Por Fernando Pessoa
Não
dormes sob os ciprestes,
Pois não
há sono no mundo.
O corpo é
a sombra das vestes
Que
encobrem teu ser profundo.
Vem a
noite, que é a morte,
E a
sombra acabou sem ser.
Vais na
noite só recorte,
Igual a
ti sem querer.
Mas na
Estalagem do Assombro
Tiram-te
os Anjos a capa.
Segues
sem capa no ombro,
Com o
pouco que te tapa.
Então
Arcanjos da Estrada
Despem-te
e deixam-te nu.
Não tens
vestes, não tens nada:
Tens só
teu corpo, que és tu.
Por fim,
na funda caverna,
Os Deuses
despem-te mais:
Teu corpo
cessa, alma externa,
Mas vês
que são teus iguais.
A sombra
das tuas vestes
Ficou
entre nós na Sorte.
Não 'stás
morto, entre ciprestes.
Neófito,
não há morte.
Maio de 1932.
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