a existência de uma Ordem e de um Grão-Mestre não lhe parecia mais que uma necessidade, assim como nos tempos de sua juventude
com Papus, Michelet e Chamuel.
E há uma razão mais
profunda, mais essencial, que governa todo o comportamento espiritual de um
fiel ao espírito do Filósofo Desconhecido.
O Martinismo é cristão,
essencial e integralmente cristão e não se poderia conceber um Martinista que
não seja fiel a Cristo – ao Cristo Jesus, único Salvador e Reconciliador,
Encarnação do Verbo.
Fica claro que grande número
de Martinistas não é e continua a não ser penetrado por este espírito,
perfeitamente universal no sentido cabal do termo. Desejando singularizar-se,
particularizar-se, cobiçando presidências, grandes maestrias, títulos e honras,
em nome de um filósofo cuja modéstia e simplicidade são proverbiais, parecem
desconhecer um dos primeiros preceitos cristãos, posto que a função, o título e
as honras inerentes ao cargo de um Grão-Mestre são absolutamente incompatíveis
com a própria noção do espírito Martinista.
Há que recordar a rejeição
que demonstravam Augustín Chaboseau e Octave Béliard para esse apelo: Augustín
Chaboseau só aceitava o título de Presidente, para evitar os desvios para os
quais se arriscavam a ir todos aqueles que queriam prevalecer-se desses títulos
“Soberanos” pelos quais Papus se entusiasmava em sua juventude.
Perfeitamente convencido de
que todas as deformações, todas as disputas de legitimidade e de regularidade,
não tem razão de ser senão em função da existência desta Ordem Martinista e de
todas as Ordens rivais que a sucederam, creio que cheguei a esta compreensão
profunda de que, as dissensões, sejam quais forem suas aparências, não darão
nada mais que provas da ilegitimidade congênita de toda Ordem Martinista
oficializada. Concluí que era honesto dar-lhes a conhecer o resultado de minhas
reflexões.
Levaram-me a esta convicção
de que, se desejasse permanecer na linha e na tradição dos Filósofos
Desconhecidos, especialmente do último, Louis-Claude de Saint-Martin, não seria
possível pertencer a nenhuma Ordem Martinista, seja qual for o qualificativo que
se queira acrescentar, para diferenciá-la das demais e parecer superior a elas.
Por isso acreditei que era
meu dever expor-lhes as razões que me levam a renunciar ao cargo e à dignidade
de Grão-Mestre da Ordem Martinista Tradicional. Rogo-lhes me considerem como
demitido da Ordem.
Ao não ter que designar um
sucessor, posto que, por um lado os Regulamentos Gerais e Particulares da O.M.T
nunca foram determinados e, por outro lado por não reconhecer nenhum outro
valor que a presidência administrativa ao pretendido cargo, me parece difícil
que um novo Grão-Mestre possa fazer-se reconhecer urbi et orbi, salvo por
aqueles que, por sua própria vontade, desejarem que isso seja assim.
Desejo, sinceramente, que em
razão deste fato, o Martinismo volte a ser o que deveria ter sido sempre: uma
simples agrupação de mentes, unidas somente pelas mesmas aspirações espirituais
e guiadas para a mesma busca pela única Luz do Cristo, fora de qualquer
preocupação de Ordem ou de Obediência.
Pelo mero fato da minha
demissão, declaro naturalmente isentos dos juramentos de fidelidade que me
prestaram durante as recepções a todos aqueles que foram membros da Ordem
Martinista Tradicional. Rogo-lhes que acreditem, querida Irmã e querido Irmão,
que esta demissão não afeta em nada os sentimentos afetuosos e fraternais que
nos unem e que conservaremos com toda liberdade, como verdadeiros fiéis
espirituais do Filósofo Desconhecido.
Jean Chaboseau
Jean Chaboseau
NOTA: Convém, com toda
imparcialidade, elogiar o autor por sua sinceridade, sua modéstia e seu espírito
de equidade.
Este documento foi publicado
em sua integridade por Philippe Encausse em sua obra: “Sciences Ocultes” ou “25
annees d’occultisme occidental. PAPUS, sa vie, son ouvre”. Editions Ocia, 1949.
REFERÊNCIA:
Carta de Demissão de
Jean Chaboseau como Grão Mestre da Ordem Martinista. Disponível em: <
http://oalvorecer.com.br/carta-de-demissao-de-jean-chaboseau-como-grao-mestre-da-ordem-martinista-tradicional/#more-752>.
Acesso em: 10 ago. 2016.
Carta de Demissão de
Jean Chaboseau como Grão Mestre da Ordem Martinista. In Boletim da Sociedade
das Ciências Antigas. v. II, ed. XIV, jun. 2011. p. 21-26. Disponível em: <http://www.sca.org.br/uploads/news/id174/BoletimSCA14-06-11.pdf>.
Acesso em: 10 ago. 2016.
Lettre
de démission de Jean Chaboseau en tant que Grand Maître de l'Ordre Martiniste
Cette
lettre de Jean Chaboseau, troisième grand maître de l’Ordre martiniste
traditionnel (OMT) après Victor-Emile Michelet et Augustin Chaboseau, est
extraite de l’ouvrage du Dr Philippe Encausse, Sciences occultes ou 25 années
d’occultisme occidental. Papus, sa vie, son œuvre, Paris, OCIA, 1949, pp.
70-79. Parce que cet ouvrage est devenu introuvable ou presque, et que cette
lettre est un document capital pour l’histoire du martinisme moderne, notamment
citée par Robert Ambelain ou Robert Amadou, nous avons souhaité la reproduire
ici-même afin de la rendre à nouveau accessible à un plus grand nombre. En
1949, Philippe Encausse louait la franchise, la modestie et l’esprit d’équité
de son auteur, qui venait ainsi de renoncer à la présidence de l’OMT. Ses
arguments sont dignes de respect, qui rétablissent la vérité sur “l’initiation”
de Saint-Martin. Quant
aux propos sur la F.U.D.O.S.I. et sur l’AMORC, ils sont à replacer dans le
contexte de l’époque.
En
1947, l’OMT disparut donc en France, mais la délégation américaine de Ralph M.
Lewis persévéra. En 1959, Raymond Bernard reçu mandat de Lewis pour réimplanter
l’O.M.T. en France et dans les pays francophones où l’on sait qu’il est
aujourd’hui l’un des ordres martinistes les plus importants.
Serge Caillet.
Septembre 1947.
Très chère Sœur, très cher Frère,
Lorsqu’en Janvier 1946, le
Frère Augustin Chaboseau me désigna pour lui succéder à la présidence de
l’Ordre Martiniste Traditionnel, désignation contresignée par les membres du
Suprême Conseil en exercice et que je fus appelé à occuper cette charge, un
certain nombre de questions se posèrent à mon esprit. A cette époque, je les
écartais provisoirement pour tenter de mettre sur pied cet Ordre qui, il faut
bien le dire, débutait à nouveau. Les attaques dont je fus l’objet comme les
soutiens morauxque je rencontrais me poussèrent à persévérer dans ce que certains
ont bien voulu appeler “une mission”.
Depuis cette date, la vie
même à l’O.M.T. avec ses difficultés tant matérielles que morales m’a obligé à
reconsidérer la question fondamentale que j’avais éloignée et qui est non
seulement celle de l’existence d’une Obédience, d’un Ordre Martiniste, mais aussi
celle de la fonction même de Grand Maître de l’Ordre Martiniste.
C’est le résultat de ces
réflexions que je livre à vos méditations.
Qui est légitime, qui est
traditionnel du point de vue martiniste ?
Louis-Claude de Saint-Martin
n’a jamais créé d’Ordre, d’organisation. Dans l’Ordre des Elus-Cohens, il a,
comme les autres Réaux-Croix, contribué à la transmission et à la propagation
d’un Ordre maçonnique. Mais après son départ de toute société et organisation,
il a cessé de transmettre quoi que ce soit de ce genre, il n’a ni propagé, ni
organisé, ni créé un ordre, une obédience, une société, car on ne saurait
qualifier ainsi, avec tout ce que cette notion entraîne, la Société des Amis ou
des Intimes à laquelle il est quelquefois fait allusion.
Lui-même l’a écrit à
Liebisdorf ( Lettre CX ) :
“La seule Initiation que je
prêche et que je cherche de toute l’ardeur de mon âme est celle où nous pouvons
entrer dans le cœur de Dieu et faire entrer le cœur de Dieu en nous... Il n’y a
d’autre mystère pour arriver à cette sainte Initiation que de nous enfoncer de
plus en plus jusque dans les profondeurs de notre être, etc...”.
Et
dans cette même lettre il fait le parallèle entre cette Initiation et :
“... Ces initiations
par où j’ai passé dans ma première école et que j’ai laissées depuis longtemps
pour me livrer à la seule qui soit vraiment selon mon cœur... Je puis vous
assurer que j’ai reçu par la voie de l’intérieur des vérités et des joies mille
fois au-dessus de ce que j’ai reçu par l’extérieur. Il n’y a plus d’initiation
que celle de Dieu et de son Verbe Eternel qui est en nous, etc...”
Saint-Martin a donc, à
partir d’un certain moment, cessé d’agir en initiateur avec formalisme, Rituel,
Rites, etc...
Notre regretté Frère
Augustin Chaboseau avait rédigé une note sur ce qui fut appelé son “initiation”
par sa tante Amélie de Boisse-Mortemart, note qui ne laisse subsister aucun
doute à cet égard. Il s’agissait uniquement de la transmission orale d’un
enseignement particulier et d’une certaine compréhension des lois de l’Univers
et de la vie spirituelle, ce qui, en aucun cas, ne saurait être considérée
comme une initiation à forme rituélique. Les “lignes” qui aboutissent à
Augustin Chaboseau, à Papus, à d’autres et qui partent de Saint-Martin sont, en
effet, des lignes d’affinités spirituelles et ne sont en rien constituées par
une suite ininterrompue de cérémonies intangibles dans le sein d’une même
société et au nom de celle-ci. Car
pour que l’on puisse parler d’une initiation traditionnelle, il est nécessaire
qu’existe cette transmission d’un “souffle de vie”, d’une “influence
spirituelle”, comme le fait justement remarquer René Guénon, au nom d’une
organisation donnée, par des formules identiques et transmise sans qu’en soit
changé un iota.
C’est précisément ici
qu’apparaît la profonde contradiction existant, d’un côté, entre ce désir de
libération intérieure qui doit se dégager de tout formalisme pour permettre à
la personnalité spirituelle de se préciser hors des collectivités et, de l’autre,
ce semblant de démenti que parurent lui apporter certains occultistes de la fin
du XIXe siècle en créant leurs associations, ordres et sociétés.
Il y a une qualité d’âme qui
constitue essentiellement le véritable Martiniste, c’est cette affinité entre
les esprits unis par un même degré dans leurs possibilités de compréhension et
d’adaptation, par le même comportement intellectuel, par les mêmes tendances et
il s’en suit cette obligatoire constatation que le Martinisme est exclusivement
composé d’êtres isolés, solitaires, méditant dans le silence du cabinet à la
recherche de leur propre illumination.
Le devoir de chacun de ces
êtres, lorsqu’il atteint à la connaissance des lois de l’équilibre, est de
répandre autour de lui sa compréhension afin que ceux qui doivent entendre
participent à ce qu’il croit être la vérité de sa vie spirituelle. C’est là que
peut intervenir la “Mission de service” du Martiniste, c’est en ce sens
seulement que ce courant spirituel particulier trouve sa place dans la Tradition
occidentale. Mais un Martiniste véritablement “traditionnel” ne saurait agir
valablement au nom d’un ordre de ce nom, parce qu’à ce moment il cesse d’agir
selon les suggestions spirituelles du Philosophe Inconnu pour s’inféoder à une
formation récente entièrement issue du mouvement intellectuel qui se donnait
pour tâche de propager les doctrines “occultistes” à la fin du siècle dernier.
Car il n’est de régularité
concevable pour un Ordre Martiniste que dans un rattachement sentimental
vis-à-vis de Papus, puisqu’il n’existe aucune autre ancienneté pour un
quelconque Ordre Martiniste que la création d’un Suprême Conseil en 1891 par
Papus. Celui-ci, avec les amis dont il s’était entouré, avait tout créé,
organisé, les Rituels même n’existaient pas malgré les légendes. On “n’initiait”
qu’avec les “Cahiers de l’Ordre”, dont la rédaction est de cette époque. Il n’y
eut, au début, entre 1891 et 1900, aucune réunion fermée analogue à celle des
Loges. Ce ne fut qu’après sous l’influence d’un élément devenant prépondérant,
que l’Ordre Martiniste devint une réelle obédience, mais c’était une
organisation calquée sur les ordres maçonniques, ce que l’on nomme la
para-maçonnerie. Cela est si vrai que fut toujours maintenue “l’Initiation
libre” parallèlement à “l’Initiation” en Loge, souvenir de cette liberté
individuelle dont jouit tout véritable martiniste en dehors par principe même
de toute obédience.
L’absence totale de Rituels
anciens, y compris ceux qualifiés “du
XVIIIe siècle” a permis à chaque membre qui l’a désiré d’en composer un. C’est
ainsi que celui de Téder a pu être considéré par certains comme celui de
l’Ordre Martiniste alors que l’on sait qu’il n’en est rien. En ce sens tout
Rituel est valable puisque composé par un Martiniste et inacceptable en
lui-même puisque ne répondant pas à son objet: servir de cadre antique et
rigide à une transmission spirituelle déposée en son sein. Or ce cadre est vide
quel que soit la formation martiniste qui prétend figurer à l’intérieur,
puisqu’il n’existe aucune transmission rituélique de ce genre et ce cadre même
est sans portée magique puisqu’il ne s’appuie sur aucune tradition réelle.
Les deux lettres et les six
points en quoi consisterait l’essence de la Tradition martiniste sont une
adoption de Papus, ainsi que la division en trois degrés d’une initiation que,
par contre, certains autres considèrent comme se composant d’un unique grade.
Ce qui ne signifie nullement que ces symboles ne puissent avoir, par ailleurs,
une portée profonde et une réelle valeur.
Tout ce qui précède ne vise encore l’une des
questions envisagées, celle qui se rattache à la légitimité d’un « Ordre
Martiniste ».
Il reste évident que rien n’empêche des
esprits formés à cette compréhension particulière de la vie spirituelle que
l’habitude fait appeler le Martinisme, de se grouper pour étudier des textes,
mettre en commun le fruit de leurs propres réflexions et que ces réunions sont
légitimes si elles sont libres et si elles ne visent en aucune façon à
constituer ou à devenir une quelconque Obédience.
La question primordiale, à mon avis, est celle
qui apporte la plus grande contradiction à l’esprit libre et libéré de
Saint-Martin lui-même, celle qui lui est un démenti flagrant et perpétuel,
l’existence d’un grand Maître du Martinisme, d’une personnalité qui se
prétendrait dépositaire de la Tradition du Philosophe Inconnu et qui serait
investie par droit de succession de la charge de régulateur suprême de cette
tradition, de cette “Initiation”.
Après le décès de Papus, il n’exista plus de
continuité pour la présidence de l’Ordre Martiniste; Papus n’avait pas désigné
de successeur et si certains membres élurent Téder, une grande partie de
l’accepta point. Victor Blanchard, alors secrétaire général de l’Ordre, qui,
cependant avait signé la proclamation de Téder comme deuxième Grand Maître,
refusa bientôt de suivre cette organisation véritablement nouvelle tant par ses
rites que par sa composition et les nouvelles obligations qu’il imposait à ses
membres. Blanchard constitua
alors à son tour un Ordre Martiniste, dont il fut reconnu Grand Maître. Téder
aurait désigné Bricaud – de bons esprits prétendent que ce dernier se serait
proclamé lui-même – et Bricaud eut pour successeur Chevillon. Celui-ci assassiné, l’Ordre Martiniste nouvelle
manière (car les tendances maçonniques s’étaient accusées et une fusion hybride
s’était constituée avec diverses organisations) eut pour continuateurs les
Frères Dupont et Debeauvais. Aujourd’hui, on ne sait exactement pas de qui ils
sont les successeurs, malgré leurs affirmations de seule régularité martiniste.
En 1931, un certain nombre d’anciens membres du Conseil de Papus se
réunirent et, n’acceptant pas les nouvelles directives de Bricaud, voulurent
reconstituer l’Ordre Martiniste de Papus et celui-ci seulement puisque l’on
savait qu’il était impossible de remonter plus haut. C’est alors que le Frère
Augustin Chaboseau fut élu Grand Maître. Il désigna, parce que plus âgé que
lui, le Frère Victor-Emile Michelet et au décès de Michelet, comme celui-ci
n’avait pas désigné de successeur, on revint à la primitive élection d’Augustin
Chaboseau.
Une organisation internationale se prétendant supérieure à toutes les
autres et se présentant comme habilitée (par qui, on ne le saura peut-être
jamais ...) à régulariser les Sociétés dites Initiatiques, a voulu, en 1934, à
Bruxelles, incorporer le Martinisme : elle a reconnu comme seul “régulier”
l’Ordre Martiniste et Synarchique de Blanchard et, en 1939, ce fut l’Ordre
Martiniste présidé par Augustin Chaboseau qui fut à son tour “reconnu”. Les
liens de cette organisation, la F.U.D.O.S.I. (Fédération Universelle des Ordres
et Sociétés Initiatiques) avec l’A.M.O.R.C. (Etats-Unis) et diverses autres
sociétés analogues, interdisent à toute personne de bonne foi de la prendre
trop au sérieux. Notons en passant que l’Ordre Martiniste de Victor Blanchard
ne prit que plus tard le nom de “Synarchique”, ceci dans le seul but de rendre
hommage à la haute personnalité spirituelle de Saint-Yves d’Alveydre. Des
Ordres Martinistes existent ainsi un peu partout, avec chacun leur Grand
Maître, se prétendant toujours seul légitime et régulier. Il
existe même une “Régence du Martinisme Traditionnel” qui se présente comme
l’unique autorité en la matière.
Il n’y a donc aucune valable
possibilité d’affirmer la “régularité” d’un Grand Maître Martiniste et Papus
lui-même n’a jamais désiré que l’on se référât à lui pour légitimer son Ordre.
Lorsque parvenu à un certain stade d’illumination spirituelle et de
compréhension mystique, il envisagea l’avenir de l’Ordre Martiniste, il n’a
nullement senti l’obligation de se désigner un successeur, ni prévu un
quelconque mode d’élection pour cette succession.
Le
Martinisme en tant qu’Ordre, sa mission irrévocablement terminée, devait, dans
l’esprit de Papus uniquement orienté vers la mystique et revenant ainsi au
véritable esprit martiniste individuel, cesser toute existence. Toute
continuation de la charge dont s’était investi Papus et quel qu’en soit le
titre est donc, non seulement illégitime, mais en contradiction avec sa volonté
finale.
Lorsqu’en juin 1945 eut lieu autour de la personne d’Augustin Chaboseau
une réunion pour constituer une Société des Amis de Saint-Martin, et étudier le
réveil de l’Ordre, la majorité des présents décida de renoncer à la vie
obédientielle. Passant outre à ce désir, le Frère Lagrèze obtint du Frère
Augustin Chaboseau qu’il remit en vigueur l’Ordre dont il était le Gand Maître
en 1939. Ceux qui ont bien connu le Frère Chaboseau se souviennent
de ses hésitations, de ses réticences entre la date de ce geste, septembre
1945, et les derniers jours de sa vie. Plus qu’à personne peut-être lui apparaissait
la contradiction manifeste entre non seulement l’existence d’un Ordre
Martiniste et la propre pensée de Saint-Martin, mais encore entre la liberté
individuelle et individualiste du Philosophe Inconnu et cette charge
fallacieuse de Grand Maître. Pour le Frère Augustin Chaboseau, l’existence d’un
Ordre et d’un Grand Maître ne lui apparaissaient plus comme des nécessités
ainsi qu’au temps de sa jeunesse avec Papus, Michelet et Chamuel...
Et
il est une raison plus profonde, plus essentielle, qui commande tout le
comportement spirituel d’un fidèle de l’esprit du Philosophe Inconnu.
Le Martinisme est chrétien,
essentiellement et intégralement chrétien et l’on se saurait concevoir un
Martiniste qui ne soit pas un fidèle du Christ - Du Christ Jésus seul Sauveur
et Réconciliateur, Incarnation du Verbe. Il apparaît bien qu’un grand nombre de
Martinistes n’ont pas été et ne sont pas sans doute toujours pénétrés de cet
esprit parfaitement universel dans le sens le plus complet du terme. En
désirant se singulariser, se particulariser, en souhaitant présidences, grandes
maîtrises, titres et honneurs, au nom d’un philosophe dont la modestie et la
simplicité sont proverbiales, ils paraissent méconnaître l’un des premiers
préceptes chrétiens, car la fonction, le titre et les honneurs inhérents à la
charge d’un Grand Maître sont absolument incompatibles avec la notion même de
l’esprit martiniste. Il n’est que de se souvenir de la répugnance dont
faisaient preuve Augustin Chaboseau et Octave Béliard pour cette appellation,
Augustin Chaboseau n’acceptant que le titre de Président, pour saisir les
déviations vers lesquelles risquent d’aller tous ceux qui veulent se prévaloir
de ces titres “Souverains” pour lesquels Papus en sa jeunesse s’enthousiasmait.
Parfaitement
convaincu que toutes les déformations, toutes les querelles de légitimité et de
régularité, n’ont de raison d’être qu’en fonction de l’existence de cet Ordre
Martiniste et de tous les Ordres rivaux qui lui ont succédé, je crois être
parvenu à cette compréhension profonde, que les dissensions, quelles que soient
leurs apparences, n’apportent que des preuves de l’illégitimité foncière de
tout Ordre martiniste officialisé. J’ai estimé qu’il était honnête de vous
faire part du résultat de mes réflexions.
Elles m’ont amené à cette
conviction que, si l’on désirait rester dans la ligne et la tradition des
Philosophes Inconnus, et spécialement du dernier, L. C. de Saint-Martin, il
n’était pas possible d’appartenir à un quelconque Ordre Martiniste, quel que
soit le qualificatif que l’on veuille bien lui accoler pour le différencier des
autres et paraître le rendre supérieur à eux. C’est pourquoi j’ai estimé qu’il
était de mon devoir de vous exposer les raisons qui me font renoncer à la
charge et dignité de Grand Maître de l’Ordre Martiniste Traditionnel. Je vous
prie donc de me considérer comme démissionnaire de cet Ordre.
N’ayant à désigner aucun successeur, car,
d’une part, les Règlements Généraux et Particuliers de l’O.M.T. n’ont jamais
été déterminés, et, d’autre part, ne reconnaissant aucune valeur autre que de
présidence administrative à cette prétendue charge, il me parait difficile
désormais qu’un nouveau Grand Maître puisse se faire reconnaître urbi et orbi,
sauf par ceux qui, de leur seule volonté, désirent qu’il en soit ainsi.
Je souhaite sincèrement qu’en raison de ce
fait, le Martinisme redevienne ce qu’il aurait dû toujours rester : un simple
rassemblement d’esprits, unis seulement par les mêmes aspirations spirituelles,
et guidés vers les mêmes recherches par la seule Lumière du Christ...en dehors
de toute préoccupation d’Ordre ou d’Obédience.
Par le seul fait de ma démission, je déclare
naturellement relevés des serments d’allégeance qu’ils ont pu me prêter lors de
leurs réceptions, tous ceux qui furent les membres de l’Ordre Martiniste
Traditionnel.
Je vous prie de croire, très cher Sœur et très
cher Frère, que cette décision n’entache en rien les sentiments affectueux et
fraternels qui nous relient et que nous conserverons en toute liberté comme de
véritables fidèles spirituels du Philosophe Inconnu.
Jean Chaboseau
REFERÊNCIA:
Jean Chaboseau,
septembre 1947.
07 septembre
2012. Disponível em: < http://omrunis.canalblog.com/archives/2012/09/07/22999097.html>.
Acesso em: 10 ago. 2016.
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