terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

MENSAGEM DE STANISLAS AOS MARTINISTAS





Por Stanislas de Guaita (1861 -1897), em uma recepção aos membros da Ordem Martinista


Aqui não tratamos de impor convicções dogmáticas. Que tu acredites ser materialista ou idealista, que professes o budismo ou o cristianismo, que te proclames livre pensador ou que somente aceites o cepticismo absoluto, pouco nos importa realmente. Nós não contradizemos teu coração, incomodando o teu espírito com problemas que não deves resolver a não ser frente à tua própria consciência e no solene silêncio de tuas paixões aplacadas... Dá ao amor dos homens, teus irmãos, a denominação que quiseres: Amor, Solidariedade, Altruísmo, Fraternidade ou Caridade... As palavras não são nada... Mas, sejas quem fores, não te esqueças jamais que, em todas as religiões realmente verdadeiras e profundas, isto é, fundamentadas no esoterismo, colocar tudo isto em prática, através do sentimento, é o primeiro ensinamento, capital, essencial...


Nenhum dogma religioso ou filosófico pode ser imposto à tua fé. Quanto às doutrinas, cujos princípios essenciais resumidos para ti, pedimos tão somente que as medites como melhor te parecer e sem ideias preconcebidas... Abrimos para ti os selos do livro, agora deves primeiro conhecer a letra e, posteriormente penetrar no Espírito dos mistérios que este livro encerra...

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A ORDEM DOS JARDINEIROS



A Order of Free Gardeners (Ordem dos Franco-jardineiros) é uma sociedade fraternal, fundada na Escócia em meados do século XVII, que rapidamente espalhou-se pela Inglaterra e pela Irlanda. Como outras sociedades da época, seu principal objetivo era compartilhar segredos, conhecimentos e ajuda mútua. No século XIX, suas ações de autoajuda aos membros tornou-se predominante. Pelo final do século XX, a sociedade estava quase extinta.

Em 1849, a The Ancient Order of Free Gardeners Scotland foi formada, em Penicuik. Em 1956, devido à queda de atividade na Escócia, a Grande Loja foi transferida para Cape Town, África do Sul, e continua lá.

Embora a Free Gardeners sempre tivesse mantido distância da Maçonaria, a história e a organização das duas Ordens apresentam diversas semelhanças.


História

A evidência mais antiga de existência da Ordem é uma ata da Loja de Haddington, East Lothian, aberta em 16 de Agosto de 1676, que começa com uma compilação de quinze regras chamadas Interjunctions for ye Fraternity of Gardiners of East Lothian.

A Escócia era, no século XVII, sujeita a agitação civil e fome generalizada. Os ricos proprietários de terra estavam interessados na arquitetura renascentista e na concepção do formato dos jardins em suas grandes terras. Os primeiros membros da Loja de Haddington não eram jardineiros por profissão, mas pequenos proprietários e agricultores que praticavam jardinagem como hobby. Por não praticarem uma profissão urbana, eles não poderiam obter o status de uma guilda e modelar a sua organização como a Maçonaria (então operativa).

Esta organização criada em Haddington poderia ser vista como uma forma primitiva de união. Ela organizou mecanismos de cooperação entre os membros, desde a formação prática e formação ética, e ajudando os pobres, viúvas e órfãos. As Lojas dos Jardineiros também foram as primeiras a organizar exposições florais, a partir de 1772. Perto de 1715, uma loja semelhante à de Haddington foi fundada em Dunfermline, apoiada por dois membros da aristocracia local, o Conde de Moray e o Marquês de Tweeddale. Desde sua origem, ela admitiu vários não-jardineiros como membros. Foi criada uma sociedade de beneficência para ajudar as viúvas, órfãos e pobres da Loja, bem como patrocinaram uma corrida de cavalos e organizaram uma feira anual de horticultura antes de transformar-se pouco a pouco em uma sociedade de ajuda mútua. A adesão chegou a contar com 212 membros.

As Lojas de Haddington e Dunfermline expandiram sua área de recrutamento amplamente, sem autorizar criação de novas lojas. Foi somente em 1796, que três novas lojas foram criadas, em Arbroath, Bothwell e Cumbnathan.

Durante o século XVIII, cerca de vinte lojas foram criadas, todas na Escócia, e em 6 de novembro de 1849, eles organizaram uma reunião para criar uma Grande Loja. Os preparativos se aceleraram e, em 1859, em Edinburgh, a Grande Loja reuniu representantes de mais de 100 lojas, incluindo três estabelecidas nos EUA.

No pico do movimento, havia mais de 10.000 Jardineiros, pertencentes a mais de 50 lojas.

Encorajado por este sucesso, apareceram durante o século XIX outras sociedades hortícolas competindo entre si. Ao contrário dos Jardineiros, elas não desempenhavam papel caritativo, de ajuda mútua, ou ritualístico e aceitavam qualquer pessoa, homem ou mulher, que cumprisse as obrigações pecuniárias.

No século XX, as duas Guerras Mundiais envolveram a maioria dos membros. A crise econômica de 1929 enfraqueceu as suas capacidades caritativas. As leis de proteção social enfraqueceram as propostas de ajuda, finalizando com o National Insurance Act, de 1946. Mesmo antes da Segunda Guerra Mundial, o número de óbitos ultrapassou o de admissões para as lojas. Em 1939, as atas da Loja de Haddington foram interrompidas até 1952, quando os seus últimos oito membros tentaram em vão, reabri-la. Apesar do recrutamento de novos membros, a fraternidade de Haddington pronunciou a sua dissolução em 22 de Fevereiro de 1953. A loja de Dunfermline durou até meados da década de 1980.

Esses desaparecimentos eram parte de uma mudança social. Em 1950, havia cerca de 30.000 sociedades fraternais no Reino Unido, enquanto que em 2000 havia menos de 150. Em 2000, a pesquisa de R. Cooper contou mais do que uma única loja (em Bristol) para a Inglaterra, mas mencionou a sobrevivência da Ordem dos Jardineiros nas Antilhas (Caribbean British Order of Free Gardners) e uma na Austrália. Em 2002, uma sociedade foi criada na Escócia, com objetivo de pesquisa e conservação das tradições da Ordem e algumas lojas foram revividas nesta ocasião.


Rituais

Os documentos da Fraternidade do final do século XVII não revelaram vestígios de um conhecimento secreto ou de rituais. No entanto, o interesse rapidamente mostrado pelos membros da aristocracia sugere que esta associação não era apenas de ajuda mútua.

A mais antiga menção conhecida à existência de um segredo iniciático nesta ordem aparece em 28 de janeiro de 1726, quando a fraternidade estudava uma queixa interna que acusava um dos seus membros de difamar alguns dos seus oficiais, dizendo que estes não poderiam dar corretamente as palavras e os sinais da Ordem. Em 1772, outros documentos mostraram que a fraternidade dos Jardineiros tinha “palavras” e “segredos”. Um documento de 1848 menciona um ensino, sob a forma de “sinais, segredos e símbolos”. Os historiadores têm à sua disposição rituais completos para Aprendiz, Companheiro e Mestre de 1930. Atas das lojas mostram que os rituais da ordem desenvolveram-se progressivamente, desde uma cerimônia bastante básica de transmissão da “Palavra” em seus primórdios, até um sistema de três graus semelhantes ao da Maçonaria, no final do século XIX.

Uma conferência de 1873 indica que a Ordem utilizava o cultivo do solo como um símbolo da nutrição do espírito em inteligência e força, fazendo referência ao Jardim do Éden.

O ritual de admissão de Aprendizes de Jardineiro “apresenta muitas semelhanças com o de Aprendizes Maçom”. Adão poderia, assim, simbolicamente, ser o primeiro Jardineiro da Irmandade. Utilizava-se a bússola e a pá, à qual se acrescentava a faca, apresentados como “as ferramenta mais simples de jardinagem”, permitindo “podar os vícios e fazendo crescer as virtudes”. No final desta cerimônia, o Aprendiz recebia a vestimenta do seu grau.

O segundo grau faz referência a Noé, o “Segundo Jardineiro”, que faz o candidato simbolicamente realizar uma viagem até o Jardim do Éden e, em seguida, em direção ao Gethsemane.

O terceiro grau faz referência a Salomão, o “Terceiro Jardineiro”, e ao símbolo da árvore da oliveira.

As vestes são de dois tipos:
·        Vestes longas, atingindo o tornozelo, bordado com numerosos símbolos relacionados com as lendas da ordem; e
·        Vestes curtas, com uma abeta semicircular, assemelhando-se fortemente com os aventais dos maçons da Escócia. A do Grande Mestre é bordada com as letras P, G, H, E, iniciais dos quatro rios do Jardim do Éden, e A, N, S, iniciais de Adão, Noé e Salomão, à qual se acrescenta a letra “O”, provavelmente para “Azeitona” ou “Oliveira” (em inglês).

Geralmente, o simbolismo utilizado pelo Jardineiro parece ter sido fortemente influenciado ao longo do século XIX pelo da Maçonaria.

Em vários objetos da ordem que datam do início do século XX, encontra-se um emblema composto por um quadrado, uma bússola e uma faca de enxertia. Como não há um traço deste emblema em documentos anteriores, é provável que ele também tenha sido inspirado da Maçonaria.


Primeiros membros

Há pouca informação sobre as profissões dos membros antes do final do século XVII. Durante este período, a Loja de Haddington apresentava comerciantes, alfaiates e funcionários públicos, bem como jardineiros. Todos os membros da loja eram originalmente do conselho. Por outro lado, em Dunfermline, antiga capital da Escócia, a loja se orgulhava de contar entre os membros inúmeras pessoas de renome de Edimburgo, assim como a de East Lothian, incluindo o Marquês de Tweeddale, o Conde de Haddington, Lord William Hay, entre outros.

O primeiro registro da loja de Dunfermline foi criado em 1716, com as assinaturas de 214 membros. Neste momento, a adesão foi composta por uma maioria de Jardineiros por profissão, mas também inúmeros artesãos e dois membros da aristocracia local. Rapidamente, a associação cresceu e aumentou o nível social, a tal ponto que os jardineiros profissionais não formavam a maioria dos membros, mas manteve-se o recrutamento local. Em 1721, 101 novos membros de todos os estatutos sociais foram admitidos na loja, de jardineiros e açougueiros até o Duque de Atholl. Nos anos seguintes, houve um número bastante grande de aristocratas iniciados na Loja de Dunfermline, mesmo quando pertenciam à Loja de Haddington, que continuava ativa. A maioria dessas pessoas possuía jardins famosos. A partir de 1736, data da criação da (maçônica) Grande Loja da Escócia, esta tendência cessou e não houve mais iniciações de aristocratas na Loja de Dunfermline.

Religiosamente, todos os membros desta época eram protestantes, pertencentes à Igreja da Escócia. Politicamente, por outro lado, havia todos os tipos de pessoas.


As comparações com a Maçonaria

Em 1720, a Escócia tinha uma profusão de sociedades, fraternidades e clubes. A Maçonaria e a Ordem dos Jardineiros são apenas aquelas que mais se espalharam e duraram mais tempo.

Essas duas ordens apresentam semelhanças importantes relativas à sua organização e desenvolvimento. Ambas nasceram na Escócia, em meados do século XVII, entre os grupos de trabalhadores profissionais, que muito rapidamente aceitaram membros de outras profissões. Em ambos os casos, os membros da profissão original tornaram-se minorias a partir do início do século XVIII. Nas duas Ordens, certas lojas abriram-se rapidamente e aceitaram outros membros, em particular os da nobreza, entre outros, sendo a Loja de Haddington para os Jardineiros e a de Edimburgo para os Maçons as mais reticentes.

Quase todos os membros conhecidos que pertenciam às duas ordens eram Jardineiros antes de se tornarem maçons. O maior grupo de Jardineiros que mais tarde se tornou maçons juntou-se ao Kilwinning Scots Arms, loja maçônica fundada em 1729.

FONTE: http://en.wikipedia.org/wiki/Order_of_Free_Gardeners

PARA SABER MAIS: http://freemasonry.bcy.ca/texts/gardeners.html









Garden of Eden, Paradisi in Sole (1629), by John Parkinson.


Gilt badge from the Ash Trees lodge of the National Order of Free Gardeners, based at Four Ashes, Enville. Maker: George Tutill, 83 City Road, London (c. 1890 - 1920). The Free Gardeners were a friendly society founded in Scotland in the mid 17th century. As with other similar organisations, their aims were to share secrets of their profession and mutual aid. The charitable and mutual help role became dominant in the 19th century.














A SOCIEDADE EM GERAL E A SOCIEDADE MEDIEVAL



























“Boda de camponeses” (Pieter Brueghel, o velho, c. 1568)


Sem proselitismo ou rigor ideológico, vamos apresentar argumentos que a alguns podem não soar muito bem. Desde tenra idade, fomos formados no "especioso" maniqueísmo de bem e mal, trevas e escuridão, esquerda e direita, convenções que por vezes não refletem plenamente a realidade à nossa volta, pois nem tudo é como aparenta ser e a verdade por vezes é obnubilada intencionalmente para propósitos escusos.

Corroborando com o texto em tela, importante lembrar que as primeiras universidades proporcionaram o surgimento de uma nova nobreza, a “gentileza”, que ascendeu pela educação, a despeito da tradicional, que o fez pela força das armas. E já àquela época havia bolsas de estudo e até (alguns) jovens pobres podiam estudar.

A Idade Média não foi de flores, mas também não foram as trevas contínuas que pintam em nossos livros escolares. Não se pode discordar daquilo que não se conhece.



A SOCIEDADE EM GERAL E A SOCIEDADE MEDIEVAL

Por Orlando Fedeli

        
A Sociedade Medieval, sendo conseqüência da aplicação da doutrina cristã ensinada pela Igreja, tinha que ser hierárquica e não igualitária. Estudamos as razões desse anti-igualitarismo da sociedade católica em nosso trabalho Desigualdade ou Igualdade de Direitos: considerações sobre um mito.

Como toda sociedade retamente organizada, a sociedade medieval era formada por Estados e não por castas como era de regra nas sociedades pagãs. Havia três Estados na Sociedade Medieval: o Clero, a Nobreza e o Povo, sendo que este era formado pela Burguesia, pelos Camponeses e Artesãos. Era o que formava a famosa “pirâmide maldita” do linguajar marxista dos professores de cursinho.

Tais professores se esquecem de dizer que, em todos as sociedades, em todos os tempos, existiu sempre essa mesma estrutura. Toda sociedade é, portanto, necessariamente piramidal, pois os sábios que dirigem serão sempre minoria. Não há como fugir desse esquema. Uma sociedade horizontal – igualitária -- nunca existiu e nunca poderá existir. E isso é assim pela própria natureza dos homens e das coisas. Deus fez tudo com desigualdade, por isso toda sociedade é necessariamente hierárquica. 

Já Platão mostrara, no diálogo República, que, para existir uma sociedade, é preciso em primeiro lugar, que existam pessoas que produzam os bens necessários à vida. Tais bens são os alimentos e objetos necessários para viver. Portanto, não pode haver sociedade se não houver camponeses que produzam os alimentos, e artesãos que produzam utensílios, móveis, vestes, etc. 

Em primeiro lugar, há a necessidade do trabalho agrícola e artesanal. 

Ora, se camponeses e artesãos produzirem só o absolutamente necessário para a sua manutenção e a de suas famílias, como eles não podem produzir tudo que precisam, ver-se-ão sem possibilidade de adquirir bens que lhes sejam necessários e dos quais têm falta. Daí, camponeses e artesão serem obrigados a produzir mais do que necessitam, para poderem trocar sobras do que produziram por objetos de que precisam. O comércio nasce dessa necessidade de troca de bens. Portanto, além de camponeses e artesãos nasce quase imediatamente o grupo dos comerciantes, que fazem circular e trocar os bens produzidos. 

Porém, onde há bens, surgem logo os que querem se apossar desses bens de modo injusto. Isso exige, então, a proteção desses bens pela força armada. Daí, a existência de um grupo armado para guardar os bens produzidos. 

Surge o grupo social militar que tem por fim a proteção dos bens e da propriedade particular. É assim que toda sociedade tem sempre um tal grupo armado para fazer respeitar o direito e a justiça. São os militares, ou nobres, porque devem dar a vida para proteger a justiça e os direitos das pessoas. 

Deixar no topo da sociedade a força com o poder supremo, manter no ápice da sociedade os que detêm o uso da espada equivale a colocar a força material acima de tudo, o que gerará abusos. É preciso então colocar acima da força da espada, acima da força material um grupo que controle a força física pela sabedoria. Por isso, mesmo nas sociedades pagãs havia um grupo sacerdotal, considerado mais prudente e sábio para controlar a mera força das armas. 

Daí, toda sociedade ser formada,esquematicamente,por:

a) produtores de bens (camponeses e artesãos) e de encarregados de fazer circular os bens através do comércio (comerciantes);

b) militares que guardam o direito aos bens pelo emprego da força militar (guerreiros ou nobres);

c) supostos sábios, que devem controlar o uso da força material, para evitar abusos.

Tanto isso tem que ser assim, que até a sociedade soviética, que se pejava de ser igualitária, foi obrigada a se render à natureza, mantendo essa estrutura, pois lá também havia a famosa “pirâmide maldita”. Na URSS, havia:

a) O proletariado (camponeses e operários) produtores de bens necessários à vida, e funcionários encarregados da circulação dos bens, e mesmo um certo pequeno grupo de comerciantes;

b) Os militares que garantiam a “ordem” social;

c) Os “sábios” – Os membros do Partido Comunista que dirigiam e controlavam a força em razão de seu conhecimento ideológico supostamente sábio e verdadeiro.

Portanto, nem na URSS havia, então, a igualdade. 

Pena que professores de cursinho, profissionais da mídia e padres de passeata não sejam capazes de ver o evidente. 

Será que, no Brasil do PTBrás, no Brasil do mensalão, os canonizados pela CNBB como “católicos à sua maneira”, estabelecerão realmente a igualdade da utopia? 

Frei Betto que guiou Lula até lá, conseguiu fazer a república metalúrgica, que daria, a cada operário, direito a uma pizza e a uma cervejinha por semana? Ou picanha com o vinho Romané-Conti ficou só para os privilegiados, para os “sábios” da Granja do Torto? Direito à picanha só para os simpáticos do Torto? Será isso igualdade? Será isso o fim da “pirâmide maldita”?

***

Esse mesmo esquema era o da sociedade medieval. 

Na sociedade medieval havia, sim, a pirâmide social natural, na qual os mais sábios, os que tinham maiores responsabilidades e virtudes — necessariamente os menos numerosos — dirigiam os mais numerosos, e de funções menos importantes. 

No alto da sociedade medieval estava o Clero, única ordem social instituída diretamente por Cristo, para guiar os homens na prática dos mandamentos — da lei natural — a fim de dar glória a Deus e alcançar o céu. 

O Clero era constituído, como até hoje o é, e sempre o será, pelo Papa, Bispos e Padres. Cardeais, Arcebispos, Monsenhores são apenas títulos honoríficos, e não graus da Sagrada Hierarquia estabelecida por Cristo. 

O Segundo Estado, ou Ordem, era a Nobreza feudal cujos componentes eram o Imperador, os Reis, os Príncipes, os Duques, Condes e Barões.

O Terceiro Estado era formado pelo Povo, e era constituído pelos Burgueses, Camponeses e Artesãos. 

A Burguesia era o grupo dos que exerciam trabalho não manual, e habitava nas cidades, como, por exemplo, os comerciantes, os advogados, os médicos, os professores, etc. Abaixo deles, estavam os que exerciam trabalhos manuais. Os Artesãos faziam os instrumentos e objetos necessários para a vida social, enquanto os camponeses cultivavam a terra e criavam o gado. 

Os artesãos também possuíam uma hierarquia interna, dividindo-se em Mestres, Companheiros e Aprendizes. 

Esquematicamente, a escala social medieval poderia ser assim representada:

·        Clero
·        Nobreza
·        Povo: Burguesia, Camponeses e Artesãos (Mestres – Companheiros – Aprendizes)

Não é aqui o momento de justificar essa organização social, expondo suas funções, sacrifícios, virtudes e direitos. Faremos isso, noutro trabalho. Agora, importa-nos apenas registrar essa organização social medieval, para explicar como se deu a sua destruição. Todavia, um ponto que convém desde agora salientar é que essa organização social não era de castas, como eram as sociedades pagãs.

Na sociedade medieval, qualquer pessoa podia mudar de grupo social. Assim, qualquer camponês poderia se tornar sacerdote, e passaria para a primeira camada da sociedade. E, entrando no clero, tendo valor, esse camponês poderia alcançar altas dignidades, e até mesmo chegar a ser Papa, como, aliás, aconteceu por diversas vezes, na Idade Média. São Gregório VII, por exemplo, foi o Papa mais importante da Idade Média e tinha origem camponesa, sendo filho de um cabreiro (Régine PERNOUD, 1981, p.101). O Abade Suger era filho de servo da gleba, e, mesmo assim se tornou Abade de São Denis, e foi Regente da França. O Arcebispo de Paris, Maurice de Sully, que ordenou a construção da famosa catedral de Notre-Dame de Paris, era de família pobre. O Papa Urbano VI era filho de um sapateiro. 

O Clero foi o grande instrumento de ascensão e promoção social na Idade Média. 

O camponês também poderia ascender à nobreza, pela pratica de um heroísmo. Santa Joana d’Arc foi enobrecida por sua proeza militar. 

Por outro lado, qualquer pessoa de Estado mais elevado poderia ser rebaixada: um clérigo podia ser reduzido ao estado leigo como punição de certos crimes. Um nobre poderia perder seu título e seus privilégios por causa de crimes, ou, por vezes, por exercer o comércio, visto que a Nobreza consiste em usar todas as qualidades próprias em proveito de outrem, enquanto o comerciante usa de todas as suas qualidades para obter lucro para si. Mas, em Repúblicas que viviam do comércio — como Genova e Veneza — o comércio era obrigatório para os nobres, pois seu esforço redundaria em proveito geral daquela sociedade e daquela República.

Portanto, não havia castas na Idade Média. Esse foi um dos grandes bens que a Igreja proporcionou à civilização na Idade Média: acabar com as castas. 

A sociedade medieval tinha, pois, como pilares de sua estrutura, em primeiro lugar, o Papa, aceito como autoridade suprema, pois era o Vigário de Cristo na Terra; e, em segundo lugar, o princípio da desigualdade de direitos, já que se admitia, com o Evangelho e com São Tomás de Aquino, que Deus não fez e não quer os homens iguais, mas semelhantes. 

Portanto, para destruir a sociedade medieval, era preciso derrubar esses dois pilares: o Papa e a desigualdade de direitos. E foi o que fizeram aqueles que desejavam destruir a Cidade de Deus, e fazer triunfar a Cidade do Homem. 

Substituíram o Teocentrismo pelo Antropocentrismo. Colocaram o Homem no lugar de Deus.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

AS LOJAS MAÇÔNICAS: DESAFIOS E ENTRAVES





Por Loja de Estudos e Pesquisas Maçônicas Sabedoria Triunfante nº 406.


Durante muito tempo e até, pelo menos, as cinco primeiras décadas do século passado, as Lojas Maçônicas no Brasil serviram como espaço de aglutinação de homens voltados para a discussão de problemas relativos ao desenvolvimento da sociedade onde conviviam. Em geral, as Lojas abrigavam em seu seio pessoas proeminentes da sociedade, que além do convívio salutar e fraternal, criavam uma enorme rede de contatos e facilitavam a troca de ideias e a absorção de novos conhecimentos.

As Lojas, através das suas Sessões semanais, na maioria das vezes, serviam como oportunidade de manter seus membros atualizados sobre o que estava acontecendo na comunidade, no país e no mundo. Temas de interesse histórico, político e filosófico sempre tiveram o maior enfoque nas Sessões Maçônicas.

O Maçom tinha então oportunidade de melhoria de sua profissão, da sua cultura em geral, do seu status, ganhando maior espaço e inserção na sociedade em que vivia.

No entanto, chegamos ao terceiro milênio com uma profusão estrondosa de tecnologia, velocidade e globalização da informação. Estamos vivendo uma época de grandes atrativos, pressa e utilitarismo. Um mundo cheio de atrações, como o cinema, a televisão, a internet, teatro, shows musicais, esportes e tantos outros. A velocidade como tudo se processa, faz com que todos hoje tenham pressa para tudo. Vivemos como se não houvesse mais tempo a perder. Segundo o filósofo Mario Sergio Cortella “uma norma principal ganha corpo: é bom tudo o que for útil, é adequado tudo o que for lucrativo, é moralmente confortável tudo o que for vantajoso”.

Podemos afirmar que essa norma não impera em nosso meio? O grande desafio que temos hoje, particularmente em nosso País, dentre outros, é o de fazer com que nossas Lojas Simbólicas voltem a ser verdadeiras escolas de conhecimento e formação, com Sessões atrativas, discutindo temas de interesse nacionais e internacionais, despertando em seus membros o interesse na participação intramuros e extramuros e diminuindo o percentual de evasão maçônica.

Por outro lado, a maioria das Lojas tem sido administrada, até aqui, de uma maneira geral, de forma empírica, sem o mínimo senso de administração, sem observância de critérios técnicos e com ênfase no improviso. Não se vê propriamente a aplicação de um planejamento administrativo. Urge, portanto, adequar a nossa estrutura organizacional às modernas técnicas e recursos de administração, inclusive, com a utilização de mais recursos tecnológicos e enfoque em conhecimentos de liderança.

A falta de estudos é o que mais prejudica as Lojas, impede seu crescimento qualitativo e muito contribui para a evasão maçônica. Estas perdem muito tempo com assuntos administrativos, quando esses assuntos deveriam passar antes pela respectiva Comissão, sendo devidamente enxugados. Esta é uma forma para que possa sobrar mais tempo destinado aos estudos em Loja. No entanto, o que leva à evasão maçônica não é apenas a falta de estudos, mas também uma seleção precipitada e corrida com vistas à iniciação de candidatos. Há que se aprimorar a indicação, seleção e admissão de candidatos à Ordem.

É prejudicial às Lojas, também, a ênfase dada pela maioria das administrações às pompas e circunstâncias inerentes às Sessões Magnas, em detrimento das atividades imprescindíveis à formação e aperfeiçoamento dos Irmãos.

 Por último, é importante que seja desenvolvido um sistema de capacitação dos cargos em Loja, especialmente os que compõem a administração, evitando-se que estes sejam assumidos por Irmãos, quando muito, providos apenas de conhecimentos empíricos.